Os pehuenches (povo do Pehuén que de forma aproximada em português equivale a povo dos pinheiros)[1] são um grupo indígena das montanhas que faz parte do povo mapuche[2] e que habita tradicionalmente ambos lados da cordilheira dos Andes, no centro-sul do Chile e sudoeste da Argentina. Sua denominação está relacionada à sua alimentação típica baseada em pinhões que são as sementes do pehuén ou pinheiro araucária,[3] árvores normalmente localizadas em regiões com mais de 1000 metros acima do nível do mar.
Os atuais pehuenches se identificam com a população da cultura mapuche que habitava às orlas do alto rio Biobío na zona cordillera VIII da Região de Biobío e na área de Lonquimay da IX Região da Araucanía no Chile. Na Argentina atualmente os pehuenches são um grupo pequeno, sendo localizados no departamento Malargüe (província de Mendoza) e de forma isolada no Arroio Os Berros, departamento de Valcheta (província de Rio Negro). O Conselho Pehuenche agrupa o principal grupo argentino em Aluminé (província de Neuquén).[4]
Seu território ancestral no Chile abrangia os nevados de Chillán ao norte até o vulcão Llaima no sul, sendo econtrados esporadicamente pelo norte até o rio Maule. Na Argentina viviam entre o rio Diamante ao norte até o lago Aluminé no sul. Migravam para os vales durante o inverno e no verão subiam para lugares mais altos, quando acontecia a coleta dos pinhões entre os meses de março a maio.[5][6]
Quando os espanhóis chegaram, os Pehuenches e os Puelches eram povos caçadores-coletores. A população Pehuenche se integrou em torno de pequenos grupos especializados na caça de guanacos, emas e veados andinos e na coleta de pinhão. Na caça e na guerra demonstraram habilidade no manejo das boleadeiras e flechas. Faziam suas casas ou toldos com galhos e peles, instalando-se perto de rios e estuários. Os grupos eram presididos pelo ancestral masculino mais velho, que exercia o poder como "lonko" ou chefe de família. Os Pehuenches acreditavam na vida após a morte e expressavam isso enterrando seus mortos acompanhados de armas, utensílios e decorações.[7]
Durante os primeiros anos da conquista, o seu relativo isolamento permitiu apenas contactos esporádicos com os espanhóis, embora rapidamente tenham aprendido a manejar o cavalo. Com o passar do tempo, a relação entre os pehuenches e os espanhóis foi dominada pelo comércio de diversos produtos como peles, ponchos e penas de avestruz em troca de trigo, licor, esporas e gado. Na medida que tais relações comerciais evoluiam eles conseguiram controlar grandes quantidade de gado que comercializavam em ambos os lados da serra. Desde meados do século XIX, compradores e arrendatários chilenos começaram a invadir as terras Pehuenche de uso ancestral, reduzindo drasticamente o território das comunidades e causando, desde então, um conflito permanente entre os Pehuenches, colonos e o Estado chileno. Com o objetivo de consolidar o processo de usurpação de seus territórios, no final de 1882 o exército chileno avançou em direção à serra para estabelecer os fortes de Nitrito, Lonquimay, Liucura, Llaima e Maitchú.[7]
Na primeira metade do século XX, foi formada a Comissão de Assentamento Indígena para restituição de parte do território usurpado, o qual gerou forte oposição por parte dos fazendeiros, neste contexto, os chefes Pehuenche iniciaram uma série de ações judiciais para obter o reconhecimento dos seus direitos ancestrais, pelo que o conflito se concentrou nos tribunais locais. Durante a ditadura militar Chilena, iniciou-se um processo de subdivisão das propriedades comunitárias que permitiu aos Pehuenches obter títulos de domínio privado, mas que enterrou ainda mais a tradição cultural e social, baseada na apropriação, uso e exploração coletiva dos frutos do terra. No final do século XX, buscando favorecer as reivindicações indígenas, o Estado comprou parte da fazenda Quinquén para os Pehuenches por US$ 6,15 milhões. Ao mesmo tempo, protegidos pela lei indigenista de 1992, Pehuenches e ambientalistas atrasaram durante anos a construção das hidrelétricas Pangue e Ralco, e conseguiram obter compensações econômicas e territoriais em troca do acesso à inundação de suas terras.[7]
A forma como se autodenominavam no seu idioma original não se conservou, mas sabe-se que faziam parte da nação huarpe antes da sua completa assimilação pela nação araucana, eles eram altos, delgados e de tez escura.[8] No século XVIII os pehuenches já falavam o idioma mapudungún dos Mapuches, ainda que sua aculturação só tenha se tornada plena em meados do século XIX. Até o século XVI os Mapuches os denominavam como pehuenches.[9]
Atualmente existe grande preocupação da comunidade Pehuenche com a conservação do seu patrimônio cultural, principalmente da sua língua. Isso porque o Chedingun, variante do Mapudungun falado nas altas montanhas do Chile e da Argentina, corre sério risco de desaparecer, pois a cada dia os falantes diminuem e com eles as pessoas competentes que podem transmitir esse conhecimento de geração em geração. No Chile o Chedingun não é reconhecido nas Bases Curriculares, nem nos programas de Educação Intercultural Bilíngue, neste contexto, existe a imposição do espanhol pelo Estado do Chileno aos indígenas na escola.[10]