Ramiro de Lorca | |
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Outros nomes | Ramiro de Lorqua Ramiro de Orco |
Nascimento | 1452 Lorca, Espanha |
Morte | 26 de dezembro de 1502 Cesena, Itália |
Causa da morte | execução por decapitação |
Nacionalidade | espanhol |
Ocupação | condotiero |
Outras ocupações | administrador de comuna governador de província |
Ramiro de Lorca (Lorca, 1452–Cesena, 26 de dezembro de 1502) foi um condotiero espanhol a serviço de César Bórgia, nomeado administrador das comunas italianas de Forlì e Cesena na atual província de Forlì-Cesena. Tornou-se depois governador de província. É também conhecido como Ramiro de Lorqua e citado por Nicolau Maquiavel como Ramiro de Orco no capítulo VII da sua obra O Príncipe.
Não se sabe quando ele viajou de Levante, na Espanha, para a península italiana ou quando começou a trabalhar para os Bórgias mas sabe-se que, na época da eleição do papa Alexandre VI, pai de César Bórgia, era mordomo de confiança deste, tanto que o acompanhou à França para servir de testemunha de seu casamento com Carlota de Albret, em 1499.[1][2]
Em 1500, César Bórgia usou a recusa das autoridades da Romanha em homenagear seu pai como papa, como pretexto para invadir a região.[2] Ramiro de Lorca participou desta campanha e capturou as cidades de Cesena e Forlì. Giovanni Olivieri [en], bispo da Isérnia, foi nomeado legislador do território, enquanto Ramiro tornou-se administrador, primeiro de Forlì e depois de Cesena, capital do recém-proclamado Grão-Ducado da Romanha.[1][3] Em outubro de 1501 é nomeado governador-geral da Romagna, onde impõe a ordem, suprime impiedosamente a desordem, mas também promove a paz entre as facções, protege a vida dos indivíduos e suas propriedades e inicia um programa de construção de obras públicas. Sentindo-se um grande estadista, organiza tropas, promove guerras, corrompe senhores, assina tratados e celebra vitórias com suntuosas festas. O regime implacável de torturas e execuções públicas trouxeram o medo e o ódio da população contra ele.[2]
Em 29 de janeiro de 1502, em Faença, um criminoso que seria enforcado escapou e se refugiou em uma igreja. Ramiro não hesitou e obrigou o padre a entregar o criminoso, que foi enforcado na janela da igreja, violando a centenária tradição do direito de asilo nas igrejas e outros lugares consagrados. Além disso, impôs uma multa de dez mil ducados aos cidadãos de Faenza por cumplicidade. Estes recorreram a César Bórgia, que anulou a multa. Ramiro, mantendo sua arbitrariedade e despotismo, em represália decreta que a Câmara Municipal não seria mais convocada ao som de trombetas, como era a tradição, mas sim ao toque dos sinos das igrejas.[2]
Enquanto isso, César Bórgia percorre a Romanha com seus grandes amigos, o engenheiro Leonardo da Vinci e o filósofo e historiador Nicolau Maquiavel, vindos de Florença, passando quatro meses com eles. A missão de Leonardo da Vinci seria projetar e construir os palácios da Universidade e do Tribunal de Apelações em Cesena, onde ficaria sediado o "presidente da Romanha", cargo para o qual seria nomeado Antonio del Monte, com a destituição de Ramiro de Lorca. Em novembro de 1502, enquanto estava em Ímola, toma conhecimento da sua demissão. Retorna a Cesena, imaginando que César Bórgia lhe daria uma nova missão mas ao chegar, em 22 de dezembro, é preso, acusado de corrupção, extorsão e roubo. São confiscados 22 mil ducados e todos os seus pertences. Ele é sumariamente julgado e condenado à morte por decapitação, confessando, sob tortura, uma suposta conspiração tramada em Magione, para assassinar César Bórgia.[2][1] Ao amanhecer de 26 de dezembro, Ramiro foi executado na praça principal de Cesena. Seu corpo foi cortado ao meio e a cabeça espetada em uma lança. Maquiavel, anos mais tarde, escreveria no capítulo VII da sua obra literária O Príncipe, produzida em 1513 e publicada em 1532, que as ações sangrentas de Ramiro de Lorca foram o motivo para César Bórgia executá-lo e assim tentar melhorar sua imagem pública, distanciando-se de seus crimes.[4]
E porque [César Bórgia] sabia que os rigorismos passados tinham dado origem a algum ódio, para limpar os espíritos daquelas populações e conquistá-los completamente, quis mostrar que, se alguma crueldade havia ocorrido, não nascera dele, mas sim da triste e cruel natureza do ministro. E, servindo-se da oportunidade, fez colocarem-no uma manhã, na praça pública de Casena, cortado em dois pedaços, com um pau e uma faca ensangüentada [sic] ao lado. A ferocidade desse espetáculo fez com que a população ficasse ao mesmo tempo satisfeita e pasmada.