Cabo Verde é conhecido internacionalmente pela morna, uma forma de música folclórica geralmente cantada em crioulo cabo-verdiano, acompanhada de clarinete, violino, guitarra e cavaquinho. Funaná, Coladeira, Batuque e Cabo love são outras formas musicais.
Existem poucos registos acerca da evolução da música em Cabo Verde. Sendo a música um veículo de expressão que se manifesta naturalmente no ser humano, seria natural de se esperar que as populações que povoaram Cabo Verde (africanos e europeus) levassem consigo as suas tradições musicais. Mas sobre o momento exacto em que se deu um processo de miscigenação musical, nada se sabe.
Durante a colonização portuguesa, o tipo de música permitido pela administração era sobretudo a música eclesiástica, sendo outras formas de expressão da população relegadas para um contexto um tanto ou quanto clandestino. Essa política de repressão aumentou durante o regime do Estado Novo pela administração portuguesa, por considerar certos géneros como «africanos», e por causa disso, certas formas musicais estiveram à beira da extinção.
Depois da independência, houve um ressurgir desses géneros musicais, mas também novas experiências têm sido feitas conferindo à música cabo-verdiana características diferentes das que são descritas abaixo.
De um modo inconsciente, o cabo-verdiano tem tendência em classificar a música de Cabo Verde em géneros musicais. Assim, ao ouvir-se uma peça musical, ela é logo classificada de batuque, colá, coladeira, funaná, mazurca, morna, ou qualquer outro género musical (de Cabo Verde ou não) independentemente dos menores ou maiores conhecimentos musicais do ouvinte.
Como géneros genuinamente cabo-verdianos pode-se mencionar o batuque, o colá, a coladeira, o funaná, a morna, a tabanca. Outros géneros musicais não são originários de Cabo Verde, mas ganharam características próprias, como o lundum, a mazurca, a valsa. Ao longo da história da música de Cabo Verde, certas conjecturas sociais e/ou fenómenos de moda fizeram com que alguns géneros de Cabo Verde sofressem influência de géneros estrangeiros, ou então, por uma questão de gosto ou de moda, certos géneros são (eram) interpretados inalterados, como a bossa nova, a cúmbia, o hip-hop, o reggae, a rumba, o samba, o zouk, etc.
A música de Cabo Verde é sobretudo polifónica, ou seja, a melodia desenvolve-se sobre uma base formada por uma sucessão de acordes. Contrasta assim com a música da África Ocidental, que se caracteriza por uma sobreposição de contrapontos. São poucos os géneros que são monofónicos (batuque, tabanca, colá, e outras melopeias), mas mesmo assim, com o advento de instrumentos eléctricos, e o interesse de músicos novos em fazer ressurgir certos géneros musicais, esses géneros musicais têm sido reinterpretados numa forma polifónica.
As escalas musicais empregadas são escalas musicais europeias. A morna, a coladeira, a mazurca, o lundum, por exemplo, usam frequentemente escalas cromáticas. O funaná, em contrapartida, usa frequentemente escalas diatónicas. As linhas melódicas variam muito, e alguns autores dizem (de um modo bastante impressionístico) que «a melodia lembra as montanhas e as ondas do mar».
Se na melodia e na harmonia nota-se sobretudo a influência europeia, é no ritmo que se nota mais a influência africana. Os ritmos são sincopados, e o emprego simultâneo de vários instrumentos de percussão permite modelos rítmicos complexos. Os géneros musicais têm geralmente compassos pares (binários ou quaternários). Só o colá, a mazurca e a valsa é que usam um compasso ternário. O batuque é o único género que emprega a polirritmia, frequente na música da África ocidental.
Estruturalmente, os géneros musicais articulam-se em estrofes musicais, em que as estrofes principais alternam com o refrão. Só o batuque e a tabanca é que têm uma estrutura de canto e resposta.
Na instrumentação, predominam os cordofones: a guitarra (chamada violão em Cabo Verde), violas de 10 e 12 cordas (chamadas simplesmente violas), o cavaquinho, o violino (chamado rebeca). O piano é um apanágio apenas para os mais abastados. Como aerofones podem-se citar o saxofone, o clarinete, a trompete. Recentemente, a flauta tem sido utilizada como instrumento didáctico. O acordeão (chamado gaita) é usado (não exclusivamente) no funaná. Como membranofones são usados vários tipos de tambores. Os idiofones são usados sobretudo com uma função rítmica; é de salientar a «invenção» do ferrinho. Os electrofones são de introdução recente.
Alguns instrumentos de origem africana (o bombolom, a cimboa, o correpi, o dondom) estão em vias de desaparecimento.
Tendo em conta as dimensões (geográficas e demográficas) de Cabo Verde, pode-se dizer que em termos musicais os cabo-verdianos são prolíferos. Não se sabe o porquê dessa tendência natural para a música, mas alguns autores especulam que a pouca abundância de certos recursos naturais (madeira ou pedra para a escultura, vegetais para a produção de tecelagem ou tintas) deu espaço para que a música se desenvolvesse mais do que outras expressões artísticas.
Embora existam modernamente estúdios de gravação, não existe produção de suportes físicos (CD, discos, etc.), sendo a música de Cabo Verde produzida sobretudo no estrangeiro. Actividades relacionadas com a divulgação e interpretação da música são no entanto frequentes. Conhecido internacionalmente é o festival anual da Baía das Gatas.