O ambientalismo dos pobres é um movimento social que surge de conflitos ambientais quando pessoas empobrecidas lutam contra interesses estatais ou privados que ameaçam seus meios de subsistência, saúde, soberania e cultura. Parte do movimento de justiça ambiental global, difere do ambientalismo convencional ao enfatizar questões de justiça social em vez de enfatizar a conservação e a ecoeficiência.[1][2][3] Está se tornando uma força cada vez mais importante para a sustentabilidade global.[4]
O ambientalismo dos pobres inclui uma miríade de movimentos ambientais no Sul global que são surpreendentemente sub-representados no discurso do ambientalismo convencional.[5] No entanto, as pessoas empobrecidas envolvidas em conflitos locais estão se tornando mais conscientes do movimento global de justiça ambiental, e as redes transnacionais de justiça ambiental permitem que esses defensores ambientais potencialmente alavanquem o apoio internacional para suas lutas.[5][4]
Em 1988, o historiador peruano Alberto Flores Galindo sugeriu o termo “ambientalismo dos pobres” para descrever os movimentos de resistência camponesa eco-socialista.[6] Em 1997, Joan Martinez-Alier e Ramachandra Guha contrastaram esses movimentos com o 'ambientalismo de barriga cheia' (pós-materialista) do Norte global e traçaram paralelos entre o 'ambientalismo dos pobres' rural e do terceiro mundo e o movimento de justiça ambiental mais urbano surgido nos Estados Unidos.[6][7]
Em seu livro de 2002, Environmentalism of the Poor, Martinez-Alier descreve três correntes diferentes dentro do ambientalismo: o 'culto à natureza selvagem' (tradução de 'Cult of Wilderness') associado ao movimento de conservação e pessoas como John Muir; o posterior 'evangelho da ecoeficiência' que promove o desenvolvimento sustentável e parte da ideia de que problemas ecológicos são oriundos da falta de descobertas e avanços tecnológicos; e um crescente movimento de justiça ambiental ou 'ambientalismo dos pobres' que enfatiza a justiça social e a proteção da terra para uso das pessoas marginalizadas. Martinez-Alier baseia-se na ecologia política e na economia ecológica para criar uma base teórica para um movimento de justiça ambiental global que surge de conflitos ambientais locais.[6]
Dessas três correntes dentro do ambientalismo, o crescente ambientalismo dos pobres pode ser a força mais forte para a sustentabilidade.[6][4] Isso contraria ideias bem estabelecidas sobre sustentabilidade: o ambientalismo tem sido frequentemente visto como o domínio das sociedades afluentes do Norte global, porque as pessoas pobres não estão interessadas em preocupações ambientais.[6][1][4] Por exemplo, o Relatório Brundtland concluiu que a pobreza é um dos motores mais importantes da degradação ambiental; o cientista político Ronald Inglehart também argumentou que as sociedades afluentes são mais propensas a proteger a natureza. Da mesma forma, as curvas de Kuznets associam melhorias ambientais com maior renda per capita, implicando que a cura para a degradação ambiental é mais crescimento.[4] No entanto, o ambientalismo dos pobres aponta para numerosos estudos de caso em que os pobres protegem o meio ambiente contra interesses poderosos, a fim de defender seus meios de subsistência e culturas.[8]
As pessoas pobres que protegem seus meios de subsistência estão muitas vezes do lado da conservação e do ambiente limpo, embora possam não afirmar ser ambientalistas e possam usar outra linguagem para descrever suas agendas[6] As pessoas resistirão à destruição ambiental que ameaça seus meios de subsistência, cultura e perspectivas de sobrevivência, mesmo que não estejam interessadas em proteger a natureza por si mesma.[7] A s ecológica observa que valores como soberania e sacralidade podem ser incomensuráveis com as avaliações econômicas clássicas: pode não ser possível atribuir valores monetários aos custos externalizados da extração de recursos, como perda de locais sagrados ou danos às gerações futuras.[6] O ambientalismo dos pobres é, portanto, em parte, uma luta para controlar a linguagem de avaliação aplicada aos custos e benefícios da extração de recursos, gentrificação e outros processos que ameaçam o uso de suas terras pelos pobres.[6]
A liderança feminina é comum ao ambientalismo dos pobres, criando interseções com o ecofeminismo. As mulheres têm mais frequentemente papéis sociais que as colocam em contato direto com a natureza, como buscar água, cultivar, cuidar de animais, coletar etc. Em ambientes urbanos, as mulheres são mais propensas a tomar medidas contra o despejo de lixo ou outra poluição, mesmo que as hierarquias de gênero impeçam sua participação.[7] Exemplos notáveis de ambientalismo dos pobres liderados por mulheres ativistas são o movimento Chipko na Índia e o Movimento Cinturão Verde do Quênia.[4]
O Ecologismo nacional, como vertente do ambientalismo dos pobres, estuda a partir de sua essência, as complexas relações entre a população nativa, a ocupação territorial, os assentamentos humanos e o movimento ecologista. Em síntese, na época em que esse movimento ganhava destaque, durante a década de 1990.[9]A sua relação com a economia e as trocas físicas que cruzam a fronteira entre o sistema ecológico total e o subsistema econômico constituem a matéria-prima da macroeconomia ambiental. Onde examina as influências das relações econômicas sobre o ecologismo desses grupos, destacando conflitos significativos, como o caso do vazamento do petróleo durante a extração que impacta a vida marinha e causa danos às populações que utilizam o meio como método de vida.[10]
Estudiosos de ecologia política e organizações de justiça ambiental estão apontando para um movimento global de justiça ambiental liderado por defensores ambientais dos pobres globais.[11][12] Movimentos locais precisam de apoio internacional para desafiar grandes corporações transnacionais, e o ambientalismo dos pobres precisaria de influência global para afetar questões globais como a crise de extinção e as mudanças climáticas.[4]
Cada vez mais, os conflitos locais estão encontrando apoio internacional e influência mais ampla. Por exemplo, a luta contra a Barragem de Tipaimukh na Índia teve origem em pessoas pobres cuja fonte de água estava ameaçada, e esse conflito tornou-se um movimento de resistência dinâmico e internacional.[5] Da mesma forma, a luta de Chico Mendes, no Brasil, demandava uma floresta amazônica de propriedade comum entre povos indígenas e seringueiros, em contraste com a expansão do capital privado. Redes internacionais como a Oilwatch também surgiram da ação direta de indígenas que lutam contra a exploração de petróleo em lugares como o delta do Níger, Colômbia e Peru.[4]
No intuito de promover apoio internacional, pesquisadores do ICTA-UAB catalogam conflitos de justiça ambiental para consulta, em um mapa disponível em diversos idiomas, alimentado por organizações ao redor do mundo. O EJ Atlas (Environmental Justice Atlas) é um repositório de matérias jornalísticas a respeito de conflitos locais em comunidades ao redor do mundo, que visa criar um panorama de conflitos e servir de base para posteriores estudos de caso e estatísticos.