A partida ocorreu no Old Trafford. | |||||||
Evento | 30.ª rodada da FA Premier League de 1994–95 | ||||||
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Data | 4 de março de 1995 | ||||||
Local | Old Trafford, Manchester, Inglaterra, Reino Unido | ||||||
Árbitro | Graham Poll[1] | ||||||
Público | 43 804 |
Manchester United 9–0 Ipswich Town foi uma partida de futebol, disputada em Old Trafford, Manchester, em 4 de março de 1995, válida pela trigésima rodada da FA Premier League de 1994–95. O resultado detém o recorde de maior goleada da história da Premier League em conjunto com outros três jogos. O United e o Ipswich entraram na partida em extremos opostos da tabela de classificação; o Manchester United estava na segunda posição, enquanto o Ipswich Town era o penúltimo colocado. No jogo correspondente em Portman Road, em Ipswich, no início da temporada, eles derrotaram o United por 3–2. A dupla de ataque do Manchester United, composta por Andy Cole e Mark Hughes, não era bem vista pelos especialistas e comentadores, e o United não tinha disponível para o jogo o atacante internacional francês Éric Cantona, porque esse estava suspenso por nove meses por chutar um espectador.
Jogando diante da partida com o maior público da liga até aquele momento da temporada, o United marcou três vezes no primeiro tempo; Roy Keane abriu o placar, antes de Cole fazer mais dois gols. No segundo tempo, o United marcou quatro vezes nos primeiros vinte minutos; Cole marcou seu terceiro e quarto, enquanto Hughes também marcou dois. Paul Ince marcou o oitavo do United com um tiro livre em um gol vazio, enquanto o goleiro do Ipswich, Craig Forrest, discutia com o árbitro. No fim do jogo, Cole marcou seu quinto gol na partida, estabelecendo um novo recorde da Premier League, e o nono do United, aos 89 minutos. O Ipswich terminou a temporada em último lugar e foi rebaixado, enquanto o Manchester United ficou em segundo, um ponto atrás do campeão Blackburn Rovers.
O Manchester United era o atual campeão da Premier League, tendo conquistado o título na temporada de 1993–94 com oito pontos de vantagem sobre o segundo colocado Blackburn Rovers.[2] No entanto, eles foram eliminados na fase de grupos da Liga dos Campeões da UEFA de 1994–95,[3] e entraram nesta partida contra o Ipswich Town a três pontos atrás do líder Blackburn.[4] Em resposta à sua eliminação precoce na competição europeia e à necessidade de um atacante–goleador, o United contratou Andy Cole do Newcastle United por uma taxa recorde britânica na época de 7 milhões de libras, em janeiro de 1995.[3][nota 1]
O Ipswich Town havia retornado à primeira divisão do futebol inglês a tempo do início da Premier League na temporada de 1992–93;[5] no entanto, eles terminaram na metade inferior da tabela nas duas primeiras temporadas da nova liga e evitaram o rebaixamento para a Primeira Divisão nos minutos finais da campanha de 1993–94, terminando um ponto acima da zona de rebaixamento.[6] Entrando neste jogo contra o United, o Ipswich estava no 21º lugar do campeonato, três pontos à frente e com um jogo a menos em relação ao último colocado Leicester City, mas a oito pontos de distância do primeiro colocado fora da zona de rebaixamento.[4]
Antes desta partida, as duas equipes haviam jogado 50 vezes entre si em todas as competições; o Manchester United conquistou 24 vitórias contra 18 do Ipswich. Os oito jogos restantes, que terminaram em empates, foram todos da liga, onde a história foi semelhante, com o Manchester United vencendo 20 dos 45 encontros entre os times, enquanto o Ipswich venceu 17 jogos.[7] O jogo mais recente entre os dois lados, disputado em Portman Road, em Ipswich, em 24 de setembro de 1994, terminou com uma vitória por 3–2 para o Ipswich.[8] Os jogadores do Manchester United ficaram indignados com as comemorações entusiasmadas do Ipswich após a vitória:[9] o meio-campista do United, Brian McClair, disse que "eles estavam mais do que exuberantes em suas comemorações, e isso bloqueou-nos um pouco".[10] No período entre os encontros dentre os dois clubes naquela temporada, o Ipswich substituiu John Lyall por George Burley como treinador da equipe.[11]
Apesar desse contraste nas fortunas dos dois clubes, o United venceu apenas um de seus quatro encontros cntra o Ipswich nas duas primeiras temporadas da Premier League; empataram dois jogos nas duas vezes que o Ipswich visitou Old Trafford, e perderam por 2–1 na primeira visita do United na Premier League à Portman Road, em janeiro de 1993.[12]
