Em meados do século XIX ocorreu uma grande praga de filoxera na Europa, de que resultou a destruição de muitas das vinhas, principalmente em França, que levou à ruína a indústria vinícola francesa. Terá sido causada por um afídio ou espécie afim, embora se considere como muito provável que fosse a espécie Daktulosphaira vitifoliae, conhecida vulgarmente como filoxera. Esta espécie terá tido origem na América do Norte e terá sido levada, através do Atlântico, para a Europa no final da década de 1850. Ainda que se considere que a França tenha sido o país mais afectado, a praga causou prejuízos nas vinhas de outros países europeus, como em Portugal, em 1865[2].
Ainda se debate como é que a Phylloxera foi introduzida em solo europeu: videiras provenientes da América já tinham sido exportadas anteriormente, por várias vezes, com o intuito de se experimentarem enxertos, sem que se pusesse em consideração a possibilidade de ocorrer uma infestação. Ainda que se pense que a filoxera tenha chegado por volta de 1858, a sua presença só é descrita em França a partir de 1863, perto da antiga província de Languedoc. Argumenta-se que a introdução de tais pragas só começaram a ser um problema depois da invenção dos barcos a vapor, que permitiam uma viagem mais rápida através do oceano e, por conseguinte, permitiam a sobrevivência dos organismos introduzidos.
Depois da descoberta de Jules-Emile Planchon de que a filoxera era a causa da murchidão das vinhas, e da confirmação por Charles Valentine Riley da teoria de Planchon, Leo Laliman e Gaston Bazille, dois viticultores franceses, propuseram que as vinhas europeias fossem enxertadas em porta-enxertos provenientes de cepas americanas, resistentes aos danos da filoxera. Ainda que muitos dos viticultores franceses desaprovassem a ideia, muitos não puderam ponderar outras opções. O método mostrou-se eficaz. A consequente "Reconstituição" (como foi chamada) das muitas vinhas que tinham sido afetadas foi um processo lento, mas a viticultura francesa conseguiu retomar uma relativa normalidade na sua produção.
O afídio que causou os danos em França foi descrito pela primeira vez depois do cultivo de cepas europeias, Vitis vinifera, por colonizadores franceses na Florida,[3] no século XVI. Estas plantações foram um autêntico desastre, e experiências posteriores com espécies relacionadas de videira também falharam, ainda que as razões para este insucesso pareçam ter sido um mistério para os colonizadores franceses. Sabe-se hoje que teria sido também a filoxera da América do Norte a destruir estas vinhas experimentais; o veneno injectado pela filoxera causa uma doença fatal para as cepas europeias.[3] Os afídios praticamente não foram detectados pelos colonos franceses, ainda que fossem em grande número, pelo que se tornou particularmente difícil o cultivo da vinha na América.[4]
Tornou-se senso comum, entre os colonizadores europeus, que a variedade vinifera simplesmente não tinha qualquer hipótese de se desenvolver em solo americano, pelo que se começou a cultivar espécies nativas. Houve excepções: plantações de vinifera foram bem sucedidas na Califórnia antes que os afídios lá chegassem, também.
Foram propostas várias teorias que tentam explicar o facto de a filoxera ter sido ignorada como causa provável da doença das videiras e consequente insucesso no seu cultivo, muitas das quais se referem ao comportamento alimentar do inseto e a forma como ele ataca as raízes.[5] O probóscide da filoxera tem simultaneamente um canal injector de veneno e um tubo alimentar com o qual extrai a seiva, com os seus nutrientes, da videira. Quando a toxina existente no veneno corrói a estrutura da raiz da planta, a pressão da seiva baixa e, por consequência, a filoxera retira o seu tubo alimentar e procura outra fonte de alimento. Por isso, alguém que desenterre as raízes de uma videira morta não encontrará qualquer rasto do insecto.[6]
Durante alguns séculos, os Europeus experimentaram cepas americanas às suas condições edafo-climáticas, e muitas foram importadas sem qualquer regulação, pondo de parte a possibilidade de transferência de pragas e os problemas a elas associados. Jules-Emile Planchon, um biólogo francês, que identificou a filoxera na década de 1860, defendeu que o forte aumento de importação de variedades americanas de videira para a Europa entre 1858 e 1862 teria sido a razão da introdução de filoxera na Europa por volta de 1860,[7] ainda que os efeitos do afídio não tenham sido notados em França até à data de 1863.
