Edino Krieger

Edino Krieger
Edino Krieger
Informações gerais
Nascimento 17 de março de 1928
Local de nascimento Brusque, SC
Brasil
Morte 6 de dezembro de 2022 (94 anos)
Local de morte Rio de Janeiro, RJ
Brasil
Nacionalidade brasileiro
Gênero(s) Música de concerto
Música de câmara
Música contemporânea
Ocupação compositor
Instrumento(s) violino, piano
Período em atividade 1943-2022

Edino Krieger (Brusque, 17 de março de 1928Rio de Janeiro, 6 de dezembro de 2022) foi um compositor brasileiro. Um dos criadores das bienais de música contemporânea e da Orquestra Sinfônica Nacional.

Brusquense de origem multiétnica,[1] aos sete anos seu pai começou a instruí-lo em violino, e com 14 anos deu um concerto em Florianópolis que lhe valeu uma bolsa de estudos do governo do estado, transferindo-se para o Rio de Janeiro em março de 1943. Ali ingressou no Conservatório Brasileiro de Música, tendo aulas de violino com Edith Reis. Frequentou também o curso livre de composição ministrado por Hans-Joachim Koellreutter, na instituição. Com a saída de Koellreutter do Conservatório, passou a frequentar os cursos em sua casa, estudando composição, análise musical e história da música e integrando o Grupo Música Viva ao lado de Koellreutter, Claudio Santoro, Guerra-Peixe e Eunice Catunda.[2]

Recebeu em 1945 o Prêmio Música Viva por Música 1945 para oboé, clarinete e fagote. Em 1948 foi selecionado como bolsista do Departamento de Estado dos EUA, após indicação de Koellreutter. Concorriam compositores com menos de 21 anos, e a banca examinadora era presidida por Aaron Copland e formada por Henry Cowell, Gilbert Chase e Carleton Sprague Smith. Como bolsista, participou do Festival de Verão de Tanglewood, onde estudou orquestração com Aron Copland e conheceu Darius Milhaud. Em seguida recebeu bolsa para estudar por um ano na Juilliard School of Music de Nova Iorque, na classe de composição de Peter Mennin. Estudou também violino e tocou na Mozart Orchestra de Nova Iorque. Representou a Juilliard no Simpósio de Compositores dos Estados Unidos e Canadá realizado em Boston, tendo executada sua obra Música de Câmara para flauta, trompete, violino e tímpanos.

Voltou ao Brasil em 1949, passando a procurar uma ocupação estável. Trabalhou com Koellreutter na organização do I Curso de Férias de Teresópolis em janeiro de 1950. Trabalhou com terapia musical no Hospital do Engenho de Dentro, e no mesmo ano tornou-se colaborador da Rádio MEC, da Rádio Roquette Pinto e crítico musical do jornal Tribuna da Imprensa.

Em 1955 recebeu bolsa do British Council para aperfeiçoamento em composição em Londres. A caminho da Europa, viajou com a delegação brasileira para o Festival da Juventude em Varsóvia, onde obteve o Prêmio Internacional da Paz. Chegando a Londres, estudo composição com Lennox Berkeley, e trabalhou para a Rádio BBC produzindo programas sobre compositores britânicos contemporâneos que seriam transmitidos para o Brasil ao longo do ano de 1956.

O compositor Edino Krieger, regendo a Orquestra Sinfônica Nacional

Retornando ao Brasil, reassumiu seu posto na Rádio MEC, onde foi indicado Diretor Musical e regente assistente da Orquestra Sinfônica Nacional. Em 1959 conquistou o prêmio maior do I Concurso Nacional de Composição do Ministério da Educação, com o Divertimento para Cordas, e foi agraciado com a Medalha de Honra do Cinqüentenário do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em 1961 seu Quarteto de Cordas nº 1 obteve o Prêmio Nacional do Disco. Em 1968 recebeu o Troféu Golfinho de Ouro pelo conjunto de sua obra, o que se repetiu em 1988. Em 1976 foi indicado Diretor Artístico da FUNTERJ - Fundação de Teatros do Rio de Janeiro, organizando a temporada de reabertura do Teatro Municipal e o Centro de Produções Teatrais de Inhaúma. Em 1979 criou o Projeto Memória Musical Brasileira junto ao Instituto Nacional de Arte.

Na década de 1980 recebeu vários prêmios e honrarias, como o título de Cidadão Emérito do estado do Rio de Janeiro (1982), uma condecoração do governo da Polônia em 1984, a Medalha Anita Garibaldi de Santa Catarina (1986), o Prêmio Shell de Música (1987) e foi patrono de um concurso de piano em sua cidade natal. Entre 1981 e 1989 dirigiu o Instituto Nacional de Música da FUNARTE, fundação também presidida por ele de 1989 até 1990, data de sua extinção, e de 2003 a 2006 exerceu a Presidência da Fundação Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Foi presidente da Academia Brasileira de Música, tendo sido eleito por unanimidade. Seu filho Edu Krieger também é músico e compositor.

