Independências | |
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Abertura da série "IndependênciaS" | |
Informação geral | |
Formato | série |
Gênero | Drama |
Duração | 45 minutos |
Criador(es) | Luiz Fernando Carvalho |
Desenvolvedor(es) | Luis Alberto de Abreu |
Elenco | Antonio Fagundes Daniel de Oliveira Isabél Zuaa Ilana Kaplan Gabriel Leone Louisa Sexton Celso Frateschi Maria Fernanda Cândido(ver mais) |
País de origem | Brasil |
Idioma original | português |
Episódios | 16 |
Produção | |
Diretor(es) | Luiz Fernando Carvalho |
Produtor(es) | Enéas Carlos Pereira |
Cinematografia | Leandro Pagliaro Paulo Mancini |
Roteirista(s) | Alex Moletta Paulo Garfunkel Melina Dalboni |
Composto por | Tim Rescala Tiganá Santana Master San |
Localização | Vila Leopoldina (São Paulo, SP) |
Exibição | |
Emissora original | TV Cultura |
Formato de exibição | 1080i (HDTV) |
Transmissão original | 7 de setembro – 21 de dezembro de 2022 |
Cronologia | |
Programas relacionados | A Pedra do Reino Hoje é Dia de Maria Capitu (minissérie) |
Ligações externas | |
Site oficial |
Independências (estilizado como IndependênciaS) é uma série de dramaturgia brasileira em 16 episódios,[1][2] produzida pela TV Cultura e exibida todas às quartas-feiras, às 22h, e reprisada aos domingos, às 22h, de 7 de setembro a 21 de dezembro de 2022.[3][4]
Desenvolvida pelo diretor e cineasta Luiz Fernando Carvalho[5][6][7] e escrita por Luis Alberto de Abreu, teve roteiro assinado por Alex Moletta, Paulo Garfunkel e Melina Dalboni com a colaboração de Kaká Werá Djecupé, Ynaê Lopes dos Santos,[8] Cidinha da Silva e Tiganá Santana. A ideia do projeto surgiu na TV Cultura a partir de pesquisa inicial realizada pelo jornalista José Antonio Severo.
A série estreou no dia do bicentenário da independência do Brasil e faz uma releitura contemporânea de fatos da história brasileira a partir da aurora do século XIX, desde a fuga da família real portuguesa para o país, em 1808, até a morte de D. Pedro I, já em Portugal, em 1834.[9][10][11]
Foi considerada pela crítica como a primeira teledramaturgia decolonial, apresentada por um ângulo crítico a partir da nova historiografia brasileira, que inclui outros personagens postos à margem da história oficial. Ao dar voz a mulheres, heróis da resistência, indígenas e negros escravizados, Luiz Fernando Carvalho constrói um mosaico raro e inédito, raramente visto em representações audiovisuais, e que tenta mostrar a pluralidade da nação brasileira.[12][13][14]
É mais uma parceria entre Luiz Fernando Carvalho e o dramaturgo Luís Alberto de Abreu, com quem o cineasta já realizou as minisséries ‘Hoje é dia de Maria’, ‘Capitu’ e ‘A Pedra do Reino’.[15][16][17]
O elenco mescla lançamentos com atores consagrados, como Antonio Fagundes, Daniel de Oliveira, Isabél Zuaa, Gabriel Leone, Ilana Kaplan, André Frateschi, Celso Frateschi, Cassio Scapin, Rafael Cortez, Walderez de Barros e Maria Fernanda Candido, entre outros. Entre os lançamentos, estão Alana Ayoká, Marcela Vivan, Verônia Mucúna Jamila Cazumbá e Ywy’zar Guajajara.[18][19]
A premissa da série foi a necessidade de revisar a representação de processos históricos, como o quadro "Independência ou Morte", considerada a obra mais consagrada e difundida do momento da independência do Brasil. O quadro de Pedro Américo, como escreveu o diretor Luiz Fernando Carvalho, "em tudo soa falso, espécie de fake news da época, imperialista e excludente. Nos perguntamos: onde estão as mulheres? Onde foi parar Maria Felipa, Leopoldina, Maria Quitéria e mártires como Soror Joana Angélica? José Bonifácio? Frei Caneca? Chaguinhas! E o povo, heróis anônimos de tantos levantes populares? Marisqueiras de Itaparica, onde?".[20]
O ponto de partida é 1808, quando duas travessias distintas cortam o Atlântico. Africanos escravizados desembarcam no Brasil. O príncipe regente Dom João VI e sua família se refugiam no Rio de Janeiro diante da ameaça representada por Napoleão Bonaparte. A colônia se transforma, reconstruída pela mão de obra escravizada, e revela a intimidade entre a elite, os traficantes de pessoas e a corte. Nos anos seguintes, a violência contra os povos originários eclode. Revoltas lideradas por heróis comuns, estudantes e políticos progressistas abalam a monarquia. Gritos de resistência, vindos de outros cantos do país, contrapõem o grito oficial de independência dado por um Dom Pedro I hesitante, em 1822. Levantes, espalhados por todo o país, contribuíram para a Independência e tiveram como líderes personagens até então apagados: a marisqueira Maria Felipa, Frei Caneca, Chaguinhas, Gonçalves Ledo, Antonio Carlos Andrada e Maria Quitéria.
