Sexo e drogas

O sexo e o uso de drogas, sejam estas legais e ilegais, são temas historicamente associados e afetam todos os aspectos da prática sexual humana: desejo, desempenho, prazer, fecundação, gestação e doença.

Desinibição sexual

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As drogas são frequentemente associadas à redução da inibição sexual, seja quando consumidas recreativamente ou involuntariamente, como no caso das drogas de estupro. Como o uso de drogas, incluindo as bebidas alcoólicas, é por vezes utilizado como justificativa para adotar um comportamento antissocial, é necessário considerar com cautela a relação causal direta entre o uso de drogas e seu distanciamento da prática do sexo seguro. As drogas podem ser uma desculpa socialmente aceitável para que os indivíduos se envolvam em comportamentos sexuais que podem querer engajar, mas que talvez sintam que não deveriam.[1]

Função sexual

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Algumas patologias relacionadas à função sexual, como a disfunção erétil, podem ser tratadas com medicamentos. Devido aos seus efeitos, os medicamentos para disfunção erétil podem ser usados também para fins recreativos. Muitas drogas, tanto legais quanto ilegais, causam efeitos colaterais que afetam a função sexual das pessoas. Muitos fármacos, como a maioria dos antidepressivos, podem causar perda da libido como efeito colateral.[2]

Em termos bioquímicos, a causa parcial da diminuição da libido ou indução ao período refratário é explicada pela inibição de dopamina que ocorre por meio da secreção de prolactina induzida pelo orgasmo.[3] Dessa forma, as drogas agonistas do receptor de dopamina, como a cabergolina, podem causar um efeito contrário e facilitar que as pessoas atinjam orgasmos múltiplos, mas com o uso prolongado também estão associadas à diminuição da excitação sexual.

Tipos de drogas

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Existem poucos estudos sobre cannabis e sexo. Evidências limitadas sugerem que o uso regular de cannabis pode causar disfunção erétil.[4] Por outro lado, outras pesquisas sugerem que o consumo da cannabis em relações sexuais pode elevar a libido e facilitar o tesão.[5]

O álcool e a prática sexual entre humanos estão frequentemente associados. Embora o álcool possa ter efeitos diferentes sobre o funcionamento sexual de acordo com a quantidade consumida, de modo geral, acredita-se que ele afete negativamente o funcionamento sexual e encoraje o envolvimento em relações sexuais de risco.[6][7]

O ecstasy (MDMA) altera o humor e a percepção, mas sobretudo possui efeitos empatógenos, de modo que é uma das drogas que mais elevam a libido.[8][9] Seu uso crônico, no entanto, dificulta a ereção completa e retarda o orgasmo.[4]

2C-B era vendido comercialmente como um afrodisíaco sob o nome comercial "Erox".[10]

Antidepressivos

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Os inibidores seletivo de recaptação de serotonina (ISRSs), inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina (ISRNs) e os [[inibidores de recaptação de noradrenalina e dopamina (IRDNs) são os tipos mais comuns de antidepressivos prescritos.[11] Cada um exerce efeitos diferentes sobre o funcionamento sexual das pessoas de acordo com seu mecanismo de ação e outros fatores farmacológicos, mas geralmente tendem a retardar a excitação e diminuir os orgasmos.[12]

Os efeitos colaterais dos antidepressivos sobre o funcionamento sexual podem afetar a saúde mental e a qualidade de vida, e é também um fator que dificulta a aderência a esse tipo de tratamento.[13][12] No entanto, para muitas pessoas a diminuição dos sintomas depressivos com o tratamento por antidepressivos compensa os efeitos colaterais sexuais. Eles podem ser controlados alterando a dose, trocando medicamentos ou com fármacos em terapia conjunta.[14] Alguns compostos naturais, como a maca, planta que cresce na região central do Peru, pode ser útil na disfunção sexual causada por antidepressivos.[15]

Os opioides inibem o comportamento sexual.[16] Atualmente, não há pesquisas e evidências claras sobre como os opioides influenciam o funcionamento sexual em curto prazo. No entanto, tem havido muitas pesquisas sobre o uso prolongado e a respeito da toxicodepência. O uso de opioides em longo prazo pode causar diminuição da libido, ejaculação retardada e vaginismo.[17] A heroína reduz a libido e diminui os níveis dos hormônios sexuais em humanos.

As anfetaminas podem aumentar a libido e retardar o orgasmo, o que prolonga a duração do coito, mas com o uso a longo prazo costumam afetar negativamente o desempenho sexual das pessoas.[4]

Drogas de estupro

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Ver artigo principal: Drogas de estupro

Uma droga de estupro é qualquer substância que exerça efeitos incapacitantes quando administrado a outra pessoa, tornando-a vulnerável a casos de estupro e agressão sexual. Uma das formas mais comuns é por meio da adulteração da droga que a vítima está a consumir sem seu consentimento, a exemplo do álcool, que pode ser misturado com outras drogas depressoras a fim de que se pratique crimes sexuais contra esta.[18] A outra forma mais comum é simplesmente por meio do consumo de álcool até que a pessoa não esteja mais consciente.[19] Aqui, as vítimas bebem voluntariamente e em um contexto geralmente recreativo, o que as torna incapazes de tomar decisões bem informadas ou dar consentimento à prática sexual.[19]

Sociedade e cultura

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Party and play

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Ver artigo principal: Party and play

