Ronald Daus

Ronald Daus
Ronald Daus
Nascimento 12 de maio de 1943 (81 anos)
Hanôver
Nacionalidade Alemã
Ocupação Historiador, escritor, investigador, professor universitário

Ronald Daus (Hanôver, 12 de maio de 1943) é um professor universitário alemão de Estudos Românicos e de Estudos Culturais na Universidade Livre de Berlim[1] que se dedica a investigação multi-disciplinar.

É investigador na área "Neue Romania", secção de Estudos Românicos (línguas românicas) dessa universidade, há mais de quarenta anos, onde se especializou nos contactos entre culturas europeias e extra-europeias. Foi professor convidado no Colégio de Mexico (Cidade do México) durante dois anos e, durante um ano, no Instituto de Estudos Asiáticos do Sudeste (Institute of Southeast Asian Studies) de Manila , Universidade de Manila, e ainda na Universidade do Pacífico de Tahiti. Inúmeras viagens de estudo levaram-no a locais da Europa, Rússia, América Latina, América Central, EUA, Canadá, Ásia, África, Austrália e Oceania.

É membro do grupo de pesquisa "Neue Romania", que investiga os produtos resultantes dos contactos das culturas de origem românica que se expandiram além-mar pelo colonialismo, criando, com outros povos, novas variantes linguísticas e culturais. As línguas implicadas nesses contactos pertencem a estas famílias: a Lusofonia, no Brasil e África, a Hispanofonia, maioritariamente na América Latina e nos EUA, a Francofonia, em vinte países africanos, Caraíbas, Canadá e América Latina.

Povos românicos como os portugueses são por isso considerados os inventores do colonialismo. Focando cidades extra-europeias sobretudo no hemisfério sul,[2] introduzindo novos objectos de estudo na ciência tradicional de Românicas, inovando em etnologia e sociologia nas áreas urbanas de povoamento humano e de arquitectura, Daus é responsável por «novas aproximações que suplantam velhas teorias»,[3] contribuindo com isso para um melhor entendimento do mundo contemporâneo.

Habilitações

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Estudou línguas românicas e filologia do (português, espanhol, francês, italiano) e, como disciplina relacionada, orientalismo (arábico, malaio, tagalo) em Hamburgo, Lisboa, Rio de Janeiro e Kiel.[4] Em 1967 obteve um doutorado com uma tese intitulada O ciclo épico dos cangaceiros na poesia popular do nordeste do Brasil[5] (Der epische Zyklus der Cangaceiros in der Volkspoesie Nordostbrasiliens). Em 1970 redigiu um trabalho sobre Ramón Gómez de la Serna, obtendo o grau de Professor Universitário na Universidade Livre de Berlim, com a idade de vinte e sete anos. Nela se destacou como conferencista e investigador até à sua reforma, em 2008.[6]

A Idade das Descobertas (Era dos Descobrimentos) junto com o colonialismo, junto com escravos capturados na África, com mercadores portugueses ambiciosos, traria consigo para o Brasil versos populares da tradição portuguesa que aí se encarnaram, nos homens e nas memórias.

Homens e memórias percorreriam extensas planícies, até chegarem aos locais mais remotos das terras conquistadas. Bandidos como o Lampião e outros cangaceiros veiculariam essas tradições. Uma tese pioneira de Daus, O ciclo épico dos cangaceiros na poesia popular do nordeste[7] seguiria seus passos e explicaria como e porquê eles se tornariam heróis nacionais, dando origem a uma nova espécie de literatura épica. O Nordeste brasileiro seria o primeiro lugar onde encontraria testemunhos de irresponsáveis paródias da história humana[8] e uma América Latina revoltada.[9][10]

Por outro lado, revelava a existência, no lado de lá do mundo, lá longe na Malásia, de comunidades extra-europeias portuguesas, que contribuiriam para o «desenvolvimento e manutenção de práticas linguísticas peculiares»,[11] ao mesmo tempo que também se preocupava com um problema trívio que ousou confrontar: o ódio ao colonialismo.[12]

Na expansão portuguesa, a interação de grupos vivendo em terras do ultramar, gera comunidades “euro-americnas” e ”euroasiáticas”, espalhadas por todo o mundo em pequenas e grandes populações. Grandes cidades extra-europeias abrigam grandes concentrações de migrantes europeus, entre outros. É por isso que merecem atenção especial por quem se ocupa com o papel da influência românica no mundo, sobretudo na medida em que deu origem a típicas "megalópoles", megacidades ou cidades globais refletindo modelos originais, distorcendo-os em versões locais. Por vezes, fora da norma, forçados pelo crescimento das populações ou pela sua promoção, grandes cidades novas tornaram-se cidades globais atípicas : Tijuana, Cancún, Dubai. Certas antigas cidades globais, orgulhosas da sua influência, citando-se a si próprias, crescem como “relatos mono-maníacos”: Berlim, Paris, Cidade do México, Xangai. Expressão de novos sentidos, a busca do prazer em certas cidades globais exóticas contrasta com a afectada mise-en-scène de outras, simbólicas e mais antigas, e isso é revelador. E além disso, há grandes cidades europeias em risco de “terceiromunidalização”, cercadas de bairros de lata suburbanos.

