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Freguesia | ||||
Igreja de Fazenda | ||||
Gentílico | fazendense | |||
Localização | ||||
Localização no município de Lajes das Flores | ||||
Localização de Fazenda nos Açores | ||||
Coordenadas | 39° 23′ 20″ N, 31° 09′ 59″ O | |||
Região | Açores | |||
Município | Lajes das Flores | |||
História | ||||
Fundação | 9 de Dezembro de 1919 | |||
Administração | ||||
Tipo | Junta de freguesia | |||
Presidente | Marco Oliveira | |||
Características geográficas | ||||
Área total | 9,43 km² | |||
População total (2021) | 261 hab. | |||
Densidade | 27,7 hab./km² | |||
Código postal | 9960-220 Fazenda | |||
Outras informações | ||||
Orago | Senhor Santo Cristo | |||
Sítio | http://freguesiafazenda.webs.com/ |
Fazenda é uma freguesia rural açoriana do município da Lajes das Flores, com 9,43 km² de área e 261 habitantes (2021), a que corresponde uma densidade populacional de 27,7 h/km². A Fazenda das Lajes situa-se a cerca de 2 km do centro da vila sede do concelho, estabelecendo com ela continuidade urbanística e geográfica. Parte importante dos serviços públicos governamentais sediados no concelho estão localizados na Fazenda, localidade que se assume assim como um prolongamento natural da vila das Lajes das Flores. A paróquia católica correspondente à freguesia tem como orago o Senhor Santo Cristo. Foi a última freguesia a ser criada na ilha das Flores, datando apenas de 1919 e formada por lugares desanexados da parte norte da vila das Lajes das Flores, completando o actual mosaico administrativa da ilha.
★ Freguesia criada pela Lei nº 915, de 9 de dezembro de 1919, com lugares da freguesia de Lajes das Flores
Nº de habitantes / Variação entre censos [1] | ||||||||||||||||
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1920 | 1930 | 1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1981 | 1991 | 2001 | 2011 | 2021 | ||||||
549 | 545 | 543 | 700 | 560 | 427 | 322 | 321 | 278 | 257 | 261 | ||||||
-1% | -0% | +29% | -20% | -24% | -25% | -0% | -13% | -8% | +2% |
Grupos etários em 2001, 2011 e 2021
0-14 anos | 15-24 anos | 25-64 anos | 65 e + anos | |
Hab | 56 | 31 | 36 | 26 | 33 | 24 | 146 | 152 | 154 | 50 | 41 | 47 |
Var | -45% | +16% | +27% | -27% | +4% | +1% | -18% | +15% |
A freguesia da Fazenda desenvolve-se de forma quase linear ao longo da estrada que liga a vila das Lajes à vila de Santa Cruz das Flores, num território relativamente aplainado que vai suavemente ascendendo em direcção ao noroeste. Embora existam algumas habitações situadas ao longo do antigo traçado da estrada, bastante sinuoso, a generalidade das povoação está hoje implantada ao longo da Estrada Regional, zona onde se situam os principais imóveis e os serviços sitos na freguesia.
Esta implantação faz da Fazenda um prolongamento natural da vila das Lajes das Flores, mantendo a mesma leitura urbanística e arquitectónica, não deixando adivinhar os limites respectivos.
Aquando do Censo de 2001 a freguesia da Fazenda contava com 278 habitantes, dos quais 23.02% eram crianças e adolescentes e 76.98% adultos e idosos. Estavam recenseados na freguesia (2004) 235 eleitores. Reatando uma tradição secular de emigração para as Américas, ao longo das décadas de 1950 a 1980 a maior parte da população em idade activa abandonou a freguesia, fixando-se maioritariamente nos Estados Unidos da América e no Canadá.
Fazenda é caracterizada pela excelência das suas terras, pelo que parte considerável da sua população ocupa-se ainda em actividades do sector primário, com destaque para a agro-pecuária. Contudo, a sediação de serviços na freguesia, e a proximidade em relação à vila, alterou a economia da freguesia, que hoje já conta com elevada percentagem dos seus activos a trabalhar no sector dos serviços.
De salientar o importante efeito económico que teve a presença na Fazenda, durante muitos anos, da União de Cooperativas das Flores, herdeira do movimento do sindicalismo agrícola florentino. Apesar da fábrica estar hoje localizada nos arredores de Santa Cruz das Flores (nos Vales), a Fazenda continua a ser o centro nevrálgico do associativismo agrícola na ilha das Flores.
