Língua iaualapiti

Yawalapíti

Yawalapíti

Pronúncia:[ja.wa.la'pi.ti]
Outros nomes:Iualapiti, iaualapiti, yaulapiti, yaualapiti, yawarapití, yualapiti
Falado(a) em:  Mato Grosso (Brasil)
Região: Parque Indígena do Xingu
Total de falantes: 3[1]
Família: Arawak
 Arawak Oriental
  Baixo Amazonas
   Xaray-Xingu
    Yawalapíti
Escrita: Alfabeto latino
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---
ISO 639-3: yaw
Localização do Parque Indígena do Xingu no Brasil

A língua yawalapiti (yawála “tucum” + píti “povo”, em português, “povo do tucum”)[2] é uma língua indígena pertencente à família arawak, utilizada pelo povo yawalapiti no Alto Xingu, dentro do Parque Indígena do Xingu, no estado do Mato Grosso, Brasil.[3][4] Trata-se de um idioma ameaçado de extinção, com pouquíssimos falantes nativos restantes, havendo constantes esforços para não deixar a língua desaparecer.

A população total do povo yawalapiti é cerca de 305 indivíduos,[5] porém, a língua é falada plenamente por apenas três pessoas mais velhas das aldeias Yawalapiti e Caramujo. Esse número tem diminuído, pois os membros da comunidade se comunicam em línguas mais prevalentes da região, como o mehinaku, kamaiurá e kuikuro.[6][7] Há sinais de revitalização do yawalapiti, com o uso do Método Mestre e Aprendiz e o crescente interesse de jovens na aprendizagem da língua, o que contribui diretamente para a preservação e continuidade de sua transmissão nas próximas gerações.[8]

Originalmente, o yawalapiti é uma língua ágrafa, isto é, não apresenta um alfabeto escrito. Com exceção de certos fonemas, a escrita yawalapiti é idêntica a sua transcrição fonética do AFI. A direção de escrita do yawalapiti é horizontal, da esquerda para a direita, como no português. Embora a língua seja essencialmente oral, o uso da escrita alfabética tem se tornado cada vez mais comum em contextos educacionais e na documentação da língua.[2][9][10]

Estruturalmente, o yawalapiti é uma língua aglutinante, caracterizada pela junção de múltiplos morfemas em uma única palavra​. Seu sistema nominal distingue entre nomes relativos, que exigem um possuidor, e nomes absolutos, que requerem um mediador de posse​.[11][12] A língua possui um sistema reduzido, mas produtivo, de classificadores nominais, que categorizam substantivos com base em características físicas​.[13][14] Além disso, ao contrário de outras línguas arawak, o yawalapiti não marca gênero nos prefixos de terceira pessoa, utilizando pronomes demonstrativos para essa distinção​.[15] Sua ordem de constituintes é predominantemente Sujeito-Objeto-Verbo (SOV)​.[16]

Tucum já maduro.

O nome yawalapiti tem origem na própria língua yawalapiti e é composto pelos elementos yawála, que significa tucum (uma palmeira nativa da região, suas fibras e frutos são amplamente utilizados na produção de objetos artesanais), e píti, que significa povo, ou seja, "povo do tucum".[2] No caso da língua em questão, existe apenas o endônimo, já que não há um exônimo distinto utilizado por outros grupos.

Distribuição

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A fluência no yawalapiti está quase completamente restrita ao povo yawalapiti, sendo falada por um número extremamente reduzido de indivíduos. Em 2021, os falantes da língua representam uma pequena fração da população total, de cerca de 305 indivíduos,[5] enquanto a maioria se comunica em línguas indígenas predominantes na região, como o mehinaku, kamaiurá e o kuikuro.[6]

Em 2021, a língua yawalapiti conta com apenas três falantes plenos: Waripirá da aldeia Caramujo, Makawana e Makuku, ambos da aldeia Yawalapiti. Além deles, há um pequeno grupo de falantes parciais e lembradores, incluindo quatro mulheres mais velhas e alguns indivíduos que ainda mantêm certo conhecimento do idioma. Entre os aprendizes, destacam-se dois homens adultos que estão retomando o uso da língua, três jovens mulheres com conhecimento básico e duas crianças, de quatro e oito anos, que estão aprendendo o yawalapiti com os mais velhos.[7]

Categoria do falante Grau de proficiência Nome Gênero Aldeia
Falante Nativo Proficiente, com certos esquecimentos

de palavras e modos de se expressar.

Warípirá Homem Aldeia Caramujo
Makawana Homem Aldeia Yawalapiti
Makúku Homem Aldeia Yawalapiti
Falante Nativo Ainda conseguem se comunicar na língua,

embora apresentem esquecimentos de vocabulário e formas de expressão.

Ñapirú Mulher Aldeia Paluxaio
Arupy Mulher Aldeia Paluxaio
Sanain Mulher Aldeia Batuvi
Ulé Mulher Aldeia Aturua
Falante Nativo Conseguem se lembrar de algumas

palavras e frases.

