Transborde da Guerra Civil Síria | |
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Guerra Civil Síria, Primavera Árabe, Inverno Árabe e Guerra ao Terror | |
Data | 17 de Junho de 2011 – presente |
Mudanças territoriais | Fronteiras da Síria: Líbano, Turquia, Iraque, Jordânia e Territórios ocupados por Israel: Colinas de Golã Locais de transborde distantes (fora da Síria): Egipto, Líbia, Iemen, Kuwait, Bangladeche, Filipinas, Argélia, Paquistão, Sudoeste Asiático, Sudoeste e África Central e Europa |
O transborde da Guerra Civil Síria é o impacto que a Guerra Civil Síria tem em outros países, particularmente nos fronteiriços. Desde os protestos da Primavera Árabe, que a Guerra Civil Síria se tornou numa guerra por procuração entre as potências do Médio Oriente, Turquia e Irão. Esta guerra também é vista como um potencial ponto de despoletação para uma guerra regional, receios estes concretizados quando o Estado Islâmico do Iraque e do Levante — grupo militante jihadista salafita e alegado antigo afiliado da Al-Qaeda — se estabeleceu na Síria em 2013 e, no ano seguinte, combinou a Guerra do Iraque (2013-2017) e a da Síria num único conflito.
Em 4 de março de 2013, ocorreu uma emboscada bem-sucedida contra uma escolta do Exército Sírio que estava sobre a proteção de soldados iraquianos. O grupo estava a viajar na província de Anbar, próximo da fronteira com a Síria. O Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) assumiu a responsabilidade pelo ataque a 11 de março.[1] 51 soldados sírios foram mortos.[2]
Em março de 2013, uma fonte de um hospital disse que o Exército Sírio Livre atacou soldados iraquianos após estes entrarem no Iraque.[3] Isto levou a uma escalada de combates em todo o país. Em Maio de 2013, a Operação al-Shabah realizada pelo exército iraquiano, não conseguiu eliminar as milícias e prevenir a sua consolidação de várias delas com o EIIL. Conflito armado eclodiu na província de Al Anbar no final de 2013 e, em janeiro de 2014, o Estado Islâmico tornou-se num pseudo-país que assumiu grande parte do Iraque e da Síria, apagando a fronteira entre os dois e transformando o conflito numa guerra multinacional. Em Junho de 2014, o EIIL lançou uma ofensiva no norte do Iraque, tomando grandes áreas do país e ameaçando a própria capital.
Em junho de 2016, o Exército Livre da Síria, apoiado pelos Estados Unidos, superou as forças do EIIL na cidade fronteiriça de al-Bukamal . Esta cidade é essencial pois liga o leste da Síria ao Iraque. No entanto, nas horas seguintes, o EIIL lançou uma contra-ofensiva e retomou al-Bukamal, com o Exército Livre Sírio sofrendo baixas significativas.[4] O controlo territorial significativo que o EIIL mantém em torno de al-Bukamal permite uma passagem relativamente fácil entre as duas nações. O EILL também conduziu ataques perto da passagem fronteiriça Waled-Tanif.[5]
A Guerra Civil Síria levou a incidentes de violência sectária no norte do Líbano, entre apoiantes e opositores do governo Assad, e a confrontos armados entre sunitas e alauitas em Trípoli, Líbano.[6] A Força Aérea Árabe Síria conduziu ataques contra alvos no Líbano, enquanto que os rebeldes lançaram mísseis contra alvos do Hezbollah, uma organização para-militar xiita.[7] Combates entre os apoiantes do xeque sunita Ahmed Al-Assir, que é contra o envolvimento do Hezbollah na Síria, e o exército libanês, mataram pelo menos 15 dos seus soldados.[8]
No início do verão de 2012, dois militantes do Hezbollah foram mortos em território libanês num confronto com rebeldes sírios.[9] Em 17 de setembro, aeronaves sírias de ataque dispararam três mísseis sobre território libanês perto de Arsal — foi sugerido que os jatos estavam a perseguir rebeldes nas proximidades. O ataque levou o presidente libanês, Michel Sleiman, a lançar uma investigação, embora não culpou publicamente a Síria pelo incidente.[10]
