É considerado o mais antissemita intelectual brasileiro,[2] cujas ideias se aproximavam das dos teóricos nazistas.[3][4] Barroso escreveu que não concordava com o antissemitismo de Hitler e justificou seus ataques aos judeus com um suposto combate ao racismo.[5][6]
Filho de Antônio Filinto Barroso e da alemã Ana Guilhermina Dodt Barroso,[8] a qual faleceu apenas 7 dias depois de seu nascimento, era fortalezense. Nasceu na rua Formosa (atual Rua Barão do Rio Branco), na casa número 32.[9]
Por causa da morte de sua mãe, a familia se separou e acabou sendo criado por suas duas tias. Essas eram cultas, e já lhe despertaram o interesse por história.[9]
Foi redator do Jornal do Ceará (1908-1909) e do Jornal do Commercio (1911-1913); professor da Escola de Menores, da Polícia do Distrito Federal (1910-1912); secretário da Superintendência da Defesa da Borracha, no Rio de Janeiro (1913); secretário do Interior e da Justiça do Ceará (1914); diretor da revista Fon-Fon (a partir de 1916); da Delegação Brasileira à Conferência da Paz de Versailles (1918-1919); inspetor escolar do Distrito Federal (1919 a 1922); diretor do Museu Histórico Nacional (a partir de 1922); secretário geral da Junta de Jurisconsultos Americanos (1927); representou o Brasil em várias missões diplomáticas, entre as quais a Comissão Internacional de Monumentos Históricos (criada pela Liga das Nações) e a Exposição Comemorativa dos Centenários de Portugal (1940-1941).[12][13][14]
Estreou na literatura aos vinte e três anos, usando o pseudônimo de João do Norte, com o livro Terra de Sol, ensaio sobre a natureza e os costumes do sertão cearense.[15] Além dos livros publicados, sua obra ficou dispersa em jornais e revistas de Fortaleza e do Rio de Janeiro, para os quais escreveu artigos, crônicas e contos, além de desenhos e caricaturas.[10][16] A vasta obra de Gustavo Barroso, de cento e vinte e oito livros, abrange história, folclore, ficção, biografias, memórias, política, arqueologia, museologia, economia, crítica e ensaio, além de dicionário e poesia.[17] Entre os pseudônimos utilizados por Gustavo estão João do Norte, Nautilus, Jotanne e Cláudio França.[18]
Com a criação do Museu Histórico Nacional, em 1922, pelo presidente Epitácio Pessoa,[19] Gustavo Barroso foi nomeado o seu primeiro diretor, ficando à frente da instituição até 1930, quando foi afastado do cargo pelo presidente Getúlio Vargas.[20] Entretanto, voltou à direção do museu em 1932, permanecendo nela até 1957, ano de sua morte.[21]
Gustavo Barroso foi membro da Ação Integralista Brasileira (AIB) e sublinhava que o Integralismo põe o interesse da nação acima de todos os interesses parciais ou partidários e se guia por uma doutrina, não por um programa.[22] Barroso tomou contato com o integralismo em 1933, quando presenciou um discurso de Plínio Salgado sobre o livre-arbítrio, o determinismo e o providencialismo à luz da Doutrina Integralista, no auditório da Associação dos Empregados do Comércio, no Rio de Janeiro.[23][24] Logo ao dar por findo o discurso, levantou-se e pediu ao orador um distintivo do movimento que ele havia fundado. Plínio Salgado entregou-lhe, perguntando ao homem qual seria seu nome. A plateia exclamou: "É Gustavo Barroso, Presidente da Academia Brasileira de Letras".[25]
Segundo Barroso, tornou-se antissemita logo após ingressar na Ação Integralista Brasileira, quando teve uma conversa profunda sobre a questão com Plínio Salgado. Até então, não tinha ainda uma "atitude espiritual" ou conhecimentos mais amplos sobre o judaísmo. Em seguida, leu a edição francesa do livro Os Protocolos dos Sábios de Sião, uma das mais impactantes obras de teorias conspiratórias antissemitas, que afirma a existência de uma conspiração judaica para conquistar o mundo. Barroso ainda não conhecia o trabalho, que lhe foi emprestado pelo integralista José Madeira de Freitas. Foi através dos seus estudos para a escrita do livro Brasil, Colônia de Banqueiros que se aprofundou no combate à questão judaica, "baseado na doutrina e na palavra de Plínio Salgado". Posteriormente, seria responsável por traduzir e comentar os Protocolos dos Sábios de Sião.[26][27] Entre 1933 e 1938, publicou 12 livros em defesa do Integralismo, além de um curso de história dado à Milícia Integralista. Embora não concordasse com o rumo dos acontecimentos a partir de 1937, continuou adepto à doutrina integralista.[28][29]