Kajanumálu Mulher Aldeia Awetý do Saidão
Tsi’ápukú Homem Aldeia Awetý do Saidão
Awirinápu Homem Aldeia Hiuláya
Jatamápukú Homem Aldeia Ypawú
Mayalú Mulher Aldeia Lahatua
Pairumá Mulher Aldeia Caramujo
Airiká Homem Aldeia Paluxaio
Aprendizes como segunda

língua

Alto grau de proficiência Tapí Homem Aldeia Yawalapíti
Grau médio de proficiência Walámatíu Homem
Crianças aprendizes Em fase inicial de aprendizagem Um menino e uma menina Aldeia Yawalapíti

Os yawalapitis estão distribuídos em cinco aldeias dentro do Parque Indígena do Xingu. No entanto, um número crescente de jovens tem migrado para cidades próximas, como Canarana, Gaúcha do Norte e Querência. Nesse contexto, as línguas mais faladas entre os yawalapiti são o kamaiurá e o kuikuro, enquanto o uso do yawalapiti tem diminuído progressivamente.[6]

A língua yawalapiti não apresenta dialetos distintos, mas há variações fonéticas e fonológicas entre os falantes. Diferenças na pronúncia podem ser observadas entre indivíduos, como a alternância entre [t] e [tʃ], além do apagamento de /h/ em determinados contextos.[17]

Essas variações foram registradas especialmente entre Aritana e Makawana, que foram criados na mesma aldeia, mas apresentam diferenças na pronúncia de certas palavras. Um exemplo disso é a expressão "vamos procurar", que pode ser pronunciada como [ˈaja aˈwauˈti] por um e [ˈaja aˈwauˈtʃi] por outro. [18]

Apesar dessas variações individuais, a língua não se subdivide em variantes regionais ou dialetais, pois a comunidade falante é pequena e concentrada em um território restrito. O contato frequente com outras línguas indígenas do Alto Xingu tem influenciado o yawalapiti, mas sem resultar na formação de dialetos internos.

Línguas Relacionadas

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A língua yawalapiti forma com as línguas mehinaku e wauja um pequeno conjunto de línguas arawak. As línguas irmãs mais próximas desse pequeno conjunto são as línguas faladas pelos povos enawenê-nawê e pareci, localizados ao Noroeste do Parque Indígena do Xingu, e pelos teréna e kinikináw, localizados a sudoeste. Deste pequeno conjunto de línguas a que pertence a língua yawalapiti, considerando aspectos lexicais, morfossintáticos e fonológicos, ela se destaca como a mais diferente. [1]

Arawak

Yanexa

Arawak Ocidental

Arawak Orientalㅤ

Solimões Caribe

Baixo Amazonasㅤ

Atlântico

Guaporé-Tapajós

Xaray-Xingu

Mehinaku

Wauja

Yawalapiti

Kustenau†

Waraiku†ㅤ

(† = língua extinta)[19]

Comparação entre os vocábulos das línguas da família xaray-xingu[20][21]
Português Yawalapíti Mehinako Wauja
Avô atu atu atu
Arco ita ɨ̃tatãȷ̃ ɨtaj
Cabeça kuʂu tɨwɨ tiwi
Carne iti nihĩti hɨtaj
Casa pa pai paj
Osso api napi napi
Mulheres Yawalapitis durante a Marcha das Mulheres Indígenas em Brasília (DF), 2019.

História do Povo

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De acordo com a tradição oral, a primeira aldeia dos yawalapitis localizava-se na região do Médio Xingu e era chamada de Yawalapíti. Posteriormente, foram fundadas as aldeias Yakunipü, ao norte da aldeia Aweti, e Üuya (lagoa), próxima ao atual Posto Leonardo. Os yawalapitis também habitaram a região de Amakapuku, a três quilômetros ao sul desse posto, e posteriormente estabeleceram a aldeia Tipa Tipa (Rio das Pedras), onde atualmente residem.[22]

A estrutura das aldeias refletia a organização social dos yawalapitis, com casas comunais dispostas em círculo e um pé de tucum de aproximadamente 30 metros de altura no centro, o que originou a denominação "povo do tucum". Artefatos como cerâmicas, machados de pedra e marcas humanas ainda são encontrados nos antigos assentamentos.[22]

Nessas antigas aldeias, os yawalapitis passaram por situações difíceis, tendo sua população reduzida a 8 pessoas por feitiços, ou seja, mortes atribuídas a causas sobrenaturais, de acordo com as crenças do povo. Para os yawalapitis, algumas doenças e mortes não ocorrem por causas naturais, mas podem ser resultado de forças sobrenaturais ligadas à feitiçaria. Um ano após a tragédia, o Cacique Aritana foi assassinado por guerreiros awetý, levando alguns a se refugiarem entre os kuikuros, mehinakos e kamaiurás.[23]

Durante esse período de reorganização, Orlando Villas Bôas desempenhou um papel crucial ao facilitar a reunificação das famílias yawalapiti. Inicialmente, o contato foi mediado por Nahu Kuikuro, que havia aprendido português e comunicou ao sertanista sobre a presença de Kanátu e Sariruá na aldeia Kuikuro. Orlando então organizou expedições para localizar outros yawalapitis dispersos entre os mehinako e kamaiurá, promovendo reencontros entre parentes.[23]

Após a reunião dos yawalapitis, Villas Bôas incentivou casamentos para reforçar a coesão do grupo. Kanátu casou-se com Teporí Kamayurá, filha do cacique Kutamapü, enquanto outros membros da comunidade também se uniram a parceiros de diferentes etnias. Esses casamentos ajudaram na recuperação demográfica dos yawalapiti, mas também impactaram a transmissão da língua e das tradições culturais. A primeira criança nascida após a reunificação foi Aritana, neto do cacique Aritana, morto em um conflito anterior. Orlando emocionado com o nascimento, celebrou o evento como um símbolo da continuidade do povo yawalapiti.[5] Porém, Aritana faleceu de COVID-19 em 2021.[24]

O indigenista queria ver o povo crescer novamente e ver a alegria da população. Desde este momento, a população cresceu consideravelmente, chegando em 2021 a aproximadamente 305 pessoas.[5]

Wátsu, prima de Aritana Yawalapiti, desapareceu na floresta em 2016 e nunca foi encontrada. Segundo os yawalapitis, ela encantou-se e tornou-se paʎɨ́ri, uma entidade ligada à natureza, conforme a cosmologia do povo.[22]

