Chalcatzingo é um sítio arqueológico do período pré-clássico situado no vale de Morelos, conhecido pela sua arte monumental de estilo olmeca. Localizado na porção meridional das terras altas do México Central, estima-se que Chalcatzingo tenha sido fundada cerca de 1500 a.C., apesar da ocupação humana do local remontar a 3000 a.C. aproximadamente [1]. Os seus habitantes começaram a produzir e exibir arte e arquitectura de estilo olmeca cerca de 900 a.C.[2]. No seu apogeu, entre 700 a.C. e 500 a.C., Chalcatzingo teria uma população de 500 a 1000 habitantes. Cerca de 500 a.C. encontrava-se já em declínio. Foi dado a conhecer em 1934 por Eulalia Guzmán, após uma chuvada torrencial ter colocado a descoberto parte das ruínas.
O centro de Chalcatzingo cobre cerca de 40 ha e encontrava-se bem situado. O clima em Morelos é geralmente mais quente e húmido que o restante das Terras Altas e além disso, Chalcatzingo ligava as rotas comerciais entre Guerrero, o vale do México, Oaxaca e as terras baixas do golfo. Situava-se numa planície fértil, no sopé de dois montes bastante altos, Cerro Delgado e Cerro Chalcatzingo, sendo este último considerado um local sagrado. Uma nascente de água situada na sua base fornecia a água necessária à população.
Chalcatzingo fornece exemplares interessantes e únicos de arte e arquitectura de estilo olmeca.
A povoação tinha uma praça central, designada Terraço 1, situada abaixo das residências da élite. O Terraço 25 é composto por um pátio afundado num estilo idêntico ao existente em Teopantecuanitlan. No centro deste pátio afundado existe um altar que faz lembrar os existentes em La Venta e San Lorenzo, ambos centros olmecas.
A Estrutura 4 é a maior estrutura de Chalcatzingo, uma plataforma quase quadrada de 70 metros de lado. Aqui foram escavados enterramentos de pessoas de condição elevada, contendo ornamentos de jade e um espelho de magnetite. A maior parte dos enterramentos da povoação situavam-se sob os pisos das casas—um modo de enterramento extensível a várias condições sociais.
Os baixos-relevos são talvez a característica mais conhecida de Chalcatzingo. A maior parte dos 31 monumentos distribuem-se por três grupos distintos: dois no Cerro Chalcatzingo e o terceiro nos terraços do povoado propriamente dito.
Foram feitos desenhos destes baixos-relevos, mas foram feitos moldes de muitos deles antes de se ter feito qualquer desenho. O processo de obtenção destes moldes tendia a destruir linhas finas e na verdade quebrou pequenos fragmentos de pedra.
Este grupo de baixos-relevos é dominado pelo mais famoso de todos os existentes em Chalcatzingo o Monumento 1, conhecido localmente como "El Rey" (O Rei). "El Rey" é um relevo de uma figura aparentemente humana sentada no interior de uma gruta com uma grande abertura. O ponto de vista do relevo é desde um dos lados, e a totalidade da caverna aparece em corte, com a entrada da gruta à direita da figura. A entrada da gruta é tão alta como a figura, e volutas enroladas (talvez indicando discurso ou talvez vento) emanam dela. A gruta onde a figura se encontra sentada apresenta um "olho", e a sua forma sugere a forma de uma boca.
Acima da gruta encontra-se uma série de objectos estilizados que são interpretados como nuvens de chuva, com objectos semelhantes a pontos de exclamação ("!") que parecem cair delas. Estes últimos são geralmente interpretados como gotas de chuva[3].
A figura sentada, "El Rey", está vestida de forma ornamentada, e sentada num rolo elaborado enquanto segura outro. Uma vez que este baixo-relevo se encontra sobre o principal canal natural que antes trazia água até Chalcatzingo, a cena tem sido interpretada como tratando-se de um líder usando o seu poder para trazer a água à região. No entanto, "El Rey" foi identificado por alguns como tratando-se de uma divindade da chuva[4] o "Deus da Montanha" - precursor do asteca Tepeyollotl,[5] ou como o deus jaguar que habita as grutas.
Adicionalmente a "El Rey", este grupo inclui ainda cinco baixos-relevos mais pequenos, todos retratando várias criaturas semelhantes a lagartos sentadas em cima de vários rolos[6] sob objectos semelhantes a pontos de exclamação (mais uma vez quase como gotas de chuva) caindo do que parecem ser nuvens. Estes cinco baixos-relevos (Monumentos 5, 6, 8, 11, 14 e 15) estendem-se em direcção a este a partir do Monumento 1, e separados deste pelo principal canal natural de água do Cerro Chalcatzingo. Estes baixos-relevos podem ser vistos apenas sequencialmente, o que leva alguns investigadores a sugerir tratar-se de uma sequência pictórica ou processional[7].
O segundo grupo também consiste de baixos-relevos, mas estes foram esculpidos em lajes e penedos soltos no sopé da montanha e não na sua face. São maiores que os do grupo anterior (exceptuando "El Rey") e retratam sobretudo criaturas fantásticas dominando esboços de figuras humanas:
Segundo Grove, estes quatro relevos provavelmente ilustram "uma sequência de acontecimentos míticos importantes na cosmogonia dos povos de Chalcatzingo"[8].
Enquanto que estes primeiros cinco relevos apresentam uma disposição processional, um sexto relevo deste grupo, designado Monumento 13, encontra-se consideravelmente mais abaixo na encosta. Retrata um ser sobrenatural antropomórfico com a cabeça dividida frequentemente encontrada na iconografia olmeca. Tal como "El Rey", encontra-se sentado no interior de uma boca quadrifólia do que parece ser uma criatura sobrenatural.
O Monumento 9 é um relevo que parece representar a gruta do Monumento 1 vista de frente. A escultura é plana e contém um grande buraco no centro que corresponderia à forma da entrada da gruta. Acima do buraco encontram-se dois olhos, semelhantes ao olho do Monumento 1.
Chalcatzingo contém o que pode ser a representação mais antiga de uma mulher na arte monumental mesoamericana no Monumento 21. Trata-se de uma estela, e retrata uma mulher vestida com sandálias, saia e um abrigo na cabeça. Segura um embrulho atado com fitas. Provavelmente esta imagem representa uma mulher com o seu dote de casamento.
Tal como outros centros da cultura olmeca, Chalcatzingo entrou em declínio e foi eventualmente abandonada. Este declínio foi total cerca de 500 a.C., 400 anos antes de San Lorenzo e 100 anos antes de La Venta. O declínio de Chalcatzingo coincidiu com o desenvolvimento generalizado de núcleos populacionais na região de Morelos, consistindo sobretudo de pequenas aldeias agrícolas. Mais de 1000 anos após o abandono de Chalcatzingo, a cidade de Xochicalco atingiu o seu auge em Morelos entre 700 e 900.