Uncispionidae

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Esquema de Uncispio hartmanae mostrando as três regiões do corpo em visão lateral (adaptado de Beesley, Ross & Glasby, 2000)
Esquema de Uncispio hartmanae mostrando as três regiões do corpo em visão lateral (adaptado de Beesley, Ross & Glasby, 2000)
Classificação científica
Reino: Animalia[1]
Sub-reino: Bilateria[1]
Infrarreino: Protostomia[1]
Superfilo: Lophozoa[1]
Filo: Annelida[1]
Classe: Polychaeta[1]
Subclasse: Sedentaria[1]
Infraclasse: Canalipalpata[1]
Ordem: Spionida[1]
Subordem: Spioniformia[2]
Família: Uncispionidae[1]
Resumo dos táxons reconhecidos
Gênero Rhamphispio Blake & Maciolek, 2018[3]

Gênero Uncispio Green, 1982[4]

  • Uncispio greenae Blake & Maciolek, 2018[4]
  • Uncispio hamata Blake & Maciolek, 2018[4]
  • Uncispio hartmanae Green, 1982[4]
  • Uncispio reesi Darbyshire & Mackie, 2011[4]

Gênero Uncopherusa Fauchald & Hancock, 1984[5]

  • Uncopherusa bifida Fauchald & Hancock, 1984[5]
  • Uncopherusa cristata Blake & Maciolek, 2018[5]
  • Uncopherusa papillata Blake & Maciolek, 2018[5]

Unscipionidae é uma família de animais anelídeos poliquetas pequenos, com corpos alongados e delgados.[6] O grupo representa a menor e mais rara família dentre os espioniformes conhecidos.[6][7] São caracterizados por apresentarem parapódios e cerdas direcionados para a cabeça no primeiro segmento, formando uma gaiola cefálica; ganchos neuropodiais bidentados ao longo da maior parte do corpo, sendo muito maiores e curvos nos dois últimos segmentos; estes ganchos são únicos entre os poliquetas espioniformes.[6][7]

Os uncispionídeos possuem corpos alongados e delgados,[6] divididos em três regiões distintas: anterior, mediana e posterior.[8]

Vista dorsal da região anterior de Uncispionidae (adaptado de Beesley, Ross e Glasby, 2000).

Na região anterior fica a cabeça, que compreende o prostômio e o peristômio, sem a presença de segmentos associados.[8] O prostômio tem forma elipsoidal[8] e pode apresentar uma antena occipital, média ou curta,[6] inserida na extremidade posterior[8]. Não foi registrada a presença de órgãos nucais nem olhos.[8]

Observa-se um par de palpos sulcados, inseridos dorsalmente, na junção entre o prostômio e o peristômio.[8] Este par de palpos é muito curto e não se estende muito além da cabeça.[8]

O peristômio encontra-se expandido dorsalmente com abas laterais, e apresenta boca estendida ventralmente.[8] A faringe possui dois lobos orais anteriores, ciliados e arredondados.[6] Essas estruturas surgem a partir do lábio dorsal.[6] Quando estendida, a faringe também pode ter um par de curtos lobos laterais e um lobo mediano ventral perto da abertura da boca.[6]

Todos os parapódios são birremes.[6] O primeiro segmento apresenta parapódios baixos e cerdas capilares longas e espessas, direcionadas anteriormente, formando uma gaiola cefálica, característica marcante do grupo.[8] Alguns segmentos possuem brânquias, que podem estar fundidas basalmente, ou separadas dos lobos notopodiais.[6]

A região mediana possui cerdas capilares notopodiais longas e ganchos neuropodiais bidentados.[8] Esses ganchos se iniciam no segmento 9 e seguem até o final do corpo.[8]

A região posterior apresenta cerdas capilares notopodiais curtas.[8] Os ganchos neuropodiais dos dois últimos segmentos são modificados em relação aos demais, sendo extremamente grandes e curvos.[8]

O corpo do animal termina no no pigídio. O ânus é cercado por quatro a oito lóbulos anais digitados.[8]