Situação Atual

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Na década de 1990, o processo de formação dos jovens yawalapiti era marcado por uma rigorosa preparação cultural, com práticas como o uso de pinturas corporais, o fortalecimento físico e o aprendizado de várias habilidades tradicionais. A pintura corporal, por exemplo, era um privilégio reservado apenas aos guerreiros, que passavam por uma reclusão e seguiam um ciclo de aprendizado guiado pelos mestres. Durante esse período, os jovens eram instruídos em conhecimentos como o significado dos símbolos, a origem das pinturas, além de habilidades práticas como o uso de flautas, a construção de casas tradicionais e a confecção de itens culturais, como pentes e máscaras. Esses processos tinham como objetivo garantir a continuidade da cultura e a transmissão dos saberes ancestrais.[25]

Entre 2000 e 2013, mudanças significativas começaram a afetar as tradições yawalapiti, especialmente a prática da pintura corporal. A introdução de influências externas, como a televisão e os modelos ocidentais de moda e comportamento, causou um afastamento dos jovens das práticas culturais. Muitos começaram a usar as pinturas de forma superficial, sem compreender seu significado e a complexidade dos rituais associados a elas. As tintas artificiais passaram a ser preferidas por sua facilidade de remoção, e a participação em cerimônias e rituais diminuiu. Esse enfraquecimento nas práticas culturais resultou em uma perda significativa de identidade e saberes tradicionais entre os jovens yawalapiti, o que tem gerado preocupação entre os mais velhos.[25]

Situação Sociolínguistica

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Em 2021, a língua yawalapiti está em risco de desaparecer, com apenas alguns falantes fluentes e poucos jovens que ainda mantêm o conhecimento. A maioria dos yawalapiti fala outras línguas, como mehinako, waujá, kuikuro, kalapálo e kamaiurá, além do português. Existem apenas três falantes fluentes da língua yawalapiti, juntamente com quatro lembradores. Esse afastamento e a presença de cônjuges de outras etnias dificultam a transmissão da língua para as novas gerações.[8]

Apesar disso, há sinais de esperança, pois alguns jovens estão demonstrando interesse em aprender a língua yawalapiti, o que pode ajudar a preservá-la. Em algumas situações, os yawalapitis ainda falam sua língua com os mais jovens, mas, geralmente, os jovens respondem em línguas como o kamaiurá, kalapálo ou kuikuro.[8]

Além disso, alguns membros da comunidade, como o Tapi Yawalapíti e seu primo Walamatíu, utilizam o Método Mestre e Aprendiz para promover o aprendizado da língua e tentar reviver a fluência entre os falantes.[8]

História da Documentação

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O primeiro estudo linguístico da língua yawalapiti foi realizado por Mitzila Izabel Ortega Mujica, em sua dissertação de mestrado Aspectos Fonológicos e Gramaticais da Língua Yawalapíti (Aruák) de 1992, parte do Projeto Documentação e Descrição das Línguas do Parque Indígena do Xingu, coordenado pela Lucy Seki. Esse estudo aborda aspectos fonológicos e características tipológicas da língua, como classificadores, afixos derivacionais e o sistema pronominal.[26]

Posteriormente, Renata Gérard Bondim também organizou um material linguístico coletado em 1970, publicado em Estudo Sincrônico de Línguas Indígenas do Alto Xingu de 2019, que inclui um vocabulário extenso e paradigmas verbais e nominais, com dados coletados na aldeia yawalapiti, incluindo a colaboração do Cacique Aritana. Esses estudos, embora não contenham gravações sonoras, são fundamentais para a documentação e preservação da língua, abrangendo áreas como partes do corpo, alimentação, animais e rituais.[26]

Tapi Yawalapiti desenvolveu pesquisas sobre a língua yawalapiti e sua relação com a identidade cultural de seu povo. Sua tese de mestrado, Documentação e Descrição da Língua Yawalapíti (Aruák): uma língua que não deve morrer, foi uma importante referência para a preservação do idioma, abordando aspectos fonológicos e gramaticais.[2]

O sistema fonológico do yawalapiti teve diferentes conclusões ao longo dos anos, por conta da pequena quantidade dos falantes fluentes. Por exemplo, para Mitzila Mujica existe a ocorrência do /ʃ/, já para o Tapi Yawalapití não há a presença da consoante fricativa palatoalveolar surda.[27][28][29]

Quanto as fonemas consonantais, temos 15 na língua yawalapiti. Sendo eles: Três consoantes plosivas, duas africadas, dois fricativos, três nasais, dois flaps, um lateral e duas aproximantes. Na produção temos sete pontos de articulação: bilabial, alveolar, retroflexa, alveopalatal, palatal, velar e glotal. [9]

Fonemas consonantais do yawalapiti de acordo com Tapi Yawalapíti[9]
Bilabial Alveolar Retroflexa Alveopalatal Velar Glotal
Plosiva p t k
Nasal m n ɲ
Africada ts t͡ʃ[I]
Flap ɾ
Fricativa ʂ[II] h
Lateral l[III]
Aproximante w j[IV]
  1. O fonema africado /tʃ / tem os alofones [tʃ] e [tʃʲ].[30][31]
  2. O fonema fricativo retroflexo tem os seguintes alofones:[ʂ], [ś], [ʐ] e [s], os quais ocorrem em variação livre.[30][32]
  3. O fonema lateral /l/ realiza-se como [lʲ] ou [ʎ] diante de /i/ ou /ɨ/.Enquanto o alofone [l] ocorre diante de [a] e de [u].[30][33]
  4. O fonema aproximante alveopalatal /j/ tem os alofones [ʝ], [dʒ] e [j], os quais ocorrem em variação livre diante de /u/.[30][33]

