Sanune ibne Saíde سحنون بن سعيد التنوخي | |
---|---|
Nome completo | Sahnun ibn Saïd ibn Habib al-Tanukhi |
Nascimento | Abdel Salam 776 Cairuão |
Morte | 2 de dezembro de 854 (78 anos) Cairuão |
Nacionalidade | Emirado Aglábida |
Etnia | Árabe |
Ocupação | Jurista e teólogo |
Principais trabalhos | Cádi da Ifríquia |
Magnum opus | al Mudawwana |
Escola/tradição | Maliquismo |
Religião | Islão sunita |
Sanune ibne Saíde (em árabe: سحنون بن سعيد التنوخي; romaniz.: Saḥnūn b.Saʿīd at-Tanūḫī ou سحنون بن سعيد التنوخي, cujo nome completo era Abde Assalame ibne Saíde ibne Habibe Atanuqui (Abd al-Salam ibn Said ibn Habib at-Tanukhi), também conhecido simplesmente como Sanune ou Imã Sanune (Cairuão, 776 — Cairuão, 2 de dezembro de 854) foi um jurista maliquita da escola de Cairuão (atualmente na Tunísia).
A sua obra “al Mudawwana”, uma compilação de pareceres jurídicos baseada no “Kitâb al-Muwattâ'” de Maleque ibne Anas é de primeira importância para a maddhab (escola jurídica e teológica) maliquita e foi determinante na expansão dessa escola em todo o Magrebe.
O seu nome original era Abdel Salam. Imã Sanune é um nome dado a um tipo de ave e refere-se à sua rapidez de espírito. O seu pai era um soldado originário da cidade síria de Homs[1] e a sua família reclamava-se descendente dos tanuquitas (em árabe: التنوخيون),[carece de fontes] uma tribo da Arábia e do sul da Síria.
Durante a sua juventude, Sanune estudou sob a direção de pensadores de Cairuão, nomeadamente Albulul. Prosseguiu os estudos em Tunes, com Sidi Ali ibne Ziade, a quem foi recomendado por Albulul. Ali ibne Ziade tinha sido aluno do fundador da maddhab maliquita, Maleque ibne Anas. No ano 178 da Hégira (794 ou 795) vai para o Egito, onde é aluno de outros proeminentes discípulos de Maleque, como Abderramão ibne Alcácime, ibne Uabe e ibne Axabe. Sanune teria tido a intenção de conhecer pessoalmente Maleque, mas este morre antes de Sanune conseguir os meios financeiros para o visitar. Faz uma peregrinação a Meca com os seus mestres no Egito, no camelo atrás de ibne Uabe. Posteriormente vai a Medina e à Síria, onde contacta outros seguidores proeminentes de Maleque. Regressa ao Norte de África no ano 191 da Hégira (806 ou 807).[1]
Ao longo da sua vida teve vários problemas com as autoridades aglábidas devido às suas ideias teológicas, chegando a ser condenado a ser chicoteado em 799 ou 800 por se recusar a dizer as orações depois do cádi por este ser mutazilita, pena que foi anulada pelo vizir. Durante o reinado do usurpador Amade ibne Alaglabe (847–848), teve que refugiar-se no Alcácer de Ziade junto de um asceta de nome Abde Arraim, o que não impediu que fosse preso.[1]
Quando tinha 73 anos, Sanune é nomeado cádi da Ifríquia pelo emir aglábida Abu Alabás I (r. 841–856), que reina na Ifríquia em nome do califa abássida, cargo que recusa durante um ano, só o aceitando em 849 quando o emir aceita dar-lhe carta branca em matéria judiciária, o que implicava poder julgar os membros da sua família e da sua corte. Sanune teria então dito à sua filha Cadija: «hoje o teu pai foi apunhalado sem faca.»[1]
Sanune era conhecido como um homem muito escrupuloso nos seus julgamentos e cortês com os litigantes e testemunhas, instando-as a dizerem toda a verdade sem temor das consequências, mas era muito rigoroso e frontal com os membros do círculo do soberano. Recusava-se a que estes enviassem representantes em vez de comparecerem pessoalmente aos julgamentos e recusou um pedido do emir para não interferir nos seus negócios ilegais. Não aceitava presentes ou pagamento do emir, financiando as suas despesas, do seu pessoal e do tribunal com os impostos sobre os não muçulmanos.[1]
Uma das suas primeiras medidas como cádi foi a exclusão de todas as seitas heréticas da Grande Mesquita de Cairuão, que até então era frequentada pelos muitos mutazilita, sufritas e ibaditas que havia na capital aglábida. Foi também o primeiro cádi a nomear um imã permanente para a mesquita e o primeiro a colocar os valores empenhados sob a guarda de pessoas de confiança da cidade, em vez de serem guardados em caso do juiz, como até aí se fazia.[1]
“ | Até então, nos múltiplos círculos de estudo, os representantes de todas as tendências podiam expressar-se livremente na Grande Mesquita de Cairuão. Num processo com o objetivo de purgar a comunidade académica, Sanune pôs fim ao "escândalo". Expulsou as seitas do ahl al-bida; os líderes das seitas heréticas foram obrigadas a retratar-se em público. Sanune foi um dos maiores arquitetos da supremacia exclusiva do sunismo na sua forma maliquita por todo o ocidente muçulmano. | ” |
Quando Sanune morreu, durante o mês de rajabe do ano 240 da Hégira, os membros do círculo pessoal do emir recusaram-se a participar nas orações fúnebres devido ao modo como tinham sido tratados pelo morto. Pelo contrário, a população de Cairuão mostrou-se muito consternada com o seu desaparecimento.[1]
O seu túmulo, situado fora das muralhas de Cairuão, ainda hoje é visitado em dias feriados islâmicos.[carece de fontes]
Sanune era conhecido pela sua forte ortodoxia, que ia ao ponto de se recusar orar atrás de um imã mutazilita e de expulsar as seitas consideradas heréticas da mesquita de Cairuão.[2]
A principal contribuição de Sanune para o pensamento islâmico foi o al Mudawwana, uma compilação de pareceres jurídicos da escola de Medina, baseada no Kitâb al-Muwattâ de Maleque ibne Anas. O processo de compilação e revisão envolveu quatro imãs mujtahid da escola maliquita: Assade ibne Alfurate (m. 828); ibne Axabe (m. 819 ou 820); Abu Abedalá Abderramão ibne Alcácime Alutaqui, conhecido como ibne Alcacim (m. 807 ou 808); e o próprio Sanune. A obra é referida como "al Umm" ("a Mãe") da maddhab maliquita. A revisão de Sanune e transmissão do “al Mudawwana” foi um fator decisivo na expansão da escola maliquita por todo o ocidente muçulmano (Magrebe).[1]
|volume=
at position 2 (ajuda)