Soneto 10 |
---|
For shame deny that thou bear'st love to any, |
–William Shakespeare |
Soneto 10 é um dos 154 sonetos de William Shakespeare. Faz parte da série de 126 sonetos dedicados ao belo jovem, e um dos 17 do grupo focado na procriação.[1]
Neste soneto, expandindo o dístico do Soneto 9, o poeta acusa o jovem de um ódio assassino contra si mesmo e sua linhagem familiar e o exorta a se transformar, para que seu ser interior corresponda à sua graciosidade e gentileza exteriores.[2]
Posto que andas de amor ateando vivas chamas,
Que a nenhuma mulher tens amor é evidente.
Mas por isso, porque nenhuma mulher amas,
Para contigo mesmo, és, sabe, imprevidente.
Imprevidente, sim. Tal desdém é homicida
E em teu prejuízo, só, reverte com certeza:
Deixarás de ter prole, arruinando isso a vida
Da prole que em ti vê sua maior defesa.
Oh! Muda o teu pensar, que o meu será mudado.
Mais cabível que o amor é o desdém porventura?
Sê gracioso e gentil, também contigo, e o fado,
Que te ameaça de morte, impávido conjura:
Pelo amor que me tens, tua vida multiplica:
Em teus filhos, isto é - em ti - perpétuo fica.[3]
Envergonha-te de negar que não ames,
Tu que és tão imprudente;
Aceita, se quiseres, ser amada por tantos,
Mas é certo que não ames ninguém;
Pois tens um ódio tão mortal,
Que apenas contra ti mesma não conspiras,
Buscando arruinar este nobre teto,
Que tanto desejas consertar:
Ah, muda teu pensamento que mudarei o meu!
Deve o ódio ter mais reservas do que o amor?
Sê como tua presença, gentil e graciosa;
Ou a ti, ao menos, te proves amável,
Sê outra pelo amor que tens por mim,
Para que a beleza continue a viver em ti.[4]
Que vergonha! Negar o teu amor
Por alguém que por ti é imprevidente!
Teu talento é menor em teu visor,
E teu nenhum amor é mais patente.
A raiva que te inspira é assassina,
Pois mesmo contra ti conspira e muda,
À procura de um teto, faz ruína,
E na reparação precisa ajuda.
Muda o teu pensamento, eu mudo o tom!
Ser bem-vindo é melhor que ser amado?
Sê mesmo como és, gracioso e bom,
Bem aprovando um coração fadado;
Por meu amor, retroca de guarida,
Inda podes manter beleza e vida.[5]