No yawalapiti, existem quatro fonemas vocálicos. A existência de vogais nasais não corresponde a valores fonêmicos, pois todas elas são decorrentes da nasalidade de fonemas nasais ou de fonemas que provocam nasalização. A ocorrência de vogais alongadas não é sistemática, podendo vogais em sílabas acentuadas serem alongadas também.[10]

Fonemas vocálicos do yawalapiti[10]
Anterior Central Posterior
Não-Arrendondada Arrendondada
Fechada i[i] ɨ[ii] u[iii]
Aberta a[iv]
  1. O fonema vocálico /i/, anterior alto fechado oral, tem três alofones orais, um assilábico [i̯] e dois silábicos [i] e [i:]. O assilábico ocorre quando é o único elemento de uma sílaba,precedido de uma vogal.[34][35]
  2. O fonema vocálico central alto /ɨ/ tem três alofones orais: [ɨ], [ə] e [ɨ:].[34][36]
  3. O fonema vocálico posterior alto fechado arredondado oral /u/ tem dois alofones orais silábicos, [u] e [u:] e dois assilábicos [u̯] e [ʊ̯]. Os assilábicos ocorrem quando são os únicos elementos em uma sílaba e são precedidos por outra vogal da sílaba anterior.[34][37]
  4. O fonema vocálico central baixo oral /a/ tem dois alofones orais [a] e [a:]. O alofone [a:] ocorre em algumas sílabas pronunciadas com maior intensidade.[36]

Nasalização

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As vogais podem apresentar nasalização em certas situações. Isso ocorre, por exemplo, quando são precedidas por uma consoante nasal dentro da mesma sílaba ou quando essa consoante nasal está no final da sílaba anterior.[38][39]

Exemplos
Yawalapiti Significado
['wɨɲɨ̃] Rio
[nu'mɘ̃ ] Meu trabalho

Vogais podem ser também nasalizadas quando precedidas pela consoante /h/.[40][39]

Exemplos
Yawalapiti Significado
[ˈmatsahǝ͂] Espera
[pi'naka'tuahũ'ka] Pode descansar

No entanto, a nasalização não ocorre de forma totalmente previsível, como demonstram os exemplos a seguir:[40]

Exemplos
Yawalapiti Significado
['nita] Meu arco
[iɲi'tʃitʃu] Trovão

Assilibação

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Existe a ocorrência de vogais assilábicas, elas poderiam ser interpretadas como a formação de ditongos tanto crescentes quanto decrescentes. Outra possibilidade seria analisá-las como uma sequência de vogal seguida de consoante. Porém, no yawalapiti não admite consoantes na posição de coda silábica. Foi observado que esse fenômeno corresponde a um processo de assilabação da vogal quando ela constitui o único elemento de uma sílaba e é precedida por outra vogal.[41]

A estrutura silábica canônica segue o padrão ((C)V), onde a sílaba pode ser formada por uma consoante seguida de uma vogal ou apenas por uma vogal. No entanto, embora a presença de sílabas compostas exclusivamente por vogais seja possível, elas tem pouca frequência dentro do idioma.[42]

Padrão Silábico Exemplo no yawalapiti Tradução para o português
V.V ui Cobra
V.CV uku Flecha
CV.CV kuri Papagaio

Morfofonologia

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A morfofonologia estuda como os sons da língua mudam em contato com diferentes morfemas. No yawalapiti, podemos observar os seguintes fenômenos:[43]

Palatalização de /n/

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O som /n/ pode se transformar em um som palatal (/ɲ/) quando aparece no final de um morfema e o próximo morfema começa com os sons /i/ ou /ɨ/.[43]

Exemplos
Yawalapiti Significado
[ɲɨ'ʂa] Meu piolho
[ɲiaˈtʃa] Eu

Elisão Vocálica

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Em alguns casos, uma vogal pode desaparecer quando um morfema se junta a outro. Isso ocorre com morfemas como -pa ("estativo", indicando um estado) e -tʃa (ainda), quando a partícula uka se liga ao tema.[43] Como por exemplo:

Exemplos
Yawalapiti Significado
j-unúpa-ɲɨʂi-tʃ+uká tinɨʂu awiɾiwaka Vocês ainda vão ver a mulher amanhã

Debucalização de /h/

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Em algumas palavras, o som /p/ pode se transformar em /h/ quando aparece depois do som /i/. Esse processo acontece, por causa do prefixo que indica posse na segunda pessoa do singular:[43]

Exemplos
Yawalapiti Significado
[hipa'laka] Seu rosto
[hi'tʃutu'ka] Acorde

O yawalapiti é uma língua de pitch-accent. Há um conjunto de pares de palavras que mudam o significado quanto ao acento. Isso sugere que o idioma tem um acento fonológico. Não se pode dizer que o acento do yawalapiti é previsível, por várias palavras terem o acento na penúltima sílaba e outras palavras de mesma natureza terem o acento na última sílaba.[44]Acento na penúltima sílaba:

['ma:pa] Abelha
['hir̥i] Cipó
['wɨɲɨ͂] Rio

Acento na última sílaba:

[ija'ka] Jacaré
[ɨp'ɨ] Hoje
[maˈlu] Falso(a)

Um aspecto relevante em relação ao acento na língua yawalapiti é que processos morfológicos podem resultar no deslocamento do acento, seja para a direita ou para a esquerda.[45]

O acento pode também mudar a depender da posição da palavra no enunciado.[45] Como por exemplo:

[tʃawˈaka nuˈnupi hipuˈlalu kuˈmǝ͂] Ontem vi arara vermelha
[tʃaˈwaka nunuˈpi yanuˈmaka kuˈmǝ͂] ‘ Ontem vi o tigre

Pode ocorrer variações na pronúncia, como foi observado com Aritana e Makawana. Ambos viveram na mesma aldeia e foram criados juntos, porém, existe uma variação fonética e fonológica.[46] Segue abaixo exemplos:

