Romance planetário

Capa da revista Imagination, agosto de 1953

Romance planetário (planetary romance no original) é um sbugênero da ficção científica ou fantasia científica na qual o grosso da ação consiste em aventuras em um ou mais planetas exóticos, caracterizados por cenários físicos e culturais distintos. Alguns romances planetários transcorrem em uma sociedade futura onde viagens entre mundos via espaçonave são corriqueiras; outros, particularmente os primeiros exemplos do gênero, não o fazem, invocando tapetes voadores, projeções astrais e outros métodos implausíveis de viajar entre planetas. Em qualquer dos casos, são as aventuras planetárias o foco da história, não o método de viagem.[1]

Em Science Fiction: The 100 Best Novels (1985), o editor e crítico David Pringle nomeou Marion Zimmer Bradley e Anne McCaffrey duas das "principais representantes nos dias atuais" para o tipo de ficção científica romance planetário.[2]

Há uma sobreposição significativa do gênero com outro subgênero, o espada e planeta.


Protótipos e Características

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Como o nome do gênero sugere, o romance planetário é uma extensão dos "pulps" e romances de aventura de fins do século XIX e início do século XX numa montagem planetária. Os romances "pulp" (de escritores como Henry Rider Haggard e Talbot Mundy) apresentam personagens destemidos em cenários exóticos e "mundos perdidos" tais como a América do Sul, África, Oriente Médio e Extremo; uma variante ocorria em países reais ou fictícios de tempos antigos e medievais, e eventualmente contribuíram para o moderno gênero da fantasia.

No romance planetário, as transformações da "space opera" são aplicadas ao gênero de romance "pulp": o bravo aventureiro torna-se um viajante espacial, freqüentemente da Terra, simbolizada pela Europa e Estados Unidos modernos (entendidos como centros de tecnologia e colonialismo). Outros planetas (freqüentemente, nas primeiras histórias do gênero, Marte e Vênus) substituindo Ásia e África como locais exóticos; onde tribos hostis de alienígenas e suas decadentes monarquias substituem os estereótipos ocidentais de "raças selvagens" e "despotismo oriental".[3] Enquanto o romance planetário tem sido usado como um modo de expressar uma vasta variedade de idéias políticas e filosóficas, um assunto permanente é o do encontro de civilizações mutuamente alienígenas, suas dificuldades de comunicação e os resultados freqüentemente desastrosos que se seguem.

Edgar Rice Burroughs e as histórias de "espada e planeta"

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Capa da Planet Stories, maio de 1943

O primeiro autor a obter um grande mercado para esse tipo de história foi Edgar Rice Burroughs,[4] cujos primeiros episódios da série Barsoom apareceram no "pulp" All-Story em 1911. Ainda que os escritos de Burroughs não fossem inteiramente originais, ele ao menos popularizou o conceito do tipo de aventuras "pulp" em outros planetas.[5] O "Barsoom" (Marte) de Burroughs manifestava uma mistura caótica de estilos culturais e tecnológicos, combinando dispositivos futurísticos tais como "pistolas de rádio" e máquinas voadoras suspensas por um misterioso raio levitante, com anacrônicas cargas de cavalaria marcianas, um sistema feudal com imperadores e princesas, muitas lutas de espadas, e um código marcial pouco crível para justificá-las. O Universo de Duna de Frank Herbert e Star Wars de George Lucas são descendentes diretos desta tradição de fundir o futurístico ao medieval. O conteúdo das histórias de Barsoom era puro capa e espada, constituindo-se numa série de aprisionamentos, lutas de gladiadores, fugas ousadas, matança de monstros e duelos com vilões. Elementos de fantasia são mínimos; com exceção da telepatia, a maior parte dos exemplos de "magia" são dispensados ou expostos como parvoíces.