Resultado de um processo criativo colaborativo que se estendeu de julho de 2021 a maio de 2022, desde a pesquisa, criação, escrita, preparação e realização, a série foi totalmente filmada no Galpão criativo de Luiz Fernando Carvalho, na Vila Leopoldina, onde também foram realizados os ensaios. [5]
A preparação do elenco teve início com oficinas práticas e teóricas, com a poeta, ensaísta, professora e dramaturga Leda Maria Martins, as historiadoras Ynaê Lopes dos Santos[8] e Lilia Schwarcz, a psicanalista Maria Rita Kehl e Jaqueline Côelho.
As gravações da série foram realizadas em 70 diárias e concluídas em maio, no mesmo tablado circular - chamado de Cosmograma pelo diretor - onde os atores ensaiaram seus papeis.[1][3]
O estilista Alexandre Herchcovitch desenvolveu os figurinos para a série no ateliê montado no Galpão criativo do diretor.[26]
A linguagem experimental e híbrida da obra envolveu diversos vocabulários narrativos. A narração que estrutura toda a história, na voz da personagem Peregrina (Isabél Zuaa), é feita em kimbundu, língua de matriz africana traduzida por legendas em português professor Niyi Monanzambi (UFBA).[27] Os diálogos indígenas foram criados pelo escritor Kaká Werá Djecupé em tupi-guarani e recriados pela atriz indígena Zahy Guajajara, que traduziu para o Ze’eng eté, uma derivação do tupi falada pela etnia Guajajara.[28]As cenas em inglês foram traduzidas do português antigo por Brian Hazlehurst, que também aprimorou a pronúncia dos respectivos atores.
"A diferença que salta aos olhos, logo no primeiro episódio, é a restituição do papel das matrizes africana e indígena na constituição da identidade multifacetada do Brasil. (...) O excesso visual e o antinaturalismo, marcas de estilo, deram a Luiz Fernando Carvalho um lugar distinto na tevê. Agora, ele dá um passo mais largo e confronta o espectador com um país de extremos, admirado por seu imaginário abundante e, ao mesmo tempo, incapaz de se ver".
—Cássio Starling Carlos, Carta Capital.[4]
A série foi bem recebida pela crítica. Para o crítico Ubiratan Brasil, a série é um "programa que vai ficar para a história. Certamente é uma das melhores produções do ano".[29] Segundo o filósofo, sociólogo e diretor-regional do Sesc-SP Danilo Santos de Miranda, o primeiro episódio "nos deixou a todos impactados por sua beleza artística e sua abordagem mais que necessária deste capítulo de nossa história".[30]
O jornalista Naief Haddad escreveu: "a originalidade do ponto de vista visual e narrativo, que caracteriza os trabalhos de Carvalho, é outra marca da série.(...) Nos 200 anos do grito do Ipiranga, vem a calhar um imperador insólito e falível, sem a pose de herói eternizada no quadro de Pedro Américo".[1]
Para Esther Imperio Hamburger, professora titular de história do cinema e do audiovisual da Escola de Comunicações e Artes da USP, a "série pop barroca convida a uma experiência sinestésica da biodiversidade brasileira, animal, vegetal, étnica, de gênero, religiosa, linguística, histórica, passado e presente. Uma nova dramaturgia para dar conta da nova historiografia". [31] Em O Globo, a crítica Patrícia Kogut deu nota 10 para “Independências”: Antonio Fagundes e Ilana Kaplan estão maravilhosos. E o diretor, como sempre, usa uma linguagem inovadora e emociona. [32]
No artigo assinado pelo crítico Rodrigo Fonseca, "o primeiro episódio (...) é um esplendor sinestésico, misturando imagens de arquivo de aldeias, fotos, pinturas e uma atuação devastadora de Ilana Kaplan como Carlota Joaquina. Esse capítulo abre-alas promove, na sua dramaturgia (a um só tempo barroca e pop), uma cartografia da indignidade humana imposta aos povos originários da Pangeia latina e aos escravizados africanos. É uma espécie de “La Chinoise” (1967), com toda a semiótica do Godard de ontem e de hoje".[7]
Para o diretor Gabriel Priolli, "Independências está a anos-luz da desambição estética da atual telenovela e mesmo das séries brasileiras, que supostamente seriam uma evolução da progenitora. Não é produto de entretenimento, é obra de arte".[33]
Como observou Letícia Magalhaes,[28] "a série tem forte linguagem teatral, e ao mesmo tempo apresenta técnicas impossíveis no teatro, como o uso do close-up extremo, com a câmera bem perto do rosto dos atores”.