Inteiro p-ádico, em matemática, é um número representado, formalmente, como uma soma de potências de um número primo p, ou seja, é um número representado por:
em que todos ak estão entre zero e p-1.[1]
Deve-se notar que esta série não é convergente em .[1] Esta série é convergente como uma série nos números p-ádicos.[2]
O conjunto dos inteiros p-ádicos costuma ser representado por .[1][2][3]
Todo número natural n pode ser escrito de uma forma única (a menos de parcelas que são zero), em uma base p natural, p > 2, qualquer,[Nota 1] pela soma finita:
em que cada ai é um inteiro entre zero e p-1.[3]
A notação convencional, em aritmética, de um número na base p é agrupar os seus dígitos em sequência, ou seja, escreve-se:
onde fica implícito que, a partir de um certo ponto, todos os ai são zero.[3]
Um inteiro p-ádico é uma sequência formal destes dígitos que se estende até o infinito, ou seja, é um número:
Também pode-se representar este número como a sequência de seus dígitos, lembrando que esta presentação tem fim mas não tem começo:[3]
As operações de soma e produto são feitas seguindo-se a regra de operação na base p, ou seja, quando a soma de duas parcelas atinge p, aplica-se a regra do "vai um"[Nota 2] e o produto é feito da mesma forma que o produto aritmético.[1][3]
Alguns exemplos:
Seja p = 5, a = 1 + 3 . 5 + 4 . 52 + 1 . 53 + ... e b = 2 + 2 . 5 + 4 . 52 + 0 . 53 + .... Então a soma a + b será o número 3 + 0 . 5 + 4 . 52 + 2 . 53 + .... O coeficiente de p0 é 3 = 1 + 2. O coeficiente de p1 seria 5 = 3 + 2, mas como chegamos a p = 5, o coeficiente se torna 0 e temos o "vai um". O coeficiente de p2 se torna, então, a soma de três parcelas, os coeficientes de p2 em a e em b somado a 1, ou seja, 4 + 4 + 1. Novamente, como o resultado, 9, é maior que p, escrevemos 9 - 5 = 4, e "vai um" para a próxima potência.[1]
Seja p = 7, a = ...251413 e b = ...121102. A soma de a e b então é dada por:[3]
... 2 5 1 4 1 3 + ... 1 2 1 1 0 2 ----------------- ... 4 0 2 5 1 5
A multiplicação é feita de forma semelhante, por exemplo, para multiplicar os inteiros 7-ádicos a = 1 + 2 . 7 + 3 . 72 + ... e b = 3 + 2 . 7 + 1 . 72 + ... temos o seguinte esquema:[1][Nota 3]
a = 1 + 2 . 7 + 3 . 7<sup>2</sup> + ... b = 3 + 2 . 7 + 1 . 7<sup>2</sup> + ... ---------------------------------------------------------- 1 . b = 3 + 2 . 7 + 1 . 7<sup>2</sup> + ... 2 . 7 . b = 6 . 7 + 4 . 7<sup>2</sup> + ... 3 . 7<sup>2</sup> . b = 2 . 7<sup>2</sup> + ... ----------------------------------------------------------- a . b = 3 + 1 . 7 + 1 . 7<sup>2</sup> + ...
Outro exemplo, igualmente para p = 7, o produto de ...251413 por 121102 é dado por:[3]
... 2 5 1 4 1 3 x ... 1 2 1 1 0 2 ------------------ ... 5 3 3 1 2 6 ... 0 0 0 0 0 ... 1 4 1 3 ... 4 1 3 ... 2 6 + ... 3 ------------------ ... 3 1 0 4 2 6
É fácil, porém tedioso, definir rigorosamente estas operações de soma e produto, e demostrar que elas satisfazem as propriedades usuais, ou seja, a soma é comutativa, associativa e tem elemento neutro zero, a multiplicação é comutativa, associativa e tem elemento neutro um, e a multiplicação é distributiva em relação à adição.[1]
É também imediato verificar que todo número natural n tem uma representação p-ádica única, e que a soma e o produto p-ádicos são iguais à soma e produtos de naturais.[carece de fontes].
Fazendo a soma do inteiro p-ádico:
com o número 1, obtêm-se o número p-ádico:
Temos, portanto, que -1 (e, pelo produto, todos números inteiros) são também inteiros p-ádicos.[1][3]
Com isto, podemos provar que o conjunto dos inteiros p-ádicos, com estas operações de soma e produto, forma um anel.[1][3]
Um cuidado deve ser tomado, porém, quanto à interpretação do que seja um "inteiro" p-ádico. É fácil ver que, por exemplo, o número 7-ádico ...333334, caso somado a si mesmo, gera o número 7-ádico ...00001, ou seja, 1/2 é um inteiro 7-ádico. Como regra geral, todo número racional da forma a/b, em que b não é divisível por p, é um inteiro p-ádico.[3]