Eduardo Navarro

Eduardo Navarro
Eduardo Navarro
Eduardo Navarro encerrando a Semana Orlando Villas-Bôas, no dia 27 de abril de 2007
Nome completo Eduardo de Almeida Navarro
Conhecido(a) por contribuições à tupinologia
Nascimento 20 de fevereiro de 1962 (62 anos)
Fernandópolis, São Paulo
Nacionalidade brasileiro
Progenitores Mãe: Dalva de Almeida[1]
Pai: Gabriel Navarro[1]
Alma mater Universidade de São Paulo
Universidade Estadual Paulista
Ocupação professor
pesquisador
tradutor
Principais trabalhos Teatro
Poemas: lírica portuguesa e tupi
Gênero literário crítica literária
método de línguas
Magnum opus
Assinatura
Página oficial
tupi.fflch.usp.br

Eduardo de Almeida Navarro (Fernandópolis, 20 de fevereiro de 1962)[2] é um filólogo e lexicógrafo brasileiro, especialista em tupi antigo e nheengatu. Ele é professor catedrático da Universidade de São Paulo,[3] onde leciona tupi antigo desde 1993,[4] e nheengatu desde 2009.[4][5][6][7] Eduardo Navarro é autor do Método Moderno de Tupi Antigo (1998), um curso de tupi antigo, e do Dicionário de tupi antigo (2013), sua maior obra até o momento. Entre seus principais méritos estão a publicação do dicionário, a tradução das cartas dos índios Camarões, e o fato de ter popularizado o conhecimento da língua tupi antiga, tornando-a mais acessível a um público não especializado.[8][9][10][11]

Eduardo Navarro graduou-se em Geografia pela Universidade Estadual Paulista e concluiu seu mestrado em Geografia Física pela mesma instituição. Seu doutorado, iniciado aos 29 anos, foi inicialmente em Linguística, mas depois passou a ser Letras Clássicas pela Universidade de São Paulo. Possui outra graduação, também em Letras Clássicas.[12][13][4]

Iniciou uma graduação em Filosofia na Faculdade São Bento, de São Paulo, mas interrompeu o curso. Mesmo assim, manteve o apreço por aquela área do conhecimento. Seu primeiro livro, publicado quando tinha 25 anos, intitulava-se O Pensamento Vivo de Sócrates.[12]

Em 1995, doutorou-se com uma tese sobre a questão das línguas no Renascimento.[4][9] Ele publicou, em 1997, Anchieta: vida e pensamentos, livro a respeito do padre jesuíta espanhol José de Anchieta, autor da primeira gramática da língua tupi antiga e um dos primeiros autores da literatura brasileira.[14]

Duas das principais obras de Navarro, o curso e o dicionário de tupi antigo

Em 1998, Navarro lançou a obra Método Moderno de Tupi Antigo: a língua do Brasil dos primeiros séculos, um curso cujo objetivo é capacitar o estudante a ler os textos quinhentistas e seiscentistas nessa língua e ao mesmo tempo mostrar a penetração do tupi antigo na cultura do Brasil.[3][15] Ele realizou, em 2005, pós-doutoramento na Índia, onde foi estudar as origens do mito de São Tomé no Brasil.[4]

Em 2013, Navarro lançou a obra Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil, em que descreve quase oito mil vocábulos dessa língua, superando assim o Tesoro de la lengua guaraní, de Antonio Ruiz de Montoya, que exibe cerca de cinco mil entradas.[4][16][17] Atualmente está preparando um dicionário de nheengatu.[5]

Contribuições

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Literatura tupi

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Eduardo Navarro foi o organizador e principal tradutor dos livros Poemas: lírica portuguesa e tupi, de 1997, e Teatro, de 1999, nos quais redigiu notas explicativas e modernizou a ortografia original dos textos, cujo conteúdo havia sido majoritariamente escrito em tupi antigo por José de Anchieta.[4][18][19][20]

Ele também foi o responsável por redigir o prefácio e as notas de rodapé da reedição do livro Uma festa brasileira, de Ferdinand Denis, além de ter traduzido parte de tal obra diretamente do tupi antigo. A primeira edição desse livro havia sido publicada em 1850 na cidade de Paris. A reedição foi lançada em outubro de 2007, com versão bilíngue em francês e em português. O trecho traduzido por Navarro foram os Poemas brasílicos, do padre Cristóvão Valente.[21]

Cartas dos índios Camarões

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Ver artigo principal: Cartas dos índios Camarões

Em 2021, Eduardo Navarro anunciou ter traduzido as seis cartas dos índios Camarões, descobertas há mais de 130 anos nos Países Baixos, onde lá estão guardadas há quase 400 anos. As cartas, todas em tupi, são o único registro de indígenas alfabetizados que escreveram no Período Colonial. Ele planeja publicá-las em livro.[6][22][23][24][25]

Resgate da língua tupi

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A Praia da Baía da Traição, em cujo município homônimo se tenta resgatar o idioma indígena

Desde o ano 2000, Eduardo Navarro tem formado professores de tupi antigo para escolas indígenas da Paraíba, em uma iniciativa chamada Projeto Poti.[26] O primeiro curso de tupi clássico, ocorrido no município de Baía da Traição,[6] teve duração de dois anos e formou 17 monitores para atuarem como professores nas escolas potiguaras, objetivando multiplicar o conhecimento a respeito dessa língua, a fim de recuperá-la.[27][28]

