Acrobolbaceae é uma família pertencente à divisão de plantas hepáticas (Marchantiophyta: Jungermanniales), a qual, juntamente com as divisões de musgos e antóceros, forma a superdivisão das briófitas (Bryophyta, em sentido amplo).
Assim como as outras briófitas, a família possui plantas que não apresentam tecidos condutores de seiva, logo são vegetais avasculares, sem presença de xilema e floema. Além disso, apresentam esporófito transitório que quando libera os esporos, morre. Assim sendo, nesses vegetais, o gametófito é considerado como a fase persistente.[1]
Sendo hepáticas, são plantas avasculares de tamanho diminuto característico do grupo com representantes folhosos e talosos. As Acrobolbaceae possuem forma de vida folhosa, crescendo como "tapetes", em substratos terrícolas ou rupícolas.[2]
O termo "akros", em grego, refere-se a "ponto alto", "extermidade", enquanto "bolbos" equivale a "planta com uma dilatação arredondada num caule subterrâneo".[5]
A descrição original do gênero faz referência à presença de um "involucrum [...] terminale".[4] O termo "involucrum" refere-se a uma bainha de tecido protetivo, originada do talo, envolvendo anterídios, arquegônios ou esporófitos, enquanto o termo "terminale" refere-se a uma localização terminal, ou apical.[6]
A maior parte das espécies hepáticas são talosas, entretanto, a divisão também abrange espécies folhosas, como as espécies do grupo das Acrobolbaceae.
As plantas desta família têm coloração de verde-clara a azulada, o crescimento é prostrado ou ascendente – algumas vezes têm base estolonífera. Os caulídios podem ou não ter epiderme espessada. Os ramos são intercalares e os estolões podem estar presentes ou não. Os filídios, que podem ser súcubos, inteiros ou bilobados,[2] estão divididos em dois, e são lobados entre três e cinco margens inteiras, ciliadas ou dentadas. A parte debaixo dos filídios é ausente ou vestigial. Células usualmente com a cutícula papilosa, óleo-corpos marrons, granulares. Anfigastros ausentes.[2] Os poucos rizóides estão em facículos ou dispersos na base foliar. Esporófito protegido por um marsúpio sólido do tipo Calypogeia em Lethocolea e Goebelobryum. Secção transversal da seta com muitas células. Cápsulas podem ser elipsoidais ou cilíndricas com ápice agudo envolto. Na família a reprodução vegetativa é rara, realizada através de filídios caducos ou gemas foliares.[2] Gineceu terminal, em ramos folhosos.[7]
Considerando o status filogenético, a família não está consolidada. Diversos trabalhos têm sido feitos para identificar as relações entre os gêneros e entre as espécies dentro de cada gênero, mas não foram suficientes para contemplar e entender todas as relações envolvidas.
Uma pesquisa realizada[8] a respeito da Subordem Jungermanniineae apresentrou a relação de Acrobolbaceae com outras famílias. Ainda que o reduzido número de gêneros amostrados nessa pesquisa não inclua todos os gêneros taxonômicos descrito, os autores concluíram que a família posiciona-se como grupo irmão de outras grandes famílias, como Jungermanniaceae, Gymnomitriaceae e Solenostomataceae:
O grupo está inserido na divisão Marchantiophyta, classe Jungermanniopsida, ordem Jungermanniales. Com relação à taxonomia interna, o número de gêneros incluídos na família varia de autor para autor, como visto a seguir.
A seguir, uma chave de identificação para os gêneros presentes no Brasil:[2]
1. Ápice do filídio inteiro, células dos filídios alongadas na margem ventral do filídio, óleo corpos 1-2 por células.....Lethocolea
1. Ápice do filídio truncado até bilobado, margem denteada ou inteira, células dos filídios iguais na margem do filídio, óleo corpos numerosos, 5-10 por célula.....2
2. Ginoécio terminal nas ramificações, células dos filídios com trigonos, células epidérmicas do caulídeo diferenciadas.....Tylimanthus
2. Ginoécio terminal em ramificações curtas, próximo a base, células dos filídios delgadas, sem trigonos, células epidérmicas do caulídeo não diferenciadas.....Marsupidium
No Brasil, Acrobolbaceae apresenta três gêneros Lethocolea, Marsupidium e Tylimanthys. Cada gênero contempla uma espécie descrita: Lethocolea glossophylla (Spruce), Marsupidium gradsteinii Grolle e Tylimanthus laxus (Lehm. & Lindenb.) Spruce.[2]
Estão presentes em todas as regiões do país: norte (Amazonas, Pará), centro-Oeste (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso), sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo) e Sul (Paraná). Apresenta origem nativa, no entanto não é endêmica no Brasil.[2]
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