Buthus ibericus

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Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Subfilo: Chelicerata
Classe: Arachnida
Ordem: Scorpiones
Família: Buthidae
Género: Buthus
Espécie: B. ibericus
Nome binomial
Buthus ibericus
Lourenço & Vachon, 2004

Buthus ibericus, comummente conhecido como lacrau[1], é uma espécie de escorpião da família dos Butídeos, que marca presença em Portugal Continental, de Norte a Sul.

Além da designação comum lacrau, esta espécie é ainda conhecida como escorpião-amarelo[2] (não confundir com a espécie Tityus serrulatus [3] que dá por esse nome no Brasil) e lacrau-amarelo.[2]

Esta espécie de aracnídeo caracteriza-se pelo seu exoesqueleto quitinoso.[1] O lacrau-amarelo tem um corpo alongado, constituído por um cefalotórax, robusto, e por um abdómen, inicialmente largo e achatado, rematando numa cauda articulada de seis segmentos.[1] Apresenta pequenos pêlos ao longo do corpo e da cauda.[1]

O último desses segmentos, caracterizado pela sua forma de espigão, designa-se télson ou aguilhão, e cumpre a função de inocular veneno.[1]

A coloração do lacrau-amarelo alterna entre diferentes matizes mais escuros ou mais claros de amarelo e castanhos-alaranjados. Esta espécie conta, ainda, com quatro pares de patas articuladas e ainda um par de pedipalpos em forma de pinças.[1]

Distribuição

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Encontra-se em todo o território português continental, de Norte a Sul.[4]

Dados os hábitos noctívagos desta espécie, que tende a marcar maior presença em zonas mais quentes, áridas ou com vegetação dispersa, o lacrau-amarelo costuma procurar refugio durante o dia, debaixo de rochas, troncos ou em fendas no solo.[1]

Distinção com a espécie Bluthus occitanus

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Embora facilmente confundível com a espécie mais genérica Bluthus occitanus, sendo que durante muito tempo foram consideradas como sinónimas taxonómicas uma da outra[4], presentemente, distinguem-se as duas espécies.[5]

O Buthus ibericus sp. pauta-se pelos dedos móveis dos pedipalpos com um lóbo basal tanto nos espécimes machos como fêmeas, [4] ao passo que o Buthus occitanus não conta com esse lobo basal.

A toxicidade do veneno do lacrau-amarelo relaciona-se com a presença de neurotoxinas (α-toxinas) com ligação a canais iónicos, prolongando a despolarização e promovendo a excitabilidade muscular e nervosa.[6] Estão ainda presentes vários outros compostos com ações citotóxicas e hemolíticas, nomeadamente hialuronidases e fosfolipases responsáveis pelos efeitos locais.[6]

A maioria das picadas dos lacraus-amarelos em seres humanos adultos saudáveis causa apenas sintomas locais - tipicamente nas zonas mais comuns de picada, que são as mãos e os pés - não estando descritos quadros graves ou letais.[6]

Em todo o caso, em crianças pequenas, idosos ou adultos com hipersensibilidade ao veneno, a picada pode levar a um quadro clínico semelhante a um choque anafilático.[6]

A medicina moderna descreve três fases de distinta gravidade temporalmente sequenciais, das picadas de lacrau-amarelo, sendo que na esmagadora maioria dos casos de se limita apenas à primeira fase.[6][7] Não obstante sejam raros os casos de envenenamento por picada de lacrau-amarelo, que progrediam até às fases II e III, os mesmos, em razão da sua gravidade devem ser, imperativamente, geridos em contexto hospitalar.[7][6]

A primeira pauta-se por dores muito intensa, no local da picada, com irradiação a todo o membro, hipertermia, mácula eritematosa com centro necrótico, edema, sintomas sistémicos ligeiros como agitação, febrícula, sudorese, náuseas e mal--estar.[7]

A segunda fase, que se costuma manifestar abruptamente duas a doze horas após a picada, pauta-se por sintomas de sudorese, dor epigástrica, vómitos, diarreia, priapismo, hipotensão, bradicardia, dispneia e febre.[7]

Por fim, a terceira fase, por sinal a mais rara e também a mais perniciosa, porquanto pode revelar-se fatal em 50% dos casos, pauta-se por edema pulmonar, broncospasmo, hipertermia, arritmias, convulsões e coma.[7]

A administração de soro antiveneno não está recomendada, uma vez que a sua eficácia é ainda objecto de controvérsia médica.[6] Dessarte, em caso de picada, o procedimento recomendado passa limpar e desinfeçtar local afectado e em seguida aplicar crioterapia com elevação do membro afetado.[6] O tratamento deve ser acompanhado pelo recurso a analgésicos.[6]

Referências

  1. a b c d e f g «Buthus ibericus». Museu Virtual Biodiversidade. Consultado em 18 de abril de 2024 
  2. a b «Página de Espécie • Naturdata - Biodiversidade em Portugal». Naturdata - Biodiversidade em Portugal. Consultado em 18 de abril de 2024 
  3. S.A, Infopédia- Dicionário da Língua Portuguesa. «escorpião-amarelo». Infopédia Dicionário da Língua Portuguesa. Consultado em 18 de abril de 2023 
  4. a b c Lourenço, Wilson R. (2004). «CONSIDÉRATIONS SUR LE GENRE B UTHUS L EACH , 1815 - EN ESPAGNE, ET DESCRIPTION DE DEUX NOUVELLES ESPÈCES (SCORPIONES, B UTHIDAE)» (PDF). Grupo Ibérico de Aracnología. Revista Ibérica de Aracnología (30-IV-2004): 81-94. ISSN 1576-9518. Consultado em 18 de abril de 2024 
  5. Ricardo Silva - Naturdata. «Buthus ibericus». Consultado em 16 de janeiro de 2013 
  6. a b c d e f g h i Valdoleiros, Sofia R.; Gonçalves, Inês Correia; Silva, Carolina; Guerra, Diogo; Silva, Lino André; Martínez-Freiría, Fernando; Rato, Fátima; Xará, Sandra (2 de novembro de 2021). «Animais Venenosos em Território Português: Abordagem Clínica de Picadas e Mordeduras». Acta Médica Portuguesa (11): 784–795. ISSN 1646-0758. doi:10.20344/amp.15589. Consultado em 18 de abril de 2024 
  7. a b c d e Chippaux, J.-P.; Goyffon, M. (agosto de 2008). «Epidemiology of scorpionism: A global appraisal». Acta Tropica (em inglês) (2): 71–79. doi:10.1016/j.actatropica.2008.05.021. Consultado em 19 de outubro de 2024