Diferenças fonológicas
Aritana Makawana Tradução
[ˈaja a'wau'ti] [ˈaja a'wau'i] Vamos procurar
[kana'tiɁ ] [kaɲa'tiɁ] Boca
[mapaʂi'tʃɨpu] [mapaʂi'tʃɨpɨ] Cera
Diferenças fonéticas
Aritana Makawana Tradução
[hi'taʎuɲui] [hi'taʎuɲɨi] Seu primo
ʂɨ] śɨ] Fogo

O yawalapiti é originalmente uma língua ágrafa, isto é, não apresenta um alfabeto escrito. As transcrições deste artigo se baseiam do trabalho de Tapi Yawalapíti, em Documentação e Descrição da Língua Yawalapíti(Aruák): uma língua que não deve morrer. Com exceção de certos fonemas, a escrita yawalapiti é idêntica a sua transcrição fonética do AFI. A direção de escrita do yawalapiti é horizontal, da esquerda para a direita, como no português. Embora a língua seja essencialmente oral, o uso da escrita alfabética tem se tornado cada vez mais comum em contextos educacionais e na documentação da língua.[2][9][10]

Tabela grafema-fonema do yawalapiti
Grafema Fonema AFI Aproximação
a /a/ Alma
ts /t͡s/ Pizza
k /k/ Camiseta
ɨ /ɨ/ Lip (inglês)
i /i/ Minhoca
u /u/ Lua
p /p/ Pipoca
t /t/ Teto
r /ɾ/ Troca
/r̥/ Assar
l /l/ Linguiça
/lʲ/ Canalhice (som semelhante)
ʎ /ʎ/ Ralho
w /w/ Quase
y /j/ Boia
h /h/ Rato
t͡ʃ /t͡ʃ/ Tchau
s /ʂ/ Sheep (inglês, possui um som semelhante)
m /m/ Melancia
ɲ /ɲ/ Manhã
n /n/ Navio

Os nomes em yawalapiti se dividem em dois tipos:

  • Nomes relativos: Combinam-se com prefixos pessoais que marcam o possuidor, ou seja, são dependentes de um possuidor.[11]
  • Nomes absolutos: Combinam-se com prefixos pessoais e com um sufixo mediador de posse, ou seja, não são dependentes de um possuidor.[11]

Nomes Relativos

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Ao contrário de outras línguas arawak, o yawalapiti não distingue gênero na forma prefixal de terceira pessoa. A distinção de gênero do possuidor é feita na terceira pessoa, quando pronomes demonstrativos se combinam com morfemas que denotam o gênero feminino ou masculino.[11]

Prefixos pessoais
Primeira Pessoa do Singular nu- / n- 1
Segunda Pessoa do Singular pi- / p- / hi- / h- / ti- 2
Primeira Pessoa do Plural au- / a- 1pl
Segunda Pessoa do Plural ji- / j- 2pl
Terceira Pessoa i- / in- / ij- / ø- 3

Nos nomes relativos, quando se estabelece uma relação de posse, essa relação é direta.

  • n-ita → "meu arco"
  • a-tsɨmɨʎu → "nossa rede"

Nomes Absolutos

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São neles que ocorre a incidência dos mediadores de posse -la, -ra e -ʎɨ. O sufixo -la é utilizado com temas terminados em /a/ ou /u/, enquanto -ra é utilizado com temas terminados em /i/ e -ʎɨ com aqueles terminados em /ɨ/. Esse morfema é endocêntrico e aparece exclusivamente em nomes absolutos. Atualmente, observa-se uma generalização do alomorfe -la para todos os temas absolutos, possivelmente devido ao seu uso em empréstimos linguísticos.[12]

  • hitiparata-la → "sua panela"
  • auɨri-ra → "nosso carvão"
Morfema pa- e o Morfema a-
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Na língua yawalapiti, o morfema pa- indica impessoalidade e pode ser encontrado em verbos e substantivos para denotar uma ação ou entidade indefinida. Ele é usado, por exemplo, para construir frases sem um sujeito específico. Já o morfema a- tem função de marcação de indefinição e pode ser utilizado para criar formas generalizadas de substantivos e pronomes.[47]

  • pa-mulautapa → "ministrar gente"
  • puwɨɲɨriminaanau a-mimakatapa ha → "o kuarýp não é triste, por isso as pessoas dançam"

Classificadores

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A língua yawalapiti apresenta um sistema de classificadores nominais, utilizados para categorizar os nomes de acordo com certas características físicas.[13][14]

  • É usado o sufixo -ja para líquidos, como niʂa-ja-la (meu sangue).[48]
  • É usado o sufixo -ti para objetos alongados, como pama-ti (rolo de fio).[48]
  • É usado o sufixo -ta para objetos esféricos, como aka jurma-ta (pequi verde).[49]
  • É usado o sufixo -lu para objetos envoltórios, como ma'jaku autsa-lu(cesta nova).[50]
  • É usado o sufixo -pana para objetos finos ou planos, como jukapa-pana (foco de luz).[51]

A língua yawalapiti distingue dois gêneros gramaticais para nomes com referentes animados: Masculino e feminino. O gênero masculino não possui um afixo, enquanto o feminino recebe o sufixo -lu. Nomes inanimados, que não possuem gênero biológico, não recebem essa marcação.[52]

  • kakajama-lu → "mulher mal"
  • kakajanuma → "homem mal"

Diminuitivo e Aumentativo

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No yawalapiti, o sufixo -tsi forma o diminutivo dos nomes, indicando tamanho reduzido ou um tom afetivo.[53]

Exemplos
ɨrina (homem) → ɨrinatsi (homenzinho)
pa (casa) → patsi (casinha)
jakuakua (tucano) → jakuakuatsi (tucaninho)

