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O governo do Emirado Islâmico do Afeganistão é um emirado islâmico não reconhecido internacionalmente que foi estabelecido pela primeira vez em setembro de 1996 pelos Talibãs, uma organização islâmica Deobandi que iniciou a sua governação do Afeganistão após a queda de Cabul em 1996. Em 2001, foi derrubado por uma coligação militar liderada pelos Estados Unidos, que invadiu o país após os ataques de 11 de setembro, desencadeando uma guerra de 20 anos no Afeganistão. Os Talibãs regressaram ao poder após a partida da maioria das forças da OTAN e a queda de Cabul em agosto de 2021, e desde então têm o controlo de facto sobre a maior parte do país.[1]
O Talibã e seu governo surgiu a partir do caos que se encontrava o Afeganistão após a invasão soviética. Começou como um movimento político-religioso fundamentalista islâmico composto de estudantes das madraças na região de Helmande e Candaar, no Afeganistão. Surpreendentemente pastós étnicos locais, misturaram códigos tribais dos Pashtunwali com elementos do ensinamento islâmico Deobandi para formar o movimento talibã, uma ideologia fundamentalista islâmica antiocidental, antimoderna e altamente restritiva que governaria o país.[2]
Espalhando de Candaar, o Talibã, por fim tomou Cabul em 1996. Até o final de 2000, o Talibã foi capaz de capturar 90% do país, além de fortalezas da oposição afegã ( a Aliança do Norte) principalmente encontradas na região nordeste da província de Badaquistão. O Talibã tentou impor uma interpretação estrita da lei islâmica, a xaria, e depois foram apontados como partidários dos mujahidin, principalmente por abrigar rede de Osama bin Laden, a Al-Qaeda.
Durante a história de cinco anos do emirado islâmico, grande parte da população experimentou restrições à sua liberdade e às violações dos direitos humanos. As mulheres eram proibidas de trabalhar, as meninas proibidas de frequentar escolas ou universidades. Aqueles que resistiram foram punidos imediatamente. Os comunistas foram sistematicamente erradicados e os ladrões foram punidos por amputar uma de suas mãos ou pés.
Os talibãs conseguiram quase erradicar a maior parte da produção de ópio em 2001,[3] que no entanto foi sempre uma importante fonte de rendimento para os senhores da guerra afegãos, e os Taliban não foram excepção.[4]
Após o tratamento duro do Talibã às etnias xiitas do Afeganistão, o Irã intensificou a assistência à Aliança do Norte. As relações com o Talibã se deterioraram ainda mais em 1998, após as forças talibãs tomarem o consulado iraniano em Mazar e Xarife e executarem diplomatas iranianos. Na sequência deste incidente, o Irã quase entrou em guerra com o Talibã no Afeganistão, mas a intervenção do Conselho de Segurança das Nações Unidas e dos Estados Unidos impediram uma iminente invasão iraniana.
O governo do Emirado Islâmico do Afeganistão chegou ao fim em 2001, após a invasão dos Estados Unidos. Em maio e junho de 2003, altos funcionários do Talibã proclamaram o Talibã reagrupado e pronto para a guerrilha para expulsar as forças dos EUA do Afeganistão.[5] No final de 2004, o então oculto líder do Talibã, Mohammed Omar, anunciou uma insurgência contra "a América e seus fantoches" (ou seja, as forças transitórias do governo afegão) para "reconquistar a soberania de nosso país".[6]
O apoio contínuo de grupos tribais e outros no Paquistão, o tráfico de drogas e o pequeno número de forças da OTAN, combinado com a longa história de resistência e isolamento, indicava que as forças e líderes do Talibã estavam sobrevivendo. Ataques suicidas e outros métodos terroristas não usados em 2001 tornaram-se mais comuns. Observadores sugeriram que a erradicação da papoula, que prejudicou o sustento dos afegãos que viviam de sua produção, e as mortes de civis causadas por ataques aéreos, estimularam o ressurgimento. Esses observadores sustentaram que a política deveria se concentrar em "corações e mentes" e na reconstrução econômica, que poderia lucrar com a mudança da proibição para o produção de papoula para uso medicinal.[7]
Em 8 de fevereiro de 2009, o comandante das operações dos Estados Unidos no Afeganistão, general Stanley McChrystal, e outras autoridades disseram que a liderança do Talibã se encontrava na cidade de Quetta, no Paquistão. Em 2009, uma forte insurgência havia se consolidado, conhecida como Operação Al Faath, a palavra árabe para "vitória" tirada do Alcorão,[8] na forma de guerrilha. O grupo tribal pashtun, com mais de 40 milhões de membros (incluindo afegãos e paquistaneses), tinha uma longa história de resistência às forças de ocupação, portanto o Talibã pode ter compreendido apenas uma parte da insurgência. A maioria dos combatentes do Talibã pós-invasão eram novos recrutas, a maioria oriundos de madraças locais.
Em julho de 2016, a revista americana Time estimou que 20% do Afeganistão estava sob controle do Talibã, com a província de Helmande no extremo sul do país como sendo seu reduto,[9] enquanto que o comandante da coalizão internacional Resolute Support dos EUA, General Nicholson, em dezembro de 2016 afirmou que 10% do território afegão estava nas mãos do Talibã enquanto outros 26% eram disputados entre o governo afegão e vários grupos de insurgência.[10]
Em 29 de maio de 2020, foi relatado que o filho de Mohamed Omar, Mullah Mohammad Yaqoob, estava agora atuando como líder do Talibã depois que vários membros da Shura de Quetta foram infectados com a COVID-19.[11] Foi previamente confirmado em 7 de maio de 2020 que Yaqoob havia se tornado chefe da comissão militar do Talibã, tornando-o o chefe militar dos insurgentes. Entre os infectados na Shura de Quetta, que continuou a realizar reuniões pessoais, estavam Hibatullah Akhundzada e Sirajuddin Haqqani, então comandantes das redes Talibã e Haqqani, respectivamente.[11] Depois de se recuperar, Hibatullah Akhundzada reassumiu seu papel como Líder Supremo do Talibã.
