Marcelo Gleiser

Marcelo Gleiser
Marcelo Gleiser
Nascimento 19 de março de 1959 (65 anos)
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Residência Hanover, New Hampshire, Estados Unidos
Nacionalidade brasileiro
Alma mater Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Universidade Federal do Rio de Janeiro
King's College de Londres
Prêmios Prêmio Jabuti (1998 e 2002)
Prêmio Templeton (2019)
Religião nenhuma (agnosticismo)
Instituições Dartmouth College
Fermilab
Kavli Institute for Theoretical Physics
NASA
OTAN
Campo(s) física

Marcelo Gleiser (Rio de Janeiro, 19 de março de 1959) é um físico, astrônomo, professor, escritor e roteirista brasileiro, atualmente pesquisador e professor da Faculdade de Dartmouth, nos Estados Unidos. É membro e ex-conselheiro geral da American Physical Society.

Conhecido nos Estados Unidos por suas aulas e pesquisas científicas, no Brasil é mais popular por suas colunas de divulgação científica no jornal Folha de S.Paulo.[1] Escreveu oito livros e publicou três coletâneas de artigos. Participou de programas de televisão dos Estados Unidos, da Inglaterra e do Brasil, entre eles, Fantástico.

Marcelo recebeu o Prêmio Jabuti em 1998, pelo livro A Dança do Universo, e em 2002 por O Fim da Terra e do Céu. Em 2007, foi eleito membro da Academia Brasileira de Filosofia. Em março de 2019, tornou-se o primeiro latino-americano a ser contemplado com o Prêmio Templeton,[2] tido informalmente como o "Nobel da espiritualidade".[3]

Juventude e formação acadêmica

[editar | editar código-fonte]

Marcelo é nascido em uma família judaica da cidade do Rio de Janeiro,[4] e desde criança gostava de tocar violão e jogar voleibol, modalidade esportiva em que foi campeão júnior brasileiro aos quinze anos, ao lado de Bernardinho. Mesmo não se interessando por matemática, desde cedo eram claros seu interesse e paixão pela natureza. Queria ser músico, mas seu pai, Isaac, que era dentista, convenceu-o a mudar de ideia, pois, segundo ele, a música seria uma escolha arriscada, tornando incerto seu futuro profissional.[5][6][7][8]

Após cursar dois anos de Engenharia Química, Gleiser transferiu-se para o curso de Física da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Bacharelou-se em 1981, mesmo ano em que representou o voleibol brasileiro nos jogos Macabíadas em Israel, conquistando a medalha de prata. No ano seguinte fez seu mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em 1986 obteve seu doutorado no King's College de Londres na Universidade de Londres. Em 1988 obteve um pós-doutorado pela Fermilab e no mesmo ano foi nomeado bolsista sênior de pós-doutorado no Instituto de Física Teórica da Universidade da Califórnia. Em 1991 foi nomeado professor assistente de física e astronomia no Dartmouth College em Hanover, New Hampshire.[5]

Marcelo Gleiser em 2013.

Desde 1991, é professor de Física e Astronomia e pesquisador da Dartmouth College em Hanover, Estados Unidos.[9] Já fez parte do grupo de pesquisadores do Fermilab, em Chicago, e do Institute for Theoretical Physics da Califórnia. Recebeu bolsas para pesquisas da NASA, da National Science Foundation e da OTAN.

Na Dartmouth, ministra a disciplina "Física para Poetas", cujas aulas se caracterizam por relatos da história da ciência e dos cientistas juntamente com explicações sobre os fundamentos da física no laboratório através de experiências e demonstrações em sala de aula.

Em 1994, ganhou do presidente norte-americano Bill Clinton o prêmio Presidential Faculty Fellows Award por seu trabalho de pesquisa em cosmologia e por sua dedicação ao ensino. Em 1995, ganhou o Dartmouth Award for Outstanding Creative or Scholarly Work e venceu em 2001 o prêmio José Reis de Divulgação Científica. Em 2001, Gleiser foi eleito Fellow da American Physical Society, a Sociedade de Física Americana, da qual é membro. Seu ensaio "Emergent Realities in the Cosmos" apareceu na antologia Best American Science Writing 2003, editada por Oliver Sacks.