Em 22 de setembro de 2012, membros armados do Exército Sírio Livre atacaram um posto fronteiriço perto de Arsal. Esta foi relatada como a segunda incursão da semana. O grupo foi expulso pelo Exército Libanês, que deteve e posteriormente libertou alguns rebeldes devido à pressão de moradores locais indignados. O presidente libanês elogiou as ações levadas a cabo pelos militares, mantendo a posição do Líbano como sendo "neutra em relação aos conflitos de outros". Ele apelou aos residentes da fronteira para "ficarem ao lado do seu exército e ajudarem os seus membros". A Síria tem apelado a uma intensificação da buscas contra rebeldes, que afirma estarem escondidos em cidades fronteiriças libanesas.[11][12] Em outubro de 2012, Hassan Nasrallah negou que os membros do Hezbollah estavam a lutar ao lado do exército sírio, e que os libaneses na Síria estavam apenas a proteger as aldeias habitadas pelos libaneses do Exército Sírio Livre.[13]
Em agosto de 2014, a força aérea síria bombardeou o lado libanês da fronteira.[14] Em dezembro daquele ano, usaram bombas de barril em supostas instalações rebeldes a noroeste de Arsal.[15]
De 2 a 5 de agosto de 2014, o exército libanês entrou em confronto com homens armados sírios na cidade de Arsal, o que deixou mais de cem soldados mortos de ambos os lados.[16] Em 21 de agosto de 2014, a Frente al-Nusra invadiu o Líbano perto da cidade de Arsal e da e Al-Fakiha, no Vale do Bekaa. Após uma batalha entre eles e o Hezbollah, sete combatentes do Hezbollah e 32 terroristas sírios morreram em confrontos em torno da aldeia síria de Nahleh, perto da fronteira de Arsal.[17] Dezenas de reféns foram levados de volta à Síria durante a batalha de Arsal. Após negociações infrutíferas, o gabinete libanês votou a favor de autorizar o exército a invadir a Síria para libertá-los em 4 de Setembro de 2014, no entanto não foi realizada.[18] Em Dezembro de 2015, após mais de um ano e meio de cativeiro, as tropas libanesas mantidas prisioneiras pela Al Nusra foram trocadas por prisioneiros detidos no Líbano.[19] Houve outra tentativa de invasão do Líbano por uma força conjunta EIIL-Nusra no início de Outubro, que foi derrotada pelo Hezbullah,[20] e em Janeiro de 2015.
Em Junho de 2015, o Hezbollah alegou que estava no meio de uma grande batalha com o EIIL, clamando ter invadido partes do Líbano e tomado território.[21]
Com uma fronteira de 1609km com a Síria e o Iraque, tem havido uma série de incidentes envolvendo a Turquia com várias facções em conflitos a sul da sua fronteira.
Á apoiar abertamente a deposição de Bashar al-Assad, a Turquia permitiu o estabelecimento de uma “rodovia jihadista” onde rebeldes, incluindo o EIIL, foram autorizados cruzar, ao sul da fronteira, tanto suplementos e militantes.[22] Houve vários incidentes, incluindo o abate de um jato da Força Aérea Turca pela Síria, que matou os 2 pilotos, e também o abate de um jato da Força Aérea Síria pela Turquia, e um ataque do exército turco em fevereiro de 2015 para evacuar um pequeno enclave em Síria.
A Turquia tinha alegadamente apoiado o EIIL ao longo das suas muitas encarnações.[23][24] Em certa medida, isso começou a mudar com os bombardeamento de Reyhanlı em 2013 e um ataque aéreo de retaliação em janeiro de 2014. O EILL superou esta situação e começou a conquistar território no norte do Iraque, seguida pela consolidação de territórios no norte da Síria. No verão de 2014, começou a tomar territórios perto da área fronteiriça com a Turquia, levando a que centenas de milhares de refugiados atravessassem a fronteira para causar se rebeldar. Como consequência, a Turquia pôs o fim da a trégua com o PKK.[25]
Uma votação para autorizar a ação militar foi aprovada pelo parlamento turco em 2 de outubro de 2014. No entanto, não teve seguimento e ocorreram mais tumultos em muitas das cidades da Turquia, à medida que o governo exigia cada vez mais condições para participar na guerra. Os tumultos se intensificaram e várias dezenas de manifestantes foram mortos.
A relação entre o EIIL e a Turquia deteriorou-se durante a primavera e o verão de 2015, levando a ataques de elite na fronteira e a ataques aéreos por parte dos turcos.
