Célula de lugar | |
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Descobridor(a) | John O'Keefe |
MeSH | D000071037 |
Uma célula de lugar é um tipo de neurônio de formato piramidal encontrado no hipocampo, que se torna ativo quando um animal entra em um local específico de seu ambiente; este lugar é conhecido como o campo local. Uma dada célula de lugar vai ter apenas um ou poucos campos locais em um ambiente pequeno, típico de laboratório; porém, em regiões maiores, haverá mais campos locais para a mesma célula.[1] Não há nenhuma topografia aparente para o padrão dos campos locais, ao contrário de outras áreas do cérebro como o córtex visual, no qual células vizinhas são mais propensas a ter campos próximos do que células distantes.[2] Em um ambiente diferente, uma parte das células de local do ambiente anterior continuarão possuindo campos locais, agora codificando regiões não relacionadas com a região anterior.[3]
Acredita-se que células de local atuam, coletivamente, como uma representação cognitiva de uma localização específica no espaço, conhecido como um mapa cognitivo.[4] Células de local trabalham com outros tipos de neurônios do hipocampo e de regiões vizinhas para realizar este tipo de processamento espacial,[5] mas as maneiras pelas quais estas funcionam dentro do hipocampo estão ainda sendo compreendidas.[6]
Estudos com ratos demonstraram que as células de local tendem a disparar subitamente quando o rato entra em um novo ambiente, porém fora do seu campo de disparo tais células tendem a ser relativamente inativas.[7] Foi mostrado que células de lugar têm a capacidade de, subitamente, alterar seu padrão de disparo, fenômeno conhecido como "remapeação" e mesmo que células de local mudem de acordo com o ambiente externo, elas são estabilizadas por atratores dinâmicos que "permitem ao sistema resistir a pequenas mudanças da entrada sensorial e responder coletivamente e coerentemente a maiores mudanças".[8]
Embora as células sejam parte de um sistema cortical não-sensorial, seu padrão de disparo é fortemente correlacionado com a entrada sensorial. Células de lugar disparam quando o animal está localizado em partes do ambiente chamadas de campos locais.[9] Estes circuitos podem ter implicações importantes para a memória, uma vez que eles fornecem o contexto espacial de memórias e experiências passadas.[9] Como muitas outras partes do cérebro, o circuito das células de lugar são dinâmicos. Eles estão constantemente se ajustando e remapeando para estar de acordo com a localização atual do animal. Células de lugar não funcionam sozinhas para criar uma representação espacial; elas são aprte de um circuito complexo que informa a sensibilização provocada por um local e a memória do local.[9]
O Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina de 2014 foi atribuído a John O'Keefe pela descoberta de células de lugar, e para Edvard e Pode-Britt Moser pela descoberta de células de grade.[10][11]
Tais células foram descobertas no cérebro, especificamente no hipocampo, por O'Keefe e Dostrovsky (1971).[12] Embora o hipocampo tenha um papel importante na aprendizagem e na memória, a existência de células no hipocampo demonstra o papel que ele desempenha para adaptação e percepção espacial. Foram registrados aumentos no padrão de disparo de ratos em ambientes abertos e registrados danos de aprendizagem e consciência espacial após danos ao hipocampo e consequentemente suas células de lugar.[12] Estudos com ratos demonstraram que células de lugar são muito sensíveis ao ambiente. Por exemplo, um estudo realizado por John O'Keefe e Lynn Nadel descobriu que células de lugar disparam mais rapidamente quando ratos percorrem um local, quando algum ítem novo é adicionado ao local ou qunado um ítem que estava no local não se encontra mais presente.[13]
Depois que O'Keefe e Dostrovsky perceberam a existência de células de lugar no hipocampo, em 1971, eles conduziram um estudo cinco anos depois com ratos que demonstrou que estas células disparam sempre que o rato estava em determinados locais do ambiente.[14] Este foi um dos primeiros indicadores de que células de lugar são relacionadas com a orientação espacial. Eles também descobriram que células de local disparam em diferentes áreas do hipocampo, dependendo de onde o rato foi, e toda a rede de disparos constitui o ambiente em que o rato está (O'Keefe 1976, Wilson & McNaughton 1993). A medida que o ambiente mudava, as mesmas células de lugar disparariam, porém a relação e a dinâmica dos campos de disparo iria mudar (O'Keefe & Conway 1978). Portanto, acredita-se que células de lugar dão aos seres humanos e aos animais um guia para o ambiente. Células de lugar são geralmente observadas através do registro de seus potenciais de ação. A medida que seres humanos ou animais navegam em ambientes grandes e então chegam em determinado local, há um aumento notável na taxa de disparo das células de lugar, uma vez que um local específico foi atingido (Eichenbaum, Dudchencko Madeira, Shaprio e Tanila, 1999).
Tem havido muito debate sobre a possibilidade das células de lugar serem determinadas por pontos de referência, por limites entre ambientes ou pela interação destes dois fatores.[15] Também tem sido muito estudado se tais células sinalizam também informações não espaciais além das informações espaciais. [16]
Células de local disparam em regiões específicas chamadas campos locais. Campos locais são análogos a campos receptivoes de neurônios sensoriais, no qual a região de disparo corresponde a uma região do ambiente com determinada informação sensorial. Uma boa representação de campos locais pode ser vista em inglês [1]aqui.[17] Esta animação mostra campos locais disparando em sucessão a medida que o rato se move em um caminho linear. Campos locais são portanto considerados alocêntricos em vez de egocêntricos, o que significa que eles são definidos com respeito ao mundo exterior, ao invés do corpo. Orientando-os de acordo com o ambiente, campos locais podem trabalhar de maneira eficaz como mapas neurais do ambiente ao redor.[18]
Acreditava-se inicialmente que células de lugar disparavam com relação direta a entradas sensoriais simples, mas estudos sugerem que este pode não ser o caso.[18] Campos locais são geralmente afetados por grandes alterações sensoriais, como a remoção de um marco de um ambiente, além de responder a mudanças sutis, como uma alteração na cor ou a forma de um objeto.[19] Isto sugere que as células de local respondem a um estímulos complexos. De acordo com um modelo conhecido como diferenciação funcional, a informação sensorial é processada em várias estruturas corticais do hipocampo antes de realmente atingir a estrutura em questão, de modo que as informações recebidas pelas células de local são uma compilação de diferentes estímulos.[18]