É considerado o pioneiro da preparação física no futebol do Brasil[2] e foi o primeiro preparador físico da Seleção Brasileira, nas campanhas vitoriosas das Copas do Mundo de 1958 e 1962,[3] e ainda na edição de 1966.[4]
Com a cabeça sempre raspada à navalha (o que não era comum naquela época), quase dois metros de altura e "cem quilos de músculos",[5] Amaral tinha um gênio difícil e vivia às turras com os jornalistas que cobriam as equipes que treinava.[6] Sua carreira no esporte começou como zagueiro reserva do Flamengo, entre 1942 e 1945. De lá seguiu para o Botafogo, onde ficou entre 1946 e 1948, ano em que se formou em Educação Física.[6] Em 1953, um ano depois de tirar o diploma de técnico de futebol,[6] seu ex-colega de time Sylvio Pirillo, novo técnico do Botafogo, chamou-o para ser preparador físico do time, além de técnico dos aspirantes.[7]
Foi chamado para ser o preparador físico da Seleção na Copa do Mundo de 1958, realizada na Suécia, e ajudou também ao convencer o supervisor Carlos Nascimento de que os dribles de Garrincha não eram deboche.[8] Na primeira conquista mundial do Brasil, Amaral destacou-se ao dar a volta olímpica com uma bandeira da Suécia, depois da vitória brasileira na final em Estocolmo, em 1958.[3] Na ocasião, ele falou que queria homenagear o povo sueco, que tinha recebido muito bem a seleção do Brasil. Foi a partir do destaque de Amaral que os times brasileiros começaram a ter profissionais específicos para a função de preparador físico, que, antes dele, era sempre improvisada.[2] No ano seguinte, durante o Campeonato Sul-Americano no Equador, serviu como "segurança" dos jogadores da Seleção, em uma tentativa de agressão depois da derrota por 3 a 0 para o Uruguai: nocauteou várias pessoas que partiram para cima.[6] Em 1960 assumiu como treinador do Botafogo pela primeira vez. No ano seguinte, foi para o Vasco e em 1962 voltou à Seleção Brasileira como preparador físico e auxiliar técnico do treinador Aymoré Moreira.[6]
Depois da Copa de 1962, foi para a Itália treinar a Juventus, onde ficou até outobru de 1963 e foi vice-campeão italiano em 1962-63,[9] quando voltou ao Brasil para comandar o Corinthians. Ficou apenas 28 partidas — e chegou a ser detido pela polícia após uma delas, em Porto Alegre, por ter agredido um radialista[10] —, deixando o clube para assumir o italiano Genoa, onde foi despedido após a oitava rodada da temporada 1964/65.[11] Voltou ao Brasil para ser novamente o preparador físico da Seleção na Copa do Mundo de 1966 e, ao voltar, assumiu como técnico do Atlético-MG, mas não ganhou um jogo sequer,[6] o que foi atribuído à rígida disciplina por ele exigida de seus jogadores.[5]
No Bahia, em outubro de 1968, durante uma partida contra o Fluminense, agrediu o bandeirinha Délson Almeida Santos e tentou agredir o árbitro Amílcar Ferreira, que solicitou à polícia que prendesse o técnico.[12] Paulo teve de seguir para a delegacia após o jogo.[12] Acabou por tirar um ano de férias, em 1969, e, depois, assumiu o Fluminense, substituindo Telê Santana. Foi lá que ganhou seu único título como treinador, o Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1970,[13] depois de ganhar um voto de confiança da diretoria quando perdeu a Taça Guanabara daquele ano para o Flamengo[14] e de atritos com jogadores depois de alguns tropeços durante a campanha — o estilo de Amaral contrastava bastante com o de Telê, que o antecedera no Flu.[5] "Sou exigente com os jogadores, porque eu e eles somos empregados do clube", disse à época. "Temos uma missão a cumprir: aquela que nos é confiada pela direção do clube e pela sua torcida e que nada tem a ver com nossos problemas pessoais."[5]
Treinou ainda o Porto, de Portugal, o America, o Remo e o Guarani ao longo de sua carreira.[13] No Guarani foi demitido após romper relações com a imprensa campineira e discutir seriamente com o zagueiro Amaral, um dos principais jogadores do time.[15] Em 1978, teve uma passagem conturbada pelo Al-Hilal, da Arábia Saudita, quando assinou dois contratos, um em inglês e outro em árabe, e depois descobriu que só o contrato em árabe tinha validade.[16]
Paulo Amaral foi o primeiro caso de um homem que linchou uma multidão. Em um jogo em que ele estava sendo hostilizado pela torcida, não teve dúvidas: partiu para cima da torcida, distribuindo socos e fazendo os torcedores fugir dele.[17]
Morreu de câncer, em 1 de maio de 2008, em sua casa no bairro de Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro.[3] Em 2006, foi homenageado pela CBF, ao lado do dentista Mário Trigo, por ter participado da comissão técnica das conquistas da Seleção.[4]
↑"Lembranças de 1958", Armando Nogueira, Lance!, 25/6/2008, pág. 32
↑Almanacco Illustrato de Calcio '95", Panini, 1994, pág. 118
↑«Internacional venceu Corintians e Paulo Amaral acabou na prisão». São Paulo: Diário Popular. Diário Popular (25 412): 14 (2.º caderno). 26 de fevereiro de 1964
↑«Il Genoa licenzia Amaral ed assume il trainer Lerici», La Stampa (Turim - IT), 1964-11-12, p. 8
↑ ab«Santos e Coríntians venceram ontem à noite». Folha de S. Paulo (14 375). São Paulo: Empresa Folha da Manhã S.A. 24 de outubro de 1968. 9 páginas
↑"Fluminense, com uma goleada", Placar número 16, 3/7/1970, Editora Abril, pág. 30
↑«A triste sina dos técnicos no maior campeonato do mundo». Folha de S. Paulo (17 778). São Paulo: Empresa Folha da Manhã S.A. 5 de dezembro de 1977. 14 páginas
↑"Paulo Amaral no conto das Arábias", Irlam Rocha Lima e Marcelo Rezende, Placar número 443, 20/10/1978, Editora Abril, pág. 66