Letoceto | |
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Localização atual | |
Localização de Letoceto na Inglaterra | |
Coordenadas | 52° 39′ 23,2″ N, 1° 51′ 26,5″ O |
País | Inglaterra |
Condado | Staffordshire |
Distrito | Midlands Ocidentais |
Localidade mais próxima | Lichfield |
Dados históricos | |
Fundação | século I - 50 |
Abandono | século IV |
Início da ocupação | Antiguidade Clássica |
Império | Romano |
Notas | |
Acesso público |
Letoceto (em latim: Letocetum) é uma antiga ruína de um povoado romano. Foi um importante posto militar e estação de abastecimento perto da junção da estrada de Watling, uma estrada militar romana entre North Wales[1] e a rua Icknield (ou Ryknild),[2] atual "Rodovia A38".[3] As ruínas estão localizadas na paróquia de Wall, Staffordshire, Inglaterra. É possuído e administrado pelo National Trust,[4] sob o nome Letocetum Roman Baths Site & Museum (Termas Romanas & Museu de Letoceto). O local está na guarda do English Heritage com o nome de "Wall Roman Site".[5]
Os romanos vieram a Letoceto no ano 50 para estabelecer uma fortaleza durante os primeiros anos da invasão da Grã-Bretanha. O território não podia suportar grandes quantidades de soldados e Letoceto, estando em uma importante encruzilhada, tornou-se uma estação de abastecimento em grande escala. O assentamento se desenvolveu com sucessivas balneários e mansiones construídas para servir os viajantes oficiais, bem como a crescente população civil. É conhecida principalmente de escavações detalhadas em 1912-13, que se concentrou nos locais do banho público e da mansio, mas há evidência de um assentamento substancial com uma possível basílica, templos e um anfiteatro.[6] Os restos visíveis hoje são as pedras do balneário e da mansio, construídas em aproximadamente 130 depois de Letoceto deixar de ter uma função militar e se tornar um assentamento civil. O assentamento atingiu seu auge durante o segundo e terceiro séculos e então ocupava entre 8,1 hectares (81 000 metros quadrados) e 12 hectares (120 000 metros quadrados).
No fim do terceiro século, a cidade foi realocada dentro das altas paredes defensivas na estrada de Watling. Se Letoceto teve alguma importância na época romana, essa importância passou para Lichfield, que está situada a 2,5 ou 5 quilômetros a nordeste[7]. Depois que os romanos partiram no início do século V, o assentamento entrou em declínio. A vila de Wall emergiu na área que em tempos foi ocupada por Letoceto.[8]
O sítio é mencionado como Etoceto (Etocetum)[nt 1] no Itinerário de Antonino e presumivelmente representando uma latinização de um nome de lugar britônico refletindo um nome indígena reconstruído como Lētocaiton ("Madeira acinzentada", ver Galês antigo: Luitcoyt[10] e moderno galês Lwytgoed[11]). O nome possivelmente representava uma espécie de árvore proeminente no local, como freixo e olmo.[12][13]
É provável que um pequeno assentamento nativo ocupasse o local antes da chegada dos romanos, possivelmente como a principal estação comercial na fronteira entre duas tribos britânicas, a Coritanos nas Midlands Orientais[carece de fontes] cujo centro tribal posterior estava em Ratas dos Corieltáuvos,[14] e os Cornóvios ao oeste com a sua capital original, Uriconon, que mais tarde daria seu nome à importante cidade romana britânica de Virocônio dos Cornóvios na fortaleza "Hillfort" em "The Wrekin".[15][16] Essas tribos ofereciam pouca resistência à dominação romana.[17][11]
