Pato de cabidela, versão da iguaria gastronômica em Macau | |
País | Portugal |
Região | Minho |
Variações | galinha ao molho pardo, cabidela de pato, cabidela de leitão |
![]() ![]() |
Galinha de cabidela, galinha à cabidela, arroz de cabidela ou simplesmente, cabidela,[1] é um prato tradicional da gastronomia do Norte de Portugal, nomeadamente da região do Minho concelho de Braga.
Semelhante ao sarapatel, a cabidela é um guisado que utiliza, durante a sua confecção, o sangue avinagrado do próprio animal que é cozido, sendo a carne de frango ou da galinha o ingrediente escolhido para realizar o dito prato que é depois acompanhado ou misturado com arroz branco.
Cozinhar com sangue é um costume antigo de vários povos; em Portugal a cabidela tem registos desde o século XVI, e igualmente pode ser preparada com outras aves ou animais (pato, peru, porco, cabrito ou caça).
A palavra «cabidela» também já grafada «cabedela»[2] e «cabadela»,[3][4] por si só, diz respeito às extremidades e órgãos comestíveis (miudezas) das aves.[1]
Há duas teses quanto à origem da palavra «cabidela». Por um lado, a posição mais moderna defende que provém de «cabo»[1] por alusão aos «cabos das aves»,[5] isto é aos restos, às partes menos nobres, da carne de certas aves comestíveis, como o pescoço, as pontas das asas e as miudezas.[4]
Por outro lado, porém, há outra tese etimológica alternativa, por sinal mais antiga, que defende que o nome «cabidela» poderá provir da palavra árabe Quebdia[3], a qual diz respeito a uma receita de guisado que usa as entranhas de animais, especialmente o fígado, de tal modo que o étimo de Quebdia é Quebdon, que significa «fígado».[6][7]
Com efeito, em 1783, Rafael Bluteau, no seu dicionário identifica a cabidela, então grafada «cabedella», como conjunto de fígados, moelas, pescoços e pontas das asas de patos, perus ou galinhas.[2]
Um dos registos mais antigos conhecidos da palavra «cabidela» na língua portuguesa, ocorre no séc. XVI, no «Auto de Filodemo», peça cómica de Luís Vaz de Camões, onde a expressão já figura com o sentido de "conjunto de órgãos comestíveis"[8]:
“Das lágrimas caldo faço, |
Apesar de ser um prato tradicionalmente português, a sua disseminação, durante os vários séculos de presença portuguesa no mundo, ainda persiste em diversos países. Desde Cabo Verde com o “arroz de cabidela”, passando por Angola com a “galinha à cabidela”, Macau com uma variante denominada de “cabidela de pato”,[9] Índia com a versão goesa da “cabidela de leitão”, ou ainda no Brasil, sobretudo na região de Minas Gerais,[10] onde ainda existem inúmeras variantes da iguaria gastronômica, tal como a "galinha ao molho pardo", onde se substitui o arroz por angu e couve refogada.[11][12]
CABEDELLA de pato, ou peru, ou galinha, &c. Os fígados, muellas, pescoços, & pontas das azas, &c. destas aves. Minutae partes
Cabos das aves - as azas, pernas, pescoço. d'onde vem cabadella
Cabidela - de Quebdìa. (termo de cozinha) especie de guizado, que se faz dos miúdos das aves de penna. Os Arabes lhe chamam quebdîa, guizado feito das entranhas, isto é, moela, figado e forçura de qualquer rês. Deriva-se da voz quebdón, que significa o fígado.