Henri Frédéric Ellenberger | |
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Nascimento | 6 de novembro de 1905 Nalolo, Barotseland, Rodésia Britânica |
Morte | 1 de maio de 1993 (87 anos) Quebec, Canadá |
Ocupação | psiquiatra, historiador médico |
Henri Frédéric Ellenberger (Nalolo, Barotseland, Rodésia, 6 de novembro de 1905 – Quebec, 1º de maio de 1993) foi um psiquiatra, historiador médico e criminologista canadense, às vezes considerado o fundador da historiografia da psiquiatria.[1][2] Ellenberger é lembrado principalmente por A Descoberta do Inconsciente, um estudo enciclopédico da história da psiquiatria dinâmica publicado em 1970.
Henri F. Ellenberger nasceu na Rodésia Britânica de pais suíços e passou a infância na colônia britânica da Rodésia. Mais tarde, naturalizou-se como cidadão francês e obteve seu baccalauréat em Estrasburgo, França, em 1924.
Ele estudou medicina e psiquiatria em Paris.[3] Aluno do professor Henri Baruk, obteve seu doutorado em 1934,[4] enquanto trabalhava no famoso Hôpital Sainte-Anne, ao lado de contemporâneos conhecidos como Jacques Lacan (cujo talento para a autopublicidade ele notou anteriormente).[5]
Após o surgimento do governo de Vichy, Ellenberger emigrou para a Suíça em 1941. Lá, ele ensinou algumas vezes em Zurique, onde frequentou Carl Gustav Jung e Ludwig Binswanger, e passou por uma análise de treinamento com Oskar Pfister entre 1949 e 1952, antes de se tornar membro da Sociedade Psicanalítica Suíça (SSP), fundada justamente por Pfister e também por Hermann Rorschach, o inventor do famoso teste projetivo.[6] Ele recolhe informações para escrever uma biografia sobre Hermann Rorschach, que publicará em inglês em 1954. Ele é então médico-chefe do asilo cantonal de lunáticos de Breitenau, perto de Schaffhausen. No entanto, ele colaborou com a revista francesa L´Évolution psychiatrique, editada na época por Henri Ey, que encomendaria três artigos para seu grande tratado sobre psiquiatria clínica e terapêutica.[7]
Em 1953, em uma grande mudança de carreira, Ellenberger tornou-se professor na Clínica Menninger em Topeka, Kansas. No final de 1958, Ellenberger deixou Topeka. Ele obteve uma indicação como pesquisador na Divisão de Psiquiatria Social e Transcultural da Universidade McGill em Montreal.[8] Mais tarde (1962), tornou-se professor de criminologia na Université de Montréal, no Canadá. Lá ele faria um trabalho pioneiro em vitimologia, explorando a psicodinâmica entre agressor e vítima.[9]
Ellenberger é lembrado principalmente por A Descoberta do Inconsciente, um estudo enciclopédico da história da psiquiatria dinâmica publicado em 1970. Este trabalho traçou as origens da psicanálise e da psicoterapia desde a pré-história do século XVIII, das tentativas de curar doenças através de exorcismo, como praticado pelo padre católico Johann Joseph Gassner, e a partir dele passando pelos pesquisadores do hipnotismo, Franz Mesmer e marquês de Puységur, ao neurologista do século XIX Jean-Martin Charcot e as principais figuras da psicanálise do século XX, Sigmund Freud, Alfred Adler e Carl Gustav Jung.
Robin Skynner elogiou a clareza de sua apresentação das ideias das grandes figuras do século XX em seus contextos sócio-históricos.[10] O relato de Ellenberger sobre Pierre Janet também foi destacado para menção especial;[11] enquanto Anthony Stevens fez uso de seu conceito de "doença criativa" em seu relato de Jung.[12]
Peter Gay também destacou a menção ao artigo de Ellenberger, de 1972, sobre Anna O, a qual Gay considerou que "corrige de modo persuasivo as interpretações errôneas de Jones e as lembranças equivocadas de Freud sobre o caso".[13] No entanto, esse foi apenas um dos 35 artigos históricos que Ellenberger publicou antes e depois de sua grande sinopse.[14]
Em sua honra, nomepu-se o Centro de Recursos Henri Ellenberger em Paris.[15] Durante sua vida Ellenberger recebeu muitos prêmios, incluindo a Medalha de Ouro do Prêmio Beccaria, em 1970,[16] e a Medalha Jason A. Hannah, da Sociedade Real do Canadá.[2]
Ellenberger tem sido caracterizado como um dos acadêmicos independentes e interdisciplinares do meio século no pensamento psiquiátrico.[17] Sua trajetória profissional única e seu revisionismo freudiano independente, embora moderado, fizeram dele por vezes uma figura isolada, especialmente com a virada biológica da psiquiatria no final do século XX.[18] Sua própria crença na importância central da realidade do inconsciente nunca enfraqueceu, mesmo com o declínico de seu sonho de uma síntese que "faria justiça às exigências rigorosas da psicologia experimental e às realidades psíquicas experimentadas pelos exploradores do inconsciente".[19]
De 1956 a 1959, Ellenberger começou a ensinar a história da psiquiatria na Menninger Foundation (onde George Devereux já havia dado uma palestra sobre psicanálise e antropologia).[20] A experiência de exílio teve um papel fundamental na explicação do interesse de Ellenberger pela história.[21]
Ellenberger foi criticado por modelar sua iljustração das origens da psiquiatria no conflito do Iluminismo com a demonologia - no triunfo da razão iluminada sobre a cegueira da fé.[22]