Morreu em 6 de dezembro de 2022, aos 94 anos de idade, na Casa de Saúde São José no Rio de Janeiro.[3]

Obras e estilo

[editar | editar código-fonte]

Edino Krieger desenvolve uma trajetória polimorfa. Sua primeira obra, de 1944, é uma Sonata para violino em estilo barroco que relembra Corelli. Do mesmo ano é seu Improviso, já seguindo o impressionismo musical. A influência de Koellreutter se faz notar logo no ano seguinte, com o Trio 1945, o Quarteto de cordas e a canção Tem piedade de mim.

Nos Estados Unidos começou seu desligamento da escola dodecafonista e suas explorações com novas técnicas de harmonia e orquestração, como fruto de seu contato com Milhaud e Aaron Copland. Desta fase são sua Melopéia, para grupo de câmara, e Fantasia, para grande orquestra. Reincidências no dodecafonismo aconteceram sob o estímulo de Krenek, gerando o Sururu nos doze (1951), a Música para piano e a Balada para três vozes femininas, flauta e violão, onde já se nota um hibridismo estilístico, com exóticas explorações de modalismos em atmosferas dodecafônicas.

A década de 1950 começa com trabalhos de índole neoclássica como o Rondò fantasia e a grande Abertura sinfônica, inspirados na escola de Hindemith, e envereda pelo universo dos regionalismos, compondo canções como Tu e o vento, Balada do desesperado e Desafio.

Pequeno Concerto para Violino e Cordas (Edino Krieger) - 1a página. Partitura completa disponível no portal Musica Brasilis.

A fase londrina é caracterizada por um certo retraimento, preocupando-se mais com o maior acabamento formal e com uma busca de novos horizontes. Disto surgem obras de alta qualidade e de caráter nacionalista, como o 1º Quarteto de Cordas (sua primeira tentativa anterior foi renegada pelo autor), o Concerto para piano e orquestra, a Sonatina para piano solo e a suíte Brasiliana, uma de suas composições mais conhecidas e apreciadas pelo grande público.

Em 1961 compôs as músicas do filme Bruma Seca e em 1970, para O Meu Pé de Laranja Lima. As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pelo surgimento de algumas de suas peças mais significativas: o Ludus Symphonicus (1965), escrito para o 3º Festival de Música de Caracas e estreada pela Orquestra Filarmônica da Filadélfia, o bailado Convergências (1968); o Canticum Naturale (1972), para soprano e orquestra, baseada em cantos de pássaros e ruídos ambientais da Amazônia; Ritmata (1974), para violão solo, de grande sucesso, e o notável Estro Armonico, de 1975, uma de suas obras-primas, organizada em um sistema de serialismo vertical de grande coesão estrutural.

Os anos 80 também testemunharam a aparição de composições bem sucedidas, como Sonâncias I para violino e dois pianos (1981) e o Romance de Santa Cecília (1989), para narrador, soprano, coro infantil e orquestra, em três movimentos, onde empregou motivos de antigas danças e cantos plagais para criar uma atmosfera de alegria, despojamento e devoção.

Sua produção mais recente é assinalada pelo Concerto para dois violões e cordas (1994), o Te Deum puerorum Brasiliae (1997), composto para a visita do Papa ao Rio de Janeiro, onde fundiu vários sistemas modais: cantos gregorianos, regionalistas e indígenas, e Terra Brasilis, escrita por encomenda do Ministério da Cultura para celebrar os 500 anos do descobrimento do Brasil. Sua obra mais conhecida é Canticum Naturale (1972), para soprano e orquestra, baseada em cantos de pássaros e ruídos ambientais da Amazônia.

Referências

  1. da Silveira, Luiz Henrique (14 de março de 2012). «A Importância de Edino». Jornal dos Bairros. Consultado em 10 de maio de 2023 
  2. da Silveira, Luiz Henrique (14 de março de 2012). «A Importância de Edino». Jornal dos Bairros. Consultado em 10 de maio de 2023 
  3. «Morre o maestro Edino Krieger, aos 94 anos, no Rio». O Globo. 6 de dezembro de 2022. Consultado em 7 de dezembro de 2022 
  • Mariz, Vasco. História da Música no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. 6ª ed. pp. 359–366.
  • Paz, Ermelinda Azevedo. Edino Krieger: compositor, produtor musical, crítico. 2 volumes. Rio de Janeiro: SESC-RJ, 2012.
  • Música clássica em CD ISBN 85-7110-431-x pág.117

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Edino Krieger