Irmão Vicente Cañas Costa, SJ (Albacete, 22 de outubro de 1939 — Juína, 7 de abril de 1987), também conhecido como Kiwxi, foi um missionário jesuíta espanhol, naturalizado brasileiro.[1][2][3]
Vicente Cañas ingressou no Noviciado da Companhia de Jesus, com 21 anos, no dia 21 de abril de 1961[1]. Após o noviciado, já no juniorado, manifesta ao padre provincial de Aragon sua vocação missionária. No dia 3 de outubro de 1965, na festa de São Francisco Xavier, o Irmão Vicente recebe o crucifixo de missionário no Castelo de Xavier, em Navarra, Espanha. Chega ao Rio de Janeiro, com outros irmãos jesuítas, no dia 19 de janeiro de 1966.
Em 1969, Ir. Vicente e o Pe. Antônio Iasi, a pedido da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), foram fazer atendimento de saúde de Tapaiúnas que ainda restavam dos contatos catastróficos com as frentes de expansão no vale do rio Arinos. O Ir. Vicente Cañas manteve este trabalho até abril de 1970 e conseguiu que sobrevivessem os 40 Tapaiúnas que encontrou.[3]
Os jesuítas Vicente Cañas e Tomás de Aquino Lisboa, em 13 de junho de 1971, mantiveram os primeiros contatos pacíficos com os Myky.[3][4][5] Os dois missionários são fundadores do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).[6]
Em 1974, Vicente Cañas e Tomás A. Lisboa estabeleceram os primeiros contatos com os Enawenê-Nawê, no estado de Mato Grosso[7], povo ao qual Cañas passa a se dedicar no final de 1975. Cañas começou a residir entre eles em 1977, trabalhando pela preservação de seu território, com demarcação da Terra Indígena Enawenê-Nawê e por ações de saúde.
Recebeu, em 1977, dos índios Myky, o nome de Kiwxi.[3]
O Irmão Vicente Cañas foi assassinado em abril de 1987, presumivelmente no dia 6 ou 7, de acordo com o momento em que seu relógio de pulso parou[6]. Ele estava com óculos, dentes e crânio quebrados, perfuração na parte superior do abdômen para atingir o coração e os órgãos genitais cortados ou arrancados. Seu corpo mumificado e preservado foi encontrado quarenta dias depois, próximo ao barraco que usava como pouso, no dia 16 de maio de 1987.[1] O primeiro julgamento sobre o caso só aconteceu 19 anos depois, em 2006, e os acusados foram absolvidos.[6] Um novo julgamento aconteceu em 29 de novembro de 2017, e o único dos acusados de organizar o assassinato ainda vivo, Ronaldo Antônio Osmar, delegado aposentado da Polícia Civil de Juína, localidade onde ocorreu o crime, foi condenado a 14 anos e 3 meses de reclusão em regime inicial fechado.[8] A condenação foi confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) em 2023.[9]
No dia 21 de maio de 1987, de manhã cedo, foi enterrado conforme costume indígena, em sua rede. Indígenas Enawenê-Nawê, Rikbaktsa e Myky, junto com missionários deram-lhe sepultura.[1][10]