Assumindo-se como local de passagem entre as vilas, a Fazenda dispõe de dois restaurantes, quatro bares e uma pensão familiar.
Como a maioria das freguesias açorianas, a Fazenda tem um associativismo fértil em iniciativas, contando com as seguintes instituições:
Na extinta escola do Primeiro Ciclo funciona uma ludoteca e um clube informático, permitindo acesso gratuito à Internet.
No património edificado da freguesia contam-se os seguintes elementos de interesse:
Entre as figuras mais notáveis nascidas nas freguesia contam-se os irmãos José de Freitas Pimentel (1894-1920), médico que se celebrizou no combate à pandemia de gripe espanhola na ilha do Pico, e António de Freitas Pimentel (1901-1981), médico e político, que durante muitos anos dominou a vida política do antigo Distrito Autónomo da Horta. Em memória deste último, o largo ajardinado fronteiro à igreja denomina-se Largo Dr. Freitas Pimentel, tendo em 1963 nele sido inaugurado um monumento que o homenageia.
A principal festividade da Fazenda realiza-se em honra do Divino Espírito Santo, no domingo de Pentecostes, durante uma semana. Também se realiza a Festa de São Pedro, no fim-de-semana mais próximo de 29 de Junho, durante três dias e a festa do padroeiro, Senhor Santo Cristo dos Milagres, no primeiro fim-de-semana de Agosto, durante três dias. Existe também a tradição de realizar o Dia da Agricultura, com leilão de gado, normalmente, no mês de Junho, promovido pelo Serviço de Desenvolvimento Agrário da ilha e pela Associação Agrícola das Flores.
Como parte integrante do povoado que é hoje a vila das Lajes das Flores, a Fazenda deve ter começado a ser povoada pela mesma altura. Ou seja nas primeiras décadas do século XVI. A tradição local aponta como núcleo inicial de fixação o lugar da Eirinha Velha, correspondente à zona mais abrigada e fértil do povoado actual.
Datando apenas de 1919, a freguesia da Fazenda foi a última a ser criada na ilha das Flores, por desanexação da parte norte da vila das Lajes das Flores, completando o actual mosaico administrativa da ilha. Por ser tão recente, são poucos os cronistas açorianos que se referem à existência da localidade. Ainda assim, o cronista florentino José António Camões, ao descrever a ilha, afirma que, após a Ribeira Funda, cousa de 55 braças corre ao mar de cima de uma rocha outra ribeira chamada da Fazenda. Continuando para su-sueste, ainda na mesma baia, está uma pequena pedra chamada baixa do Cherne. Pouco distante da tal baixinha está uma pequena ponta chamada a Ponta da Fazenda[2]
Naquela obra, José António Camões indica que à época (inícios do século XIX), a Fazenda das Lajes contava com 72 fogos, num total de 395 almas, sendo 198 homens e 197 mulheres. Apesar de dizer que no lugar se fabrica a melhor telha da ilha, e hé onde antigamente se criavam os homens, mais fortes e mais robustos, mais animosos de ambas as ilhas, a miséria era tal que o lugar continha apenas 35 casas de telha, sendo as restantes casas cobertas de colmo. Apenas 5 homens andavam então calçados.
À medida que a povoação foi crescendo, foram surgindo vozes que advogavam a criação de uma paróquia independente. O primeiro passo foi conseguido em 1904, quando foi criado o curato do Senhor Santo Cristo da Fazenda das Lajes. O primeiro cura foi o padre Francisco Cristiano Korth, cuja côngrua era paga pelo povo da localidade.
Aparentemente devido às dificuldades de relacionamento que surgiram entre o Estado português e a Santa Sé após a proclamação da República Portuguesa, o curato seria mantido até 1959, mesmo depois da localidade já ser freguesia civil independente desde 1919.
