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Eleição presidencial no Brasil em 1902 | ||||
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1º de março | ||||
Candidato | Rodrigues Alves | Quintino Bocaiúva | ||
Partido | PRP | PRC | ||
Natural de | Guaratinguetá, São Paulo | Itaguaí, Rio de Janeiro | ||
Votos | 592 039 | 42 542 | ||
Porcentagem | 93,30% | 6,70% | ||
Votação por estado. | ||||
Titular Eleito | ||||
A eleição presidencial do Brasil de 1902 foi a quarta eleição presidencial e a terceira eleição direta do país. Foi realizada no dia 1º de março de 1902. Houve eleições para os vinte estados da época e o Distrito Federal.
Quando assumiu o governo federal, Campos Sales herdou uma grave crise econômica que prejudicava o país. A inflação atingia níveis insuportáveis, a moeda brasileira se desvalorizava a cada dia, enquanto o principal produto de exportação do país, o café, atravessava uma fase de superprodução interna e baixos preços no mercado mundial. Uma de suas primeiras medidas foi a renegociação da dívida externa com credores ingleses. Estes concordaram com um novo acordo financeiro, oferecendo um empréstimo de 10 milhões de libras e aceitando a suspensão temporária do pagamento dos juros da dívida existente. No entanto, como garantia, exigiram a renda das alfândegas do Rio de Janeiro e de outros Estados se necessário, bem como as receitas da Estrada de Ferro Central do Brasil e da companhia de abastecimento de água do Rio de Janeiro caso o governo brasileiro não cumprisse o acordo. Exigiram ainda que o governo reduzisse a inflação, valorizando a moeda nacional, medidas que foram implementadas pelo então ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho, que reduziu drasticamente as despesas do governo, cancelando a construção de obras públicas e investimentos industriais.
Foi o primeiro presidente a defender abertamente a privatização. Ao final conseguiu equilibrar as contas públicas, Campos Sales iniciou o governo com um rombo de 44 mil contos, e terminou com sobras de 43 mil contos em dinheiro e 23 mil em reservas de ouro.
Desde a independência fora a primeira vez em que a moeda valorizou-se, entretanto os resultados revelaram-se trágicos. Reduziu-se o preço dos produtos estrangeiros no Brasil e a indústria nacional, já tão fraca,passou a enfrentar maior concorrência por parte dos artigos importados. Resultado: mais fábricas fecharam suas portas enquanto outras reduziram sua produção. Embora a política de Campos Sales e seu ministro Joaquim Murtinho tenha estabilizado as finanças, prejudicou profundamente a indústria e as condições de vida da população. Por isso quando o presidente terminou seu mandato e dirigiu-se do palácio para o trem que o levaria a São Paulo, foi vaiado pela multidão no embarque e durante os primeiros dez quilômetros do percurso.[1]
Campos Sales no final do mandato presidencial procurou um sucessor político para o cargo. O então presidente de São Paulo, Rodrigues Alves, pareceu-lhe a melhor opção. Rodrigues Alves fora conselheiro do Império, porém adequara-se ao regime republicano atuando inclusive como ministro da Fazenda durante o governo Floriano Peixoto entre os anos de 1891 e 1892. Campos Sales escolheu Rodrigues Alves para sucessor devido à possibilidade de continuidade da proposta de austeridade econômica no país.
De acordo com a Constituição de 1891 que vigorou durante toda a República Velha (1889-1930), o direito ao voto foi determinado a todos os homens com mais de 21 anos que não fossem analfabetos, religiosos e militares.[2] Mesmo tendo o direito de voto estendido a mais pessoas, pouca parcela da população participava das eleições.[3] A Constituição de 1891 também declarou que todas as eleições presidenciais seriam realizadas em 1º de março.[4] A eleição para presidente e vice eram realizadas individualmente, e o mesmo poderia se candidatar para presidente e vice.
Durante a República Velha, o Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano Mineiro (PRM) fizeram alianças para fazer prevalecer seus interesses e se revezarem na Presidência da República, assim, esses partidos na maioria das vezes estiveram a frente do governo, até que essas alianças se quebrassem em 1930. Essas alianças são chamadas de política do café com leite.[5]
Nessa época, o voto não era secreto, e existia grande influência dos coronéis - pessoas que detinham o Poder Executivo municipal, e principalmente o poder militar da região. Os coronéis praticavam a fraude eleitoral e obrigavam as pessoas a votarem em determinado candidato. Com isso, é impossível determinar exatamente os resultados corretos.[6]
Para presidente, foram sufragados cento e vinte e dois (122) nomes, destacando Rodrigues Alves, o candidato da situação, que era ex-membro do Partido Conservador do período monarquíco e que somente se filiou a um partido republicano (o Partido Republicano Paulista) após a proclamação da república e Quintino Bocaiúva, principal candidato da oposição, um republicano histórico que teve participação decisiva nos acontecimentos que levaram à deposição do Imperador D. Pedro II e à Proclamação da República Brasileira (1889) e que concorria pelo Partido Republicano Conservador. Para vice-presidente foram sufragados cento e trinta e nove (139) nomes, destacando Francisco Silviano de Almeida Brandão e Justo Leite Chermont. Os vencedores foram indicados pelos maiores partidos estaduais, o Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro.[7] Os Partidos Republicanos Fluminense, Pernambucano e Paraense apoiaram Bocaiúva e Chermont; e os dissidentes do Partido Republicano Paulista, o PRP, lançaram o nome de Ubaldino do Amaral Fontoura.
Em 1902, com aproximadamente dezoito milhões e quatroscentas mil (18.400.000) pessoas, sendo um milhão e duzentos e oitenta e seis mil eleitores (1.286.000), apenas seiscentos e sessenta mil (660.000) compareceram à votação, representando 3,59% da população. Os resultados foram divulgados em 26 de junho.
Eleição para presidente do Brasil em 1902 | Eleição para vice-presidente do Brasil em 1902 | ||||
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Candidato | Votos | Porcentagem | Candidato | Votos | Porcentagem |
Rodrigues Alves | 592.038 | 93,30% | Francisco Silviano de Almeida Brandão | 563.734 | 87,83% |
Quintino Bocaiúva | 42.542 | 6,70% | Justo Leite Chermont | 59.887 | 9,33% |
Ubaldino do Amaral Fontoura | 5.371 | 0,83% | Cândido Barata Ribeiro | 1.791 | 0,28% |
Júlio de Castilhos | 1.343 | 0,21% | Júlio de Castilhos | 884 | 0,14% |
Outros | 4.433 | 0,69% | Outros | 15.549 | 2,42% |
Votos nominais | 645.727 | Votos nominais | 641.845 | ||
Votos brancos/nulos | 14.273 | Votos brancos/nulos | 18.155 | ||
Total | 660.000 | Total | 660.000 | ||
Fonte:[7] |
Nota geral: os valores são incertos (ver processo eleitoral).
Bibliografia