O Ipswich escolheu começar o jogo com uma defesa de quatro jogadores que continha David Linighan, Neil Thompson, John Wark e Frank Yallop; eles tinham uma idade média de 32 anos e foram descritos por Richard Barker, do The Guardian, como "uma das defesas de quatro mais lentas que o futebol já viu".[13] No ataque, Lee Chapman iniciou a partida como titular, mas Paul Mason – que marcou duas vezes durante a vitória do Ipswich sobre o United em setembro – entrou em seu lugar no segundo tempo.[13] Apesar de ter sofrido 60 gols no campeonato até aquela altura na temporada, Burley afirmou a intenção do Ipswich de atacar: "Certamente não vou colocar nove atrás da bola. Vamos jogar com dois na frente e procurar avançar e atacar".[14]
Antes do jogo, o extremo russo do Manchester United e o melhor marcador da temporada, Andrey Kanchelskis, havia entregue um pedido de transferência, que foi rejeitado pelo treinador do United, Alex Ferguson.[15] Kanchelskis, juntamente com Ryan Giggs, Cole e Mark Hughes, compuseram o ataque do United na partida. A dupla de ataque composta por Cole e Hughes não era considerada adequada; Stephen Bierley, do The Guardian, sugeriu que Cole fazia uma dupla de ataque muito melhor com Éric Cantona do que com Hughes,[16] mas o atacante francês estava cumprindo uma suspensão de nove meses por chutar um espectador.[17] Na liga, o United tinha sofrido apenas três gols em sua casa, Old Trafford, até aquela altura durante toda a temporada.[18]
A partida aconteceu em Old Trafford às 15h00 do dia 4 de março de 1995, diante de um público de 43 804, o maior da liga até aquele momento na temporada.[19] O Manchester United começou o jogo, atacando pelo Stretford End, no extremo oeste do estádio, e nos primeiros minutos eles colocaram a bola na área de penalidade do Ipswich cinco vezes; através de três cruzamentos e dois escanteios. De acordo com o relatório de Rogan Taylor para o The Observer, a defesa do Ipswich ficou em pânico com esses ataques iniciais, e ele sugeriu que Andy Cole deveria ter marcado um gol em uma dessas chances, se ele não tivesse acidentalmente pisado na bola.[20] Aos 15 minutos, após um ataque pela ala esquerda, Hughes virou-se perto da entrada da pequena área e passou a bola para Roy Keane, perto da entrada da grande área. Keane deu um chute rasteiro, que bateu na trave e entrou no gol, fazendo assim o primeiro para o United.[20][21] Quatro minutos depois, Giggs tomou a bola do lateral-direito canadense do Ipswich, Frank Yallop, na linha do meio de campo. Ele avançou pela lateral esquerda e passou a bola para Cole, que chutou e fez o segundo gol para o United. Aos 37 minutos, o extremo do United Kanchelskis atacou pela ala direita e cruzou a bola para dentro da área; Hughes arrematou para o gol com um chute de bicicleta que bateu na trave, e a bola sobrou para Cole, que marcou seu segundo no jogo e fez o 3–0.[20] Durante sua conversa com o time no vestiário durante o intervalo, Ferguson incentivou seu time, desafiando-os a marcar mais três gols.[22]
Keane foi substituído por Lee Sharpe no intervalo. Sete minutos após o intervalo, Hughes passou a bola para Denis Irwin, que cruzou para a área. Na confusão, foi inicialmente relatado que Yallop havia colocado a bola em seu próprio gol,[20] mas replays de vídeos mostraram que o toque final na bola tinha sido de Cole, garantindo assim seu hat-trick na partida.[23] Após um minuto, Giggs fez um cruzamento rasteiro para Hughes, que marcou o quinto do United com um voleio; a bola ainda bateu na trave antes de entrar. A dupla também foi responsável pelo próximo gol do United; o goleiro do Ipswich, Craig Forrest, defendeu um chute de Giggs, mas a bola sobrou para Hughes, que cabeçeou-a para dentro do gol.[21] Quando Ian Marshall substituiu Chapman aos 64 minutos, Marshall agradeceu ao defensor do United, Gary Pallister, "por ter sido convidado a participar do treino", segundo um artigo publicado pelo United.[22] Um minuto depois, Hughes ajudou a marcar o sétimo gol com um passe para McClair, cujo chute foi defendido por Forrest, mas a bola sobrou para Cole, que arrematou para as redes.[21] Aos 73 minutos, uma falta foi cometida por Forrest, que o árbitro, Graham Poll, assinalou pelo goleiro ter usado o braço para dominar a bola fora de sua área. Enquanto Forrest estava discutindo a decisão com o árbitro, o Manchester United cobrou rapidamente a falta, e Paul Ince arrematou a bola diretamente para o gol vazio, marcando o 8–0. Nos últimos minutos da partida, Cole marcou o seu quinto gol na partida e o nono do United, em um escanteio cobrado por Giggs.[20] Perto do fim do jogo, os torcedores do United gritaram "queremos dez", enquanto os torcedores do Ipswich responderam "queremos um".[13] A partida terminou 9–0 para o Manchester United.[20]
