Collybia cirrhata | |||||||||||||
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Classificação científica | |||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||
Collybia cirrhata (Schumach.) Quél. (1879) | |||||||||||||
Sinónimos[1][2] | |||||||||||||
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Collybia cirrhata é uma espécie de fungo pertencente à família Tricholomataceae, da ordem de Agaricales, descrita pela primeira vez na literatura científica em 1786, mas que só foi nomeada em 1803. Encontrada na Europa, no norte da Eurásia e na América do Norte, a espécie situa-se em habitats temperados, boreais, alpinos ou árticos. Assim como todas as espécies remanescentes do gênero, C. cirrhata é sapróbica, que se alimenta de matéria orgânica de outros cogumelos em decomposição. Seus corpos frutíferos são pequenos com um píleo convexo achatado e esbranquiçado, podendo medir até onze milímetros de diâmetro. Suas lamelas são brancas e estreitas, enquanto seu estipe é esbranquiçado e delgado, podendo chegar até 25 milímetros de comprimento e 2 milímetros de espessura. C. cirrhata distingue-se das demais espécies de seu gênero pela ausência de um esclerócio na base do estipe. O cogumelo, apesar de não ser venenoso, não é considerado comestível em razão do seu minúsculo tamanho.
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Filogenia e relações de D. racemosa e fungos relacionados baseados em sequências de ADN ribossômico.[3] |
August Johann Georg Karl Batsch foi o responsável pela primeira descrição desta espécie na literatura científica em 1786, sob o nome de Agaricus amanitae;[4] um de seus sinônimos,[2] Agaricus amanitae subsp. cirrhatus foi proposto por Christian Hendrik Persoon em 1980.[5] Posteriormente, uma combinação baseada neste nome, Collybia amanitae, foi publicada por Hanns Kreisel em 1987.[6] No entanto, Kreisel observou que a combinação é "ined",[7] indicando que ele não acreditava que o nome fosse validamente publicado, de acordo com o artigo 34.1 do Código Internacional de Nomenclatura Botânica, que afirma: "Um nome não é validamente publicado... quando não é aceito pelo autor na publicação original."[8]
O primeiro nome correto foi veiculado em 1803 por Heinrich Christian Friedrich Schumacher, que chamou a espécie de Agaricus cirrhatus.[9] Setenta e seis anos depois, o micologista francês Lucien Quélet transferiu a espécie para o gênero Collybia,[10] resultando no nome binomial pelo qual é atualmente conhecida. Em 1952, a espécie foi transferida para o gênero Microcollybia por Georges Métrod;[11] contudo, essa modificação foi considerada nomen nudum e, portanto, inválida segundo o código de nomenclaturas. Como consequência, ela foi novamente transferida para Microcollybia por Lennox em 1979.[12] Este último gênero, por sua vez, já foi envolto em Collybia.[13]
A filogenética molecular mostrou que C. cirrhata forma um clado monofilético com as duas espécies restantes de Collybia. Como C. cirrhata é a única das três espécies de seu gênero que não possuem escleródios, foi sugerido que esse traço de caráter é uma anapomorfia - isto é, característica única daquela espécie dentro de um clado.[3]
O epíteto específico é derivado do latim cirrata, que significa "enrolada".[14] Charles Horton Peck chamou a espécie de "Collybia de franjas enraizadas".[15] No Reino Unido, é comumente conhecido como "shanklet combinado".[16]
O píleo é convexo quando jovem e, posteriormente, torna-se convexo a achatado ou ligeiramente deprimido no centro, atingindo um diâmetro de 3 a 11 milímetros. A margem do píleo começa enrolada ou curvada para dentro, mas se endireita conforme o amadurecimento do fungo; a superfície do mesmo varia de seca a úmida, lisa a coberta com finos cabelos esbranquiçados e contém sulcos radiais translúcidos na margem. O fungo também apresenta sub-higrofaneidade, obtendo uma coloração laranja-acinzentada quando aguado ou na fase idosa, e geralmente é branco com um fraco rubor rosado quando fresco. A carne, por sua vez, é esbranquiçada, muito fina e não tem sabor ou odor característico. As lamelas são adnatas a arqueadas ligeiramente (curvadas na forma de um arco) com um dente (o que significa que as lamelas se curvam para se juntarem ao estipe, mas então, muito próximo deste, a borda das lamelas se curva novamente).[17] Existem entre 12 e 20 lamelas que se estendem completamente desde a borda do píleo até o estipe, e de três a cinco camadas de lamélulas (lamelas mais curtas que não se estendem completamente até o estipe).[7] Em geral, elas são finas, estreitas a moderadamente largas e com uma coloração branca a rosada. As bordas branquiais são uniformes e de mesma cor das faces.[18]