As histórias de Burroughs deram origem a um grande número de imitadores. Alguns, como Otis Adelbert Kline exploraram o novo mercado que Burroughs havia criado; mesmo Burroughs imitou a si mesmo em sua série sobre Vênus, iniciada em 1934.[6] Depois de estar fora de moda por algumas décadas, os anos 1960 viram surgir um interesse renovado em Burroughs e na produção de imitações "burroughsianas" por autores como Lin Carter e Michael Moorcock. Este gênero conscientemente imitativo, influenciado também por autores de espada e feitiçaria como Robert E. Howard , atende pelo nome de ficção "espada e planeta", o próprio Howard escreveu um romance do gênero: Almuric[7]; ela é essencialmente estática, um gênero "retrô", visando reproduzir mais do mesmo gênero de história, com pouquíssima variação numa fórmula estabelecida. Talvez por essa razão, muitos autores de "Espada e Planeta" tenham escrito séries com seqüências exageradamente longas, o exemplo extremo sendo a saga de Dray Prescot de Kenneth Bulmer, composta de cinqüenta e três romances.

Romance Planetário e ficção científica

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Edição de Março de 1951 de Planet Stories; arte de Allen Anderson

A publicação das revistas "pulp" de ficção científica iniciada em 1926 (e tornando-se especialmente prolíficas nos anos 1930) criaram um novo mercado para romances planetários, e e tiveram um forte efeito sobre as encarnações posteriores do gênero. Alguns "pulps", tais como Planet Stories e Startling Stories, eram basicamente dedicados a publicar romances planetários, enquanto os "pulps" existentes de fantasia, como Weird Tales começaram a publicar romances de ficção científica junto do seu cardápio habitual de horror e espada e feitiçaria. Um dos mais espetaculares autores neste estilo foi C. L. Moore, a autora das histórias de Northwest Smith (1933-1947), apresentando um rude homem do espaço que se encontra continuamente envolvido com forças alienígenas quase mágicas. Há pouca fanfarronada nas histórias de Moore, o qual se concentra na tensão psicológica, especialmente o medo e a fascinação do desconhecido, que surge nas obras de Moore tanto perigoso quanto erótico.

Nos anos 1940 e 1950, uma das mais significativas contribuintes ao gênero do romance planetário foi Leigh Brackett,[8] cujas histórias combinam heróis complexos e vagabundos (por vezes, criminosos), grandes aventuras, histórias de amor ocasionalmente, cenários ricamente detalhados com um peso e uma profundidade pouco usuais em "pulps" e um estilo que conectou "space opera" e fantasia. Brackett era uma contribuinte regular de Planet Stories[9] e Thrilling Wonder Stories, para as quais ela produziu uma série de contos entrelaçados no mesmo universo, mas - com exceção das histórias de Eric John Stark - com protagonistas totalmente diferentes. As histórias de Brackett são basicamente de aventura, mas também contém reflexões sobre os temas do imperialismo cultural e corporativo, e colonialismo.

Há uma semelhança instrutiva entre The Enchantress of Venus, uma das histórias de Stark escritas por Brackett e Empire of the Atom de A. E. van Vogt. Ambos tomam como ponto de partida a trama e a situação de Eu, Cláudio de Robert Graves.[10] Van Vogt segue a trama mais de perto, concentrando sua invenção no plano de fundo de seu império enquanto enfatiza a vulnerabilidade do herói. Brackett introduz um homem da Terra que é impactado pelo fascínio romântico da mulher envolvida nessas intrigas. Embora ambas as histórias sejam "space operas", somente a de Brackett é um romance planetário.

De meados dos anos 1960 em diante, o tipo tradicional de romance planetário que transcorre no Sistema Solar saiu de moda; visto que os avanços tecnológicos revelaram como hostis à vida a maioria dos mundos locais, as novas histórias planetárias transcorrem em planetas extra-solares, geralmente através da pressuposição de algum tipo de viagem-mais-rápida-que-a-luz.[11]

O romance planetário tornou-se um componente significativo da ficção científica atual, embora - possivelmente devido ao fato do termo ser percebido como pejorativo - poucos escritores usam esta expressão ao se auto-descrever. Devido a polinização cruzada entre o romance planetário e a "space opera", muitas histórias são difíceis de serem classificadas como sendo totalmente de um tipo ou do outro.

A série Duna de Frank Herbert, particularmente os primeiros livros que transcorrem principalmente no planeta desértico de Arrakis, tem todas as características do romance planetário (e algumas da ficção "espada e planeta"), embora sejam usadas como suporte das meditações de Herbert sobre filosofia, ecologia e a política do poder.

