Vanadila

O íon vanadila ou vanadil (nome IUPAC: oxovanádio (IV)) é o cátion de fórmula química VO2+.[1] Trata-se de um oxicátion do elemento vanádio em seu estado de oxidação +4, o segundo mais comum do elemento, e a forma predominante em que o vanádio tetravalente está presente na maioria dos seus compostos. É um agente oxidante suave, mas também pode ser facilmente oxidado para o estado pentavalente, que em soluções ácidas existe como o íon amarelo pervanadila, VO+
2
. O íon vanadila é bastante estável estruturalmente (é de fato considerado o íon diatômico mais estável)[2] e apresenta uma forte ligação tripla entre os átomos de vanádio e oxigênio.[3] O íon vanadila apresenta uma cor azul-escura bastante característica e é paramagnético, devido à presença de um elétron desemparelhado em sua configuração eletrônica 3d¹.

Características, Síntese e Reações

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O íon vanadila é a forma predominante do vanádio +4 em solução aquosa. Neste meio, na ausência de outros agentes complexantes, ele encontra-se ligado a quatro moléculas de água formando um complexo tetraaquo, cuja estrutura é [VO(H
2
O)
4
]2+. Esse complexo, bem como vários outros complexos de vanadila, apresenta uma geometria piramidal quadrada incomum, destoando com a maioria dos complexos de metais de transição que tendem a adotar geometria octaédrica, tetraédrica ou às vezes quadrada planar. Ele é a forma catiônica do vanádio tetravalente em solução, uma vez que o íon livre V4+ não pode existir em solução aquosa. Os aquocomplexos de VO2+, portanto, são o produto da hidrólise desse íon hipotético.

Amostra do sal sulfato de vanadila penta-hidratado, VOSO
4
• 5H
2
O, mostrando a intensa cor azul do íon vanadila.

O íon vanadila pode ser formado a partir da redução de compostos de vanádio pentavalente em meio ácido utilizando alguns agentes redutores adequados como, por exemplo, SO
2
:[4]

2VO+
2
+ SO
2
+ 2H+ —> VO2+ + H
2
SO
4
V
2
O
5
+ SO
2
+ H
2
SO
4
—> 2VOSO
4
+ H
2
O

Também é formado quando um sal de vanadato é dissolvido em ácido concentrado, seguido de redução por um redutor tal como o zinco:[5]

2NH
4
VO
3
+ 8H+ + Zn0 —> VO2+ + 2NH+
4
+ Zn2+ + 2H
2
O

Ele também pode ser formado a partir da oxidação de compostos de vanádio em estados de oxidação mais baixos:

V3+ + [Fe(CN)
6
]3–
+ H
2
O —> VO2+ + [Fe(CN)
6
]4–
+ 2H+


Da esquerda para a direita: VO+
2
''";, VO2+, V3+, e V2+ em solução aquosa.

O íon vanadila também é formado pela hidrólise de muitos compostos de vanádio IV não-oxigenados (tais como, por exemplo, VCl
4
) em contato com a água:

VCl
4
+ H
2
O —> VOCl
2
+ 2HCl

Em meio básico, os sais de vanadila hidrolisam gerando um precipitado marrom de "ácido hipovanádico" ou hidróxido de vanadila (dióxido de vanádio hidratado):

VO2+ + 2OH —> VO(OH)
2
(=VO
2
•H
2
O)

Em um meio ainda mais básico, esse precipitado pode se redissolver originando uma solução marrom-amarelada contendo o ânion hipovanadato, ilustrando seu caráter anfótero:[6]

4VO(OH)
2
+ 2OH —> [V
4
O
9
]2– + 5H
2
O

Assim como a maioria dos demais compostos de vanádio, o íon vanadila reage com o peróxido de hidrogênio em meio ácido, sendo oxidado do estado de oxidação +4 para o +5 e formando um peroxocomplexo vermelho:[7]

2[VO(H
2
O)
4
]2+ + 3H
2
O
2
—> 2[VO(O
2
)(H
2
O)
3
]+ + 2H+ + 4H
2
O

O oxo-íon vanadila possui uma extensa química de coordenação, formando variados complexos, os quais geralmente apresentam uma geometria de coordenação piramidal de base quadrada,[8] na qual o vanádio central situa-se no centro da pirâmide, com o oxigênio constituindo o topo e os demais ligantes formando a base quadrada. Um exemplo desse tipo de complexo é o bis(acetilacetonato)oxovanádio (IV) ou acetilacetonato de vanadila, [VO(C
5
H
7
O
2
)
2
] ou [VO(acac)
2
], como visto na imagem abaixo:

Estrutura do acetilacetonato de vanadila.