Em 22 de fevereiro de 2015, o exército turco invadiu a Síria por Kobanî e dirigiu-se ao túmulo de Suleyman Shah, que foi desmantelado e trazido de volta à Turquia. Os 40 guardas que estavam de serviço lá foram resgatados. Cerca de 100 veículos militares, incluindo 39 tanques, estiveram envolvidos, juntamente com 572 militares, um dos quais morreu num acidente.[26]
Um ataque ao túmulo, considerado território turco ao abrigo de um acordo franco-turco de 1921, esteve sob ameaça no início do ano, levando o governo a declarar que retaliaria contra qualquer ataque ao túmulo, e serviria como um casus belli. O governo sírio disse que o ataque foi um ato de "agressão flagrante" e que responsabilizaria Ancara pelas suas repercussões.[27]
Em 24 de novembro de 2015, um avião de guerra russo foi abatido na zona fronteiriça entre a Síria e a Turquia. A Turquia afirma que o avião violou o espaço aéreo turco, uma afirmação que a Rússia nega.[28] Os primeiros relatos de várias agências de notícias russas indicaram que o avião tinha sido abatido por um ataque terrestre de rebeldes sírios, mas as autoridades russas confirmaram mais tarde os relatos turcos de que o avião tinha sido abatido pelos seus caças. De acordo com autoridades turcas, o jato russo, um SU-24, foi abatido por dois jatos F-16 turcos após múltiplos pedidos (10 pedidos num intervalo de cinco minutos) para que o jato russo mudasse o seu curso. A Turquia afirma que o jato russo violou o seu espaço aéreo, sobrevoando o território turco apesar dos avisos para mudar de rumo, enquanto a Rússia afirma que o seu jato nunca entrou no espaço aéreo turco e esteve sobre a Síria o tempo todo. A Turquia produziu um gráfico que mostra o padrão de voo do avião russo, que mostra-o a cruzar o extremo sul da província de Hatay antes de ser abatido e cair perto da montanha do Turcomenistão, perto da fronteira Síria-Turquia.[29]
A Rússia manteve firmemente que “durante todo o seu voo, a aeronave permaneceu exclusivamente acima do território sírio”.[30] Em resposta, o presidente russo Vladimir Putin afirmou que o ataque foi "uma facada nas costas dos cúmplices dos terroristas".[29] A Turquia já havia alertado a Rússia sobre violações do espaço aéreo turco e também alertou sobre ataques contra civis turco-sírios que viviam ao longo da sua fronteira.[30]
O conflito de 2015 entre a Turquia e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) eclodiu após negociações de paz de dois anos, que começaram no final de 2012, mas que não conseguiram progredir à luz das crescentes tensões na fronteira com a Síria no final de 2014, quando o Cerco de Kobani originou uma onda de refugiados curdos na Turquia. Alguns dos curdos acusaram a Turquia de ajudar o Estado Islâmico do Iraque e do Levante durante a crise, resultando em manifestações curdas na Turquia, envolvendo dezenas de mortes. As tensões aumentaram ainda mais no verão de 2015 com o atentado bombista de 20 de julho em Suruç, alegadamente executado por um grupo turco afiliado ao EIIL contra apoiantes curdos. Em 21 de julho, o PKK matou um soldado turco e feriu mais 2 em Adıyaman.[31] Em 23 de Julho, dois agentes da polícia turca foram mortos pelo PKK em Ceylanpinar,[32] que o descrevou como retaliação. [33]
Houve vários incidentes ao longo da fronteira entre a Síria e a Jordânia.[34] A Jordânia tem cerca de 600 mil refugiados sírios acreditados– embora as autoridades jordanianas digam que o número total é de 1,4 milhões.[35]
Intensos bombardeios em Daraa, Síria, atingiram acidentalmente o lado jordânio da fronteira; danos signficativos não foram causados.[36] Houve ocorrências em que homens armados foram mortos ou feridos em confrontos com soldados das patrulhas fronteiriças da Jordânia.[37] Desde outubro de 2014, a Jordânia tem tomado uma parte ativa na coligação anti-EILL, contribuindo para a campanha de ataques aéreos liderada pelos Estados Unidos.
Em Abril de 2014, a Força Aérea Jordaniana lançou um ataque aéreo contra soldados que tentavam cruzar ilegalmente a fronteira vindo da Síria. Tentativas de infiltração de combatentes na Jordânia são comums,[38] devido ao regresso de jihadistas jordanianos que foram lutar na Síria e decidiram regressar.[39] Reporta-se que há mais de 2.000 jihadistas jordanianos a lutar na Síria. Mais de cem pessoas foram presas e acusadas de cruzar a fronteira para ir lutar na guerra. Dois incidentes ocorreram em janeiro de 2016. Em 23 de janeiro, o porta-voz das forças armadas da Jordânia afirmou que um total de 36 homens armados tentaram infiltrar-se pela fronteira, levando a um confronto com os guardas fronteiriços que mataram 12; os restantes recuaram para a Síria. Mais tarde, descobriu-se que eles tinham 2.000.000 de comprimidos em seu porte. O porta-voz afirmou ainda que “a Jordânia não tolerará qualquer tentativa de infiltração e atacará com mão de ferro quem tentar perturbar a segurança nacional da Jordânia”.[40] No dia 25 de Janeiro, dois homens armados tentaram infiltrar-se nas fronteiras, sendo mortos pelos guardas; foram descobertos 2.600 sacos de cannabis do tamanho da palma da mão e 2,4 milhões de comprimidos de Fenetilina.[41]
Em setembro de 2012, vários morteiros atingiram as Colinas de Golã, região ocupada por Israel, numa zona perto da fronteira Síria.[42] Ao longo de Outubro e início de Novembro, vários morteiros sírios e projécteis de artilharia ligeira atingiram as Colinas de Golã. Pensa-se que um dos tiros de morteiro tinha sido responsável por um incêndio florestal que eclodiu na área. A 3 de Novembro, três tanques sírios entraram na zona desmilitarizada no centro das das colinas, enquanto vários morteiros eram disparados contra a área.[43] A 5 de Novembro, um jipe do exército israelita foi danificado pelo exército sírio enquanto patrulhava a fronteira.[44] A 11 de novembro, depois de um morteiro sírio atingir as colinas, o exército israelita respondeu ao lançar um míssil de aviso na direção de morteiros sírios.[45] A 12 de Novembro, outro morteiro sírio atingiu as colinas; como resposta tanques israelitas abatem um morteiro sírios.[46] Um projétil disparado da Síria explodiu na parte ocupada israelita das Colinas de Golã a 14 de julho de 2013.
