Wang Guangyi | |
---|---|
Wang Guangyi in 2018 | |
Nascimento | 1957 (67 anos) Harbin |
Cidadania | China |
Alma mater |
|
Ocupação | pintor, escultor |
Página oficial | |
https://wangguangyi.artron.net/ | |
Wang Guangyi (em chinês:王广义, Harbin, província de Heilongjiang, 1957) é um artista chinês. É conhecido por ser um dos protagonistas do novo movimento de arte chinesa que começou no final dos anos oitenta do século XX. A fase de pinturas intituladas ‘’Great Criticism’’, em particular, conferiu-lhe uma atenção mundial. O trabalho de Wang Guangyi foi erroneamente associado ao Pop político chinês. Um dos principais temas deste artista encontra-se na sua relação com o transcendente.
Wang viveu os anos da Revolução Cultural (1966-1976), filho de um ferroviário do nordeste da China. Trabalhou três anos numa aldeia rural. Wang Guangyi tornou-se ferroviário depois da jubilação do seu pai, no entanto nunca abandonou o sonho de ir para a faculdade. Depois de diversas tentativas fracassadas, foi admitido na Academia de Belas Artes de Zhejiang, onde se formou em 1984 em pintura a óleo. Actualmente vive e trabalha em Pequim, China. Apesar das duras condições de pobreza que enfrentou na infância, Wang Guangyi evita discutir assuntos que estejam relacionados com dinheiro ou riqueza. Wang Guangyi atraiu a atenção dos críticos e do mercado internacional com o seu período artístico Great Criticism, convertendo-o num ícone da arte contemporânea chinesa.
O trabalho de Wang Guangyi foi equivocamente associado com o Pop Politico Chinês. Apesar desta má interpretação da sua obra, um dos principais temas que ligam as várias fases de trabalho ao longo da carreira de Wang Guangyi é a relação entre a fé e a sociedade.
O Pólo Norte é um tema recorrente nos primeiros trabalhos de Wang Guangyi; não é visto como relação às suas características geográficas, mas como um lugar simbólico onde nasce uma nova fé, um lugar em que o indivíduo tem que lidar principalmente consigo mesmo, mas sem se libertar do social. O grupo de jovens Artists of the North optou por confrontar-se com a filosofia ocidental, grupo do qual Wang Guangyi fazia parte e onde trabalhou na série Frozen North Pole (1984-1985). Na série Post Classical (1986-1988) Wang Guangyi trabalhou numa revisão sintética das grandes obras da arte ocidental, vinculadas a temas de religião, moral, fé e ideologia. Nestas pinturas usou vários tons cinza encapsulando a figura humana e a sua envolvente sem muitos detalhes. O objetivo de Wang Guangyi consistiu na elaboração de um estilo que o desviou da arte clássica, uma estratégia expressiva derivada da leitura de Gombrich.[1] [2]
Great Criticism é o período de trabalhos mais conhecido de Wang Guangyi. Estas obras usam imagens de propaganda da Revolução Cultural e logótipos contemporâneos de publicidades ocidentais. Wang Guangyi iniciou este período em 1990 e terminou-o em 2007 quando se convenceu de que o seu sucesso internacional comprometia o sentido original das suas obras, ou seja que a política e a publicidade comercial são duas formas de lavagem cerebral.[1] [3] [2]
Nestas séries de pinturas e instalações VISA (1995-1998), Passport (1994-1995), e Virus Carriers (1996-1998) os títulos das séries são sobrepostos como um selo em imagens de recém-nascidos, adultos e cães, acompanhados por outras palavras que indicam o nome, local, data de nascimento e sexo dos indivíduos. Para ressaltar os procedimentos burocráticos ligados aos que se deslocam de um país para outro, estas obras revelam que a organização do Estado decreta as suas próprias defesas quando avalia o potencial perigo dos indivíduos. Wang Guangyi denota um clima estabelecido de desconfiança, num vago perigo eminente, que amadureceu durante a Guerra Fria e que ainda hoje persiste, mesmo que tenha perdido a opressão nascida da doutrina forçada. A reflexão de Wang Guangyi lida com a relação que o Poder tem com o individual, no qual este mantém controle pelo incremento de medos coletivos, em vez de se propor ele próprio como um bastião contra perigos desconhecidos que poderiam surgir repentinamente contra pessoas indefesas. O artista sustenta que através destas formas de pressão psicológica existe um acordo tácito que propícia proteção contra o contágio de novos vírus, em troca desta, o individuo renúncia a parte da sua liberdade, uma relação forjada entre o Poder e o indivíduo.[1] [3]
Durante os anos 2000 a relação entre os trabalhos de Wang Guangyi e a transcendência aumentou. De facto o título dado à série Materialist (2001-2005) não é contraditório. Esta série de esculturas realizadas a partir de imagens de doze trabalhadores, agricultores e soldados, foram apropriadas de imagens publicitárias. De acordo com Wang Guangyi estas imagens publicitárias trazem à luz a principal força do povo, a raiva expressada pelos seus movimentos deriva da fé na ideologia. Com estas esculturas o artista tenta confrontar o público com uma imagem, enquanto referenciamento a um materialismo dialéctico – Materialist é um termo que tem uma particular relevância na história chinesa, na qual se resume a ideologia socialista. Ao mesmo tempo, o artista também vê um outro nível de significado com o trabalho. Na arte, coisas que possuem certas qualidades conceptuais são chamadas de "objeto", que em chinês tem a mesma origem que a palavra "materialista". Wang Guangyi representou também a grande política (Lenin, Stalin, Mao), o espiritual (Cristo) e os líderes espirituais e políticos (João XXIII). Nas séries de pinturas a óleo intituladas New Religion (2011) representa filósofos cujos pensamentos continuam a exercer a sua influência hoje em dia (Marx e Engels).
Apesar de o artista usar nestas obras uma técnica de pintura a óleo tradicional, as imagens parecem ser retiradas de negativos fotográficos, a ambiguidade criada pela referência à fotografia rompe a familiaridade que o espectador tem com elas, abrindo-as a interpretações quanto ao seu significado. Através destas obras Wang Guangyi questionou-se sobre as semelhanças entre as grandes utopias, o fascínio que elas exercem sobre os seres humanos, e como todos os homens sentem a necessidade de encontrar algo onde depositar a sua fé. Em 2007 Wang Guangyi criou uma fase de obras através das quais pôde analisar os efeitos psicológicos da propaganda na Guerra Fria. Em Cold War Aesthetic (2007-2008), Wang Guangyi convida o espectador a enfrentar a realidade daqueles anos, com o objetivo de o confrontar e reviver o clima e a mentalidade que caracterizou o período da Guerra Fria, através da reconstrução da vida quotidiana a partir desse momento histórico. O artista deixa ao espectador a possibilidade de criar a sua própria visão sobre os acontecimentos que lidam com as influências do passado recente sobre o presente.[1] [3]