4 de março de 1995 | Manchester United | 9–0 | Ipswich Town | Old Trafford, Manchester |
15:00 |
Keane 15' Cole 19', 37', 53', 65', 87' Hughes 55', 59' Ince 72' |
Súmula | Público: 43,804 Árbitro: ING Graham Poll[1] |
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Árbitros auxiliares
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Regras da partida
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Manchester United | Ipswich Town | |
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Gols marcados | 9 | 0 |
Chutes | 21 | 6 |
Chutes ao gol | 14 | 1 |
Tiros livre | 8 | 10 |
Impedimentos | 3 | 2 |
Faltas cometidas | 7 | 6 |
Escanteios | 8 | 4 |
Cartões amarelos | 0 | 2 |
Cartões vermedlhos | 0 | 0 |
O resultado foi a maior goleada do Manchester United na liga em 103 anos, igualando a margem de nove gols que eles fizeram em uma vitória por 10–1 em casa contra o Wolverhampton Wanderers, em 15 de outubro de 1892.[24] Alex Ferguson já havia vencido duas vezes por 8–0 como treinador do Aberdeen, mas disse: "Isso foi o mais próximo possível da perfeição. O desempenho superou o número de gols marcados".[18] Segundo seu biógrafo, Michael Crick, Ferguson disse mais tarde que estava "orando para que o United não chegasse aos dez, pois sentia pena do treinador do Ipswich".[25] O treinador do Ipswich, George Burley, se recusou a enfrentar a imprensa na entrevista normal após o jogo.[26] A vitória anulou a vantagem de diferença de gols do Blackburn no topo da tabela, quando o Rovers venceu o Aston Villa por 1–0 no Villa Park no mesmo dia, embora o treinador do Rovers, Kenny Dalglish, tenha ignorado o resultado dizendo: "Você ganha três pontos se vencer de 9–0 ou de 1–0".[27] McClair referenciou a vitória do Ipswich no início da temporada, mas negou que a escala da vitória tivesse sido sobre vingança: "não era um caso de: 'Vamos humilhá-los e transformá-los em pó', era apenas: 'Vamos marcar o máximo que pudermos e continuar até terminar.' Essa é apenas a maneira do Manchester United: nunca acaba".[22]
Apesar de ter sido lesionado em um desarme pelo zagueiro Linighan, do Ipswich, Cole estava determinado a continuar no segundo tempo, apesar da sugestão de seu treinador de que ele fosse substituído, já que os três pontos estavam garantidos. Cole disse: "Senti que havia um hat-trick para a partida e estava determinado a conseguir um".[19] Os cinco gols de Cole foram mais tarde igualados por Alan Shearer – pelo Newcastle United contra o Sheffield Wednesday em setembro de 1999;[28] Jermain Defoe – pelo Tottenham Hotspur contra o Wigan Athletic em novembro de 2009;[29] Dimitar Berbatov – pelo Manchester United contra o Blackburn Rovers em novembro de 2010;[30] e Sergio Agüero – pelo Manchester City contra o Newcastle United em outubro de 2015.[31] Foi a primeira vez em doze anos que um jogador, Cole, do primeiro escalão do futebol inglês havia marcado cinco gols em um jogo: Ian Rush e Tony Woodcock, cada um marcou cinco gols em partidas separadas no mesmo dia em 1983.[32][33]
O Manchester United terminou em segundo no campeonato, apenas um ponto atrás do Blackburn, enquanto o Ipswich foi rebaixado, terminando na parte inferior da tabela.[34] O goleiro do Ipswich, Forrest, sofreu mais sete gols do Manchester United, jogando pelo West Ham United, em uma derrota por 7–1, em abril de 2000.[35] Cole lembrou que, quando se encontrou com Forrest anos depois, Forrest apresentou Cole a sua esposa como "o homem que fez de sua vida uma miséria".[9] O recorde estabelecido pelo Manchester United para a maior goleada na Premier League não seria igualado até à Premier League de 2019–20, quando o Leicester City venceu o Southampton pelo mesmo placar, só que fora de casa, em 25 de outubro de 2019.[36] O Southampton também perdeu pela mesma diferença de gols para o United no Old Trafford, em 2 de fevereiro de 2021.[37] Em 27 de agosto de 2022, o Liverpool venceu o Bournemouth pelo mesmo placar, igualando o recorde de maior goleada da história da competição.[38]