Em junho de 2015, duas ambulâncias que transportavam rebeldes sírios feridos foram atacadas por manifestantes drusos nas Colinas de Golã. Um dos feridos morreu no incidente.[47] Os ataques ocorreram após um dos rebeldes numa entrevista prometer regressar à Síria para lutar contra a minoria drusa.[48] Em fevereiro de 2018, um drone iraniano entrou no espaço aéreo israelita, sendo abatido pela Força Aérea. Em retaliação, alvos iranianos dentro da Síria foram atingidos. Durante o ataque aos alvos iranianos, os sistemas de defesa anti-aérea sírios abateram um caça F-16 israelense.[49][50][51]
A tomada da cidade de Derna, na Cirenaica, na Líbia, pelo autoproclamado Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL) ocorreu no final de 2014. Em novembro de 2014, Wilayat Darnah (a província de Darnah)[52] ou Wilayat Barqah (província da Líbia Oriental) foi declarada parte integrante do chamado "Estado Islâmico". O ISIL controlou a cidade desde outubro de 2014 até cair nas mãos do Conselho Shura dos Mujahideen em Derna, em junho de 2015, que foram posteriormente derrotados pelo Exército Nacional da Líbia durante a Batalha de Derna.[53][54]
O ISIL na Líbia publicou um vídeo online em 15 de fevereiro de 2015 retratando o assassinato de 21 coptas egípcios . O vídeo apresentava semelhanças com vídeos anteriores que mostravam a “execução” de reféns ocidentais e japoneses, incluindo os macacões laranja usados pelas vítimas e o método de assassinato por decapitação.[55] O Egito respondeu ao vídeo lançando ataques aéreos contra alvos em Derna.[56][57]
Em 26 de junho de 2015, militantes do EIIL explodiram uma mesquita xiita na cidade do Kuwait, matando dezenas e ferindo centenas.[58]
Uma campanha de ataques islâmicos ocorreram em França. Os primeiros, a 7 de janeiro de 2015, na Île-de-France cometidos por terroristas de grupos jihadistas como o AQAP e ISIL, ou indivíduos isolados que simpatizam com o movimento jihadista . Desde 2015 até julho de 2016, ocorreram oito incidentes terroristas islâmicos em França, incluindo ataques fatais em Île-de-France, Saint-Quentin-Fallavier e Paris . Os ataques de novembro de 2015 em Paris foram motivados pelo EIIL como uma “retaliação” ao papel francês na Guerra Civil Síria e na Guerra do Iraque.[59]
A maioria dos ataques perpetrados por extremistas islâmicos no Bangladesh desde outubro de 2015 foram reivindicados pelo EIIL. Em novembro de 2015, a revista Dabiq do EILL publicou um artigo apelando ao “renascimento da jihad em Bengala”.[60] Desde então, militantes islâmicos radicais assassinaram secularistas, ateus, escritores, bloggers, activistas LGBT, muçulmanos sufis e liberais, sacerdotes hindus e budistas e missionários cristãos do Bangladesh, bem como expatriados estrangeiros da Europa e da Ásia Oriental. Em 1 de julho de 2016, seis homens armados invadiram um restaurante na capital do Bangladesh, Daca, matando clientes de várias nacionalidades e matendo-os reféns durante quase 12 horas, até o exército do Bangladesh pôr fim ao cerco. O EIIL reivindicou crédito pelo ataque divulgou fotos dos homens armados e das vítimas de dentro do restaurante.[61]