Houve, ainda, a institucionalização da língua tupi no currículo das escolas indígenas. Com efeito, a disciplina é ministrada desde os anos iniciais até o ensino médio.[29]

Hans Staden (filme)

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Ver artigo principal: Hans Staden (filme)

Eduardo Navarro foi o responsável pela tradução para o tupi de todo o roteiro do filme sobre o aventureiro alemão Hans Staden, que esteve por duas vezes no Brasil do século XVI.[30] O longa-metragem, dirigido por Luiz Alberto Pereira, foi lançado em 1999 por ocasião das comemorações do aniversário de 500 anos do Brasil.[31]

Para além desse filme, Navarro também traduziu alguns diálogos da minissérie A muralha, da Rede Globo.[3]

Prêmios e honrarias

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Obras selecionadas

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Referências

  1. a b NAVARRO 2013, p. VII.
  2. Programa do Jô 2013, 12:00–12:30.
  3. a b c DUARTE, Sara (5 de abril de 2000). «O-î-kuab abá nhe'enga». ISTOÉ Independente. Consultado em 11 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 20 de julho de 2022 
  4. a b c d e f g NAVARRO 2005, orelha da contracapa.
  5. a b NAVARRO 2013, p. 623.
  6. a b c FRANÇA, Valéria (3 de dezembro de 2021). «"Tupi or not Tupi"». ISTOÉ Independente. Consultado em 11 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2022 
  7. TUNES, Suzel. «Abá nhe'enga oîebyr. Tradução: a língua dos índios está de volta». Galileu. Consultado em 11 de setembro de 2022. Arquivado do original em 24 de fevereiro de 2021 
  8. «Disciplinas curiosas revelam heterogeneidade e amplitude das pesquisas científicas da USP». Jornal do Campus. 26 de maio de 2015. Consultado em 11 de setembro de 2021. Cópia arquivada em 20 de julho de 2022 
  9. a b «Eduardo de Almeida Navarro». Letras Modernas. Consultado em 11 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 3 de agosto de 2021 
  10. «10 livros para conhecer línguas e povos indígenas». Museu da Língua Portuguesa. 29 de agosto de 2022. Consultado em 10 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 3 de setembro de 2022 
  11. Programa do Jô 2013.
  12. a b JÚNIOR, Edgard Tessuto (2021). «Entrevista com Eduardo de Almeida Navarro». Revista Metalinguagens: 9–17. Cópia arquivada em 17 de outubro de 2022 
  13. Currículo lattes de Navarro
  14. «Anchieta: vida e pensamentos». Submarino. Consultado em 11 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 16 de março de 2022 
  15. NAVARRO 2013, p. 622.
  16. NAVARRO 2013, p. XII.
  17. Grupo Editorial Global 2013.
  18. NAVARRO 2004.
  19. NAVARRO 2006.
  20. SARAIVA, Renata (23 de setembro de 1999). «Obra teatral de Anchieta ganha nova tradução». Folha de Londrina. Consultado em 11 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 20 de julho de 2022 
  21. «Reedição da obra Uma festa brasileira, de Ferdinand Denis, em comemoração aos cinco anos do sebo Bazar das Palavras». Sebo Bazar das Palavras. Consultado em 11 de setembro de 2022. Arquivado do original em 24 de março de 2016 
  22. TV Brasil 2021.
  23. LOPES, Reinaldo José (4 de dezembro de 2021). «Cartas em tupi traduzidas pela primeira vez mostram visão indígena sobre formação do país». Folha de S.Paulo. Consultado em 11 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 18 de abril de 2022 
  24. JANSEN, Roberta (5 de novembro de 2021). «Cartas no século XVII revelam únicos textos escritos pelos indígenas em tupi no Brasil colonial». Estadão. Consultado em 11 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 18 de novembro de 2021 
  25. FIGUEIREDO, Patrícia (5 de novembro de 2021). «Cartas do século XVII são traduzidas do tupi pela primeira vez na história: 'Por que faço guerra com gente de nosso sangue', escreveu indígena». G1. Consultado em 11 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 26 de novembro de 2021 
  26. Provocações — bloco 2 2012, 1:30–3:00.
  27. FIGUEIREDO, Lucas (27 de agosto de 2000). «Homem branco ensinará tupi a índios na Paraíba». Folha de S.Paulo. Consultado em 11 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 20 de julho de 2022 
  28. FARAH, Paulo Daniel (30 de julho de 2001). «Funai quer recuperar tupi antigo na Paraíba». Folha de S.Paulo. Consultado em 11 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 11 de setembro de 2022 
  29. SILVA & SIMAS 2018, pp. 401–404.
  30. Provocações — bloco 2 2012, 7:00–8:00.
  31. VALLE, Marina Della (1.º de maio de 2008). «Atores aprenderam tupi em seis meses para longa-metragem». Folha de S.Paulo. Consultado em 11 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 20 de julho de 2022 
  32. «Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas». Universidade de São Paulo. Consultado em 11 de setembro de 2022. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  33. KLIBANSKI, Mónica (29 de abril de 2014). «Los mejores libros para niños y jóvenes del año 2013». Noticias educ.ar (em espanhol). Consultado em 11 de setembro de 2022. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  34. Tarde Nacional 2018.

Ligações externas

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