Calvinismo |
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Bases históricas |
Os batistas reformados, às vezes chamados pelo nome mais antigo batistas particulares, são um grupo de batistas que evocam doutrinas calvinistas. São identificados pela predileção em adotar a Confissão de Fé Batista de 1689. Seguem uma linha na era moderna dos batistas particulares da Inglaterra. A alcunha batista reformado tem sua aplicação contemporânea, não sendo encontrada em documentos históricos e em publicações especializadas sobre história dos batistas. Acredita-se que seu uso contemporâneo começa a ser registrado de maneira muito isolada na década 1960. No Brasil o grupo que se identifica como batistas reformados tem sua origem recente, somente aparecendo no início do séc. XXI.
Essas características são comuns mas não universalmente encontráveis em alguns grupos batistas de matriz calvista. Tipicamente, entre igrejas batistas aderentes ao Novo Calvinismo são características:
No Brasil as igrejas que se identificam como batistas reformadas utilizam a Confissão Batista de 1689 e mesmo sem adotar a Confissão de New Hampshire[1] (que tem um calvinismo abrandado), utilizam essa confissão para justificar uma raiz "reformada" para os batistas brasileiros e criticar a Declaração Doutrinária da CBB.[2] É comum os batistas reformados se reafirmarem realizando críticas as instâncias denominacionais que são históricas. Para os batistas reformados, as confissões de fé batistas pressupõem os credos históricos, como o Credo dos Apóstolos, o Credo Niceno, e outros.[3]
Assim como ocorre com outros cristãos reformados, muitos batistas reformados adotam a Teologia do Pacto.[4][5][6] No entanto, Batistas Reformados diferem de Presbiterianos, Reformados Continentais e Congregacionais nos detalhes desta teologia. Estas diferenças explicam, por exemplo, porque batistas praticam credobatismo, enquanto estes outros grupos praticam o pedobatismo. Enquanto que outros reformados entendem, a partir de sua teologia, que os filhos de cristãos devem ser batizados, Batistas Reformados entendem que somente aqueles que fazem uma profissão de fé devem ser batizados. O batismo é visto como um sinal da administração de Nova Aliança — feita com aqueles que foram regenerados, que tem seus pecados perdoados e que são salvos ao conhecer o Senhor. Candidatos ao batismo são considerados após a congregação examinar cuidadosamente seus testemunhos e estilos de vida.[7][8]
Alguns ramos dos batistas reformados rejeitam a teologia pactual, preferindo a Teologia da Nova Aliança (por exemplo, John Reisinger) ou um arcabouço teológico dispensacionalista (Rolfe Barnard).
A soteriologia (doutrina de salvação) dos batistas reformados partem do sistema de João Calvino, baseada nas chamadas Doutrinas da Graça, conforme interpretadas nos Cânones de Dort[4] e resumida nos chamados cinco pontos do calvinismo (conhecida pela sigla TULIP). Contudo, considerando a rejeição do batismo infantil, a adoção do credobatismo e o caráter evangelístico que os batistas reformados assumem, a soteriologia batistas reformada diverge do calvinismo clássico, adotando soteriologias próprias, como fullerismo e a doutrina da graça soberana.
Assim como outros grupos reformados, Batistas Reformados afirmam os Cinco Solas, sumário contemporâneo ao pensamento dos ideais dos reformadores.[4][9][10][11]
O princípio regulador de culto é a crença de que "O modo aceitável de adorar o Deus verdadeiro é instituído por ele mesmo e tão limitado pela sua própria vontade revelada, que não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou o sugestões de Satanás, sob qualquer representação visível, ou qualquer outra forma, não prescrita nas Sagradas Escrituras" (a partir do capítulo 22, nº 1 da Confissão de Fé Batista de 1689). Cada elemento da liturgia semanal regular deve ser expressamente ordenado da Escritura. Tudo o que é expressamente ordenado deve ser incluído, o que não é expressamente ordenado deve ser excluído. Este princípio também explica porque batistas reformados não batizam bebês.[4][12][13][14]
O congregacionalismo é a crença de que não há nenhuma autoridade eclesiástica acima da congregação local além do próprio Jesus Cristo. No geral, as igrejas batistas entendem que a igreja local deve ser autônoma, e portanto são contra as estruturas episcopal (de bispos, como adotado pela Igreja Metodista) ou presbiteriana (presbitérios e sínodos). Apesar disso, tradicionalmente as Igrejas Batistas Reformadas se reúnem em convenções associativas para comungarem com outras igrejas de doutrina em comum e promover instituições paraeclesiásticas como seminários, juntas de missões, etc.[4]
Excepcionalmente, algumas igrejas batistas reformadas adotam elementos do modelo presbiteriano, como a distinção entre presbíteros do ensino (pregadores) e presbíteros de governo (corpo diretor),[15] bem como a transferência de parte da autoridade local para associações colegiadas acima da congregação local.[16]
Igrejas batistas reformadas possuem como líderes dois tipos de oficiais: pastores (também chamados de anciãos, presbíteros, reverendos) e diáconos. Cada igreja local tem um determinado número de pastores, variando de igreja a igreja. Este grupo de pastores é responsável pela liderança espiritual (oração, pregação, aconselhamento, ensino) enquanto diáconos são responsáveis por outras questões eclesiásticas.[4][17][18]
Alguns batistas reformados são sabatistas e consideram o domingo, geralmente chamado de "dia do Senhor", o único santo dia da fé cristã. Crêem que os domingos são para participar do culto público (chamado de "reunião sabática" ou "reunião" pelos tradicionais) e a prática de boas obras, sendo para descansar de todos os trabalhos "terrenos" e negócios. Há divergências acerca da proibição estrita de trabalhos "terrenos".