O íon VO2+ também é capaz de formar complexos com geometria octaédrica, semelhante aos demais elementos da primeira linha dos metais de transição. Um exemplo é o aduto de piridina do complexo de acetilacetonato de vanadila, [VO(acac)
2
(NC
5
H
5
)]. Contudo, o sexto ligante tende a se desprender da estrutura com certa facilidade originando a estrutura com geometria piramidal.

Esses complexos de vanadila geralmente possuem cor azul-escura a esverdeada dependendo da natureza do ligante, e também podem ser facilmente oxidados para os complexos de pervanadila amarelados ou alaranjados:

2[VIVO(H
2
NCH
2
CO
2
)2] + S
2
O2–
8
+ 2H
2
O –> 2[VVO
2
(H
2
NCH
2
CO
2
)
2
] + 2SO2–
4
+ 4H+

Ocorrência natural

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Cavansita e pentagonita, dois polimorfos do composto mineral à base de vanadila de fórmula CaVOSi4O10.
A tanzanita é uma pedra preciosa bastante rara, uma forma de zoisita contendo impurezas de vanádio tanto tetravalente (vanadila) quanto trivalente, os quais são responsáveis pela sua cor azul-violeta profunda.


Cavansita e seu polimorfo pentagonita (ambos com a fórmula química Ca(VO)Si4O10•4H
2
O) são dois minerais que contêm em suas estruturas o íon vanadil. Esses minerais apresentam a cor azul característica desse íon de vanádio. A raríssima pedra preciosa tanzanita (uma forma de zoisita contendo impurezas de vanádio), com sua vibrante cor azul-violeta, também deve sua cor a esse íon, bem como o V3+.[9]

O vanádio na forma do íon vanadil é o segundo metal de transição mais abundante na água do mar , com sua concentração sendo superada apenas pelo molibdênio.[10] No oceano, a concentração média é de 30 nM . Algumas fontes de água mineral também contêm o íon em altas concentrações. Por exemplo, fontes perto do Monte Fuji geralmente contêm até 54 μg por litro.[11]



Referências

  1. Bertrand, Gary L.; Stapleton, George W.; Wulff, Clause A.; Hepler, Loren G. (julho de 1966). «Thermochemistry of Aqueous Pervanadyl and Vanadyl Ions». Inorg. Chem. 5 (7): 1283–1284. doi:10.1021/ic50041a048 
  2. Greenwood, Norman N. ; Earnshaw, Alan (1984). Química dos Elementos . Oxford: Pergamon Press . pág. 1157. ISBN 978-0-08-022057-4.
  3. Gray, H. B.; Winkler, J. R. (2018). «Living with Oxygen». Accounts of Chemical Research. 51 (8): 1850–1857. PMC 6106048Acessível livremente. PMID 30016077. doi:10.1021/acs.accounts.8b00245 
  4. https://chem.libretexts.org/Bookshelves/Inorganic_Chemistry/Supplemental_Modules_and_Websites_(Inorganic_Chemistry)/Descriptive_Chemistry/Elements_Organized_by_Block/3_d-Block_Elements/Group_05%3A_Transition_Metals/Chemistry_of_Vanadium
  5. https://edu.rsc.org/exhibition-chemistry/brew-up-interest-in-redox-with-this-quick-reduction/4016800.article
  6. https://www.britannica.com/science/vanadium-oxide
  7. https://chempedia.info/info/vanadium_complexes_hydrogen_peroxide/
  8. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0022286022014752
  9. https://www.cambridge.org/core/journals/mineralogical-magazine/article/abs/position-of-vanadium-in-the-crystal-structure-of-zoisite-variety-tanzanite-structural-refinement-optical-absorption-spectroscopy-and-bondvalence-calculations/129FADE1ADC6EFCAE30C56DAC0826261
  10. Rehder, Dieter (2008). Química bioinorgânica do vanádio . Química inorgânica (1ª ed.). Hamburgo, Alemanha: John Wiley & Sons, Ltd. pp. 5 e 9–10. doi : 10.1002/9780470994429 . ISBN 9780470065099.
  11. Rehder, Dieter (2008). Química bioinorgânica do vanádio . Química inorgânica (1ª ed.). Hamburgo, Alemanha: John Wiley & Sons, Ltd. pp. 5 e 9–10. doi : 10.1002/9780470994429 . ISBN 9780470065099.