Pepe Escobar

Pepe Escobar

Foto de Pepe Escobar
Nacionalidade brasileiro
Ocupação jornalista
Website brasil247.com, asiatimes.com


Pepe Escobar (São Paulo, 1954) é um jornalista investigativo independente e internacional brasileiro.

No Brasil, trabalhou para os jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e Gazeta Mercantil, além de ter publicado artigos na revista Carta Capital. É correspondente de várias publicações internacionais. No Brasil, é colunista do portal Brasil 247 e comentarista na TV 247.

Fama como crítico musical

[editar | editar código-fonte]

Sendo "capaz de dissecar o punk da periferia de São Paulo com parábolas retiradas da mitologia grega",[1] Pepe alcançaria grande notoriedade como crítico cultural "pop" nos anos 80, envolvendo-se em polêmicas notórias com membros da cena musical de São Paulo, como os integrantes das bandas Ira! e Voluntários da Pátria.[2] No entanto, a passagem de Pepe Escobar pela mídia brasileira como crítico cultural terminou de forma tumultuada por conta de uma "polêmica que minou sua credibilidade como crítico e posteriormente como jornalista musical"[3]: acusações de plágio e fabricação de matérias.

Como relembrado pelo jornalista Lúcio Ribeiro em sua coluna na Ilustrada da Folha de S. Paulo,[4] Pepe Escobar foi demitido deste mesmo caderno depois da publicação de uma crítica a um disco de David Bowie (Let's Dance), sendo esta inteiramente plagiada de um livro de rock publicado pela revista Rolling Stone.[5] Os plágios teriam sido identificados pelo jornalista André Singer, que depois publicaria texto-denúncia sobre a crítica de Bowie. Na ocasião, Escobar justificaria o ato como uma homenagem ao "jogo de espelhos" do escritor argentino Jorge Luis Borges,[4] justificativa que não recebeu adesão e que resultou na sua demissão do jornal em 1987.[1]

No entanto, a polêmica na Ilustrada, longe de ser um caso isolado, suscitou dúvidas e pesquisas no material por ele publicado em outras redações jornalísticas. Problemas éticos sérios foram identificados em seu trabalho também em outras publicações.

Na revista Bizz foi identificado plágio em uma entrevista com Bryan Ferry, ex-líder do Roxy Music.[4] Já n'O Estado de S. Paulo, segundo o crítico cultural do jornal Daniel Piza, Escobar teria inventando do zero uma entrevista com o cineasta franco-polonês Roman Polanski, também gerando a sua demissão e reordenamento de carreira no exterior.[6][1]

Carreira no exterior como analista geopolítico

[editar | editar código-fonte]

Desde 1985, Pepe Escobar tem atuado como correspondente estrangeiro e analista geopolítico. Viveu em Londres, Paris, Milão, Los Angeles, Washington D.C., Bangkok e Hong Kong.

Mesmo antes dos ataques de 11 de setembro de 2001, dedicou-se a cobrir o arco que se estende do Oriente Médio à Ásia Oriental e Central, com ênfase nos aspectos sanitários[7][carece de fonte melhor] e geopolíticos e nas disputas das grandes potências por fontes de energia e recursos naturais.[8][carece de fonte melhor] Como correspondente itinerante do site Asia Times Online (baseado em Hong Kong) manteve a coluna The Roving Eye, de 2000 a 2014, período em que realizou alguns dos trabalhos que marcaram sua carreira. No Afeganistão, entrevistou o líder anti-talibã de Aliança do Norte, Ahmad Shah Massoud, semanas antes do seu assassinato.[9][carece de fonte melhor]

Tem colaborado com: Canal do YouTube Duplo Expresso (Romulus Maia); RT (Russia Today), Brasil 247, The Real News (TRNN)[10] e Al Jazeera.[11] Também contribui para os sites Sputnik[12] TomDispatch,[13] OpEdNews,[14]Strategic Culture Foundation, Counterpunch e Information Clearing House,[15] entre outros websites - da América à Ásia Oriental.

Possível conexão com esquema russo de desinformação

[editar | editar código-fonte]

Em duas ocasiões, o jornalista foi citado nominalmente em documentos internos do Departamento de Estado dos EUA que o ligam a um ecossistema de fake news do governo russo de Vladimir Putin, com fortes conexões com a extrema-direita mundial.[16][17] Como definido no estudo, "o ecossistema de desinformação e propaganda da Rússia é uma coleção de canais de comunicação (oficiais, proxys e não-atribuídos) e plataformas que a Rússia usa para criar e amplificar falsas narrativas". A ideia por trás de tal rede seria influenciar o cenário internacional com opiniões pró-Rússia e anti-Ocidente, fazendo uso de técnicas da chamada pós-verdade como as notícias falsas e a infiltração em massa de robôs em redes sociais. Para isso a rede faria uso de estrangeiros (não-russos) que tenham penetração na mídia internacional, notadamente aquela que publica em inglês. Um estudo de caso específico citado no documento mostra que tal rede foi responsável, em grande escala, pela disseminação de notícias falsas relacionadas à pandemia do COVID-19.

