piauí | |
---|---|
Edição de fevereiro de 2012 | |
Frequência | Mensal |
Circulação | 21.524 (abril/11)[1] vendas avulsas. 20.081 (abr/11)[1] assinaturas. |
Editora | Editora Alvinegra |
Primeira edição | outubro de 2006 |
País | Brasil |
Baseada em | Rio de Janeiro |
Idioma | português |
piaui |
A piauí (estilizado em minúsculas) é uma revista mensal brasileira de jornalismo, comentários, crítica, ensaios, ficção, sátira, charges e poesia. Idealizada pelo cineasta João Moreira Salles e lançada em outubro de 2006, a publicação pertence à Editora Alvinegra. O conteúdo da revista está hospedado no site da Folha de S.Paulo por uma parceria editorial, enquanto o sistema de assinatura é gerenciado pela Editora Abril, contudo, ela não pertence a nenhuma das duas gigantes da comunicação.[2] Em 7 de outubro de 2021, a revista passou a ser gerida pelo Instituto Artigo 220, uma entidade sem fins lucrativos mantida por um fundo patrimonial.[3]
Embora tenha uma tiragem mensal modesta de 50 mil exemplares, a piauí é reconhecidamente uma das principais publicações formadoras de opinião no Brasil.[4]
Diferentemente das revistas convencionais do mercado editorial brasileiro, a piauí pratica jornalismo literário. Esse modelo foi inspirado nas revistas brasileiras Senhor e Realidade, além da estadunidense The New Yorker.[4]
João Moreira Salles nunca ressaltou publicamente a escolha deste gênero, pois acredita que se trata de "um nome pomposo, que quer se aproximar da eternidade da literatura". Para ele, "o que a piauí faz é contar bem uma história".[5] Além de pautas pouco convencionais, o tratamento dado às reportagens geralmente assemelha-se ao de uma narrativa ficcional.
A piauí pode ser enquadrada no conjunto de obras que se convencionou chamar de jornalismo literário, uma vez que apresenta elementos comuns à produção literária, como a enumeração de cenas, a descrição detalhada de ambientes e personagens e a fuga da objetividade. Além disso, o periódico não tem uma temática específica, não aborda temas explorados pela mídia, não tem manchete de capa e não tem uma linha editorial definida. Deste modo, permite que o repórter seja mais autoral em seus textos, o livrando da obrigação da pirâmide invertida e do lide naquilo que escreve. Ou seja, os títulos e os textos não têm comprometimento com o padrão das técnicas jornalísticas, tendo estes as possibilidades de serem longos, subjetivos, irônicos, divertidos, instigantes e até mesmo fictícios. A naturalidade da escrita e a recusa à técnica do lide favorecem a construção de uma história real com qualidade estética, de modo a dar vida e perenidade à reportagem.
A piauí apresenta reportagens construídas a partir de estruturas narrativas e não unicamente de fatos expositivos, o que contribui para a humanização da reportagem, levando-a a alcançar uma dimensão maior de compreensão do personagem. O uso da descrição é também um importante aspecto nessa compreensão, visto que é através desse recurso que o leitor é apresentado aos personagens. A partir da narração, é possível conhecer melhor a trajetória dos personagens, enquanto a descrição permite ao leitor construir uma imagem mental destes e dos ambientes que compõem a reportagem. Estes recursos atuam, portanto, como elementos contextualizadores, contribuindo para o aprofundamento dos temas explorados.
São todos os detalhes simbólicos perceptíveis no cotidiano das pessoas, como de gestos, hábitos, olhares, poses, jeito de andar e outros. O registro de características simbólicas relaciona-se à riqueza da descrição e também ao trabalho com a linguagem. Ao fazer uso de tal recurso, a narrativa é enriquecida e afasta-se da objetividade que é pressuposta pela presença do lide (sic?) no texto. O que prevalece é a preocupação em construir uma narrativa que instigue o leitor e que se caracteriza pelo prazer da leitura.
O jornalismo tradicional prefere lidar com fatos já estabelecidos do que com teorias em desenvolvimento, não sendo rara a divulgação destas como verdades comprovadas, embora exista a todo instante o risco de essas enunciações caírem por terra. No entanto, em livros e reportagens com maior liberdade textual, é possível alcançar um maior grau de aprofundamento informacional. A revista piauí, além de se dedicar a diversos aspectos da cultura brasileira, tem dedicado espaço a textos que abordam ciência e tecnologia, os quais, em meio a material sobre música, trabalho, política, violência, lazer e arquitetura, é instrumento em potencial na formação de uma cultura científica, de modo a contribuir com a reinserção da ciência na cultura.