O comprimento do estipe varia entre 8 a 25 milímetros, enquanto sua espessura pode atingir até 2 milímetros, sendo equivalente ao longo de toda a largura, ligeiramente ampliada para baixo. Ele também é flexível e filamentoso, mas não frágil, e apresenta uma superfície seca, esbranquiçada a laranja-acinzentada e que, às vezes, pode apresentar minúsculos pelos na parte superior que se tornam mais grossos perto da base. Esta, por sua vez, frequentemente possui cordões semelhantes a rizomorfos ou copiosos micélios esbranquiçados. Ao contrário das outras duas espécies do gênero, o estipe não se origina de um esclerócio; este, à medida que amadurece, torna-se oco.[18] Embora não seja considerado venenoso, o fungo é muito pequeno e insubstancial para ser considerado comestível.[17]
Em depósitos, os esporos mostram-se brancos.[7] Em perfil, por sua vez, os esporos individuais são elipsoides em forma de lágrima, enquanto que na face ou na vista traseira eles são obovoides a elipsoides ou aproximadamente cilíndricos, com dimensões de 4,8 a 6,4 por 2 a 2,8 (às vezes até 3,5) micrômetros. Os esporos são lisos, inamiloides e acianófilos (não reativos à coloração com reagente de Melzer e azul de metila, respectivamente). Os basídios (células portadoras de esporos do himênio) têm aproximadamente a forma de um taco, medem 17,5 a 21 por 4,8 a 5,6 micrômetros e contêm quatro esporos. As lamelas não possuem células cistídias. O tecido branquial, por sua vez, é feito de hifas entrelaçadas a aproximadamente paralelas e inamiloides, que medem 2,8 a 8,4 micrômetros de diâmetro e são lisas. O tecido do píleo também é feito de hifas entrelaçadas sob o centro do píleo, mas radialmente orientadas sobre as lamelas; também são inamiloides e lisas, mas medem 3,5 a 8,4 micrômetros de diâmetro e possuem paredes irregularmente espessadas. A cutícula do píleo é ixocútis - uma camada gelatinizada de hifas que fica paralela à superfície do píleo. As hifas que compreendem esta camada têm 2,8 a 6,4 micrômetros de diâmetro, são lisas e de paredes finas. Elas são cobertas com protuberâncias dispersas e curtas. A cutícula do estipe é uma camada de hifas paralelas e orientadas verticalmente; as hifas desta camada medem 3,5 a 4,2 micrômetros e são lisas, de paredes levemente espessas e de coloração marrom-amarelada pálida em solução alcalina. Elas dão origem a uma cobertura de caulocistídeos (cistídios no caule/estipe) emaranhados e ramificados, que possuem múltiplos septos. Os caulocistídeos têm de 2,8 a 4,8 micrômetros de diâmetro, são lisos, com paredes finas e possuem a forma de cilindros contorcidos. Fíbulas estão presentes nas hifas de todos os tecidos.[18]
Collybia cirrhata pode ser confundida com os membros remanescentes de Collybia, que têm uma aparência externa similar. No entanto, C. tuberosa distingue-se pela sua esclerótica castanha-avermelhada escura que se assemelha a sementes de maçã, enquanto C. cookei tem escleróticas enrugadas, muitas vezes de forma irregular, de cor amarelo pálido a laranja.[19] Outros cogumelos semelhantes incluem Baeospora myosura e espécies do gênero Strobilurus, mas estas crescem apenas em pinhas.[20]
Assim como todas as espécies remanescentes do gênero, C. cirrhata é sapróbica, e tipicamente encontrada nos restos decaídos ou enegrecidos de outros cogumelos;[19] ocasionalmente os corpos frutíferos podem ser encontrados crescendo em musgo ou solo sem qualquer conexão aparente com o processo de putrefação,[21] embora essas observações possam representar casos em que o tecido hospedeiro remanescente - possivelmente de uma estação anterior - decaiu de tal forma que fragmentos permanecem enterrados no substrato.[3] Seus hospedeiros conhecidos incluem Lactarius, Russula, Meripilus giganteus e Bovista dermoxantha.[7][22]
Conhecida a partir de habitats temperados, boreais e alpinos ou árticos, o fungo possui uma distribuição difundida na Europa,[23] incluindo Bulgária,[24] Dinamarca,[25] Alemanha,[26] Grécia,[21] Letônia,[27] Escandinávia,[28] Eslováquia,[29] Suíça,[22] Turquia[30] e Reino Unido.[31] Também é comum nas regiões montanhosas boreais da América do Norte e na Groenlândia[19][22] e foi relatada na Coreia e na prefeitura japonesa de Hokkaido.[32]