O aumentativo é expresso pelo adjetivo ɨtʃi (Grande), acrescentado ao nome para indicar maior dimensão.[54]

Exemplos
ana- (pilão) → ana ɨtʃi (pilão grande)
wɨkuka (terreiro) → wɨkuka ɨtʃi (terreiro grande)
Gorila, em yawalapiti é kapulu kuma, literalmente, macaco-aranha grande.
O morfema kuma
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Para transmitir um sentido de grandeza extrema ou desproporcional, adiciona-se o morfema kuma após a palavra.[55]

Exemplos
pa (casa) → pa kuma (casa grande, prédio)
kapulu (macaco aranha) → kapulu kuma (gorila)

No yawalapiti, existem quatro pronomes pessoais, sendo que três pronomes demonstrativos cumprem o papel de terceira pessoa.[56][57]

Pronomes pessoais
Primeira pessoa Segunda pessoa
Singular natu tiʂu
Plural aʂu iʂu

Os pronomes demonstrativos na língua yawalapiti indicam a distância em relação ao falante. Há cinco formas principais, derivadas da terceira pessoa i-, às quais se acrescentam sufixos específicos de gênero e distância. O gênero masculino é marcado pelo sufixo -ri, enquanto o feminino utiliza -ru. Para indicar distância, o sufixo -la é empregado na forma distal feminina. A forma distal masculina é construída a partir da terceira pessoa i- combinada com o sufixo feminino -ru e o sufixo distal neutro -tira. Já a forma i-tira resulta da junção da terceira pessoa i- com o sufixo distal neutro -tira.[15]

Pronomes Demonstrativos
Yawalapiti Significado
i-ri Esse ou ele
i-ru Essa ou ela
i-ru-la Aquela
i-ru-tira Aquele
i-tira Aquilo

Demonstrativos Locativos

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Os demonstrativos locativos em yawalapiti indicam a posição de algo em relação ao falante.[15]

Yawalapiti Significado
aʎi Aqui
apɨtʃia Eis aqui
atira

Na língua yawalapiti, os adjetivos diferem dos nomes por não exercerem funções argumentais, como sujeito ou objeto. Para intensificação, utiliza-se o sufixo -ruru (muito), enquanto os nomes são atenuados com -tsi. Quando atuam como predicados estativos, recebem marca de gênero: -lu para feminino e para masculino.[58]

Adjetivos no yawalapiti
Yawalapiti Significado Exemplo Tradução do exemplo
-uʂiratira Magro nuʂiratirarurupa Eu estou muito magro
-mɨtsɨʎuka Fraco iru mɨtsɨʎukalururupa Ela está muito fraca
-hipua Gordo nuhipuarurupa Eu estou muito gordo
-ʂɨkuɲa Velho ou antigo natʃa ʂɨkuɲa Roupa antiga
-autsa Novo pa autsa Casa nova
-awirira Bonito jumaʂu awiriralu Moça bonita
wikinɨri awirira Moço bonito

Na língua yawalapiti, os verbos são classificados em transitivos (com dois ou mais argumentos) e intransitivos (com um único argumento). Além disso, há formas estendidas, nas quais os verbos intransitivos podem incluir um objeto indireto e os transitivos podem ter tanto objeto direto quanto indireto. Os verbos se flexionam para pessoa por meio de prefixos pessoais e podem se combinar com marcas que indicam voz (causativa, reflexiva e recíproca), aspecto e modo.[59]

Exemplos[60]
Verbo intransivo tʃawaka nutima → Eu corri ontem
Verbo intransitivo estendido uka piputi nu ita → Você me deu arco
Verbo transitivo patʃapa kupati itsɨkɨ → Você comeu peixe assado
Verbo transitivo estendido uka niputi walurata hiu → Eu dei colar de caramujo para você

Os prefixos pessoais usados na conjugação verbal são:

Prefixos pessoais do yawalapiti[59]
Primeira pessoa do singular nu- / n-
Segunda pessoa do singular pi- / p- / hi- / h- / ti-
Primeira pessoa do plural au- / a-
Segunda pessoa do plural ji- / j-
Terceira pessoa i- / in- / ij- / Ø-
  • Voz reflexiva: O sufixo -wa indica que o sujeito realiza a ação sobre si mesmo.[61] Exemplo: uka nihulukat-wa → Eu me furei.
  • Voz recíproca: O sufixo -kaka indica uma ação mútua entre dois participantes.[62] Exemplo: uka ijunupa-kaka → Vocês se viram.
  • Voz causativa: O sufixo -ta(ta) indica que o sujeito faz com que outro realize a ação.[63] Exemplo: natima-tata jumɨʎɨ → Faço menino correr.

O aspecto verbal indica quando que uma ação ocorre. Ela pode ser classificada como:[64]

  • Aspecto projetivo (-ɲɨʂi): Indica que a ação ainda vai acontecer. Exemplo: pipuʂitʃa-nɨʂi tʃa → Você vai levantar.
  • Aspecto progressivo (-pa): Indica que a ação está em andamento. Exemplo: pimaka-pa → Você está dormindo.
Modo Permissivo
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O modo permissivo é formado pela adição dos sufixos -puka, -uka, -huka ou -ka, que podem ser traduzidos como "já". Esse modo é utilizado para expressar comandos de forma educada e eficaz.[65]

  • pitsɨmɨ-puka apa → Você pode escutar música.

Além disso, esse modo pode ser empregado com um sentido exortativo.[66]

  • awatʃa-huka → Vamos namorar!
Modo Imperativo de Verbos Transitivos
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Os verbos transitivos, quando conjugados no modo imperativo, sofrem apofonia, ou seja, a vogal final do tema verbal é substituída por i. O fenômeno pode ser observado nos exemplos a seguir, que contrastam a presença e a ausência dos morfemas mencionados.[66][67]

  • pihuluk-i katulaja → Fure a bola.

