Linha Schomburgk

Mapa britânico que mostra:
* A reclamação fronteiriça máxima dos britânicos
*O limite atual aproximadamente (disputado)
*A reclamação fronteiriça máxima da Venezuela.

A Linha Schomburgk[1][2] (em inglês: Schomburgk Line)[3][4] é uma linha de fronteira proposta que se desenhou no século XIX em plena disputa territorial entre a Venezuela e a Guiana Britânica (atualmente Guiana). Schomburgk é um apelido de origem alemã e a linha deve o nome ao explorador e naturalista britânico Robert Hermann Schomburgk (1804-1865) que tinha nascido na Alemanha mas estava ao serviço dos britânicos.

Em 1841, sob os auspícios da Royal Geographical Society, Schomburgk foi enviado numa viagem de exploração botânica e geográfica à então colónia inglesa da Guiana Britânica para definir as fronteiras com Venezuela e Guiana Holandesa (hoje Suriname). Tal foi necessário porque quando o Reino Unido tomou posse da Guiana Britânica (conhecida como as colónias de Esequibo, Demerara e Berbice), mediante o tratado Anglo-Neerlandês de 1814, os Países Baixos não tinham definido a fronteira ocidental com a agora independente Venezuela. Tal deu lugar a um estudo que hoje se conhece como "linha Schomburgk", uma fronteira que de facto solicitou 30 000 milhas quadradas (80 000 km²) adicionais para a Guiana Britânica.

Em termos gerais, a controvérsia fronteiriça remonta ao século XVI quando britânicos, neerlandeses e espanhóis eram rivais nesta parte da América do Sul. Porém, a fixação de uma fronteira precisa inicialmente não era uma prioridade para as potências coloniais, dada a natureza de pouco desenvolvimento no território em questão. O conflito iniciou em 1841 quando o Governo da Venezuela protestou o que considerou uma invasão britânica em território venezuelano. A Venezuela reclamou a linha Schomburgk, alegando que o Reino Unido teria adquirido ilegalmente cerca de 30 000 milhas quadradas (80 000 km²) do seu território. A Venezuela afirmava que as suas fronteiras chegavam, a leste, até ao rio Esequibo invocando o princípio Uti possidetis iure. Quando se descobriu ouro no território em disputa, o Reino Unido tratou de ampliar o seu alcance, reclamando cerca de 33 000 milhas quadradas (85 000 km²) adicionais a oeste da linha Schomburgk.

Mapa britânico que mostra a Linha Schomburgk de 1840 (vermelho) e as reclamações da Venezuela (verde)

Em 1841 Robert Schomburgk traçou uma linha fronteiriça desde o rio Moruca até ao Esequibo, definindo uma área com 4290 km². Depois traçou uma segunda linha chamada Norte-Sul que englobava a foz do rio Amacuro até ao monte Roraima, o que representava cerca de 141 930 km². A migração de colonos britânicos para os territórios situados além da margem esquerda do Esequibo originaria a primeira reclamação da Venezuela perante a Grã-Bretanha.

Em 1876 a Venezuela rompeu as relações diplomáticas com o Reino Unido e fez um pedido aos Estados Unidos para arbitrar a polémica, citando a Doutrina Monroe como justificação. Nos 19 anos seguintes, os Estados Unidos expressaram a sua preocupação, mas na prática fizeram muito pouco para resolver a situação.

Em 1895 o Secretário de Estado dos Estados Unidos Richard Olney enviou uma carta ao primeiro-ministro britânico Robert Gascoyne-Cecil, Lord Salisbury exigindo aos britânicos apresentar a controvérsia sobre a fronteira à arbitragem de fronteiras utilizando a Doutrina Monroe como justificação. Salisbury alegou que a Doutrina Monroe não era válida face ao direito internacional. Em dezembro de 1895 o Presidente dos Estados Unidos Grover Cleveland pediu ao Congresso autorização para designar uma Comissão de Limites e que as decisões posteriores da comissão se aplicariam, "por todos os meios". O Reino Unido tinha então muitas outras preocupações no seu império e não tinha nenhum desejo de iniciar conflitos nas Américas, o que fez que o primeiro-ministro Salisbury aceitasse submeter a controvérsia à Comissão de Fronteiras norte-americana. Em 1899 finalmente constituiu-se em Paris um tribunal arbitral cuja decisão deveria ser aceita por ambas as partes como forma de resolver o litígio. O chamado Laudo Arbitral de Paris de 3 de outubro de 1899 determinou que a fronteira seguisse a demarcação que Schomburgk propôs em 1835. A decisão tem sido historicamente reclamada pela Venezuela sobre a base de o membro russo da comissão ter supostamente atuado incorretamente, além de que nenhum venezuelano pôde participar na arbitragem, apenas britânicos, norte-americanos e outros estrangeiros.

Num assunto relacionado com a fronteira meridional entre a Guiana Britânica e o Brasil (chamada Questão do Pirara) esta resolver-se-ia depois da arbitragem feita pelo rei da Itália Victor Emanuel III em 1904, quando os estudos de Schomburgk também desempenharam um papel importante.

Referências

  1. Delia Picón (1 de janeiro de 1999). Historia de la diplomacía venezolana: (1811-1985) (em espanhol). [S.l.]: Universidad Catolica Andres. ISBN 9789802442041. Consultado em 17 de julho de 2015 
  2. Faustino Morales (1 de janeiro de 1999). Geografia física del territorio en reclamación: Guayana Esequiba (em espanhol). [S.l.]: Fondo Editorial Humanidades. ISBN 9789800016176. Consultado em 17 de julho de 2015 
  3. Humphreys, R. A. (1967), "Anglo-American Rivalries and the Venezuela Crisis of 1895", Presidential Address to the Royal Historical Society 10 December 1966, Transactions of the Royal Historical Society, 17: pp 131-164
  4. «52. THE BEGINNING OF THE GUYANA-VENEZUELA BORDER DISPUTE». www.guyana.org. Consultado em 17 de julho de 2015