A Cinquedea,[1] ou adaga língua de vaca,[2] é uma arma branca, bigume e corto-perfurante, que fica a meio termo entre a espada curta e o punhal longo. É originária do Norte de Itália, tendo lá gozado de particular popularidade até ao final da primeira metade do séc. XVI.[3] Destaca-se pelo formato triangular e pela largura da sua lâmina, bem como pela peculiaridade do feitio da empunhadura, que se assemelha à do parazónio romano.[4][5]
Terá surgido entre 1460 e 1520, na região de Véneto, nas cercanias de Ferrara, acabando ulteriormente por difundir-se pelo resto do país.[6]
A palavra cinquedea significa «a de 5 dedos», em alusão à largura da lâmina, junto ao guarda-mão, que é, tradicionalmente, de cinco dedos (cerca de dez centímetros).[7][3]
O substantivo língua de vaca, nome pelo qual ficou conhecida em Portugal, deve-se ao feitio da lâmina, que lembra, pela sua configuração, a língua do já mencionado bovino.[8]
Embora haja alguns exemplares de cinquedea com lâminas com comprimentos na ordem dos 20 centímetros, a maioria mede entre 30 a 60 centímetros, o que a aproximava mais da qualificação de espada do que de punhal.[3] A largura típica deste tipo de adaga orçava os 10 centímetros, junto ao guarda-mão.[1]
Esta largura da base da lâmina, além de oferecer o ensejo para que lhe apusessem arrebiques decorativos, provia o espadachim de uma arma resistente, capaz de aguentar, com paradas firmes, os golpes do adversário.[5]
A empunhadura, por seu turno, mediria entre treze e quinze centímetros, tratando-se, regra geral, de uma peça inteiriça dotada de um pomo discóide e de um guarda-mão em V.[9]
A arma pesaria na ordem dos seiscentos gramas a um quilo e duzentos gramas.[10]
A superfície mais larga da lâmina era amiúde exornada com padrões intrincados gravados a água-forte, doiradura ou com tauxiados damasquinos.[4] Algumas das bainhas, que persistiram até à actualidade, também exibem ornatos condizentes com os das lâminas.[10]
O formato do pomo denota influências das adagas e espadas gregas ou etruscas da Antiguidade, como o parazónio, culturas muito na moda durante o Renascimento italiano.[11] A guarnição da empunhadura tanto podiam ser feitos de madeira, como de materiais luxosos, como marfim.[12]
Dada a frequência sistemática da ornamentação e a qualidade da manufactura dos exemplares que sobreviveram até à actualidade, crê-se que se trataria de uma arma de prestígio, reservada para fregueses abastados, que as exibiriam no contexto da vida civil.[1] Apesar de não figurar no seio da vida militar, tal não significa que a cinquedea não pudesse valer-se como arma de defesa civil contra espadas ou punhais.[5] Assim sendo, a adaga língua de vaca assume-se tanto como um símbolo de estatuto social, como enquanto arma de defesa.[13]