Em cerca de 50, um vexilação romano construiu uma grande fortaleza de madeira em uma colina (perto do local da igreja hoje em dia) em Letoceto.[18] Ela abrigou a XIV Legião Gêmea durante as campanhas do governador Galo contra os brigantes.[18] Era uma boa posição defensiva, mas as terras pobres que cercavam a fortaleza não podiam sustentar independentemente um grande número de soldados.[19] Durante o período neroniano esta fortaleza inicial foi substituída por uma menor e Letoceto então se desenvolveu em uma estação de abastecimento em grande escala[20]. A maioria das tropas deslocou-se à fortaleza em "Virocônio" durante a administração adiantada de Caio Suetônio Paulino em aproximadamente 58.[11]
Uma mansio foi construída para fornecer alojamento para messageiros oficiais que viajavam na Watling Street. Um balneário também foi construída para os viajantes e para a crescente população civil. Quando a primeira mansio e balneário foram concluídos, os trabalhadores ainda cntinuaram a ser necessários para recolher madeira para o balneário, cuidar de animais e para reparar os veículos utilizados pelos viajantes oficiais. A população civil teria fornecido muitos desses serviços.[18] O assentamento nativo cresceu durante o período Flaviano em diante e passou a ocupar entre 8,1 a 12 hectares. Cemitérios romanos com cerâmica do século I e II foram encontrados ao longo de Watling Street em 1927, e descobertas adicionais foram feitas mais tarde, em 1966. No campo entre o local da mansio e Watling Street, uma depressão circular no chão pode demarcar o local de um anfiteatro romano.[21][11] Um grande vaso de barro com semelhança à Minerva foi encontrado perto da atual igreja, que pode, portanto, ser o local de um templo de Minerva. Uma marca retangular no campo de cultivo ao noroeste do balneário, somente visível no tempo seco, pode ser o local de um outro templo.[11]
Quando a Legião XIV se instalou pela primeira vez em Letoceto, eles teriam usado as trilhas existentes.[20] Uma estrada de pedra era necessária para permitir movimento confiável. Watling Street foi dada uma superfície de pedra aproximadamente em 70.[22] Esta é a data aproximada de duas moedas encontradas no centro de Letoceto sob a primeira superfície da estrada. Uma, um dupôndio de Nero (64-66), foi considerada por John Kent não ter mais de cinco anos de uso. A outra moeda, uma de Nero (66-68) estava em perfeitas condições, quando perdida.[22] Não há evidência para indicar quando Ryknild Street foi construída, mas a partir do traçado, pensa-se que Watling Street foi construída primeiro.[22] Watling Street estendeu-se de Letoceto a Londres em uma direção e na outra direção para Wroxeter[23] e a Chester. Ryknild Street tinha 7,3 metros de largura, cruzava com Watling Street e ligava Letoceto a Cirencester a sudoeste, e a Yorkshire a nordeste.[20]
Os alicerces da última mansio construída no local, e seu balneário associado, foram descobertos por arqueólogos em 1912-13.[20] Os quartos da mansio e do balneário foram esvaziados e as fundações de pedra foram expostas. Este trabalho deixou, em alguns inferiores níveis estratificados, vestígios das duas mansiones de madeira anteriores.[20]
A encosta foi aterraçada e a primeira mansio, cuja construção é datada de 54-60, ocupou totalmente um terraço. Ela era uma construção de vigas em console, as paredes eram de pau a pique, algumas eram rebocadas e algumas eram pintadas com decoração linear simples. Assumiu-se que o telhado era de palha e foi consumido quando o edifício foi destruído durante um incêndio. Os quartos eram organizados ao redor de um pátio quadrado com aproximadamente 19 por 19 metros.[24] Devido à construção de edifícios posteriores, o traçado conhecido da primeira mansio é bastante fragmentado. A data em que a primeira mansio foi destruída é incerta, foi provavelmente perto do começo do século II, porque as camadas da destruição continham cerâmicas terra sigillata do período Flávio-Trajano, a parte de um "mortário"[25][26] que data de 70-100 e parte de um vidro de uma tigela que foi datada do século II.[24]
