António Sardinha

António Sardinha
António Sardinha
Nome completo António Maria de Sousa Sardinha
Nascimento 9 de setembro de 1887
Monforte
Reino de Portugal Portugal
Morte 10 de janeiro de 1925 (37 anos)
Elvas, Portugal Portugal
Nacionalidade Portuguesa
Ocupação Político, historiador e poeta

António Maria de Sousa Sardinha (Monforte, 9 de Setembro de 1887Elvas, 10 de Janeiro de 1925) foi um político, historiador e poeta português. Destacou-se como ensaísta, polemista e doutrinador,[1] produzindo uma obra que se afirmou como a principal referência doutrinária do Integralismo Lusitano. A sua defesa da instauração de uma monarquia tradicionalorgânica, antiparlamentar ou anticonstitucional e antiliberal — serviu de inspiração a uma influente corrente do pensamento político português da primeira metade do século XX. Apesar de ter falecido prematuramente, conseguiu afirmar-se como referência incontornável dos monárquicos que recusaram condescender com o salazarismo.

Afirmando-se monárquico e patriota, dizia:

Nós não somos patriotas por sermos monárquicos. Somos antes monárquicos por sermos patriotas.[2]

Seus principais inspiradores, ou “pais espirituais”, de acordo com o pensador e político espanhol Ramiro de Maeztu, foram Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão, Fialho d´Almeida e, “um pouco mais atrás”, Oliveira Martins, Antero de Quental e Camilo Castelo Branco, todos eles “patriotas, tão saturados da grandeza do Reino de Portugal no passado como desesperados de sua pequenez contemporânea”.[3]

Defendia também teses racistas, lamentando a "mistura de gentes" dos Descobrimentos.[4]

António Sardinha foi um adversário da Monarquia da Carta (1834-1910) chegando, no tempo de estudante na Universidade de Coimbra, a defender a implantação de uma república em Portugal. Depois de 5 de Outubro de 1910, durante a Primeira República ficou profundamente desiludido com ela e acabou por se converter ao ideário realista da monarquia orgânica, tradicionalista, antiparlamentar do "Integralismo Lusitano", de que foi um dos mais destacados defensores.

Em 1911 já estava formado em Direito pela respectiva universidade[1] e no final do ano de 1912, escrevia a comunicar a sua «conversão à Monarquia e ao Catolicismo — "as únicas limitações que o homem, sem perda de dignidade e orgulho, pode ainda aceitar". E abençoava "esta República trágico-cómica que (o vacinara) a tempo pela lição da experiência…".[5]

Imediatamente juntou-se a Hipólito Raposo, Alberto de Monsaraz, Luís de Almeida Braga e Pequito Rebelo, para fundar a revista Nação Portuguesa, publicação de filosofia política, a partir da qual foi lançado o referido movimento monárquico do Integralismo Lusitano.[1]

António Sardinha, de acordo com Fernando de Aguiar, fora trazido por Hipólito Raposo “à conversão, à , à Tradição, ao municipalismo donde caminharia para a Monarquia, popular e descentralizadora, realenga e representativa dos povos”.[3]

A lusitana antiga liberdade do verso de Luís de Camões era uma referência dos integralistas, tendo no municipalismo e no sindicalismo duas palavras-chave de um ideário político que não dispensava o Rei, entendido como o Procurador do Povo e o melhor garante e defensor das liberdades republicanas.

António Sardinha era anti-maçónico e anti-iberista, em 1915, tendo feito na Liga Naval de Lisboa uma conferência onde alertava para o perigo de uma absorção de Portugal por Espanha.[1] Em vez da fusão dos estados desses dois países, propunha uma forte ligação entre todos os povos hispânicos, a lançar por intermédio de uma aliança entre eles, reconduzidos à monarquia. A Aliança Peninsular seria, na sua perspectiva, o ponto de partida para a constituição de uma ampla Comunidade Hispânica (dos povos de língua portuguesa e espanhola), a base mais firme onde assentaria a sobrevivência da civilização ocidental.[6]

Durante o breve consulado de Sidónio Pais, foi eleito deputado na lista da minoria monárquica.[1]

Após o assassinato desse presidente da República, em 1919, exilou-se em Espanha após participar na fracassada tentativa restauracionista de Monsanto e na Monarquia do Norte.[1]

Ao regressar a Portugal, 27 meses depois, tornou-se director do diário A Monarquia.[1] Também colaborou no quinzenário A Farça[7] (1909-1910), na revista Homens Livres[8] (1923) e, ainda, na revista Lusitânia[9] (1924-1927) até ao ano da sua morte.