O primeiro documento em que Escobar é referenciado, chamado Pillars of Russia’s Disinformation and Propaganda Ecosystem ('Pilares do Ecossistema Russo de Desinformação'), é uma análise detalhada do esquema desinformacional e propagandístico russo, suas principais mídias e participantes – incluindo Escobar, que é citado quatro vezes. Dos sete sites de análise geopolítica citados no dossiê como propagadores de mentiras à mando do Kremlin - The Strategic Culture Foundation,[18] Global Research,[19] News Front,[20] SouthFront,[21] Katehon,[22] Geopolitica.ru[23] e New Eastern Outlook -, Escobar escreve, já escreveu ou é republicado em seis deles. Mesmo sem publicá-lo, já que é um jornal acadêmico e não jornalístico, o New Eastern Outlook rasga elogios ao brasileiro ("analista geopolítico perspicaz").[24][carece de fonte melhor]

Ainda de acordo com o mapeamento feito, narrativas falsas seriam geradas pelo governo russo, desenvolvidas por analistas e jornalistas em publicações financiadas por eles e posteriormente disseminadas por um ecossistema midiático composto de meios mais populares como RT, Sputnik, publicações locais nos países alvo e perfis falsos em redes sociais. O mesmo argumento seria desenvolvido em mais profundidade em um segundo dossiê, Kremlin-Funded Media ('Mídia financiada pelo Kremlin'), no qual Escobar também é citado. A análise é corroborada pelo Centre for the Analysis of the Radical Right (Centro de Análises da Direita Radical).[25]

Tal rede teria grande influência em narrativas desenvolvidas no campo político da extrema-direita mundial. Refletindo essa ligação, Escobar torna-se amigo pessoal do filósofo ultradireitista Aleksandr Dugin, conselheiro do mandatário russo Vladimir Putin e principal ideólogo por trás da anexação da Crimeia e do recente expansionismo russo. "Somos amigos, nos encontramos. Quando em Moscou, vou ao escritório do Dugin. Quando ele não está, falo com a sua filha, Daria, que é bárbara e me põe a par de tudo que acontece", diz o jornalista.[carece de fontes?]

Teorias polêmicas sobre a COVID-19

[editar | editar código-fonte]

Em livestream realizada pelo site brasileiro Brasil 247, o jornalista fez comentários elogiosos sobre o infectologista francês Didier Raoult, frequentemente citado por negacionistas mundo afora pela sua defesa da hidroxicloroquina como remédio para a COVID-19. “Ninguém conhece mais sobre doenças transmissíveis no mundo do que ele [Raoult]. Se ele está dizendo que [a cloroquina] funciona, você pode aplicar isso no mundo inteiro”, afirmaria Escobar na ocasião. Em artigo publicado originalmente no Asia Times[26] e traduzido pelo mesmo Brasil 247,[27] Pepe sugeriria também que a França – país de Raoult – estaria propositadamente “escondendo uma cura barata e testada para o vírus” (a hidroxicloroquina).

Princípio ativo usado contra a malária, a hidroxicloroquina não é eficaz contra a Covid, embora tenha sido defendida por presidentes como o do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos Estados Unidos, Donald Trump. Seu principal proponente, Didier Raoult foi punido pela Câmara de disciplina do Colégio de Médicos de Bordeaux por não se basear em “dados confirmados” ao promover o medicamento.[28] O médico foi obrigado a reconhecer que a hidroxicloroquina não reduz mortes relacionadas à doença.[29] Banido do Facebook por espalhar notícias de cunho negacionista, Escobar criou um grupo de notícias no Telegram e seguiu postando conteúdo similar.

Por fim, o jornalista também escreveu textos insinuando que os Estados Unidos seriam a origem do vírus da COVID-19, que teria saído do Instituto de Pesquisa Médica de Doenças Infecciosas do Exército dos EUA, em Fort Detrick, Maryland, sendo posteriormente levado à China nos Jogos Mundiais Militares de Wuhan de 2019.[30] Não existem evidências que demonstrem que a informação seja verdadeira. A OMS divulgou relatório sobre as origens da Covid-19 em março de 2021, no qual concluía que a teoria do suposto vazamento era “extremamente improvável”.[31][carece de fonte melhor]