Em 1997, lançou no Brasil seu primeiro livro, A Dança do Universo,[10] que trata da questão da origem do Universo tanto sob o ponto de vista científico quanto religioso. O livro, escrito para o público não-especializado tornou-se um marco da divulgação científica no Brasil.[11] Naquele ano também passou publicar aos domingos, artigos sobre ciência no jornal Folha de S.Paulo.[12] A coluna foi publicada até 28 de outubro de 2018.[13]

Em 1998 ganhou o Prêmio Jabuti por esse livro, prêmio que viria a repetir em 2002 pelo livro O fim da Terra e do Céu.[11][14] Em 2005, lançou uma coletânea de suas colunas publicadas na Folha de S.Paulo de 1999 a 2004, intitulada Micro Macro,[15][16] e em 2007, dando prosseguimento à coleção, outra coletânea intitulada Micro Macro 2.[17] A sua primeira obra inspirou uma peça de teatro do grupo Arte e Ciência no Palco, que estreou no Festival de Curitiba, e foi apresentada em vários teatros e festivais no Brasil e em Portugal. Em 2006, publicou A Harmonia do Mundo,[18] seu primeiro romance e também um best seller, sobre a vida e obra do astrônomo alemão Johannes Kepler. Em 2010, publicou o livro "Criação Imperfeita: Cosmo, Vida e o Código Oculto da Natureza",[19] onde faz criticas a várias das ideias de unificação na física, argumenta que as assimetrias do Universo não tiveram origem a partir de um Deus, e que são as imperfeições que causaram e causam a formação de estruturas na Natureza, do átomo às células. O livro foi publicado em sete línguas. Em 2015, publicou The Island of Knowledge que lida com o problema do necessariamente incompleto conhecimento científico e dos limites das explicações do universo. Em setembro de 2006 estreou nos cinemas o filme O Maior Amor do Mundo, de Cacá Diegues, com consultoria de Gleiser. O filme conta a história de um astrofísico que volta ao Brasil.[20]

Em 2006, apresentou um bloco no programa dominical Fantástico, da Rede Globo, chamado "Poeira das Estrelas".[21] A série em muito lembra a série Cosmos, de Carl Sagan, com episódios abordando temas científicos e mantendo o foco na astronomia e na origem da vida. A série inspirou um livro homônimo publicado no mesmo ano.[22] Dois anos depois, em 2008, também no Fantástico, apresentou outra série de conteúdo científico: "Mundos Invisíveis",[23] onde explorou a história da física e da química, da alquimia à física de partículas elementares. Em 2010, narrou o documentário Como Funciona o Universo,[24] exibido pelo Discovery Channel.

Gleiser em 2015.

Ciência e religião

[editar | editar código-fonte]

Certamente recorrentes em seus trabalhos os debates entre as visões de mundo religiosas e científicas,[10][14] Marcelo Gleiser é contudo adepto declarado do naturalismo:

Para mim, não há absolutamente nenhuma dúvida de que o sobrenatural é completamente incompatível com uma visão científica do mundo, visão que costumo defender arduamente.
[25]
"... A mecânica universal não precisa de Deus! As pessoas podem precisar de Deus! São duas coisas completamente diferentes!"
[11]

e declara-se agnóstico especificamente "... um desses ateus liberais que Dawkins critica"; posicionamentos que certamente transparecem em suas obras também de forma implícita. Ao contrário dos assim denominados ateus radicais, que veem uma guerra declarada entre ciência e religião e nela militam, Gleiser reconhece - embora defensor do ateísmo - o papel que a fé desempenhou e desempenha nos contextos sociocultural, histórico e de definição do ser humano,[26] posicionando-se contra o radicalismo tanto religioso quanto antirreligioso. Em suas palavras:

Se sou ateu; se fico transtornado quando vejo a infiltração de grupos religiosos extremistas nas escolas, querendo mudar o currículo, tratando a ciência em pé de igualdade com a Bíblia; se concordo que o extremismo religioso é um dos grandes males do mundo; se batalho contra a disseminação de crenças anticientíficas absurdas como o design inteligente e o criacionismo na mídia; por que, então, critico o ateísmo radical de Dawkins? Porque não acredito em extremismos e intolerância. ... É essa crença ignorante que deve ser combatida; ... É a hipocrisia usada sob a bandeira da fé que deve ser combatida, não a em si.
[25]

Em novembro de 2016, No programa Canal Livre da Rede Bandeirantes de Televisão, Gleiser declarou-se agnóstico - não especificando o tipo, mas declarou ser a posição mais compatível com o método científico. O que não pode ser uma posição cientificista, pois numa entrevista a fundação Na pratica, ele disse:[27]

"A ciência é obviamente nosso melhor modo de se explorar e entender o mundo, mas não é o único, e nem é ilimitado".