O primeiro caso documentado de uma infestação de filoxera ocorreu na antiga província de Languedoc, departamento de Gard[8] cerca de 1863.[9] Os viticultores não notaram a presença dos afídios, tal como aconteceu com os colonos na América, enquanto as vinhas se iam destruindo atacadas de uma estranha e misteriosa murchidão. A única descrição da doença que foi deixada por estes viticultores comparava-a a um processo de "consumpção" - nome dado, na altura, à tuberculose. A praga rapidamente se espalhou por toda a França, mas só anos depois se conseguiu determinar a causa da doença.
Cerca de 40% das vinhas foram devastadas num período de 15 anos, desde a década de 1850 até meados da década de 1870. A economia francesa foi fortemente atingida pela murchidão que atacava este seu recurso económico; muitos empresários entraram em falência e os ganhos da indústria vinícola foram reduzidos para menos de metade. A situação foi responsável, entre outras coisas, por um aumento considerável da emigração, principalmente para a Argélia e para a América. Os danos na economia francesa são estimados como tendo sido superiores a 10 mil milhões de Francos.[4]
Só quando, em 1868, o biólogo francês Jules-Emile Planchon e dois colegas descobriram, por acaso, um enxame de filoxera sugando as raízes de uma planta é que surgiu a teoria de que a murchidão que atacava as videiras era causada pela filoxera. E só em 1870 é que o entomólogo americano Charles Valentine Riley confirmou a teoria de Planchon.[10] Riley foi celebrado, então, pelos franceses como se fosse um herói,[11] Mas a reacção à descoberta foi algo confusa. Alguns receberam a notícia com optimismo: sabendo-se a causa, e identificada a espécie, bastava descobrir um método de eliminação do afídio. Outros discordavam, dizendo que os insetos, em vez da causa, eram um dos efeitos da murchidão das plantas. Para complicar a situação, o ciclo de vida do afídio mostrou-se particularmente difícil de se estudar, até porque a sua longevidade não era igual na Europa e na América.[4]
Muitos agricultores tentaram resolver o problema por si mesmos. Produtos químicos e pesticidas foram usados à toa. Em desespero, alguns prenderam sapos debaixo das videiras, enquanto outros deixavam em liberdade as aves de capoeira na esperança de que comessem os insetos.[12] Nenhum destes métodos foi bem sucedido.
Depois de Charles Valentine Riley ter confirmado a teoria de Planchon, Leo Laliman e Gaston Bazille, dois viticultores franceses, sugeriram a possibilidade de que a variedade de videira vinifera podia ser enxertada em porta-enxertos de videiras americanas, resistentes à murchidão, podendo-se assim resolver o problema.
O método foi testado e foi bem sucedido. Tal solução dividiu a indústria vinícola, havendo os "químicos" que rejeitavam a solução do enxerto e defendiam o uso de produtos químicos e pesticidas. Os que defendiam a teoria do enxerto ficaram conhecidos como "Americanistas", ou "mercadores de madeira".[6] Porém, com o sucesso comprovado do enxerto nas décadas de 1870 e 1880, a tarefa imensa de "reconstituição" da maioria das vinhas francesas começou.
O governo francês ofereceu uma recompensa de 320 000 francos para quem descobrisse a cura para a murchidão. Tendo sido o primeiro a sugerir o enxerto de variedades americanas, Leo Laliman tentou reclamar o dinheiro para si mas o governo francês recusou-se a dá-lo, com a justificação de que não tinha descoberto a cura, apenas fizera com que a doença não persistisse.
Contudo podem ter existido outras razões para que o governo francês negasse a recompensa a Laliman, já que houve quem tenha sugerido que teria sido ele mesmo a introduzir a praga em França.[4] Note-se que a ideia do enxerto não foi originalmente de Laliman; de acordo com George Ordish, na sua obra de 1987, The Great Wine Blight, já se tinha experimentado enxertar vinhas com garfos mexicanos em 1524, de modo a melhorar a rentabilidade agrícola.[6]
Ainda não há, actualmente, remédio para as infestações de filoxera, nem para a murchidão por ela causada. Continua, assim, a ser uma séria ameaça para qualquer vinha que não tenha procedido a enxertos.[13] De facto, há apenas três castas europeias que se sabe [carece de fontes] que são resistentes à filoxera, a Assyrtiko, que existe na ilha vulcânica de Santorini, na Grécia, a Ramisco e a Malvasia na região de Colares em Portugal; contudo há quem especule que tais resistências advém das cinzas vulcânicas presentes no solo onde a casta é cultivada (Assyrtiko) e do solo arenoso (Ramisco e Malvasia de Colares), e não das próprias videiras.[14]