Sessão de Cristo

Sessão de Cristo, com Jesus à direita de Deus Pai e os tetramorfos nos cantos representando os evangelistas.
1413 a 1415. Breviário iluminura de Louis de Guyenne, atualmente na Bibliothèque municipale de Châteauroux, na França.

A doutrina cristã da Sessão de Cristo ou sessão celeste ensina que Jesus Cristo está sentado à direita de Deus Pai no céu — a palavra "sessão" é um substantivo derivado do latim "sessio", que significa "sentar". Embora a palavra tenha tido este sentido no passado, seu uso corrente em português é mais amplo e "sessão" é utilizado para se referir a uma "reunião" (por motivos variados), como uma "aula" ou uma "corte" ou um "concílio". O Novo Testamento também representa Jesus andando ou em pé no céu, mas a Sessão de Cristo tem um significado teológico especial por causa de sua conexão com o papel de Cristo como rei. A Sessão é uma das doutrinas especificamente mencionadas no Credo dos Apóstolos, no qual "está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso" segue imediatamente uma afirmação sobre a Ascensão.

Referências bíblicas

[editar | editar código-fonte]
Representação de Deus Pai convidando Jesus a sentar-se no trono à sua direita

De acordo com Atos 2 (Atos 2:33), depois da ressurreição e ascensão de Jesus, ele foi "Exaltado pela destra de Deus". Em seu sermão, no dia de Pentecostes, Pedro afirma que a exaltação de Jesus era a realização do Salmo 110: «Diz Jeová ao meu Senhor: Senta-te à minha mão direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés» (Salmos 110:1). Na Bíblia, a "mão direita" (a "destra") tem um lugar especial de honra.[1]

A ideia da Sessão de Cristo aparece uma segunda vez no relato das pregações de Pedro. Em Atos 5 (Atos 5:31), Pedro afirma que Deus "Deus o exaltou, colocando-o à sua direita como Príncipe e Salvador" (na Nova Versão Internacional[2]), embora Louis Berkhof note que o dativo τῇ δεξιᾷ possa ser entendido aqui no sentido instrumental ("Deus com a sua destra o elevou a Príncipe e Salvador", na Almeida Corrigida e Revisada Fiel).[2][3]

A sessão celeste era importante também para outros autores do Novo Testamento. Na Epístola aos Hebreus (Hebreus 10:12), aparece que Jesus, "havendo oferecido para sempre um só sacrifício pelos pecados, sentou-se à destra de Deus". Como em Atos 2, novamente é utilizada a mesma linguagem do Salmo 110 e, no versículo seguinte, lê-se que Jesus está esperando que seus inimigos sejam colocados "por escabelo de teus pés". Outras passagens similares são Efésios 1:20 ("[Deus] fazendo-o sentar-se à sua mão direita nos lugares celestes") e I Pedro 3:22 ("[Jesus,] que está à mão direita de Deus, tendo subido ao céu").

Em Mateus 26 (Mateus 26:64) e em Marcos 14 (Marcos 14:62), Jesus diz a Caifás: "Contudo vos declaro que vereis mais tarde o Filho do homem sentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu", uma referência a Daniel 7:13, na qual Daniel tem uma visão: "eis que vinha com as nuvens do céu um como filho de homem, que se chegou até o Antigo de Dias.

Martírio de Santo Estêvão. Jesus está à direita de Deus Pai testemunhando o martírio.
Séc. XVII/XVIII. Atribuído a Luigi Garzi.

A palavra sessão é um substantivo cujo significado deriva do original em latim sessio, "sentar"[4] e é neste sentido que é utilizado em Salmos 110:1 e Hebreus 10:12. Em Atos 7:55, porém, Estêvão vê Jesus "em pé" à direita de Deus, o que pode representar Jesus "se levantando por um instante do trono da glória para cumprimentar seu proto-mártir",[5] se levantando como testemunha para justificar o testemunho de Estêvão[6] ou se preparando para retornar.[7]

Em Apocalipse 2 (Apocalipse 2:1), por outro lado, Jesus aparece entre os sete candeeiros de ouro. Robert Mounce sugere que, como estes candeeiros representam as sete igrejas, sua locomoção indicaria que ele está "presente no meio delas e ciente de suas atividades".[8]

O Credo dos Apóstolos diz que Jesus, "que ascendeu ao céu, está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso". As palavras "está sentado à direita do Pai" não aparecem no Credo de Niceia de 325, mas já estão presentes no Credo niceno-constantinopolitano de 381[9] e permanece no credo utilizado hoje em dia pela Igreja Católica.[10]

Importância teológica

[editar | editar código-fonte]

Na Bíblia, estar à direita de Deus "é ser identificado como estando num lugar especial de honra" e, portanto, "a participação total do Cristo ressuscitado na honra e glória de Deus é enfatizada com ele estando à direita de Deus".[1]

A sessão celeste é geralmente ligada à cena do entronamento de Cristo como rei. O Catecismo da Igreja Católica afirma que "Sentar-se à direita do Pai significa a inauguração do Reino messiânico.[11] Louis Berkhof lembra que, em sua sessão, Cristo está "publicamente declarado como Deus-homem e, como tal, recebe o governo da Igreja e do céu e da terra; e inaugura solenemente a administração do poder que lhe foi concedido".[12]

Em Hebreus 10:12, porém, é ofício sacerdotal de Jesus que está em análise. Esta sessão se refere à natureza já completada de sua obra, da mesma forma que "uma pessoa irá se sentar ao completar uma grande obra para regojizar-se da satisfação de tê-la concluído".[13] F. F. Bruce defende que "a presença do Messias à direita de Deus significa que, para Seu povo, passou a haver agora um meio de acesso a Deus mais imediato e mais satisfatório ao coração do que o obsoleto ritual do Templo jamais conseguiu prover".[14] Karl Barth afirma que a Sessão de Cristo é "a primeira e a última coisa que importa para a nossa existência no tempo" e que "seja qual for a prosperidade ou fracasso que possa ocorrer em nosso espaço, seja o que for que possa vir a ser e morrer, há uma única constante, uma coisa que permanece e continua, esta sessão d'Ele à direita de Deus, o Pai".[15]

Referências

  1. a b Ryken, Leland; Wilhoit, James; Longman, Tremper, eds. (1998). «Right, Right Hand». Dictionary of Biblical Imagery. [S.l.]: InterVarsity Press. pp. 727–728 
  2. a b «Atos 5». Bíblia Online 
  3. Louis Berkhof, Systematic Theology (Banner of Truth, 1959), 351.
  4. «Sessão». Priberam 
  5. F. F. Bruce, Commentary on the Book of the Acts (Eerdmans, 1964), 167.
  6. Bruce, Commentary on the Book of the Acts, 168.
  7. H. P. Owen, "Stephen's vision in Acts 7:55-56," NTS 1 [1955], 224-226.
  8. Robert H. Mounce, The Book of Revelation (Eerdmans, 1977), 86.
  9. Philip Schaff, Creeds of Christendom, Volume I, §8.
  10. «Credo». Catequisar.org 
  11. «Parágrafo 664». Catecismo da Igreja Católica 
  12. Berkhof, Systematic Theology, 352.
  13. Wayne Grudem, Systematic Theology (IVP, 1994), 618.
  14. Bruce, Commentary on the Book of the Acts, 166.
  15. Karl Barth, Dogmatics in Outline (SCM, 1960), 126.

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]