A piauí não tem, normalmente, colunas definidas. Isto supostamente imprime à publicação um grau maior de versatilidade e de maleabilidade quanto ao conteúdo disponibilizado. Das citadas acima, "Chegada", "Colaboradores" (que é uma descrição dos profissionais que tiveram naquela edição seus textos publicados na revista), "Esquina", "Quadrinhos" e "Despedida" são as únicas fixas.
A Wikipédia foi tema de matérias da revista em duas ocasiões: uma destaca o envolvimento de um editor com a enciclopédia livre (edição 28) e a outra reflete o tema das cooperações que envolvem os editores de todos os patamares da Wikipédia (edição 70).
O Festival Piauí GloboNews de Jornalismo ocorre anualmente, desde 2014, na cidade de São Paulo. Inicialmente, era promovido somente pela revista Piauí. Mas a partir de 2015 passou a contar com a coorganização do canal de TV GloboNews.[6][7] A curadoria das três primeiras edições foi realizada pela jornalista Daniela Pinheiro.
Organizado a cada ano gira em torno de eixos temáticos, o festival procura abordar questões fundamentais do jornalismo a partir de uma perspectiva não acadêmica, mas que prefere discuti-las a partir dos relatos de experiências práticas as quais se constituam como realizações atuais e relevantes para a área. Assim, temas como as novas experiências do jornalismo contemporâneo, a extensão e relevância do processo de apuração e as coberturas sobre o poder constituíram, respectivamente, as três primeiras edições do festival.[8]
Já passaram pelo evento vários vencedores do Prêmio Pulitzer e jornalistas renomados como Seymour Hersh e Anabel Hernández. Na seção Conversa com a Fonte, grandes nomes da política brasileira já entrevistados pela revista, como Fernando Henrique Cardoso e Ciro Gomes, reencontram os repórteres que realizaram seus perfis para uma conversa diante do público.
A primeira edição do evento ocorreu nos dias 15 e 16 de novembro de 2014 no Colégio Dante Alighieri, em São Paulo.[9] Com o slogan “Onde é que isso vai parar?”,[10] o festival contou com oito debates, cada um deles com um palestrante estrangeiro e dois mediadores brasileiros, a fim de trazer experiências originais do jornalismo contemporâneo. Os debates contaram ainda com o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso e o advogado criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que já tinham sido perfilados pela revista Piauí, em entrevistas mediadas pelo documentarista João Moreira Salles e a jornalista Daniela Pinheiro, respectivamente.[11]
Participaram da primeira edição Laura Zommer (Chequeado), Andrei Scheinkman (538), Max Fisher (Vox Media), Pamela McCarthy (The New Yorker), Evan Ratliff (Atavist) Carlos Dada (El Faro), Stephen Engelberg (ProPublica), e Nikil Saval (n+1).
O festival teve como tema “E nada mais foi igual – Repórteres e reportagens que fizeram história”, reunindo jornalistas de diversos países, como Argentina, Estados Unidos e México para discutirem sobre suas experiências na realização de reportagens extensas com apuração delicada.[12][13][14]
Participaram da segunda edição Jorge Lanata (Grupo Clarín),[15] Anabel Hernández (Proceso), Ben Anderson (Vice News),[16] Sheri Fink (The New York Times), Daniel Alarcón (Radio Ambulante), Franklin Foer (The New Republic), Seymour Hersh, e Nick Davies (The Guardian).[17][18]
O III Festival Piauí GloboNews de Jornalismo ocorreu nos dias 8 e 9 de outubro de 2016, novamente no colégio Dante Alighieri.[19][20] Com a curadoria de Daniela Pinheiro, repórter da revista Piauí, o encontro teve como tema “Histórias do Poder: Quando o Repórter Põe a Mão no Vespeiro”, contando com a participação de oito jornalistas de seis países que se notabilizaram internacionalmente pela publicação de reportagens investigativas sobre diferentes contextos do poder.[21][22] Na sessão “Conversa com a Fonte”, em que jornalistas da revista se encontram com personalidades de quem já escreveram o perfil, os convidados inicialmente seriam a ex-presidente Dilma Rousseff, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes.[23]
A terceira edição contou com a participação de Walter Robinson (The Boston Globe — Estados Unidos), Jon Lee Anderson (The New Yorker — Estados Unidos), Thomas Kistner (Süddeutsche Zeitung — Alemanha), Ginna Morelo (El Tiempo — Colômbia), Mikhail Zygar (Dozhd — Rússia), César Batiz (El Pitazo — Venezuela), Michael Hudson (ICIJ — Estados Unidos), Gianni Barbacetto (Il Fatto Quotidiano — Itália).[24]
O festival contou ainda com a primeira Oficina de Fact-Checking da Agência Lupa, em parceria com o Grupo Wikimedia Brasileiro de Educação e Pesquisa. Durante o evento, além de palestras sobre metodologia de checagem e edição da Wikipédia, um grupo de 16 estudantes universitários realizou atividades práticas em verbetes da Wikipédia.[25][26][27]