Ordem da Frase e Alinhamento

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A sintaxe da língua yawalapiti segue uma estrutura relativamente flexível, mas a ordem canônica predominante dos constituintes é Sujeito-Objeto-Verbo (SOV). No entanto, há variações na ordem dos constituintes. O alinhamento morfossintático da língua é nominativo-acusativo, ou seja, o sujeito de verbos intransitivos é tratado da mesma forma que o sujeito de verbos transitivos, enquanto o objeto direto recebe tratamento distinto.[16]

Ordem dos Constituintes

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A estrutura básica das orações segue o padrão SOV, sendo possível observar diferentes ordens conforme o tipo de predicado.[68]

  • Orações com predicados intransitivos:
    • Sujeito + Verbo + (Complemento circunstancial) uka jumɨʎɨ atima tʃawaka (o menino correu ontem.)
    • Verbo + Objeto + Complemento circunstancial uka natʃapa kupati ɨtsɨkɨ tʃawaka (comi peixe assado ontem.)
  • Orações com predicados transitivos estendidos:
    • Verbo + Objeto + Objeto direto + Complemento circunstancial uka niputi walurata hiu tʃawaka (eu dei um colar de caramujo para você ontem.)

Expressão do Sujeito e do Objeto

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Na língua yawalapiti, o uso de pronomes pessoais marcando o sujeito não é obrigatório, sendo frequentemente omitido em verbos transitivos e intransitivos. Entretanto, quando o sujeito é de terceira pessoa, a presença de um demonstrativo pronominal torna-se obrigatória.[69]

  • uka niʂatʃitʃua (eu caí.)

Os objetos, por outro lado, são sempre expressos, podendo ser representados por pronomes pessoais ou demonstrativos pronominais.

  • punupapa irula (você está vendo aquela.)
  • tiʂu punupa natu (você me vê.)

No modo imperativo, os pronomes pessoais na função de sujeito são omitidos:

  • punupa natu (veja-me!)
  • iunupa inala (vejam eles!)

Posicionamento de Advérbios e Expressões Circunstanciais

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As expressões adverbiais seguem o núcleo do predicado quando o enunciado se inicia com partículas aspectuais ou com a partícula de negação:[69]

  • uka nimaka utuna (já dormi muito.)
  • atsa nuti makapa utuna (eu não dormi muito.)
  • atsa nuti makapa pahitsiri (eu não dormi pouco.)

Quando não há partículas aspectuais ou de negação, advérbios podem ocorrer no início da oração:

  • utuna nimaka (durmo muito.)

A partícula uka, que pode ser traduzida como "já", aparece no início da oração. No entanto, se uma expressão adverbial for topicalizada (ou seja, deslocada para o início da oração), uka não ocorre:

  • (Complemento circunstancial) + Sujeito + Verbo ukuɲã umɨʎɨɲaw itimanipa (os meninos correram na mata.)

Sentenças Interrogativas

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As construções interrogativas são formadas com o elemento foco da pergunta posicionado no início da oração. Além disso, apresentam entonação ascendente, característica que também ocorre no português.[70]

Exemplos
Yawalapiti Significado
puahikapa Você está jogando?
uka patʃa Você já comeu?
kanau ihaluka Quem chegou?
pahirepa ikipina Como é seu nome?
pari hiukutɨ pɨɲɨ Por que você vai embora?

O yawalapiti possui palavras específicas para questionar identidade, tempo, lugar e modo.

Palavras interrogativas no yawalapiti[71]
Yawalapiti Significado
kanau, pahapa Que ou quem
pahiri Como ou quantos
kari Como
pari O que é
mana Por que ou onde
kanau pɨrikua Quando ou que tempo

Sentenças negativas

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As orações negativas em yawalapiti geralmente ocorrem no contexto de alguma pressuposição, funcionando para negar ou contra-afirmar o que é pressuposto. Há três partículas de negação na língua: atsa, mina e maka, cada uma com funções específicas.[72]

Negação com atsa

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A partícula atsa é a forma mais comum de negação e pode ser usada tanto para negar uma proposição inteira quanto um constituinte específico dentro da oração. Além disso, atsa pode ser usada isoladamente como resposta negativa.[73]

  • hiapa? atsa, awiri → "você vai? Não, obrigado."
  • atsa nupa pawa awajulukuma → "não tenho uma raposa."

As sentenças negativas que utilizam atsa apresentam diferenças estruturais em relação às afirmativas. Quando há um sujeito expresso por um sintagma nominal, este aparece antes da partícula negativa atsa, que, por sua vez, precede o verbo. Além disso, a partícula uka (já), frequentemente presente no início de sentenças afirmativas, pode estar ausente ou surgir junto ao verbo em sentenças negativas.[74]

  • mamaju atsa ijapa ulatʃia → "minha mãe não foi à roça."
  • awajulukuma atsa inukapa nupirakarakarako → "a raposa não matou minha galinha."

Negação proibitiva com mina

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A partícula mina é usada para proibir algo, sendo comum em ordens e comandos.[75]

  • mina puahika ira →"não jogue isso."

Negação preventiva com maka

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A partícula maka é usada para dar conselhos ou avisos, indicando que algo pode ser perigoso ou indesejado. Muitas vezes, aparece junto com as palavras nia (mesmo) e tʃa (ainda), que reforçam a ideia de precaução.[76]

  • maka nia tʃa patʃa utuna iti → "Não coma muita carne."

Interjeições

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As interjeições no yawalapiti expressam emoções, reações espontâneas e sentimentos dos falantes. Algumas das interjeições registradas incluem:

Interjeições no yawalapiti[77]
Interjeição Significado
uaaa! Espanto
aka! Dor
paaaa! Surpresa ou admiração
eté! Dor de queimadura, picada de formiga.