Há muitas divergências sobre o antissemitismo na obra de Barroso. Segundo Cícero João da Costa Filho, a maior parte dos historiadores entendem que o antissemitismo de Barroso é puramente moral. A bibliografia sobre o antissemitismo de Barroso, em geral, não o toma num sentido racista.[6] Segundo Barroso, "Hitler comete um erro, todavia, na sua campanha antijudaica. Ele combate os judeus em nome do racismo ariano".[5] Barroso dizia que o Integralismo poderia combater os judeus apenas "nesse caso, e só nesse caso": o de os judeus organizarem forças paralelas ao Estado, que entravam a ação deste e o levam a medidas favorecedoras de grupos políticos, econômicos e financeiros, ou de realizarem "propagandas subversivas" contra o "bem geral da Nação".[30]
Em seu livro História Secreta do Brasil, publicado em três volumes a partir de 1937, são narrados episódios como a participação por parte dos judeus em rituais de sacrifício no sertão baiano no século XIX até a sociedade secreta da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (chamada "Bucha").[31][32] Profundamente nacionalista, ele defendeu a integridade do Brasil contra dominação estrangeira e de grupos de banqueiros internacionais.[23][33]
Para se aprofundar na doutrina integralista, baseada no tomismo, Gustavo Barroso estudou de forma rigorosa a obra de Santo Tomás de Aquino, orientado pelo Padre Leonel Franca. Isso foi de grande importância para seu pensamento integralista e sua Fé Católica, que, a partir disso, tornou-se sólida.[34] O CardealManuel Gonçalves Cerejeira chega a afirmar que esse estudo integralista de Tomás de Aquino por Gustavo Barroso foi sua verdadeira conversão ao catolicismo.[35]
Sua atividade na Academia Brasileira de Letras também foi das mais relevantes. Em 1923, como tesoureiro da instituição, procedeu à adaptação do prédio do Petit Trianon, que o governo francês ofereceu ao governo brasileiro, para nele instalar-se a sede da Academia.[36] Exerceu alternadamente os cargos de tesoureiro, de segundo e primeiro secretário e secretário-geral, de 1923 a 1959; foi presidente da Academia em 1932, 1933, 1949 e 1950. Em 9 de janeiro de 1941 foi designado, juntamente com Afrânio Peixoto e Manuel Bandeira, para coordenar os estudos e pesquisas relativos ao folclore brasileiro.[37]
Gustavo faleceu aos 70 anos na cidade do Rio de Janeiro - então capital federal do Brasil - em 3 de dezembro de 1959.[41][42] Está enterrado no Cemitério São João Batista.[9]
Os Protocolos dos Sábios de Sião: Tradução do livro original, dos capítulos adicionais e do apêndice, edição, introdução, e notas de rodapé (1936);
A Maçonaria, Seita Judaica - Suas origens, sagacidade e finalidades anticristãs, de Isidore Bertrand: Tradução, introdução sobre A Maçonaria e o Brasil, notas de rodapé, e Apêndice sobre o Talmud (1938);
O Rio de Janeiro como ele é, de Carl Schlichthorst: Tradução, introdução e notas de rodapé (1943).
↑ abBarroso, Gustavo (1937). Judaísmo, maçonaria e comunismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. p. 25. Mais dia, menos dia, conforme seu inveterado costume, os judeus porão as manguinhas de fóra e, então, se verá quem tem razão. O que se passa entre nós passa-se mais ou menos em toda a parle, salvo na Alemanha, onde a nação está a par do problema. Na nossa opinião, Hitler comete um erro, todavia, na sua campanha anti-judaica. Êle combate os judeus em nome do racismo ariano. Ora, sendo o judeu o maior de todos os racistas, não é possível combatê-lo com outro racismo e. sim com um anti-racismo. O que se deve combater é justamente o racismo judaico. Em nome dos princípios cristãos que pregam a igualdade de todos os entes humanos, é que combatemos o povo que se declara ELEITO e SUPERIOR.
↑ abcOLIVEIRA, Carolina (1964). Biografia de Personalidades Célebres. Para uso escolar nos diversos níveis de ensino e dos estudiosos de história do Brasil. [S.l.]: Editora do Mestre. p. 274