Plataforma dos Açores (ou Planalto dos Açores) é um extenso planalto oceânico abrangendo aquele arquipélago e a região de espessamento crustal associada à dorsal Mesoatlântica e à junção tripla dos Açores, na região central do Atlântico Norte..[1][2] A região, que constitui uma microplaca tectónica,[3] foi formada pela atividade do ponto quente dos Açores, uma pluma mantélica em operação pelo menos durante os últimos 20 milhões de anos e ainda no presente associada com vulcanismo ativo.[1][4] O planalto consiste numa grande província ígnea, de forma aproximadamente triangular, situada a menos de 2000 m abaixo de nível médio do mar,[5][6] ocupando uma área aproximada de 400 000 km2
A complexidade estrutural desta região do Atlântico, bem patente na diversidade de acidentes tectónicos que evidencia, tem promovido a elaboração de vários modelos dirigidos para a análise evolutiva da junção tripla dos Açores. Encontrando-se a fronteira entre a placa americana e as placas eurasiática e africana bem definida através da Crista Médio-Atlântica, subsiste, atualmente, uma significativa controvérsia no que se refere à natureza e à precisa localização do eixo correspondente ao ramo leste da junção tripla dos Açores.[7][8]
Com base na batimetria, na década de 1980 foi postulada a existência de uma microplaca tectónica na região da plataforma dos Açores compreendida entre a Dorsal Média do Atlântico, o rifte da Terceira e o prolongamento para oeste da Zona de fratura Açores-Gibraltar (a falha GLORIA) através da Zona de fratura Este dos Açores. Essa região corresponde a uma estrutura grosseiramente triangular, com 100 000-150 000 km2 de área, delimitada por estruturas tectónicas ativas, sendo que duas delas (a dorsal mesoatlântica e o rifte da Terceira) representam comprovadas descontinuidades entre placas litosféricas.[9] Esta «microplaca dos Açores» suportaria as ilhas dos grupos Central e Oriental do arquipélago.[10]
A existência desta microplaca não mereceu inicialmente consenso, já que as evidências sísmicas não mostram atividade significativa ao longo da Zona de Fratura Este dos Açores, indiciando uma ligação estável entre o setor sueste da plataforma dos Açores e a placa Africana. Contudo, as evidências físicas e químicas mostram que a plataforma dos Açores está associada a um centro de expansão em torno da junção tripla dos Açores,[11] uma região onde as três grandes placas tectónicas do Atlântico Norte se encontram para formar uma junção tripla em forma de «T». A dorsal mesoatlântica forma duas pernas do «T», enquanto a terceira perna é o centro de expansão crustal dos Açores, estrutura que corresponde ao rifte da Terceira e é constituída por uma série de bacias rifteadas em escalão. O centro de expansão formou-se há cerca de 36 milhões de anos e tem migrado para o sul.[12] No arquipélago dos Açores não foi demonstrada a existência de uma progressão linear na idade dos vulcões, tendência comum em vulcões associados a pontos quentes mantélicos, e a análise geoquímica das lavas de cinco das ilhas dos Açores não forneceu evidência química da presença de uma pluma mantélica na região de origem desses basaltos.[13]
Investigação geodésica mais recente veio, contudo, demonstrar que as taxas de expansão da dorsal meso-atlântica não mudam abruptamente na junção tripla dos Açores, como deveria ocorrer se as placas da Eurásia, América do Norte e Núbia se encontrassem numa junção tripla discreta. Em vez disso, eles mudam gradualmente de 22,9 ±0,1 mm/ano (1σ) na latitude de 40º N para 19,8 ±0,2 mm/ano na latitude de 38◦ N. Esta transição gradual apenas pode ser explicada pela presença de uma microplaca na região, já que estas taxas de propagação transicional coincidem com o limite ocidental de uma microplaca dos Açores e, até onde sabemos, constituem a primeira evidência cinemática da existência desta microplaca, previamente apenas inferida a partir da morfologia e da sismicidade dos fundos marinhos.[11] As múltiplas taxas de expansão da Dorsal Meso-Atlântica podem ser usadas para localizar os limites norte e sul da microplaca dos Açores, determinando onde estes limites encontram a Cordilheira Meso-Atlântica. O limite norte parece intercetar o eixo da crista mesoatlãntica entre 39,4◦ N e 40,0◦ N, consistente com a localização proposta por vários autores desde a década de 1980,[11][14] que extrapolaram o prolongamento para oeste do rifte da Terceira, estendendo-o obliquamente até à sua interseção com a dorsal mesoatlântica. O limite sul da microplaca parece intercetar aquela dorsal entre os 38,2◦ N e os 38,5◦ N, de acordo com a localização sugerida para uma zona de sismicidade ativa que cruza a crista em 38,5◦ N.[15][16] As taxas de expansão crustal determinadas no bordo oeste da microplaca dos Açores (de ≈38,5◦ N a 39,5◦ N) podem ser usadas para estimar os movimentos da microplaca ao longo dos seus limites com as placas Eusroasiática e Africana.[17]
Em torno dos 39◦ N, a meio caminho ao longo da fronteira entre as placas euroasiática e norte-americana, a taxa de propagação média de 20,8 ± 1 mm/ano é ≈2 mm/ano menor do que a taxa de abertura estimada com a velocidade angular de melhor ajuste da Eurásia–América do Norte e de ≈1,5 mm/ano maior do que a melhor estimativa da taxa de abertura Núbia-América do Norte. Se a direção do movimento Açores-América do Norte neste local estiver a meio caminho entre as bem determinadas direções Eurásia-América do Norte e Núbia-América do Norte, então a diferença de 2 mm/ano de divergência oblíqua NE-SW corresponde ao previsto através do movimento ao longo do rifte da Terceira entre a microplaca dos Açores e a placa da Eurásia. O movimento previsto é consistente com a evidência de propagação oblíqua lenta de NE para SW obtida por mapeamento de sonar de varrimento lateral GLORIA do rift Terceira[11] e pela análise dos mecanismos focais de sismos ao longo do limite da placa Açores-Eurásia. Uma análise simplificada da velocidade linear relativa também mostras que a microplaca dos Açores se move 2 mm/ano para leste-nordeste ao longo de seu limite com a placa Africana, valor que é consistente com o movimento lateral direito, ENE-WSW, indicado por mecanismos focais sísmicos ao longo da zona sísmica que define o limite sul da microplaca.[17]
Medições com base em GPS de precisão mostram velocidades para locais nas ilhas dos Açores que estão dentro dos limites inferidos para a microplaca dos Açores. Para um local na ilha de São Jorge, determinaram um movimento de 3 ± 0,3 mm/ano (1σ) para oeste em relação à placa da Euroasiática, o mesmo, dentro das incertezas determinadas, que a estimativa do movimento da microplaca dos Açores em relação ao Placa da Eurasiática determinada com recurso á metodologia MORVEL. Assim os dados cinemáticos, sismológicos, geofísicos marinhos e geodésicos suportam a existência da microplaca dos Açores com dimensões de ≈100 km por ≈100 km e sugerem que o seu movimento pode ser estimado com sucesso.[17]
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