Daus concebe entretanto uma trilogia com o título genérico de Novas imagens da cidade – novos sentimentos ("Neue Stadtbilder - Neue Gefühle”). No primeiro volume, a fim de melhor explicar o colonialismo europeu, analisa as origens das mega-metrópoles da América, Ásia, África e Oceânia, cidades construídas pedra sobre pedra, citando como exemplo Luanda, capital de Angola, uma das cidades hoje em dia mais caras do mundo, que se projetará no futuro como síntese histórica. No segundo, procura delinear um novo entendimento das maiores cidades e desenvolve o conceito de "package-city", cidade-embrulho, dando Berlim como um curioso exemplo. No terceiro, segue a progressão intelectual e artística da ideia de mega-metrópolole para oriente, até à euro-Ásia: Berlim, Varsóvia, Minsk, Moscovo, Bisqueque, Almati e Astana, “estações” ou marcos desse avanço. Como exemplos inspiradores de povoamento extremo em grandes cidades do oriente, aponta Viena, Istambul, Teerão, Bombaim, Chengdu, Pequim, Joanesburgo, Cidade do Cabo, Manaus, Caracas.[13]

Daus ocupa-se durante mais de uma década descrevendo e estudando tais fenómenos, desde que reportou a existência de um "euro-fundamento" em grandes cidades extra-europeias (1995). Desvela sinais perigosos de colonialismo extremo na zona do Mar Vermelho no final do século XX e fala de “culturas de praia” opondo-se a "culturas de cidade" em metrópoles mediterrânicas no início do século XXI. Novas construções urbanas, que exprimem novos sentidos, tornam-se expressão de novo caos na primeira década do século.

Lista parcial, entre várias outras publicações científicas:

  • O ciclo épico dos cangaceiros na poesia popular do nordeste (Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro 1982[14])
  • A revoltada América Latina. Auto-retrato de um continente (Zorniges Lateinamerika. Selbstdarstellung eines Kontinent, Diederichs Verlag, Berlim 1973)
  • A descoberta do colonialismo. Os portugueses na Ásia (Die Erfindung des Kolonialismus. Die Portugiesen in Asie, Peter Hammer Verlag, Wuppertal, 1983)
  • Manila – ensaio sobre uma cidade global (Manila – Essay über die Karriere einer Weltstadt, Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag,[15] Berlim 1987)
  • Comunidades portuguesas euro-asiáticas na Ásia do Sudeste[16] (Publisher: Institute of Southeast Asian Studies[17])
  • Grandes cidades da Europa. O fundamento europeu (Großstädte Außereuropas. Das europäische Fundament), Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, Berlim, vol. 1, 1990)
  • Grandes cidades da Europa. A construção das nacionalidades (Großstädte Außereuropas. Die Konstruktion des Nationalen, Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, Berlim, vol. 2, 1995)
  • Grandes cidades da Europa. A busca da sobrevivência e o sofrimento dos homens (Großstädte Außereuropas. Lebenslust und Menschenleid, Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, Berlim, vol. 3, 1997)
  • Colonialismo extremo. História do Mar Vermelho. Imagens do Pacífico (Kolonialismus extrem. Geschichten vom Roten Meer - Bilder vom Pazifik, Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, Berlim, 1998)
  • Culturas de praia e culturas urbanas. As metrópoles do Mediterrâneo no início do século XXI (Strandkultur statt Stadtkultur. Die Metropolen des Mittelmeers zu Beginn des 21. Jahrhunderts, Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, Berlim, 2000)
  • Subúrbios – zonas de liberdade das cidades europeias e extra-europeias (Banlieue – Freiräume in europäischen und außereuropäischen Großstädten. Europa: Paris, Berlim, Barcelona, Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, Berlim, 2002)
  • Subúrbios – zonas de liberdade das cidades europeias e extra-europeias. As grandes cidades da América Latina: Rio de Janeiro, África: Douala, Ásia: Bangcoque (Banlieue – Freiräume in europäischen und außereuropäischen Großstädten. Lateinamerika: Rio de Janeiro, Afrika: Douala, Asien: Bangkok, Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, Berlim, 2003)
  • La Guajira. Como uma terra selvagem se torna notícia (La Guajira. Wie ein wildes Land erzählt wird, Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, Berlim, 2006)
  • Cidades globais. Entre a norma e o capricho (Weltstädte. Von der Norm zur Laune, Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, Berlin, Weltstädte - Reihe, vol. 1, 2006, 2. 2009)
  • Cidades globais atípicas. A busca do prazer no exótico: Tijuana, Cancún, Dubai (Atypische Weltstädte. Die Verlagerung des Vergnügens ins Exotische: Tijuana, Cancún, Dubai, Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, Berlin – Weltstädte - Reihe, vol. 2, 2007, 2009)
  • 'A encenação das cidades globais. Relatos mono- maníacos de Berlim, Paris, Cidade do México e Xangai (Weltstadtinszenierungen. Monomanische Berichte aus Berlin, Paris, Mexiko-Stadt und Schanghai, Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, Berlin, - Weltstädte - Reihe, vol. 3, 2008)
  • Novas imagens da cidade, novos sentidos. Edifícios europeus como modelos globais (Neue Stadtbilder - Neue Gefühle. Europäische Stadtanlagen als Weltmodell, Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, Berlin, Stadtbilder-Reihe, vol. 1, 2011
  • Novas imagens da cidade, novos sentidos. Berlim, uma "cidade-embrulho" (Neue Stadtbilder – Neue Gefühle. Die Package-City: Berlin, Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, Berlin, Stadtbilder - Reihe, vol. 2, 2012)
  • Novas imagens da cidade, novos sentidos. O caos permanente (Neue Stadtbilder – Neue Gefühle. Das permanente Chaos, Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, Berlin, Stadtbilder -Reihe, vol. 3, 2013)