A evidência para o traçado da segunda mansio também é muito fragmentada.[24] Era um edifício com um pátio interno construído com os pilares de alburno ajustados verticalmente nas valas da fundação. As paredes eram de gesso e argamassa e alguns quartos foram pintados em cores fulgurantes.[24] No pátio havia um grande poço de 2,29 por 2,44 metros e 6,1 metros de profundidade, cavado no arenito subjacente.[27] A segunda mansio foi deliberadamente desmontada por volta de 140-150 durante a construção da terceira mansio[27]. O poço foi enchido e fechado no mesmo período e nele havia um fragmento samiano de cerâmica datado de 125-145. Por volta da mesma época, a segunda colina foi abandonada e a cidade deixou de ser um local militar. Uma das últimas características militares em Letoceto foi o "duto Púnico" associado a este último pequeno forte. A vala foi preenchida antes que qualquer limo secundário fosse formado e o material utilizado para preenchê-la continha uma moeda trajânica, datada de 98-117, e cerâmica sugerindo o período de Adriano ou do início do reinado de seu filho adotivo, Antonino Pio.[28]
O primeiro balneário foi descoberta durante uma escavação em 1956[29] Em uma vala da construção do primeiro edifício estava uma moeda desgastada de Vespasiano datada de 71; devido à condição da moeda, acredita-se que este edifício foi erguido por volta de 100[30] e que tenha sido construído durante o período militar visto que a sobra da alvenaria que sobreviveu é de alta qualidade, com pedra finamente revestida e uma parede de cerca de 1,2 metros de espessura. Pensa-se que a segunda mansio, o último forte, e o primeiro balneário, todos chegaram ao fim aproximadamente no final do período militar no local.[30]
Letoceto deixou de ser usado pelos militares depois de cerca de 130, provavelmente deixando a cidade sob a autoridade da civitas dos Cornóvios com sua capital em Virocônio.[31] Mais ou menos por volta desta época que uma nova mansio e balneário foram construídos.[11] A terceira e melhor compreendida mansio foi construída sobre uma base de pedra cerca de 130. Tinha pelo menos dois andares de altura e era coberta por uma uma longa sequência de colunas ligadas em entablamentos com telhado de telha, provavelmente apoiada em colunas de madeira. No centro da colunata, uma grande porta formou a entrada principal para o interior do edifício.[11] Através do hall de entrada havia um átrio com colunas ou pátio com piso em emplastro, a área central provavelmente era a céu aberta e talvez contendo um jardim herbáceo.[32] Os postes de madeira colocados sobre estas fundações ao redor das bordas da colunata suportavam uma varanda na parte superior.[11]
O hall de entrada era flanqueado similarmente de ambos os lados por grandes quartos provavelmente acessível a partir do pátio central.[11] Aquele, no oeste, continha instalações de banho e uma calha que levava a uma coletora na parte central do edifício, o outro para o leste poderia ter sido uma sala de guarda. No lado oeste do pátio estavam três pequenas salas que se abriam direto para a colunata central no nível térreo.