A prática conhecida como party and play (PnP) ou chemsex é caractertizada pelo consumo intecional de drogas a fim de facilitar o engajamento em atividades sexuais. Sociologicamente, ambos os termos se referem a uma subcultura ligadas ao uso recreativo de drogas e também a uma elevação do sexo sem segurança e à prática de sexo grupal.[20] O termo PnP é comumente associado a homens gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) nos Estados Unidos, enquanto o termo chemsex está mais associado à cena gay na Europa.[21] As drogas utilizadas geralmente são do tipo estimulantes, como a metanfetamina e a cocaína,[22] mas drogas que produzem outros efeitos também são utilizadas, como a mefedrona, o ácido gama-hidroxibutírico (GHB)[23] e os nitrito de amilas conhecidos popularmente como poppers.[24]

Referências

  1. Race, Kane (2009). Pleasure Consuming Medicine: The Queer Politics of Drugs (em inglês). [S.l.]: Duke University Press. ISBN 978-0822390886 
  2. Hoffman JR, Ratamess NA (2006). «Medical issues associated with anabolic steroid use: are they exaggerated?». Journal of Sports Science & Medicine. 5: 182–93. PMC 3827559Acessível livremente. PMID 24259990 
  3. 6 (dezembro de 2003). «Effects of acute prolactin manipulation on sexual drive and function in males». The Journal of Endocrinology. 179: 357–65. CiteSeerX 10.1.1.484.4005Acessível livremente. PMID 14656205. doi:10.1677/joe.0.1790357 
  4. a b c Ghadigaonkar DS, Murthy P (1 de abril de 2019). «Sexual Dysfunction in Persons With Substance Use Disorders». Journal of Psychosexual Health. 1: 117–121. doi:10.1177/2631831819849365 
  5. «Prazer: estudo afirma que uso de maconha aumenta libido e chance de orgasmo». Metrópoles. 29 de maio de 2020. Consultado em 4 de março de 2021 
  6. Cheng JY, Ng EM, Chen RY, Ko JS (31 de maio de 2007). «Alcohol consumption and erectile dysfunction: meta-analysis of population-based studies». International Journal of Impotence Research. 19: 343–52. PMID 17538641. doi:10.1038/sj.ijir.3901556 
  7. Reducing Adolescent Risk: Toward an Integrated Approach. [S.l.]: SAGE Publications. 2003. ISBN 9781452264462. OCLC 809772621 
  8. Abuse, National Institute on Drug. «MDMA (Ecstasy/Molly)». www.drugabuse.gov (em inglês). Consultado em 28 de outubro de 2019 
  9. Monserrat, Georgette (21 de agosto de 2020). «Risky Sex and the Recreational Use of MDMA». Psychedelic Science Review (em inglês). Consultado em 18 de janeiro de 2022 
  10. «Erowid Chemicals Vaults: Images: 2cb pack». www.erowid.org. Consultado em 12 de janeiro de 2022 
  11. «How Different Antidepressants Work». WebMD (em inglês). Consultado em 30 de outubro de 2019 
  12. a b Higgins A, Nash M, Lynch AM (9 de setembro de 2010). «Antidepressant-associated sexual dysfunction: impact, effects, and treatment». Drug, Healthcare and Patient Safety. 2: 141–50. PMC 3108697Acessível livremente. PMID 21701626. doi:10.2147/DHPS.S7634 
  13. Montejo, Angel L.; Montejo, Laura; Navarro-Cremades, Felipe (novembro de 2015). «Sexual side-effects of antidepressant and antipsychotic drugs». Current Opinion in Psychiatry (6): 418–423. ISSN 1473-6578. PMID 26382168. doi:10.1097/YCO.0000000000000198. Consultado em 4 de março de 2021 
  14. «Sex and antidepressants: When to switch drugs or try an antidote». www.mdedge.com (em inglês). Consultado em 30 de outubro de 2019 
  15. «Maca: Uses, Side Effects, Interactions, Dosage, and Warning». www.webmd.com. Consultado em 30 de outubro de 2019 
  16. Pfaus JG, Gorzalka BB (1 de março de 1987). «Opioids and sexual behavior». Neuroscience and Biobehavioral Reviews. 11: 1–34. PMID 3554038. doi:10.1016/S0149-7634(87)80002-7 
  17. Gulliford, Sandra M. (1 de janeiro de 1998). «Opioid-Induced Sexual Dysfunction». Journal of Pharmaceutical Care in Pain & Symptom Control. 6: 67–74. doi:10.1300/J088v06n02_05 
  18. Lyman, Michael D. (2006). Practical drug enforcement 3rd ed. Boca Raton, Fla.: CRC. ISBN 978-0849398087 
  19. a b «Alcohol Is Most Common 'Date Rape' Drug». Medicalnewstoday.com. MediLexicon International Ltd. Cópia arquivada em 17 de outubro de 2007 
  20. «PSA tackles PNP: TV ad warns against crystal meth usage in the gay male community». metroweekly.com. 21 de setembro de 2007. Consultado em 11 de dezembro de 2015. Cópia arquivada em 21 de setembro de 2007 
  21. «What is ChemSex». The Laurel Centre. 2 de junho de 2018. Consultado em 11 de junho de 2018 
  22. Brown, Ethan (29 de abril de 2002). «Crystal Ball». NYMag.com. Consultado em 11 de dezembro de 2015 
  23. McCall H, Adams N, Mason D, Willis J (novembro de 2015). «What is chemsex and why does it matter?». BMJ. 351: h5790. PMID 26537832. doi:10.1136/bmj.h5790 
  24. «How gay culture bottled a formula that has broken down boundaries». The Independent (em inglês). 22 de janeiro de 2016. Consultado em 7 de junho de 2018 

Ligações externas

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