A raça Garrana é uma raça ibérica autóctone de equídeos. O Garrano, palavra provável de origem proto-celtagearran,[1] é uma raça de equideo muito antiga, separada das restantes desde o período Quaternário,[2] que se enquadra num grupo alargado conhecido por Cavalo Ibérico devido às características comuns e à sua origem.[3]
Nativo do Minho e Trás-os-Montes, em Portugal, é um dos grandes herbívoros desempenha um papel fundamental na prevenção de incêndios rurais, consumindo material combustível em grandes áreas[8] e foi também utilizado durante muitos séculos como animal de carga e trabalho[3].
Nos anos 40 do século XX existia um número de garrano entre 40 000 e 60 000 em Portugal. Em 2024, a população total está estimada entre 1 500 e 3 000.[10]
A raça está protegida devido ao risco de extinção.
É considerado um cavalo rústico, de montanha e não da planície, e assim seu passo é muito firme sobre terrenos acidentados e ter os cascos muito fortes. Também resulta muito resistente às intempéries e à falta de alimento.
A sua cor é castanho, as suas crinas e rabada de cor preta. O seu tamanho não ultrapassa 1,35 m.
Além de animal de tiro também tem aptidão para sela.
Tipo – Perfil recto, por vezes côncavo. Animais de corpo atarracado, pernicurtos, de sólida constituição óssea. O seu peso rondará os 150 quilos. O pêlo de Inverno dá-lhe o aspecto ursino.
Altura média – Medida ao garrote, com hipómetro, nos animais adultos: Fêmeas 1,23m; Machos 1,28m.
Pelagem – Castanha comum, podendo tender para o escuro. Quase sempre sem sinais. Mais clara no focinho puxando para o bocalvo, por vezes também mais clara no ventre e nos membros. Topete farto, crinas pretas tombando para ambos os lados. Cauda também preta, com borla de pêlos encrespados na raiz.
Temperamento – De carácter bravio e arisco por natureza. O macho inteiro tem muita vivacidade, mas após o desbaste, torna-se tolerante no trabalho e manso. É um cavalo de fundo, resistente, sóbrio, dócil e fácil de ensinar.
Andamentos – Geralmente fáceis, rápidos, de pequena amplitude mas altos. Nos caminhos de montanha são firmes, a subir e a descer, e cuidadosos com as pedras e obstáculos das estradas acidentadas. Ensinados a andar em andadura (“molliter incedere”) e passo travado (“numeratim”).
Aptidão – Sela e transporte de carga, com especial aptidão para caminhos de montanha e pequenos trabalhos agrícolas.
Cabeça – Fina, mas vigorosa e máscula. Nos machos é grande em relação ao corpo, proporcionalmente maior que nos cavalos. Perfil recto, por vezes côncavo. O crânio insere-se sempre na face com grande inclinação, de forma que a parte superior da fronte é convexa de perfil, a crista occipital é pouco saliente em relação aos côndilos. Órbitas salientes sobre a fronte, transversalmente plana. Os olhos são redondos e expressivos. Largas narinas. Orelhas médias. Os dentes são característicos. As ganachas são fortes e musculosas.
Pescoço – Bem dirigido e musculoso, mas curto e grosso, especialmente nos garanhões.
O Garrano foi utilizado como animal de transporte pelo exército português e continua a ser utilizado para carregar madeira e no desempenho de tarefas agrícolas, mas também é utilizado para montar, tendo sido o meio de locomoção ideal nas veredas do alto Portugal. Chegou mesmo a ser utilizado para carregar minérios das minas mais recônditas das serras do Norte durante a II Guerra Mundial.[7]
Encontra-se não apenas no meio selvagem mas também na posse de alguns criadores particulares, que actualmente já vem a aumentar o seu número devido às características do cavalo (dócil para com as crianças, inteligente, trabalhador, de fácil treino..).
Daí participar também no turismo equestre[7] e ser, ainda hoje, utilizado num tipo de corrida de cavalos muito peculiar e muito popular, especialmente em Trás-os-Montes e no Minho, onde é muito admirado.[11] Trata-se da corrida em passo travado, conhecida somente por travado ou travadinho, correspondente em velocidade entre o trote e o galope mas que dá mais conforto ao cavaleiro por fazê-lo saltar pouco da montada. O Garrano aqui demonstra uma aptidão fora do vulgar para a aprendizagem e execução deste tipo de andamento, que antigamente era usado para percorrer grandes distancias com rapidez sem fatigar o viajante.
Em termos ambientais, o efeito da herbivoria dos cavalos assilvestrados, como os garranos, na dinâmica da vegetação actual é semelhante à exercida pelos cavalos selvagens nas paisagens pristinas da primeira metade do Holocénico.[12]
Um dos seus maiores predadores é o lobo-ibérico, levando-os, normalmente, a adoptarem um sistema defensivo em círculo com as crias no interior, repudiando o seu ataque a coice.[13]
Muitos terão sido os garranos que partiram de Portugal nas Descobertas. Sendo o país que na altura melhor dominava os mares e que tinha óptimos cavaleiros seria natural que tal acontecesse. É preciso ver que esta raça tinha várias vantagens entre as demais. É o facto de ser de porte pequeno, o que fazia não ocupar tanto espaço, comer menos e sujar menos. Não é muito exigente na alimentação e muito resistente a doenças. Tem cascos mais duros o que possibilitaria a ausência de ferraduras numa distancia cujo percurso fosse maior. Depois é capaz de levar muito peso em cima e andar por caminhos muito íngremes e cheios de obstáculos naturais.
↑Parece dever-se aos búrios, ramo dos suevos que habitaram a região Entre-o-Douro e o Cávado (Terras de Bouro, antigamente conhecida por "terras de burros"), a tradicional designação de "burros" para os pequenos cavalos utilizados em campanhas guerreiras e no transporte. - História da Raça Garrana, in 4 Batidas, coordenação Nuno Vieira de Brito e José Vieira Leite, Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Setembro de 2011, pág. 26