Soneto 3 |
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Look in thy glass, and tell the face thou viewest |
–William Shakespeare |
Soneto 3 é um dos 154 sonetos escritos por William Shakespeare.
O soneto começa com a imagem de um espelho e é repetido em outro verso. Há nele uma passagem entre passado, presente e futuro, o poeta se reporta à mãe do interlocutor, quando mistura sua própria imagem quando jovem e a imagem do filho. Da mesma forma, o jovem pode ter uma velhice prevista, por meio de seus próprios filhos.[1]
O Soneto 3, tipicamente shakespeariano, apresenta três quadras (quatro linhas cada) e um dístico rimado final (duas linhas).
Este soneto, como muitos dos 154 escritos por Shakespeare, segue principalmente a métrica do pentâmetro iâmbico — isto é, cada linha tem cinco pés, cinco iambos, ou seja, uma sílaba átona e uma tônica.[2]
A tradutora propôs-se a fazer uma tradução literal, sem mirar em ritmo, métrica ou rima.
Mira no espelho e descreve o rosto que vês;
Agora é o tempo em que a face deve mudar,
Cujos reparos não tenhas logo renovado,
Terás enganado o mundo, à revelia de tua mãe.
Onde está a bela, cujo ventre não semeado
Desdenha o cultivo de teus cuidados?
Ou de quem será a tumba de um ser tão cioso
De seu amor-próprio para negar a posteridade?
És o espelho de tua mãe, e tua semelhança
Recorda os adoráveis dias de sua primavera;
Então, pela tua idade, poderás ver,
Apesar das rugas, o teu tempo áureo;
Mas se vives para não seres lembrado,
Jamais te cases, e tua imagem fenecerá contigo.[3]
O tradutor não se prendeu a métrica e ritmo, detendo-se à forma plástica de apresentar sempre 36 caracteres por verso, e para isso em ocasiões foge à concordância nominal. Como nos demais sonetos por ele traduzidos, acrescentou-lhe um título.
O ser e o não ser
Vê o espelho e diga a ti nesta visão:
É tempo de minha face gerar uma nova
E se a tez fresca não tem formação
Embuste ao mundo e à mãe nesta prova.
Onde vai a beleza de insólito ventre
Desdenhando a economia da localidade?
E quem quer ser sepultado consciente
De si mesmo barrando sua posteridade?
Espelha-te tomando tua mãe como meta
Chama a força do início da primavera
E verás da janela, de forma concreta,
A tua época de outo ali à tua espera.
Mas se o ser só se lembra de não ser,
Tua imagem contigo haverá de perecer.[4]
O tradutor perseguiu o ritmo de versos decassilábicos dado pelo autor, mas não se manteve no pentâmetro iâmbico original.
Olha no espelho e vê na tua face,
Quando esta face deve ser de alguém
Cuja nova feição jamas renasce,
O mundo enganas. e a mamãe não vem.
Onde anda aquela de árida matriz
A desdenhar cuidados na lavoura?
Onde ele que orgulhoso então se diz
Ser a tumba do amor, mutiladora?
De tua mãe já és cópia perfeita:
Explora a semelhança deste dom.
Abre a janela e a vê tal como é feita,
Esquece as rugas desse tempo bom.
Mas se quiseres nunca ser lembrado,
Morre solteiro - e morrerás dobrado.[5]