De forma geral, esses vermes são frágeis e podem se fragmentar facilmente durante o manuseio e fixação, resultando na perda da extremidade posterior dos animais.[6] Ademais, os espécimes são pequenos e difíceis de examinar, dificultando o estudo de sua morfologia e anatomia.[9] Há relatos de espécimes que apresentam coloração verde clara quando vivos, e cor clara ou opaca quando fixados em álcool.[6]

A existência de grandes ganchos neuropodiais modificados nos segmentos posteriores sugere que essas estruturas atuam na ancoragem dos vermes ao substrato, indicando também a construção de tubos ou galerias, e motilidade discreta.[6] No entanto, não há informações disponíveis acerca da morfologia ou estrutura do abrigo desses animais.[6]

Os lobos associados aos lábios indicam um papel na seleção de partículas e, provavelmente, são utilizadas para a alimentação e construção de tubos.[10] De forma semelhante a outros grupos espioniformes, o par de palpos, provavelmente, atua na captura inicial das partículas na interface água-sedimento, que são transportadas em direção à boca por meio do sulco ciliado.[10]

O par de lobos orais anteriores também desempenha um papel importante na seleção e manipulação de partículas, que chegam à abertura oral.[10] Aparentemente, a faringe é capaz de se expandir e contrair, resultando em variação no tamanho da abertura da boca.[10]  Entretanto, ainda são necessários mais estudos, para entender completamente a estrutura da faringe e as funções das outras estruturas orais.[10]

Os ovos dos uncispionídeos possuem cerca de 100 μm a 120 μm de diâmetro e apresentam uma membrana espessa, com alvéolos corticais protuberantes.[10] Essa morfologia também está presente nos ovos de outras espécies de poliquetas e em vários gêneros de Spionidae.[10] Não se sabe sobre a biologia reprodutiva, embriologia nem desenvolvimento larval destes animais[10], contudo, a morfologia dos ovos sugere que os gametas são dispersos na coluna d'água e possuem desenvolvimento planctônico.[10]

Os uncispionídeos são organismos marinhos encontrados nas profundezas da plataforma continental e taludes, entre 200 m e 3000 m, e apresentam preferência por sedimentos finos, de barro e argila.[9]

O grupo representa a menor e mais rara  família dentre os spioniformes atualmente conhecidos, possuindo três gêneros com oito espécies descritas.[11] Há ocorrências registradas na Indonésia, Estados Unidos e Reino Unido.[11] Não há registros da presença deste grupo no Brasil.[11][12]

Não são conhecidos fósseis registrados de uncispionídeos.[8]

Taxonomia & Filogenia

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Até o momento, Uncispionidae é uma família é composta por três gêneros e oito espécies, das quais a maioria é rara e consiste em apenas alguns registros.[6]

Os primeiros registros desses vermes incomuns foram feitos entre 1965 e 1971, os quais relataram a presença de fragmentos posteriores de poliquetas em águas profundas.[6][7][13][14] Esses fragmentos possuíam ganchos bidentados posteriores anormalmente grandes, relativamente semelhantes aos ganchos encapuzados de espionídeos.[6][7][13] Desta forma, esses fragmentos foram considerados como pertencentes a espionídeos, sendo mencionados escassamente na literatura.[6][7][13]

A primeira descrição formal de um uncispionídeo foi realizada em 1981, na qual foi descrita um táxon de águas profundas do Oregon.[6][15] Essa espécie foi denominada Uncopherusa bifida e foi considerada como pertencente à família Flabelligeridae.[6]  

A família Uncispionidae foi descrita apenas em 1982, com a descrição de uma nova espécie,[10] Uncispio hartmanae, do sul da Califórnia, com características semelhantes a Uncopherusa bifida[6].[16] Assim, as duas espécies foram transferidas para uma nova família denominada Uncispionidae,[10] sugerindo que o que foi considerado como corpo coberto de papilas e areia (como ocorre em Flabelligeridae) era, de fato, um tubo[8]. A família se sustentava principalmente pelos ganchos neuropodiais aumentados e modificados, presentes nos dois últimos segmentos.[9]

O relato mais recente desses poliquetas espioniformes raros e incomuns foi feito por Blake e Maciolek em 2018.[6] Com base em novas coleções, esses autores registraram novas espécies e gêneros que atualmente compõem a família.[6]