O Talibã iniciou uma ofensiva para recuperar o controle do país em maio de 2021.[12] A ofensiva foi simultânea à retirada das tropas americanas do país, que estava programada para ser concluída em 11 de setembro de 2021. Durante os meses de junho e julho, o Talibã obteve ganhos constantes no campo e em centros urbanos isolados. A partir de 6 de agosto, o Talibã começou a capturar centros urbanos (capitais províncias) e capturou a capital, Cabul, em 15 de agosto, encontrando apenas resistência limitada. À tarde, foi relatado que o presidente afegão Ashraf Ghani havia deixado o país, fugindo para o Tajiquistão ou o Uzbequistão. O vice-presidente Amrullah Saleh e o presidente da Câmara do Povo, Mir Rahman Rahmani, também teriam fugido para o Tajiquistão e o Paquistão, respectivamente. Após a fuga de Ghani, as forças leais restantes abandonaram seus postos e as Forças Armadas afegãs deixaram de existir de facto. Na noite de 15 de agosto, o Talibã ocupou o palácio presidencial, baixou a bandeira republicana afegã e ergueu sua própria bandeira sobre o palácio. No dia seguinte, o Talibã proclamou a restauração do Emirado Islâmico do Afeganistão.[13]
Após a queda de Cabul, o presidente americano Joe Biden criticou os militares e o governo da República Islâmica do Afeganistão, particularmente o presidente Ashraf Ghani e o chefe do executivo Abdullah Abdullah, e os atacou por tolerarem a corrupção, a falta de vontade de negociar um acordo com o Talibã, e a falta de apoio geral da população, dizendo que não cabia aos Estados Unidos promover incessantemente a democracia liberal no país.[14]
Em 2021, Suhail Shaheen (porta-voz oficial do emirado) afirmou publicamente que as mulheres no emirado têm o direito de trabalhar e ser educadas até ao nível universitário. Shaheen declarou que milhares de escolas continuam a funcionar após a conquista, e afirmou o compromisso do emirado com os direitos das mulheres no que diz respeito à educação, trabalho e liberdade de expressão — dentro dos limites das regras islâmicas. Shaheen afirmou que todas as pessoas deveriam ser iguais, e que não deveria haver discriminação dentro do país. Ao contrário do período do anterior regime talibã, esperar-se-ia que as mulheres usassem o hijabe mas não a burca, pois o hijabe é exigido pelas regras islâmicas, de acordo com Shaheen.[15][16][17]
A situação no terreno, contudo, contradiz todo este discurso de moderação.[18] Perguntado sobre as declarações conciliatórias dos Talibãs que sugeriram um regime diferente do seu anterior, Joseph Borrell, representante da política externa da UE, ironizou: "Parece-me que são os mesmos de antes, mas falam melhor inglês".[19]
Em 7 de setembro de 2021, os talibãs anunciaram um governo provisório inteiramente masculino, apenas composto por membros do movimento, e que incluía um ministro do Interior procurado pelo FBI. Está de volta o "Ministério para a propagação da virtude e prevenção do vício" que cuida que a xaria seja estritamente observada.[20]
Na sua primeira entrevista com os meios de comunicação ocidentais, o agente do Ministério para a propagação da virtude e prevenção do vício em Candaar, Mawlawi Mohammad Shebani, promete que as coisas serão diferentes dos anos 1990. "Não queremos que as pessoas entrem em pânico" — diz ele. Shebani revelou o manual de bolso destinado a orientar o trabalho dos seus homens: deve ser usada primeiro a persuasão, e só depois a força contra os mais recalcitrantes. O manual exige que as mulheres só saiam de casa com hijabe, acompanhadas por um tutor masculino, quer orações obrigatórias e tem regras sobre o comprimento da barba para os homens.[21]
Em Maio de 2022 os Taliban ordenaram que todas as mulheres afegãs passassem a usar burca. O decreto assinala também que é melhor para as mulheres ficarem em casa, se não tiverem trabalho importante fora dela. "Queremos que as nossas irmãs vivam com dignidade e segurança", disse Khalid Hanafi, o ministro em exercício no chamado Ministério para a propagação da virtude e prevenção do vício".[22]
Em Fevereiro de 2022, foi noticiado pelo jornal britânico Telegraph que algumas autoridades talibãs de topo estão a enviar as suas filhas para escolas e universidades estatais ou particulares no exterior (Catar e Paquistão) isto enquanto impedem a educação de milhões de meninas no país desde que tomaram o poder.[23]
Até a data de Setembro de 2021, ainda nenhum país reconheceu formalmente o Emirado Islâmico do Afeganistão como o sucessor legítimo da República Islâmica do Afeganistão.
Nome | Retrato | Duração de vida | Mandato | Partido político | |||
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Início da posse | Fim da posse | Duração da posse | |||||
Mulá Hibatullah Akhundzada |
Sem imagem | n. 1961 | 15 de agosto de 2021 | sem cargo | 3 anos, 121 dias | Talibã | |
Emir e Comadante dos Fiéis; O Emirado Islâmico não é atualmente reconhecido internacionalmente, apesar de controlar a maioria do território afegão |