Surto do vírus Nipah na Malásia em 1998-1999 | |
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O primeiro epicentro do vírus ocorreu em 1998 na cidade de Ipoh. Porteriormente, foi registrado a disseminação para outros locais do surto (em azul), além do vírus Hendra (em vermelho); ambos pertencem à família Paramyxoviridae. | |
As áreas de surto do vírus Nipah de 1998-1999 na Malásia Peninsular, em azul, é a origem do vírus; enquanto que, em vermelho, são áreas afetadas. | |
Doença | Infecção pelo vírus Nipah |
Vírus | vírus Nipah |
Origem | Ipoh, Peraque, Malásia |
Local do primeiro caso | setembro de 1998 |
Estatísticas globais | |
Casos confirmados | 265 |
Mortes | 105 |
O surto do vírus Nipah na Malásia em 1998-1999 foi um surto do vírus Nipah que ocorreu entre setembro de 1998 a maio de 1999 nos estados de Peraque, Negri Sambilão e Selangor, na Malásia, totalizando 265 casos confirmados de encefalite aguda e 105 mortes causadas pelo vírus durante o surto.[1] Inicialmente, as autoridades de saúde da Malásia pensaram que a encefalite japonesa era a causa da infecção. Esse mal-entendido dificultou a implantação de medidas eficazes para prevenir a propagação, antes que a doença fosse identificada por um virologista local da Faculdade de Medicina da Universidade da Malásia como um agente recém-descoberto. Posteriormente, foi intitulado vírus Nipah (NiV). A doença era tão mortal quanto a doença do vírus Ebola (EVD), mas atacava o sistema cerebral em vez dos vasos sanguíneos.[1][2] A Faculdade de Medicina e o Centro Médico, ambas da Universidade da Malásia, desempenharam um papel importante para o controle do surto, tratando a maioria dos pacientes de Nipah, além de terem sido fundamentais na coleta de dados e para interromper a disseminação do novo vírus.
Esta doença emergente causou grandes perdas em vidas humanas e animais, afetando o comércio de gado. Também criou um revés significativo para o setor suíno da indústria animal na Malásia.[3] O país se tornou a origem do vírus, mas não tinha mais casos desde 1999. Outros surtos continuam a ocorrer em Bangladesh e na Índia.[4][5]
O vírus atingiu fazendas com porcos no subúrbio de Ipoh, em Peraque, com a ocorrência de doença respiratória e encefalite entre os suínos, onde inicialmente acreditava-se que a causa do surto seriam por encefalite japonesa (abreviado do inglês: JE), uma vez que quatro amostras de soro dos 28 infectados humanos no local testaram positivo para Imunoglobulina M (IgM) específica de JE, o que também é confirmado pelas descobertas do Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS) para Doenças Tropicais na Universidade de Nagasaki.[1] Um total de 15 pessoas infectadas morreram durante o surto que se seguiu, antes que o vírus começasse a se espalhar em Sikamat, Nipah River Village e Pelandok Hill, localizados no estado de Negri Sambilão, quando os fazendeiros afetados pelas medidas de controle começaram a vender seus porcos infectados para essas áreas.[1] Posteriormente, 180 pacientes foram infectados pelo vírus, totalizando 89 mortes. Com mais movimento de porcos infectados, mais casos surgiram em torno do distrito de Sepang e Sungai Buloh em Selangor, com 11 casos e 1 morte relatados entre trabalhadores de matadouros em Singapura, que manusearam os porcos infectados importados da Malásia.[1]
Tendo em vista que o controle do surto foi aplicado erroneamente, medidas precoce como a nebulização de mosquitos e vacinação de porcos contra a encefalite japonesa implantadas na área afetada se mostraram ineficazes, com mais casos surgindo, apesar dessas medidas iniciais.[1] Com o aumento das mortes relatadas pelo surto, isso causou medo nacional da população e o quase colapso da indústria suinícola local.[1] A maioria dos profissionais de saúde que cuidavam de seus pacientes infectados estavam convencidos de que o surto não era causado por JE, uma vez que a doença afetava mais adultos do que crianças, incluindo aqueles que haviam sido vacinados anteriormente contra JE.[1] Por meio de novas autópsias nas vítimas, os resultados foram inconsistentes com os resultados anteriores e sugeriram que pode ter vindo de outro agente.[1] Isso foi apoiado por várias descobertas, incluindo que todas as pessoas infectadas tiveram contato físico direto com porcos e todos os suínos infectados desenvolveram sintomas graves de "tosse lacrimejante" antes de morrer.[1] Apesar das evidências colhidas nos resultados da autópsia, com novas descobertas entre os pesquisadores locais, o governo federal, especialmente as autoridades de saúde, continuou insistindo que a causa das mortes era apenas pela JE, o que atrasou outras ações apropriadas para o controle do surto.[1]
No início de março de 1999, um virologista médico local da Universidade da Malásia finalmente descobriu a causa raiz da infecção.[2] Descobriu-se que a infecção foi causada por um novo agente chamado vírus Nipah (NiV), retirado da área de investigação chamada Nipah River Village (em malaio: Kampung Sungai Nipah),[6] até então desconhecido nos registros científicos disponíveis na época.[1][7] A origem do vírus foi determinada por se tratar de uma espécie nativa de morcego frugívoro.[8] Juntamente com o vírus Hendra (HeV), o novo vírus foi posteriormente reconhecido como um novo gênero, Henipavirus (Hendra + Nipah) na família Paramyxoviridae.[1] NiV e HeV compartilham epítopos suficientes para antígenos de HeV para serem usados em um protótipo de teste sorológico para anticorpos de NiV, o que ajudou na triagem e diagnóstico subsequentes da infecção por NiV.[1] Após as descobertas, foi realizada uma ampla vigilância das populações de porcos, juntamente com o abate de mais de um milhão de porcos, e a última fatalidade humana ocorreu em 27 de maio de 1999.[1] O surto na vizinha Singapura também terminou com a proibição imediata da importação de suínos para o país e o subsequente fechamento de matadouros.[1] A descoberta do vírus recebeu a atenção dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Organização de Ciência e Pesquisa Industrial da Commonwealth (CSIRO) e Hospital Geral de Singapura (SGH), que deram assistência rápida para a caracterização do vírus e o desenvolvimento de vigilância e medidas de controle.[1]
Até a década de 2010, a proibição da criação de porcos em Pelandok Hill ainda estava em vigor para evitar a recorrência do surto, apesar de alguns agricultores terem reiniciado silenciosamente seus negócios após serem encorajados por líderes comunitários.[9] A maioria dos fazendeiros que sobreviveram na época da criação de suínos, voltou para o cultivo de óleo de palma e Artocarpus integer (cempedak).[10] Desde que o vírus foi intitulado "Nipah", a partir da amostra coletada na vila do rio Nipah, em Pelandok Hill, a última área se tornou sinônimo do vírus mortal.[11]