A criação da freguesia da Fazenda foi uma das causas assumidas pelo benemérito e político florentino senador João Joaquim André de Freitas (1860 — 1929), que logo aquando da elevação a curato católico. Contudo, os esforços iniciais não tiveram êxito e apenas pela Lei n.º 915 do Congresso da República, publicada a 9 de Dezembro de 1919[3] e obtida por iniciativa do senador José Machado Serpa, o lugar foi desmembrado da Matriz de Nossa Senhora do Rosário das Lajes, passando a freguesia com a designação de Fazenda. É o seguinte o teor daquela Lei:
Contrariando o hábito de existir coincidência entre as paróquias católicas e as freguesias civis, apenas por alvará de 10 de Novembro de 1959, do bispo de Angra D. Manuel Afonso de Carvalho, foi o curato da Fazenda elevado a paróquia com todos os direitos e deveres previstos no Direito Canónico, tal como refere no referido alvará:
A primeira pedra do templo que viria a ser a igreja paroquial da Fazenda foi lançada a 1 de Agosto de 1896, na presença do bispo de Angra, D. Francisco José Ribeiro de Vieira e Brito, então em visita pastoral às Flores. A igreja foi construída em terrenos comprados a Maria do Rosário Vieira, tendo a sua nave sido iniciada em 1897, ficando concluída em 1901. A capela-mor apenas foi dada por terminada em 1904, ano da criação do curato. Foi mestre da obra, João Jacinto Teixeira, sob a orientação do vigário da Matriz de Santa Cruz, monsenhor Henrique Augusto Ribeiro, um dos grandes apoiantes da edificação desta igreja, tal como sucedeu com as que foram levantadas, por essa altura, nos lugares da Ponta da Fajã Grande e na Fazenda de Santa Cruz. O auto de bênção, que refere que os fazendenses haviam edificado com o suor do rosto e donativos desta ilha e dos Estados Unidos da América, realizou-se no dia 25 de Março de 1906. Os retábulos da Igreja datam desse ano e são da autoria do artista faialense Manuel Augusto Ferreira da Silva. A construção da sacristia norte data de 1967. Nos anos de 1972 e 1973 a igreja sofreu várias obras de restauro e de beneficiação. Da sua imaginária, destaca-se um Bom Pastor, adquirido em 1912.
A Fazenda, pela sua localização na estrada que liga as duas vilas da ilha, rapidamente se assumiu como um local privilegiado para a fixação de serviços governamentais destinados a servir ambos os concelhos. Foi assim que se fixaram na freguesia os Serviços de Desenvolvimento Agrário das Flores, o mais importante departamento governamental da ilha e, mais recentemente, os Serviços de Ambiente das Flores e Corvo, responsáveis pela administração ambiental nas ilhas do Grupo Ocidental.
No âmbito do movimento do sindicalismo agrícola florentino, o cooperativismo dos produtores de leite iniciou-se na Fazenda a 4 de Abril de 1919, data da escritura de constituiu da Fructuária de Produção de Lacticínios da Freguesia do Senhor Santo Cristo dos Milagres da Fazenda, mais tarde, Cooperativa Agrícola Fructuária de Produção de Lacticínios Senhor Santo Cristo, feita na presença do promotor do movimento na ilha, o florentino padre José Furtado Mota.
Por escritura de 29 de Novembro de 1950, foram aprovados novos estatutos e a cooperativa passou a designar-se por Cooperativa Agrícola de Lacticínios do Senhor Santo Cristo, SCARL, cuja direcção era constituída por Fernando Pereira Gomes, Francisco de Freitas Silva e Fernando Gomes Trigueiro. O principal produto era a manteiga, então conhecida como milagrosa por ser de natas iguais produzidas num único posto de desnatação, sito no lugar da Ribeirinha.
Em 1968, a Cooperativa Agrícola de Lacticínios do Senhor Santo Cristo, SCARL, foi pioneira na ilha ao adaptar o seu equipamento e destinar a maior parte do seu leite ao fabrico de queijo do tipo Queijo de São Jorge, reduzindo ao mínimo a produção de manteiga, até então o único produto comercializado pelos sindicatos agrícolas da ilha.
Quando a competitividade no sector cresceu, a pequena cooperativa agrícola da Fazenda às de outras freguesias florentinas, fundando a União de Cooperativas da Ilha das Flores UCRL, destinada a garantir a qualidade da produção de lacticínios na ilha das Flores. Esta entidade, agora com fábrica nos Vales, Santa Cruz das Flores, continua a ser um dos pilares da economia florentina.
Na década de 1940 funcionou na Fazenda uma empresa baleeira pertencente a Francisco Nunes Azevedo.
A freguesia albergou também uma importante estação do sistema LORAN, do tipo LORAN-A, operada pela Armada Portuguesa e hoje extinta por obsolescência daquele tipo de ajuda à navegação. A Estação LORAN das Flores fazia parte de um conjunto de quatro estações instaladas pela NATO em território português no ano de 1965 (em Sagres, Porto Santo, ilha de Santa Maria e Flores). Quando em 31 de Dezembro de 1977 foram desligadas as estações LORAN-A, a Marinha Portuguesa optou pelo sistema Omega, levando ao encerramento da estação. O edifício da antiga estação LORAN é hoje a sede dos Serviços de Ambiente.