Hans-Joachim Koellreutter | |
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Retrato do maestro e compositor Hans-Joachim Koellreutter | |
Informação geral | |
Também conhecido(a) como | Koellreutter |
Nascimento | 2 de setembro de 1915 |
Origem | Freiburg |
País | Alemanha, Brasil |
Morte | 13 de setembro de 2005 (90 anos) |
Local de morte | São Paulo |
Gênero(s) | Música atonal, dodecafonismo |
Instrumento(s) | flauta |
Modelos de instrumentos | transversal |
Período em atividade | 1935—2005 |
Gravadora(s) | Funarte, Atração Fonográfica, Instituto Itaú Cultural[1] |
Afiliação(ões) | Membro honorário da Academia Brasileira de Música[2] |
Hans-Joachim Koellreutter (Freiburg, 2 de setembro de 1915 – São Paulo, 13 de setembro de 2005) foi um compositor, professor e musicólogo brasileiro de origem alemã. Mudou-se para o Brasil em 1937 e tornou-se um dos nomes mais influentes na vida musical no país.[2]
Koellreuter fez um curso de extensão com Paul Hindemith e foi fortemente influenciado pelo regente Hermann Scherchen, que o levou à música moderna.[3] Ainda jovem, já era conhecido e respeitado na Alemanha como flautista de concerto. Começava sua carreira de regente quando Adolf Hitler ascendeu ao poder. Ao ficar noivo de uma moça judia, desagradou sua família, que simpatizava com o nazismo e o denunciou à Gestapo. Exilou-se então no Brasil onde foi morar no Rio de Janeiro. Conheceu e ficou amigo de Heitor Villa-Lobos e Mário de Andrade. Em 1938 começou a lecionar no Conservatório Brasileiro de Música.
Na década de 1940 ajudou a fundar a Orquestra Sinfônica Brasileira, onde foi primeiro flautista. Naturalizou-se brasileiro em 1948.[4] Participou da fundação da Escola Livre de Música de São Paulo em 1952 e fundou a Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, em Salvador (1954) no âmbito do projeto revolucionário de universidade do reitor Edgard Santos. Com o final da Segunda Guerra Mundial, pôde voltar à Europa.
Ganhou o prêmio Ford em 1962. A convite do Instituto Goethe, trabalhou na Alemanha, Itália e Índia, onde viveu entre 1965 e 1969. Neste país fundou a Escola de Música de Nova Deli. Esteve ainda em Sri Lanka, no Japão, Uruguai e Coreia do Sul.
Retornou ao Brasil em 1975. Fixou-se desta vez em São Paulo. Foi diretor do Conservatório Dramático e Musical de Tatuí, em São Paulo e professor visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP. Em 1981 a cidade do Rio de Janeiro lhe ofereceu o título de cidadão carioca. Nos últimos anos de vida morou no centro da cidade de São Paulo, sofrendo do Mal de Alzheimer. Morreu no dia 13 de setembro de 2005 em consequência de uma pneumonia.
Seu acervo está preservado na Fundação Koellreutter, da Universidade Federal de São João del Rei,[3] doado por sua esposa, a meio-soprano alemã Margarita Schack.[5]
Koellreutter fundou em 1939 o grupo Música Viva. Teve entre seus alunos de composição Cláudio Santoro, Guerra Peixe, Eunice Katunda e Edino Krieger. Em 1948 teve início o processo de rompimento de Santoro, mais tarde de Guerra Peixe e Eunice Katunda com o antigo mestre, que passaram a criticá-lo.
O movimento Música Viva, dirigido por Koellreutter, estendeu-se de 1939 a 1950 e tornou-se uma das referências mais dinâmicas e notáveis da música nova brasileira em sua época. Instalou uma jovem e original escola de composição brasileira, 3 manifestos (1944, 45 e 46), séries de conferências, audições públicas, publicação de boletins e uma série de emissão radiofônica, entre outras iniciativas.[6]
Em 1950 ocorreu a maior polêmica em que Koellreutter esteve envolvido, quando Camargo Guarnieri publicou a Carta Aberta aos Músicos e Críticos do Brasil, criticando-o indiretamente, bem como sua pedagogia musical.[7]
Além das técnicas tradicionais europeias, Koellreutter incorporou outras influências dos locais onde esteve. Na Índia, tomou conhecimento da música microtonal, que utilizou em várias de suas composições. Também soube misturar a tecnologia eletrônica, o serialismo e a harmonia acústica aprendida com Paul Hindemith às influências da música brasileira, criando um estilo de composição próprio.