Publicações em :

  • Neue Romania, Universidade Livre de Berlim (1982/2008)
  • Kosmopolis – Revista Intercultural de Berlim (Interkulturelle Zeitschrift aus Berlin), Babylon Metropolis Studies, Ursula Opitz Verlag, desde 1997

Referências

  1. Free University of Berlin
  2. Cidades globais nas sociedades de informação Arquivado em 20 de junho de 2012, no Wayback Machine. – artigo da Universidade de Brasília, UNESCO doc
  3. Les villes globales dans les sociétés de l’information – artigo de Barbara Freitag, Revue Diogène, 2002-1 pp 81, cit. CAIRN – Ver no artigo: NOUVELLES APPROCHES POUR DÉPASSER LES LIMITES DES THÉORIES ANTÉRIEURES
  4. Ronald Daus - Profile at Romanistik data base Arquivado em 18 de abril de 2012, no Wayback Machine. (de)
  5. Entre deus e o diabo – artigo em Ciência Viva, 15/05/2013
  6. Ronald Daus Arquivado em 13 de janeiro de 2013, no Wayback Machine. – Perfil na Universidade Livre de Berlim
  7. Der epische Zyklus der Cangaceiros in der Volkspoesie Nordostbrasiliens, Colloquium Berlag, Berlin 1969; O ciclo épico dos cangaceiros na poesia popular do nordeste, Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro 1982
  8. The oligarchical limitations of social banditry in Brazil - the case of the “good” thief António Silvino
  9. Jorge Amado como escritor "enagagé" (Jorge Amado als engagierter Schriftsteller Dortmund, Universität Münster, Sozialforschungsstelle; 1968)
  10. Angry Latin America. Self-portrait of a continent (Zorniges Lateinamerika. Selbstdarstellung eines Kontinent, Diederichs Verlag, Berlin 1973)
  11. The Politics of Portuguese Euro-Asian Identity – excerpt from Google books (Modern Dreams, an inquiry into power, cultural production and the city space in contemporary urban Penang, Malayasia, by Beng-Lan Goh, p 125 SEAP 2002
  12. O Ódio ao Colonialismo (Entstehung der Kolonialismus, Wuppertal 1983)
  13. Babylon Metropolis Studies
  14. WorldCat
  15. Babylon Metropolis Studies - Publisher (de)
  16. Portuguese Eurasian communities in Southeast Asia - excerto em ingles no ’’Google Books’’, publicado pelo Instituto de Estudos Asiáticos do Sudeste , 1989
  17. «ISEAS». Consultado em 13 de março de 2012. Arquivado do original em 10 de julho de 2012 

Artigos relacionados

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