Em 1988, as tropas cubanas (aumentadas para cerca de 55.000) intervieram novamente para evitar uma catástrofe militar numa ofensiva das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) liderada pelos soviéticos contra a UNITA, que ainda era apoiada pela África do Sul, levando à Batalha de Cuito Cuanavale e à abertura de uma segunda frente.[38] Esta viragem dos acontecimentos é considerada como tendo sido o principal impulso para o sucesso das conversações de paz em curso conducentes aos Acordos de Nova Iorque, o acordo pelo qual as forças cubanas e sul-africanas se retiraram de Angola enquanto a África do Sudoeste ganhava a sua independência da África do Sul.[39][40][41][42][43] O envolvimento militar cubano em Angola terminou em 1991, enquanto a Guerra Civil Angolana continuou até 2002. As baixas cubanas em Angola totalizaram cerca de 10.000 mortos, feridos ou desaparecidos.[44][45]
O nome "Carlota" deve-se a uma escrava negra que liderou uma revolta de escravos contra o colonialismo espanhol na ilha de Cuba, em 1843. Carlota foi derrotada pelos espanhóis, mas morreu bravamente, com um facão na mão, sem se render. Em 1973, Fidel Castro houve por bem realizar eventos em comemoração aos 130 anos da revolta de Carlota e o nome ficou-lhe na cabeça. Dois anos depois, Castro não duvidou em baptizar de "Carlota" o nome da operação de ajuda ao MPLA angolano.
A operação iniciou-se em agosto de 1975 a partir do Congo-Brazavile, com o envio inicial de cerca de 500 militares cubanos que treinaram e forneceram equipamentos às forças do MPLA.[7] Além disso, entre 16 e 20 de setembro de 1975, os navios cubanos Vietnam Heroico, Coral Island e La Plata aportaram em Ponta Negra, no Congo-Brazavile, e secretamente nos arredores de Porto Amboim, já fornecendo equipamento militar.[7]
No entanto, a Operação Carlota geralmente é mais visualizada a partir da ponte aérea Cuba-Angola, a última fase da operação iniciar sua execução.[7] Nesta, o governo cubano fez uma operação de emergência para ajudar o MPLA a manter seu poder em Luanda (capital angolana) e Cabinda,[7] e, principalmente a partir desses dois pontos, proclamar a independência de Angola, a 11 de novembro de 1975.[7] O que era para ser apenas uma intervenção de ajuda ao MPLA para expulsar do território angolano as tropas da África do Sul, que apoiavam a UNITA, e do Zaire, que apoiava a FNLA, transformou-se numa intervenção de larga escala que duraria dezesseis anos[7] e envolveu não apenas soldados cubanos, mas também, médicos, engenheiros e professores.
É importante salientar que a UNITA, o FNLA e o MPLA eram facções rivais que lutavam contra o colonialismo português, mas também lutavam entre si pelo controle de Angola pós-independente. Além das diferenças ideológicas (UNITA: à época de centro-esquerda; FNLA: à época de centro; MPLA: esquerda), tais facções eram patrocinadas por rivais da arena internacional (UNITA: África do Sul e Estados Unidos; FNLA: Zaire e China; MPLA: Cuba e União Soviética).[7] Outro fator importante eram as diferenças tribais que perpassavam tais grupos. Este, em resumo, foram os ingredientes que levaram à sangrenta e duradoura Guerra Civil Angolana.
A aventura africana de Fidel Castro não se limitou a Angola. Em 1978, tropas cubanas lutaram ao lado da Etiópia em sua guerra contra a Somália (Guerra do Ogaden).[7] Assessores militares cubanos também foram enviados, em número reduzido, a países africanos com regimes comunistas ou simpatizantes: Argélia, Guiné, Guiné-Bissau,[7]Benin, Congo-Quinxassa, além das já citadas Angola e Etiópia.
O último soldado cubano deixou Angola em 1991.
Notas e referências
Notas
↑A Missão Militar da Coreia do Norte em Angola tinha cerca de 1.500 pessoas ligadas à FAPLA em 1986, muito provavelmente conselheiros, embora as suas funções exatas sejam incertas.[10] A sua presença em Angola pode ter sido indirectamente subsidiada pela União Soviética.[11]
Referências
↑ abShubin, Vladimir Gennadyevich (2008). The Hot "Cold War": The USSR in Southern Africa. London: Pluto Press. pp. 92–93, 249. ISBN978-0-7453-2472-2
↑Thomas, Scott (1995). The Diplomacy of Liberation: The Foreign Relations of the ANC Since 1960. London: Tauris Academic Studies. pp. 202–207. ISBN978-1850439936
↑Wolfe, Thomas; Hosmer, Stephen (1983). Soviet policy and practice toward Third World conflicts. Lanham: Rowman & Littlefield. p. 87. ISBN978-0669060546
↑ abcHughes, Geraint (2014). My Enemy's Enemy: Proxy Warfare in International Politics. Brighton: Sussex Academic Press. pp. 65–79. ISBN978-1845196271
↑Mitchell, Thomas G. (2013). Israel/Palestine and the Politics of a Two-State Solution. Jefferson: McFarland & Company Inc. pp. 94–99. ISBN978-0-7864-7597-1
↑Shubin, Vladimir; Shubin, Gennady; Blanch, Hedelberto (2015). Liebenberg, Ian; Risquet, Jorge, eds. A Far-Away War: Angola, 1975-1989. Stellenbosch: Sun Press. pp. 86–87. ISBN978-1920689728
↑James III, W. Martin (2011) [1992]. A Political History of the Civil War in Angola: 1974-1990. New Brunswick: Transaction Publishers. pp. 207–214, 239–245. ISBN978-1-4128-1506-2
↑Polack, Peter (13 de dezembro de 2013). The Last Hot Battle of the Cold War: South Africa vs. Cuba in the Angolan Civil War. [S.l.]: Casemate Publishers. pp. 66–68. ISBN9781612001951
↑Gleijeses, Piero (2013). Visions of Freedom: Havana, Washington, Pretoria, and the Struggle for Southern Africa, 1976-1991. [S.l.]: UNC Press Books. p. 521
↑Political terrorism: a new guide to actors, concepts, data bases, theories and literature.
↑ abClodfelter, Micheal (2017). Warfare and Armed Conflicts: A Statistical Encyclopedia of Casualty and Other Figures, 1492-2015, 4th ed. [S.l.]: McFarland. p. 566. ISBN978-0786474707
↑Polack, Peter (2013). The Last Hot Battle of the Cold War: South Africa vs. Cuba in the Angolan Civil War illustrated ed. Oxford: Casemate Publishers. pp. 164–171. ISBN978-1612001951
↑Mallin, Jay (1994). Covering Castro: Rise and Decline of Cuba's Communist Dictator. [S.l.]: Transaction Publishers. p. 101
Mallin Senior, Jay (2000). History of the Cuban Armed Forces: From Colony to Castro (em inglês). Miami, Flórida: Ancient Mariners. 441 páginas. ISBN978-0970072115
Mallin Senior, Jay (1987). Cuba in Angola (em inglês). Miami, Flórida: Miami University & Coral Gables