No Japão conheceu o zen-budismo e na Índia o hinduísmo, que o influenciaram na criação daquilo que dizia ser uma "estética do impreciso e do paradoxal".[nota 1]
Wu-li é uma música experimental centrada na atuação do artista. É um ensaio, não uma obra musical.[9] O Wu-li é uma composição planimétrica, ou seja, uma maneira específica de ordenar música estruturalista, em que unidades estruturais ou gestaltes substituem melodia, harmonia, tempos fortes e fracos, temas e desenvolvimento. É a realização de um plano temporal (fundo), tomado isoladamente ou em relação a outros, pelo levantamento de ocorrências sonoras e musicais. A ideia se relaciona com a estética relativista do impreciso e paradoxal proposta por Koellreuter.[9]
Além de compositor, regente e flautista, Hans-Joachim Koellreutter foi antes de tudo um professor. Em 1941, contratado pelos pais de Tom Jobim, começou a lecionar piano e harmonia para o futuro criador da Bossa Nova que só tinha 13 anos. Foi seu primeiro professor de música. Além de Jobim, Koellreutter ensinou e influenciou, durante toda sua vida, uma legião de músicos populares e eruditos, entre eles: Djalma Corrêa, Caetano Veloso, Tom Zé, Moacir Santos,[10] Gilberto Mendes, Marlos Nobre, Tim Rescala,[11] Clara Sverner, Denis Mandarino,[12] Gilberto Tinetti, Nelson Ayres, Paulo Moura, Aurea Regina , José Miguel Wisnik, Diogo Pacheco, Júlio Medaglia, Isaac Karabtchevsky, David Machado, Carlos Eduardo Prates, Nico Nicolaiewsky, Haroldo Mauro Jr,[13] Roberto Sion, Carlos Alberto Pinto Fonseca, Afrânio Lacerda, Janete El Haouli, Teca Alencar de Brito,[14] José Roberto Branco - Maestro Branco e Severino Filho (Os Cariocas).[15]
Koellreutter começou sua ligação com o meio musical mineiro participando das primeiras edições do Festival de Inverno de Ouro Preto, promovidos inicialmente pela Fundação de Educação Artística de Belo Horizonte e depois em conjunto com a Universidade Federal de Minas Gerais. Durante as décadas seguintes, eram frequentes seus cursos na capital mineira, abarcando a composição, a regência, a harmonia funcional, o contraponto palestriniano, a filosofia e música indiana e japonesa, entre outros temas. Inicialmente na Fundação de Educação Artística, tais relações acabaram por tornar Koellreutter professor convidado da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, quando, além de ministrar aulas de composição, harmonia e contraponto, coordenou também o Centro de Música Contemporânea. Nesse longo tempo foi professor de inúmeros músicos, educadores e compositores, nomes como os de Nélson Salomé, Lukas d' Oro, João Francisco de Paula Gelape, Sérgio Canedo, Marden Maluf, Dino Nugent Cole, Rogério Vasconcellos Barbosa, Eduardo Ribeiro, Guilherme Paoliello, Rubner de Abreu, Lina Márcia, Betânia Parizzi, Joâo Gabriel Fonseca, Virginia Bernardes, entre tantos outros. Importantes contatos didáticos, educacionais e musicais são consequência desse envolvimento e ligam Koellreutter também a Rufo Herrera, Berenice Menegale, Eládio Perez Gonzalez.
O segredo de tamanha variedade foi seu método, que se baseava na liberdade de expressão e na busca da identidade de cada aluno. Incentivava a liberdade de pensamento e a necessidade de cada aluno buscar seu próprio caminho. Em uma entrevista concedida ao jornal Folha de S.Paulo, explicou seu método da seguinte maneira:
Em vida, Koellreutter teve seu trabalho reconhecido e recebeu inúmeras homenagens:[2]