Os romances de Marion Zimmer Bradley sobre Darkover podem também ser classificados como romances planetários, dado que o foco permanece firmemente ajustado sobre o planeta Darkover, embora o cenário galáctico nunca seja inteiramente limitado ao plano de fundo. De modo similar, a série Krishna de romances planetários racionalizados de L. Sprague de Camp são uma sub-série de sua série de "space opera" Viagens Interplanetarias.

Os primeiros trabalhos de Ursula K. Le Guin, tais como Rocannon's World e Planet of Exile podem ser reconhecidos como romances planetários; argumenta-se que a maior parte de sua série Ekumen poderiam ser classificados como tal, embora em trabalhos posteriores elementos de fantasia estejam submersos, e temas sociais e antropológicos vieram para a frente.

Capa da adaptação em quadrinhos de The Radio Man, Avon Publications, 1950, arte de Gene Fawcette

Grande parte do trabalho de ficção científica Jack Vance: o duo Big Planet , o trio Alastor', a tetralogia Durdane , a trilogia 'Cadwal Chronicles' , o Tschai ou a tetralogia Planet of Adventure, a maioria das histórias de Magnus Ridolph , a pentalogia Demon Princes , e vários romances autônomos, tais como Maske: Thaery e os contos The Moon Moth.

Histórias em quadrinhos

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Capa de Flash Gordon Strange Adventures, 1936.

Cinema e televisão

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  • Avatar - Filme de James Cameron ambientado exclusivamente no mundo fictício de Pandora.
  • Defiance - Séries de TV criadas exclusivamente em uma versão alterada e terraformada da própria Terra.
  • Thor: Ragnarok - Um filme inspirado em Planet Hulk.

Referências

  1. John Clute, "Planetary Romance", em Encyclopedia of Science Fiction, ed. John Clute and Peter Nicholls, 1995, ISBN 0-312-13486-X.
  2. David Pringle, Science Fiction: The 100 Best Novels, An English-language selection, 1949–1984, London: Xanadu Publ, 1985. p. 17.
  3. Kathia Natalie Gomes (2005). «Fantasia espacial da conquista». Editora Duetto. Scientific American Brasil: Exploradores do Futuro - Isaac Asimov (3). ISSN 1808-6543 
  4. Roberto de Sousa Causo (8 de janeiro de 2011). «Livros e mais livros». Portal Terra 
  5. Robert Crossley (2011). Imagining Mars: A Literary History. [S.l.]: Wesleyan University Press. pp. 152 e 153. 9780819571052 
  6. Gardner Dozois (2015). Return to Venusport in Old Venus. [S.l.]: Titan Books. 9781783297887 
  7. Don Herron (1984). The Dark Barbarian: The Writings of Robert E Howard, a Critical Anthology. [S.l.]: Wildside Press LLC. 9781587152030 
  8. Clute and Grant, The Encyclopedia of Fantasy, "Burroughs, Edgar Rice", p. 152 ISBN 0-312-19869-8.
  9. Davin, Eric Leif (2006). Partners in Wonder: Women And the Birth of Science Fiction, 1926-1965 (en inglés). Lexington Books. 429 p.ISBN 978-07-3911-267-0.
  10. David Pringle (1995). The Ultimate Guide to Science Fiction: An A-Z of Science-fiction Books by Title. [S.l.]: Scolar Press. 119 páginas. 9781859280713 
  11. Keith Brooke. Strange Divisions and Alien Territories: The Sub-Genres of Science Fiction. [S.l.]: Palgrave Macmillan, 2012. 40 a 42 p. 9780230360273
  12. Roberto de Sousa Causo. In: Editora UFMG. Ficção científica, fantasia e horror no Brasil, 1875 a 1950. [S.l.: s.n.]. 188 p. ISBN 9788570413550
Bibliografia


  • "The Cambridge Companion to Science Fiction". Editado por Edward James & Farah Mendlesohn. Série "Cambridge Companions to Literature". Cambridge University Press, 2003. ISBN 0-52181-626-2

Ligações externas

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