Também criticou o ateísmo por ser só uma outra forma de fé cega, pois não tem provas para seu dogma da inexistência de Deus - ainda no programa Canal Livre.[28]

Gleiser também declara-se crítico das posturas perfeccionistas do universo,[19] criticando fortemente a busca da comunidade de físicos pela "teoria do tudo".[29] Para Gleiser o Universo é repleto de imperfeições, e nele não se pode identificar, baseado em nossa tecnologia limitada, uma lei única que reja toda a natureza, postura que o torna crítico direto dos físicos que a buscam na tentativa de estabelecer qualquer "teoria final". Para Gleiser, tais cientistas deveriam ter uma maior "autocrítica":

Nós conhecemos o mundo por causa de nossos instrumentos... O problema é que toda máquina tem uma precisão limitada. É impossível criar uma teoria final porque nunca vamos saber tudo. Temos de aprender a ser humildes com relação a nosso conhecimento de mundo, que sempre será limitado.
[30]

Marcelo Gleiser vive com a família no estado de Nova Hampshire, nos EUA. Além de dar aulas na universidade, realiza palestras e também leciona em cruzeiros com "caçadores de eclipses". Já viajou de Zanzibar a Madagáscar e pelo Mar Negro. Nessas viagens aproveita para praticar mergulho.

Possui como hobby a pesca com isca artificial (fly fishing), que pratica na cidade onde mora, Hanover. Lá, além da pesca, gosta de praticar alpinismo. Mantinha amizade com o escritor norte-americano Oliver Sacks, a quem fazia visitas em Nova Iorque. Também é amigo de Roald Hoffmann, ganhador do prêmio Nobel de Química de 1981. Roald já desfilou com Gleiser pela escola de samba Unidos da Tijuca, no carnaval de 2004.[31]

  • A Dança do Universo (1997)
  • Retalhos Cósmicos (1999)
  • O fim da Terra e do Céu (2001)
  • Micro Macro (2005)
  • A Harmonia do Mundo (2006)
  • Cartas A Um Jovem Cientista: o Universo, A Vida e Outras Paixões (2007)
  • Micro Macro 2 (2007)
  • Criação Imperfeita: Cosmo, Vida e o Código Oculto da Natureza (2010)
  • A Ilha do Conhecimento: Os Limites da Ciência e A Busca Por Sentido (2014)
  • A Simples Beleza do Inesperado (2016)
  • O Caldeirão Azul (2019)

Artigos científicos selecionados

[editar | editar código-fonte]
  • "An Analytical Characterization of Oscillons: Their Energy, Radius, Frequency, and Lifetime", with David Sicilia, Phys. Rev. Lett. 101, 011602 (2008).
  • "A Class of Nonperturbative Configurations in Abelian-Higgs Models: Complexity from Dynamical Symmetry Breaking", com Joel Thorarinson, Physical Review D 79, 025016 (2009).
  • "An Extended Model for the Evolution of Prebiotic Homochirality: A Bottom-Up Approach to the Origin of Life", com Sara Walker, Orig. Life Evol. Biosph. 38, 293-315 (2008).
  • "Punctuated Chirality", with Joel Thorarinson and Sara I. Walker, Orig. Life Evol. Biosph. 38, 499-508 (2008).
  • "Long-lived Oscillons from Asymmetric Bubbles," com A. Adib e C. A. S. Almeida, Phys. Rev. D66 (2002) 085011.
  • "Gauged Fermionic Q-Balls," com T. S. Levi, Phys. Rev. D66 (2002) 087701.
  • "Nonequilibrium Precursor Model for the Onset of Percolation in a Two-Phase System," com Rafael Howell e Rudnei Ramos, Phys. Rev. E65 (2002) 036113.
  • "Anisotropic Stars: Exact Solutions," com Krsna Dev, Gen. Rel. Grav. 24 (2002) 1793.
  • "Bubbling the False Vacuum Away", com Barrett Rogers e Joel Thorarinson, Phys. Rev. D 77, 023513 (2008).