Assim como outros batistas, os batistas reformados entendem que o batismo deve ser preferencialmente por imersão e não por aspersão.
A primeira igreja batista nasceu com um grupo de refugiados ingleses na Holanda em busca de liberdade religiosa em 1608. Liderados por John Smyth, clérigo, e Thomas Helwys, advogado, organizaram em Amsterdã, em 1609, uma igreja congregacional. John Smyth, puritano, discordava da política e de alguns pontos da doutrina da igreja anglicana, da qual era pastor, após uma aproximação com os menonitas e, examinando a Bíblia, creu na necessidade de batizar-se conscientemente, em seguida batizando os demais fundadores da igreja, constituindo-se assim a primeira igreja batista organizada. Nessa mesma época ocorria entre os Reformados na Holanda o debate entre gomaristas e arminianos e os batistas agrupados em torno de Helwys e Smyth foram chamados de batistas gerais, pois tendiam a essa última vertente.
Os batistas particulares eram assim chamados por acreditarem na expiação limitada, ou particular. A visão particular da expiação é que Cristo, na Sua morte, se comprometeu em salvar indivíduos particulares, os eleitos. Esta é a posição calvinista. Alguns dos primeiros líderes batistas particulares foram Benjamin Keach, Hanserd Knollys, William Kiffin, e Isaac Backus. Os batistas da Inglaterra descendem dos batistas particulares.[19]
Os batistas estritos surgiram quando da controvérsia avivalista e missionária em reação tanto ao fullerismo quanto aos hiper-calvinistas no início do século XIX, defendendo uma separação com denominações que não seguissem suas doutrinas e práticas.[20]
Depois da Segunda Guerra, o neopuritanismo de Martyn Lloyd-Jones e J.I. Packer (ambos não batistas) influenciaram um ressurgimento da teologia reformada entre batistas britânicos. Líderes como Erroll Hulse (Leeds) e Geoffrey Thomas (Gales) adotaram a Segunda Confissão Batista de Londres (1689) e organizaram um movimento com identidade expressamente batista reformada. A partir da Inglaterra nos anos 1960, o movimento batista reformado se disseminaria pelo mundo de língua inglesa, com pouca ou nenhuma interação ou comunhão com batistas não calvinistas.[21]
Nos meados da década de 1820, quando as diferenças entre os batistas gerais (arminianos) e regulares (calvinistas) tendiam a desaparecer, surgiu nos Estados Unidos uma vertente aderente ao fullerismo que levou à formação de grupos batistas reformados e confessionais calvinistas meio às controvérsias acerca de sociedades missionárias, escolas dominicais, oficio pastoral, abolicionismo e adesão ao movimento de temperança.[22] Cismas ocorreram entre várias congregações batistas, como na Raleigh Baptist Association em North Carolina quando em 1826 surgiram as nove primeiras igrejas no mundo a adotarem a designação de "batista reformada"[23] Esse movimento conquistou adeptos na Costa Leste dos Estados Unidos, resultando na Confissão de Fé de New Hampshire, moderadamente calvinista e elaborada em New Hampton, New Hampshire, por J. Newton Brown em 1833.[24]
Novas divisões levaram as congregações batistas de tendência calvinista se repartirem entre grupos batistas primitivos, batistas landmarquistas, batistas independentes, batistas fundamentalistas e batistas da graça soberana. O ressurgimento dos batistas reformados americanos aconteceria pela influência britânica a partir dos anos 1960, com líderes como Al Martin, Walter Chantry nos Estados Unidos e Bill Payne no Canadá.[21]
Depois de articularem uma ressurgência conservadora na Convenção Batista Sulista mediante a Founders Ministries (organizado em 1983 por Ernest Reisinger), muitos batistas de tendências calvinistas não chegaram a um acordo quanto às questões de cessacionismo, ministério feminino, dispensacionalismo, dentre outros pontos.[21] Assim, surgiram denominações como Associação de Igrejas Batistas Reformadas da América (ARBCA), criada em 1997, que em 2013 incluía aproximadamente oitenta congregações em trinta estados e no Canadá.[21] Internamente, a Convenção Batista Sulista continua a debater entre vertentes calvinistas e não calvinistas, publicando documentos como “Uma declaração da Compreensão Batista Tradicional do Plano de Salvação de Deus” (2012) contra o calvinismo[21]
Os primeiros batistas no Brasil variavam em suas posições doutrinárias, desde calvinistas moderados até arminianos. A primeira igreja batista estabelecida no Brasil adotou inicialmente a Confissão de Fé de New Hampshire.[25] Esta mesma confissão foi adotada pela Convenção Batista Brasileira de 1920 até 1986, quando foi substituída pela “Declaração Doutrinária”.[26]
Acompanhando o surgimento do movimento Novo Calvinismo entre batistas reformados de língua inglesa nos anos 1960s, foi fundada Comunhão reformada batista do Brasil a partir do trabalho do missionário norte-americano Richard Denham em São José dos Campos, SP.[27]
Em 2017, um grupo de batistas no Brasil insatisfeitos com o avanço neopentecostalismo em algumas igrejas batistas da Convenção Batista Brasileira, se unem em torno da construção de uma nova denominação que refuta a teologia discordantes. Para esse enfrentamento evocam doutrinas calvinistas. Isso é determinante para identificar os autoproclamados "batistas reformados" como um grupo recente que rompe teologicamente com a Convenção Batista Brasileira, tal qual aconteceu para a formação da Convenção Batista Nacional na década de 1960 e fundaram a Convenção Batista Reformada do Brasil.[28]