António Sardinha morreu jovem, com apenas 37 anos.[1]

Em 1927 a Câmara Municipal de Elvas promoveu em honra da memória de António Sardinha a instalação de uma lápide inscrustada no Aqueduto da Amoreira, desenhada pelo arquitecto Raúl Lino com a inscrição: A António Sardinha, bom Português, pelo muito que amou e serviu Elvas.[10]

Auxiliado por Eugénio de Castro, publicou os primeiros poemas quando tinha apenas 15 anos.[1]

Obras poéticas, entre outras:

  • Tronco Reverdecido (1910)
  • A Epopeia da Planície (1915)
  • Quando as Nascentes Despertam (1821)
  • Na Corte da Saudade (1922)
  • Chuva da Tarde (1923)
  • Era uma Vez um Menino (1926)[11]
  • O Roubo da Europa (1931)
  • Pequena Casa Lusitana (1937)

Estudos e Ensaios, entre outros:

Referências

  1. a b c d e f g h i «António Maria de Sousa Sardinha, angelfire.com». Consultado em 19 de setembro de 2012. Arquivado do original em 3 de maio de 2013 
  2. A Monarquia Tradicional, por Victor Emanuel Vilela Barbuy, em Cristianismo, Patriotismo e Nacionalismo, 16 de Maio de 2010
  3. a b António Sardinha e o Integralismo Lusitano, Frente Integralista Brasileira
  4. a b c d Pinto, Paulo Mendes (16 de junho de 2024). «As raízes do antissemitismo em Portugal». PÚBLICO. Consultado em 4 de outubro de 2024 
  5. Jaime Nogueira Pinto, in "Nobre Povo — Os Anos da República", A Esfera dos Livros, 2010.
  6. Crise e Rutura Peninsular em António Sardinha, Prof. Doutora Maria da Conceição Vaz Serra Pontes Cabrita, matriadigital.cm-santarem.pt, 2013
  7. João Alpuim Botelho. «Ficha histórica: A Farça» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 17 de fevereiro de 2016 
  8. Rita Correia (6 de fevereiro de 2018). «Ficha histórica:Homens livres (1923)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 13 de março de 2018 
  9. Rita Correia (5 de Novembro de 2013). «Ficha histórica: Lusitania : revista de estudos portugueses (1924-1927)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 3 de Dezembro de 2014 
  10. Revista Lusitânia: revista de estudos portugueses n.º 10 (Outubro de 1927), pág. 196.
  11. Era uma vez um menino: elegias escritas por António Sardinha. Na morte de seu filho, Livraria Universal (obra digitalizada)
  12. O pan-hispanismo, por por António Sardinha, Contemporânea, Vol. 1, N.º 2, Jun. 192
  13. Ao Princípio Era o Verbo, edição: Portugalia Editora (obra digitalizada)
  14. Ao ritmo da ampulheta: crítica & doutrina: Obra póstuma, edição: Lumen (obra digitalizada)
  15. A aliança peninsular: antecedentes & possibilidades (2ª edição), Livraria Civilização (obra digitalizada)
  16. Na feira dos mitos, ideias e factos (2ª edição), Edições Gama (obra digitalizada)
  17. Durante a fogueira: páginas da guerra, edição: A.J. Tavares (obra digitalizada)
  18. Á sombra dos pórticos, novos ensaios, edição: Livraria Ferin (obra digitalizada)
  19. Da Hera nas Colunas, Novos estudos, edição: Atlântida (obra digitalizada)
  20. "A prol do comum ...": doutrina & historia, edição: Livraria Ferin
  21. Glossário dos tempos, Edições Gama (obra digitalizada)
  22. À lareira de Castela, Edições Gama (obra digitalizada)
  • Susana Rocha Relvas, António Sardinha e suas relações culturais com Espanha e América Latina. "Pacto de Quinas e de Flores de Liz entre os Semeadores de nacionalidades". Tese de mestrado apresentada à FCSH Universidade Nova de Lisboa [1].
  • António Sardinha e o Hispanismo. Diálogo com o feminino. Cartas de Angélica Palma e Mercedes Gaibróis Riaño Ballesteros». Mujer, cultura y sociedad en América Latina. Lisboa: Edições Colibri: CECLU: Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2004, pp. 65-82.
  • Pedro Martins, “From the Republica Christiana to the ‘Great Revolution’: Middle Ages and Modernity in António Sardinha’s Writings (1914-25)”, Studies in Medievalism, nº25: Medievalism and Modernity, 2016, pp.29-36. https://boydellandbrewer.com/studies-in-medievalism-xxv-hb.html

Ligações externas

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