Parte da série sobre |
Candomblé |
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Cidades sagradas |
Olodumarê (em iorubá: Olódùmarè),[1] também chamado Olorum (Ọlọrun), é um conceito de Ser Supremo e Deus presente nas religiões Iorubá e afrodescendentes, como o Culto de Ifá, Umbanda e Candomblé[2]. Olódùmarè se localiza numa dimensão paralela conhecida como Orum, por isso também é aclamado como Senhor do Orum (Ọlọrun).[3] É o Criador de todo o Universo, tanto seu plano espiritual - o Orum - quanto seu plano físico - o Aiê, a Terra -, o universo conhecido ou ainda desconhecido por nós. É criador também dos orixás e do Homem,[4] estabelecendo a existência e o Universo.[5][6] O Deus Supremo tem três manifestações: Olodumaré é o Criador ; Olorun, governante dos céus; e Olofi ou Olofin é o canal entre Orún (Céu) e Ayé (Terra).
Os humanos não adoram a Olorun de maneira direta, mas sim por intermédios dos Orixás, não havendo áreas sagradas de culto, nem iconografia, nem ordenação especificamente a Olorun. Olorun é periférico, distante e não participa de rituais humanos. Não há santuários ou sacrifícios dedicados diretamente a ele enquanto entidade, embora os seguidores possam enviar orações em sua direção[7][8]. Para as tradições Iorubás, não há autoridade centralizada; por isso, existem muitas maneiras diferentes pelas quais o povo Iorubá e seus descendentes ou religiões baseadas em Orixás podem entender a ideia de Olorun[7].
Olorun não tem gênero (não é "O" nem "A" Olorun), e é sempre referido como uma entidade que existe apenas na forma espiritual[9][10]. Ainda em África, contribuindo para fenômeno semelhante ao sincretismo religioso ocorrido no Brasil, os missionários cristãos, como Bolaji Idowu, visavam reinterpretar a cultura Iorubá tradicional ligando-a à teologia cristã como uma forma de promover a conversão da população para objetivos exploratórios, de forma que já na primeira tradução da Bíblia para o Iorubá no final de 1800, por Samuel Ajayi Crowther, controversamente nomes iorubás tradicionais como "Olodumare/Olorun" foram adotados para "Deus" e "Exu" para o diabo, começando assim uma associação errônea entre Olorun ao gênero masculino[9].
Olodumare é a origem da virtude e da mortalidade, e concede o conhecimento das coisas a todas as pessoas quando nascem[11]. Eles são onipotentes, transcendentes, únicos, oniscientes, bons e maus. Os iorubás chamam Olodumare quando os orixás demonstram relutância ou impossibilidade de ajudar. [ citação necessária ]. Os Orixás são seres sobrenaturais, que podem ser interpretados tanto como de boas ações (egungun) quanto más (ajogun), que representam a atividade humana e as forças naturais.[12]
Da língua iorubá, o nome Olorun é uma contração das palavras oní (que denota propriedade ou governo) e ọ̀run (que significa os Céus, morada dos espíritos)[3]. O nome Olodumare vem da frase "O ní odù mà rè" que significa "o dono da fonte da criação que não se torna vazia", "ou o Todo Suficiente".[13][14][15]
“ | Embora reconhecido e louvado como o Ser Supremo, para Ele não existe culto direto e nem templo individual. De acordo com os mitos da criação iorubá, ele delega poderes aos orixás, como a Orinxalá (o grande orixá funfum), o primeiro a ser criado, também chamado de Orixanlá (Òrìṣà-nlá), e principalmente a Obatalá, em terras iorubás.
As tentativas de adaptação dos conceitos teológicos e filosóficos de outras culturas não cabem na concepção teológica iorubá do preexistente, Olodumarê, o gerador de todos os poderes, inclusive o maior deles, o axé, o grande e divino poder, a potente força com a qual Olodumarê criou, através dos orixás, o complexo Orum-Aiê. A teologia iorubá sobre Olodumarê é completamente diferente de todos os conceitos existentes na teologia atual, e precisa ser reconsiderada pelos teólogos africanistas a partir de uma visão tradicional "africana" dos iorubás. O conceito e a visão cristã e muçulmana do monoteísmo não encontra fundamento na religião dos iorubás. A religião tradicional iorubá, assim como todas as religiões dela descendentes na diáspora, não se enquadra nos atuais conceitos teológicos importados e impostos pelos colonizadores e/ou pesquisadores estrangeiros. Estes, por sua vez, não são cuidadosos com os conceitos tradicionais, principalmente os escritores iorubás aculturados e não tradicionalistas quanto à religião. Assim, nenhum dos conceitos teológicos e filosóficos "importados" não podem, sequer por analogia, ser considerados para se estudar a forma e o modo da religiosidade dos iorubás, devendo ser completamente expurgados. Aulo Barretti Filho |
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