Referências

  1. Folha de S.Paulo - Colunistas - Marcelo Gleiser. Contém uma lista de colunas recentes.
  2. «Físico e astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser é o vencedor do Prêmio Templeton 2019». 19 de março de 2019 
  3. «Físico brasileiro Marcelo Gleiser vence prêmio Templeton, o 'Nobel da espiritualidade'autor=». O Globo. 19 de março de 2019. Consultado em 19 de março de 2019 
  4. B, Paulo; Mar 2019 - 15h48, Arra 19. «Físico Marcelo Gleiser é o primeiro brasileiro a vencer o prêmio Templeton». VEJA.com. Consultado em 2 de novembro de 2019 
  5. a b «Marcelo Gleiser - Fact Sheet» (em inglês). Templeton Prize. Consultado em 24 de junho de 2020 
  6. «A harmonia (da Copa) do mundo». Folha de S.Paulo. 27 de junho de 2010 
  7. «O planeta Gleiser». Revista Época. Consultado em 26 de junho de 2020 
  8. «O físico Marcelo Gleiser critica tentativas de minar credibilidade da ciência». Valor Econômico. Consultado em 26 de junho de 2020 
  9. Marcelo Gleiser - Curriculum Vitae junto ao "Dartmouth College".
  10. a b Geliser, Marcelo - A Dança do Universo - Editora Companhia de Bolso - ISBN 853590848X ; ISBN 9788535908480 - 2006
  11. a b c Marcelo Gleiser em entrevista ao "Canal Livre", exibida pela Rede Record de televisão em 22/07/12". Para a citação, acompanhe a partir de ~5:45 minutos, parte 5. Entrevista também disponível na maior videoteca da rede, em íntegra, sob título: "Entrevista completa com Marcelo Gleiser na Band (dia 22/07/12)". Citação: ~ aos 1:40 minutos para o fim da entrevista ; ~ aos 54:10 minutos corridos. Ambos os vídeos acessados às 22:30 horas de 30 de janeiro de 2013.
  12. Marcelo Gleiser estreia coluna na Folha
  13. Folha de S.Paulo, colunistas, Marcelo Gleiser
  14. a b Gleiser, Marcelo - O Fim da Terra e do Céu; O Apocalipse na Ciência e na Religião - Editora Cia. das Letras - ISBN 8535901523 - 2001
  15. Livro de Marcelo Gleiser reúne textos publicados no caderno "Mais!
  16. Gleiser, Marcelo - Micro Macro; Reflexões sobre o Homem, o Tempo e o Espaço - Publifolha - 2005 - ISBN 978-85-7402-606-0
  17. Gleiser, Marcelo - Micro Macro 2 - Mias Reflexões sobre o Homem, o Tempo e o Espaço - Publifolha - 2007 - ISBN 978-85-7402-819-4 - ISBN 978-85-7402-819-4
  18. Gleiser, Marcelo - A Harmonia do Mundo - Editora Cia. das Letras - 2006 - ISBN 8535908897
  19. a b Gleiser, Marcelo - Criação Imperfeita — Cosmo, Vida e o Código Oculto da Natureza - Editora Record - 368 páginas
  20. AdoroCinema, O Maior Amor do Mundo, consultado em 18 de março de 2024 
  21. Reportagem com opinião sobre a série Poeira nas Estrelas - Fantástico - Rede Globo de Televisão - Acessado às 19:50 horas (UTC) de 30 de janeiro de 2013.
  22. Glieser, Marcelo - Poeira das Estrelas - Editora Globo - 2006 - ISBN 8525042684
  23. Mundos Invisíveis - Fantástico - Rede Globo de Televisão - Acessado às 19:55 horas (UTC) de 30 de janeiro de 2013.
  24. Como funciona o Universo - Página oficial[ligação inativa] DiscoveryBrasil - Acesado às 20:20 horas (UTC) em 30 de janeiro de 2013.
  25. a b Gleiser, Marcelo (3 de dezembro de 2006). «Ateísmo (menos) radical». Folha de S.Paulo. Consultado em 30 de janeiro de 2013 
  26. Acreditar é humano - Artigo de Marcelo Gleiser na Folha de S.Paulo de domingo, 11 de dezembro de 2011
  27. «Ciência como parceira no nosso processo de autoconhecimento». Na Prática. 10 de novembro de 2016. Consultado em 22 de fevereiro de 2019 
  28. «Vida fora da Terra – Parte 3». Canal Livre. 7 de novembro de 2016. Consultado em 19 de maio de 2017 
  29. Teoria de tudo: fato ou fantasia? - Artigo de autoria de Marcelo Gleiser publicado na Folha de S.Paulo de domingo, 13 de março de 2011
  30. Revista Galileu - Universo em desencanto - EMI129197-17933,00
  31. «Lugar de cientista é na avenida». Consultado em 18 de março de 2024 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]
Wikiquote
Wikiquote
O Wikiquote possui citações de ou sobre: Marcelo Gleiser