Os ideofones são palavras que representam sons ou sensações de maneira evocativa, geralmente imitando ou sugerindo o som que descrevem, servem para dar mais expressividade às descrições de eventos e sons da natureza.

Ideofones no yawalapiti[77]
Ideofone Significado
wow wow wow Cachorro latindo
ka ka ka Canto do gaviãozinho
tipukh Barulho de uma pedra caindo na água
tórorórorórorozó Som do trovão
piõôôôw Barulho da flecha com coquinho em sua ponta
kurururu, kuru kuru kuru Peixe correndo na água

Os yawalapitis utilizam um sistema numérico baseado na contagem até vinte, possivelmente influenciado pelo contato com outras culturas. Os números maiores são formados por composição, utilizando termos que fazem referência a partes do corpo e agrupamentos. O número cinco, por exemplo, é representado pela palavra wiriku, que significa mão, enquanto os números de seis a dez são expressos com a noção de "passou" um, dois, três ou mais dedos da mão. O número dez corresponde a mãos repetidas (ou seja, duas mãos).[78]

Números em yawalapiti[78]
Número Yawalapiti Significado
Um pawa Sozinho/Um
Dois (a)purijama Dois
Três kamajukula Três
Quatro purijami pɨku Grupo de dois
Cinco pawiriku Uma mão
Seis pawa kiruta Passou (mais) um (dedo)
Sete purijama ikiruta Passou (mão mais) dois (dedos)
Oito kamaju'kula ikiruta Passou (mão mais) três (dedos)
Nove puriɲamipɨku ikiruta Passou (mão mais) quatro (dedos)
Dez papalukaka wiriku Mãos repetidas
Onze pawa tʃisaʎi ikiruta Um/sozinho (dedo do pé) e é adicionado à mão repetida
Doze purijama ikiruta tʃizaʎi Dois (dedos do pé) e é adicionado à mão repetida
Treze kamajukula tʃizaʎi ikiruta Dois (dedos do pé) e é adicionado à mão repetida
Catorze purijami pɨku tʃizaʎi ikiruta Um pé (incluindo a mão repetida e grupo de dois (dedos)
Quinze pawiriku ikiruta tʃizaʎi Uma mão e pés
Dezesseis pa'wa iki'ruta tʃizaʎi Passou um dedo do pé
Dezessete purijama iki'ruta tʃizaʎi Passou dois dedos do pé
Dezoito kamajukula iki'ruta tʃizaʎi Passou três dedos do pé
Dezenove purijami pɨku ikiruta tʃizaʎi Passou quatro dedos do pé
Vinte papalukaka tʃizaʎi Pés repetidos (incluindo as mãos)

O yawalapiti inclui termos para diversas espécies da fauna local, desde mamíferos, como yanumaka que significa onça, até aves, como yakwakua (tucano), e répteis, como iyaka (jacaré). Esses nomes refletem a importância dos animais no cotidiano.[79][80][81][82][76][83]

Yawalapiti Significado
apapalutapa animal
mukuti rato
kusikusi   macaco
kapulu macaco aranha
awayulu raposa
yanumaka onça
tsɨmɨ anta
kuri papagaio
yakwakua tucano
pitɨpɨ bem-te-vi
ulupu   urubu rei
tuyuyu jaburu
ui cobra
kɨjɨt͡ʃɨsi cascavél
iyaka jacaré
kupati peixe
aatʃu   camarão
ut͡ʃira pacu
formiga
piolho
ɨt͡ʃu mosquito
yukulu minhoca
tsitʃapujati libélula
mapaja bicho de pé

Termos de Parentesco

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A estrutura de parentesco na língua yawalapiti apresenta uma nomenclatura específica para diferentes relações familiares. Os termos para pai e mãe são, respectivamente, apa ou papaju e ama ou mamaju. Há também distinções para filhos, como ha para filho e supa para filha, além de termos específicos para avós, tios, sobrinhos e relações por casamento.[42][84][85][86][87][88][89]

Yawalapiti Significado
tutakali Parente
apa ou papaju Pai
ama ou mamaju Mamãe
tataju Irmão mais velho
tutaka Irmão
tutakalu Irmã
atu Avô
ha Filho
supa Filha
pɨtsi Filho mais novo
uwa Tio
aki Tia
awa Sobrinho
utsu Sobrinha
itsukakalu Cunhado
matukiri ou matiru Sogro

Empréstimos do Português

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No yawalapiti, o contato com não indígenas resultou na incorporação de várias palavras da língua portuguesa ao vocabulário da língua.[90]

Exemplos
Yawalapíti Português
sete CD
moto Motor
amiku Amigo

Referências

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  2. a b c d e Yawalapíti 2021, p. 16.
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  4. Ramirez, Henri; De França, Maria (23 de setembro de 2019). «Línguas Arawak da Bolívia». LIAMES: Línguas Indígenas Americanas. ISSN 2177-7160. doi:10.20396/liames.v19i0.8655045. Consultado em 26 de fevereiro de 2025 
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  8. a b c d Yawalapíti 2021, p. 36-37.
  9. a b c d Yawalapíti 2021, pp. 66-70.
  10. a b c d Yawalapíti 2021, p. 71.
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  21. De Felipe, Paulo (2020). «Fonologia e morfossintaxe da língua Mehináku (Arawak)». Consultado em 22 de fevereiro de 2025 
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  28. Mujica 1992, pp. 33-44.
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  82. Yawalapíti 2021, p. 60.
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  84. Emmerich 2019, pp. 172-176.
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  86. Yawalapíti 2021, p. 40.
  87. Yawalapíti 2021, p. 96.
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  89. Yawalapíti 2021, p. 67.
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Ligações externas

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