Livros publicados

[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c Alexandre, Ricardo (2013). Dias de luta : o rock e o Brasil dos anos 80 2 ed. Porto Alegre: [s.n.] OCLC 869365898 
  2. «Nasi x Pepe Escobar, a real». Guilherme Werneck. Consultado em 9 de março de 2022 
  3. Oliveira, Cassiano Francisco Scherner de (26 de janeiro de 2011). «O criticismo do rock brasileiro no jornalismo de revista especializado em som, música e juventude : da Rolling Stone (1972-1973) à Bizz (1985-2001)». Consultado em 9 de março de 2022 
  4. a b c «Folha Online - Pensata - Lúcio Ribeiro - Você quer a azul ou a vermelha? - 21/05/2003». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 9 de março de 2022 
  5. The Rolling stone illustrated history of rock & roll : the definitive history of the most important artists and their music. Anthony DeCurtis, James Henke, Holly George-Warren Third edition ed. New York: [s.n.] 1992. OCLC 25507878 
  6. «O Estado de S. Paulo». Observatório da Imprensa. 29 de dezembro de 2008. Consultado em 9 de março de 2022 
  7. Escobar, Pepe (6 de abril de 2020). «'It is disease that makes health sweet and good'». Asia Times (em inglês). Consultado em 11 de agosto de 2020 
  8. “Pepe escobar: são os aquedutos, o gás natural e o petróleo, estúpido!. Forum, 29 de março de 2011.
  9. (em inglês) Masoud: From warrior to statesman. Asia Times Online, 11 de setembro de 2001
  10. (em inglês) Pepe Escobar na TRNN (em vídeo).
  11. Bio de Pepe Escobar no site de Al Jazeera
  12. (em inglês) Authors: Pepe Escobar. Artigos de Pepe Escobar para o site Sputnik,
  13. (em inglês) Authors: Pepe EscobarArtigos de Pepe Escobar publicados em tomdispatch.com, entre 2008 e 2015.
  14. (em inglês) Pepe Escobar no OpEdNews
  15. Is There a US-Russia Grand Bargain in Syria?. Por Pepe Escobar. Information Clearing House, 19 de março de 2016
  16. «Russia Disinformation and Propaganda Ecosystem» (PDF). U.S. Department of State. GEC Special Report. 1 de agosto de 2020. Consultado em 14 de março de 2022 
  17. «Kremlin-Funded Media» (PDF). U.S. Department of State. GEC Special Report. 1 de janeiro de 2022. Consultado em 14 de março de 2022 
  18. «Pepe Escobar». Strategic Culture Foundation (em inglês). Consultado em 14 de março de 2022 
  19. «Pepe Escobar, Author at Global Research». Global Research (em inglês). Consultado em 14 de março de 2022 
  20. «Shutting Down the Gulf Oil Trade: All Iran Needs to Do to Destroy the World Economy». English News front (em inglês). 24 de junho de 2019. Consultado em 14 de março de 2022 
  21. SouthFront (20 de março de 2020). «Escobar: "China Locked In Hybrid War With US"». South Front (em inglês). Consultado em 14 de março de 2022 
  22. «Pepe Escobar». Katehon think tank. Geopolitics & Tradition (em inglês). 30 de novembro de 2015. Consultado em 14 de março de 2022 
  23. «Como a Rússia contornará o ataque econômico do Ocidente?». Геополитика.RU (em russo). 3 de março de 2022. Consultado em 14 de março de 2022 
  24. Gunnar, Ulson (12 de março de 2016). «Welcome to the Empire of Chaos». New Eastern Outlook. Consultado em 12 de março de 2022 
  25. «How COVID and Syria Conspiracy Theories Introduce Fascism to the Left Part 3: The Red-Brown Media Spectrum – Centre for Analysis of the Radical Right» (em inglês). Consultado em 14 de março de 2022 
  26. Escobar, Pepe (27 de março de 2020). «Why France is hiding a cheap, tested virus cure». Asia Times (em inglês). Consultado em 14 de março de 2022 
  27. Escobar, Pepe (27 de março de 2020). «Por que a França está escondendo uma cura barata e testada para o vírus - Pepe Escobar». Brasil 247. Consultado em 14 de março de 2022 
  28. «Didier Raoult é advertido em conselho médico por promover hidroxicloroquina». Folha de S.Paulo. 7 de dezembro de 2021. Consultado em 14 de março de 2022 
  29. «Maior defensor da cloroquina, médico francês admite pela primeira vez que medicamento não reduz mortes». Época. 18 de janeiro de 2021. Consultado em 14 de março de 2022 
  30. Escobar, Pepe (25 de novembro de 2021). «Fauci as Darth Vader of the Covid wars». Asia Times (em inglês). Consultado em 14 de março de 2022 
  31. «Origem animal do novo coronavírus é 'muito provável', diz relatório da OMS». CNN Brasil. Consultado em 14 de março de 2022 
  32. https://www.amazon.com.br/Eurasia-v-NATOstan-Pepe-Escobar/dp/1608882950/ref=tmm_pap_swatch_0?_encoding=UTF8&dib_tag=se&dib=eyJ2IjoiMSJ9.McDOGISPQ0kSBqlguzJJv88OsxGGE6Xt55-1ldQHqvtOtaNvwG-9MrW-dNUgSNmSprCRDFMQgJMrJr1CZG5SyBYVbkyP9d40SlDcldQI3dleY25TpQuVLvDObK4KNYJ5TfvWLOV067qSIe0JH6nKHhaJyUDgbZEojG9C4SZ6bG7oWbPdWGZzL5EjhwnASOwJ7uBOcyomGMTsj4vTYhFLyc_tFa9LH87e1WzCVo7yXQA.7Vyd-U7gd3Ikw8Ckk4Np-xowjSgGQqjf5lVZ8jZbJs0&qid=1713929429&sr=1-1

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]