Os caracteres que sustentam a monofilia do Uncispionidae são a presença de uma gaiola cefálica e ganchos neuropodiais bidentados, ao longo da maior parte do corpo, com ganchos maiores e curvos nos últimos 2 segmentos.[6][7]

Embora semelhantes a Spionidae em termos de morfologia de ovos e larvas, e em particular à subfamília Nerininae[6], esses táxons diferem consideravelmente quando a morfologia de adultos é considerada.[6] Assim, a sinonímia dos grupos não foi proposta devido ao fraco apoio durante as análises. [10]

Até o momento, não houve estudos filogenéticos de uncispionídeos usando dados de sequência molecular.[6]

  1. a b c d e f g h i j k «Uncispionidae». ITIS Report. 2015. Consultado em 20 de junho de 2020 
  2. Read, G.; Fauchald, K. (Ed.) (2020). World Polychaeta database. «Spionida». World Register of Marine Species. Consultado em 26 de junho de 2020 
  3. Read, G.; Fauchald, K. (Ed.) (2020). World Polychaeta database. «Rhamphispio Blake & Maciolek, 2018». World Register of Marine Species. Consultado em 22 de junho de 2020 
  4. a b c d e Read, G.; Fauchald, K. (Ed.) (2020). World Polychaeta database. «Uncispio Green, 1982». World Register of Marine Species. Consultado em 22 de junho de 2020 
  5. a b c d Read, G.; Fauchald, K. (Ed.) (2020). World Polychaeta database. «Uncopherusa Fauchald & Hancock, 1984.». World Register of Marine Species. Consultado em 22 de junho de 2020 
  6. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa Purschke, Günter; Schmidt-Rhaesa, Andreas; Böggemann, Markus; Westheide, Wilfried (24 de fevereiro de 2020). «Seção 7.4.4 Uncispionidae Green, 1982». Pleistoannelida, Sedentaria II (em inglês). [S.l.]: Walter de Gruyter GmbH & Co KG 
  7. a b c d e f Beesley, Pamela L.; Ross, Graham J. B.; Glasby, Christopher J. (2000). Polychaetes & Allies: The Southern Synthesis. Col: Fauna of Australia (em inglês). 4A. [S.l.]: Csiro Publishing 
  8. a b c d e f g h i j k l m n o p Rouse, Gregory; Pleijel, Fredrik (11 de outubro de 2001). «3 Polychaete anatomy; 70 Uncispionidae Green, 1982». Polychaetes (em inglês). [S.l.]: OUP Oxford 
  9. a b c Darbyshire, T.; Mackie, A. S. Y. (outubro de 2011). «Review of Uncispionidae (Annelida: Polychaeta) with the description of a new species of Uncispio». Italian Journal of Zoology. 78 (sup1): 65–77. ISSN 1125-0003. doi:10.1080/11250003.2011.580993 
  10. a b c d e f g h i j k l Fauchald, Kristian; Rouse, Greg (1997). «Polychaete systematics: Past and present». Zoologica Scripta (em inglês). 26 (2): 120. ISSN 1463-6409. doi:10.1111/j.1463-6409.1997.tb00411.x 
  11. a b c «Uncispionidae». www.gbif.org. Consultado em 22 de junho de 2020 
  12. Amaral, A. C. Z.; Nallin, S. A. H.; Steiner, T. M.; Forroni, T. D. O.; Gomes-Filho, D. (2010). Catálogo das espécies de Annelida Polychaeta do Brasil (PDF). Campinas: Unicamp 
  13. a b c Hartman, Olga. (1965). Deep-water benthic polychaetous annelids off New England to Bermuda and other North Atlantic areas. Occasional Papers of the Allan Hancock Foundation. 28: 1-384.
  14. Hartman, O., & Fauchald, K. (1971). Deep-water benthic polychaetous annelids off New England to Bermuda and other North Atlantic areas. Part II. Allan Hancock Monographs in Marine Biology.
  15. Fauchald, K., & Hancock, D. R. (1981). Deep-water polychaetes from a transect off central Oregon. Allan Hancock Monographs in Marine Biology.
  16. Green, Karen D. (1982). Uncispionidae, a new polychaete family (Annelida). Proceedings of the Biological Society of Washington. 95(3): 530-536.