A função destes quartos é incerta, mas eles foram provavelmente utilizados como alojamento privado para os usuários da mansio. O maior aposento da mansio ficava no canto nordeste, ele era aquecido por um sistema de hipocausto canalizado, acrescentado algum tempo depois que o edifício foi concluído.[11]
A oeste da mansio estava o balneário público, separada por uma estrada de paralelepípedos com 2,4 a 3 metros de largura.[11] Da rua, uma área pavimentada conduzia para uma colunata que dava para o edifício localizado no leste do sítio e continuando ao redor do lado norte. Grandes portas no centro da colunata ao leste, se abriam em um grande pátio coberto.[11] Este pátio pode ter sido uma "basílica";[nt 2] num assentamento deste tamanho era esperado ter uma, e este pátio é o único candidato no sítio. Na extremidade norte do complexo de banho, havia o quarto de serviço ou o prefúrnio, que continha os fornos a lenha do sistema de hipocausto.[11] Este sistema de aquecimento subterrâneo foi encontrado no tepidário, no caldário e no lacônico[33] onde os assoalhos eram suportados em pilares de telhas ou de "pilas".[34][11] O ar quente dos fornos circulavam subterraneamente entre estes pilares e eram movidos para as laterais do edifício através de caixas de cerâmica encaixadas nas paredes, e finalmente saim do edifício através de aberturas no telhado abobadado.[11]
Letoceto perdeu seus edifícios públicos perto do final do século III: O balneário e a mansio foram queimados.[36] Nessa época, construíram-se defesas muito sólidas que não incluíam os balneários e a mansio. A razão pela qual o balneário e mansio foram abandonados não pode ser determinada, mas é provável que tenha sido econômica.[36] Outras mansiones situadas na Grã-Bretanha parecem ter sido abandonadas no mesmo período. Isso não implicou o fim do serviço da estação de abastecimento em Letoceto, pode ter sido uma reorganização mais barata.[36] As últimas defesas foram construídas em cerca de 300 atravessando Watling Street, cerca de 150 metros a leste do local da mansio.[37] As defesas consistiram de um muro de pedra de cerca de 2,7 metros de espessura, com três valas e com um baluarte contemporâneo de erva na parte traseira, a área interna ocupava 2,1 hectares.[37] EM 1964, os lados norte e oeste foram identificados e seccionados, e as fundações de uma parede no canto sudoeste foram descobertas. No lado ocidental, uma parte da parede foi encontrada ainda em pé a 1,5 metros acima das fundações rasas, mas abaixo do solo. Acredita-se que a parede foi construída no período compreendido entre 275 e 325.[37]
Pensa-se que a construção destas defesas estava relacionada com uma revolta geral das tribos galesas-celta, os ordovicos e siluros, que ocorreram naquela ocasião. A revolta foi rapidamente reprimida, mas, para se proteger contra outras perturbações, uma série de fortalezas, incluindo Letoceto, Penocrúcio,[38][39] e Uxacona[40][39] foram estabelecidas ao longo da Watling Street.[11] Todos os vestígios arqueológicos do século IV vieram de dentro das defesas e nada foi encontrado fora, sugerindo que toda a população estava dentro das defesas perto do século IV.[41] A última moeda a ser encontrada em Letoceto foi cunhada na época do imperador Graciano e datada de 381[35]. A administração romana desmoronou no começo do século V e mais nada foi encontrado no local que é datável após esta época.[42]
Durante algum tempo, o assentamento deve ter sido significativo, sendo listado na História dos Bretões. Frank D. Reno, citando Graham Webster, escreve: "O Muro, aparecendo como Caer Luit Coyt[nt 3] e, sem dúvida corretamente atribuído, aparece de forma incongruente entre tais grandes cidades e depósitos militares como York, Londres, Chester, Wroxeter e Caerleon, mas, de qualquer forma, deve ter sido um lugar de importante consequência devido à sua inclusão como uma cidade estratégica".[44] As últimas defesas levaram à sua descrição como um Caer e foi estabelecido lá um posto avançado britânico, possivelmente polisiano.[45] Ainda não foi publicada nenhuma evidência histórica ou arqueológica correspondente ao período imediatamente posterior à partida dos romanos..[45] Letoceto veio a perder toda a sua importância com o desenvolvimento da localidade de Lichfield, no século VII, sede de um bispado.[45]
Quando o lugar reapareceu, historicamente estava sob um novo nome, Wall. Este nome referia-se aos resquícios das últimas defesas romanas, parte das quais ainda de pé no início do século XIX.[45] Atualmente, Letoceto é um sítio arqueológico ao ar livre e museu romano, cuja manutenção é feita por voluntários todo último sábado e domingo de cada mês. Em algumas tardes, são realizadas caminhadas com guias, quando os voluntários estão presentes no local.[46]